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A vida e as obras de são bernardo abade, incluindo sua fama, infância, entrada no mosteiro de cister, sua irmã e sua conversão, sua influência na igreja e no mundo, sua intercessão por cismáticos e hereges, e sua reputação como homem santo e milagreiro. Também inclui detalhes sobre sua doutrina e sua influência na teologia.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
VIDA DE SÃO BERNARDO ESCRITA POR PEDRO DE RIBADENEIRA:Index.
n PRIMEIRA PARTE
n SEGUNDA PARTE
n EPÍLOGO
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Prov...ri/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/01/0-RIBADENEIRA.htm2006-06-02 19:18:
RIBADENEIRA: PRIMEIRA PARTE , Index.
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Prov...i/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/01/1-RIBADENEIRA0.htm2006-06-02 19:18:
RIBADENEIRA: EPÍLOGO , Index.
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Prov...i/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/01/1-RIBADENEIRA2.htm2006-06-02 19:18:
Na província de Borgonha há um lugarejo, antigamente de pouco nome e estima, chamado Fontaines. Agora, com grande razão, é famoso e célebre, por lá ter nascido São Bernardo Abade, espelho de toda a virtude e retrato de santidade, cuja vida, tirada dos cinco livros que dele escreveram Guilherme, Abade de Bonevales, e Gofredo, monge de Claraval, companheiro e secretário de São Bernardo, é da maneira que se segue.
No dito lugarejo de Fontaines havia um cavaleiro honrado e virtuoso, de nome Tescelin, bom soldado e também servo de Deus, porque de tal maneira seguia a milícia que não se esquecia da profissão de cristão. Estava casado com Aleth de Montbard, mulher virtuosa, honesta e fecunda, de quem teve seis filhos varões e uma filha. Entre os cuidados da casa e da família não se esquecia Aleth das obras de misericórdia e do temor a Deus. Ao dar a luz a um filho, oferecia-o a Deus com suas próprias mãos e o criava em seus peitos, não tendo necessidade de damas de criação; sendo um pouco mais crescido dava-lhe manjares mais grosseiros para comer, como quem o criasse mais para o ermo do que para o século. Estes foram os pais de São Bernardo, que foi o terceiro filho.
Estando sua mãe grávida dele, viu em sonhos que em suas entranhas havia um cão branco com o lombo vermelho que latia.
não se pode recuperar. Certa vez descuidou-se um pouco e pôs os seus olhos sobre uma mulher muito bela, sem perceber o que estava fazendo; quando se deu conta, ficou tão corado e envergonhado de si mesmo que, para envergonhar-se de si e para pagar a pena daquela culpa atirou-se nu em um tanque de água gelada, que estava ali próximo, até a altura da garganta. Era a época do inverno, e São Bernardo estêve ali tanto tempo que com o grande frio quase se extinguiu o calor natural do corpo, e o tiraram já meio morto. Mas com este ato tão fervoroso mereceu que Deus com a sua graça mortificasse a concupiscência da carne e apagasse as chamas do fogo infernal que reina em nossos membros.
Vendo, pois, o santo moço os grandes perigos em que estava, começou a pensar sobre como se livraria deles e sobre como poderia recolher-se em alguma religião como em um porto seguro. Estando a decidir estas coisas, teve grandes tentações e assaltos do inimigo e de seus ministros. Fazia-lhe guerra a flor da idade, propondo-lhe os deleites sensuais e exortando-o a não deixar o presente pelo que haveria de vir. O demônio lhe sugeria que, ainda que caísse em algum pecado, poderia na velhice fazer penitência do mesmo, e que Deus é clemente e misericordioso, como quem conhece tão bem a nossa fraqueza e derramou o seu sangue por nós na cruz. Não faltavam amigos e companheiros que tendo entrado pelo amplo caminho da perdição o exortavam com suas palavras e com seus exemplos a imitar o que eles faziam. O mundo lhe oferecia grandes esperanças de honras e bens, fundadas em sua grande inteligência, suas letras e sua gentil disposição, e seus próprios irmãos e parentes, que em semelhantes decisões são os mais cruéis e perigosos inimigos, eram os que mais atiçavam aquele fogo, alegando que o seu temperamento seria muito delicado para levar a austera e rigorosa vida de religioso, e que por outro caminho mais brando poderia servir a Deus e ser útil às almas sem enterrar os talentos que Ele lhe havia concedido, com os quais, seguindo o curso das boas letras que já havia começado, poderia alcançar o prêmio merecido por sua excelente ciência e virtude, honrando a sua casa, ilustrando a sua pátria e aproveitando ao mundo.
Achou-se turbado e afligido o virtuoso jovem com a confusão de tantos pensamentos e entendeu a cautela com que se devem tratar as coisas de Deus e que não se deve revelar a vocação de
Deus, quando Ele chama à perfeição, senão a muito poucas pessoas, espirituais e escolhidas, como o fez aquele mercador no Evangelho que, tendo encontrado o tesouro no campo, escondeu-o e vendeu quanto tinha para comprar aquele campo e gozar do tesouro que nele havia. Mas ainda que São Bernardo, por tantas partes combatido, esteve vacilante, no fim, favorecido pelo Senhor, rompeu suas cadeias e saiu vencedor. Estando em uma igreja chorando com muitas lágrimas e derramando seu angustiado coração com grandes suspiros na aceitação Senhor, suplicando-lhe que o encaminhasse para o que haveria de ser para o seu maior serviço, foi iluminado pela luz do céu e, fortalecido com a sua graça, determinou-se a militar sob o estandarte da cruz como valoroso soldado e a chamar e trazer consigo todos o que pudesse para aquela gloriosa conquista. Fê-lo de tal maneira que ganhou para Deus um tio seu, irmão de sua mãe, que se chamava Viderico, grande soldado, rico e senhor de um castelo, com o qual abriu caminho aos demais, e logo o seguiram Bartolomeu e André, os dois irmãos menores de São Bernardo; o mesmo fizeram em seguida Guido e Gerardo, os dois irmãos maiores. Deste modo ficou só o menor de todos os irmãos, de nome Eduardo, a quem lhes pareceu que seria bom deixá-lo no século para o consolo de seu pai, que já era idoso, e para o governo da casa e dos bens que possuíam.
Decidiram todos os irmãos de São Bernardo, seu tio e mais outros trinta que o seguiram, que ingressariam na na religião de Cister, que pouco antes havia sido fundada pelo venerável abade Roberto sob a regra de São Bento e confirmada pelo Sumo Pontífice no ano do Senhor de 1098. Esta tinha um só mosteiro no interior de um bosque afastado. Pelo grande rigor da vida e do retiro que nela se observava, havia muito poucos que quisessem abraçá-la. Foi este lugar que São Bernardo, seus irmãos e os outros companheiros escolheram para se entregarem verdadeiramente a Deus em perfeita humildade e desprezo do mundo.
Aconteceu, porém, que Guido, o irmão mais velho, certo dia encontrou pelo caminho Eduardo, o menor de todos os irmãos, que se entretinha com outros amigos, e lhe disse:
revelação que pouco antes havia recebido um daqueles santos monges, como adiante se verá.
Aquela sagrada religião não somente cresceu pelos insignes varões que teve, como também pelas santas monjas que tiveram seu princípio de um mosteiro que por ocasião da entrada de São Bernardo e de seus trinta companheiros lhes havia sido construído. De fato, como alguns deles eram casados e suas mulheres, para que o Senhor fosse melhor servido, haviam dispensado seus maridos do vínculo conjugal e queriam também elas oferecerem-se em holocausto ao Senhor, para recolhê-las, por solicitação de São Bernardo, construíu- se um mosteiro na paróquia Linganiense, que se chama Villeto. Deste mosteiro, que foi muito célebre na religião e santidade e, com o tempo, muito abastado de riquezas e posses, como que de uma raiz e planta, estendeu-se o fruto por outras partes.
n
São Bernardo iniciou seu noviciado na idade de vinte e três anos, começando com tão grande aplicação e cuidado para com o aproveitamento que não parecia que começava, mas sim que acabava. Tinha sempre no coração, e muito freqüentemente também na boca, estas palavras:
"Bernardo, Bernardo, para que vieste à religião?"
Entregou-se tanto a mortificação, não só dos afetos interiores e das paixões desordenadas, como também dos sentidos exteriores, que parecia que não os usava senão para o estritamente necessário. Via e não via, comia e não comia, dormia e não dormia, tanto estava ele absorto e transportado em Deus. Havia estado um ano inteiro na sala de noviços, mas não sabia se o teto era abobadado ou de madeira e, havendo entrado na igreja muitas vezes, a qual tinha muitas janelas, julgava que não havia nela senão apenas uma. Tinha a carne tão sujeita e submetida ao espírito que mais parecia estar morto do que mortificado. O silêncio, perpétuo; o riso, raríssimo e em extremo modesto, dado com razão para não parecer demasiadamente austero; o hábito, pobre, grosseiro e vil, mas limpo, porque, ainda que fosse amigo da pobreza, não o era da pouca limpeza. Dirigia-se às refeições como a um tormento, e só a memória da comida já o enfastiava. Desgostava-se com o sono por julgá-lo uma semelhança da morte e quando, forçado pela necessidade, concedia-se algum descanso, este era tão superficial e leve, que a nenhum outro, senão a ele, poderia ser suficiente. E quando via algum religioso dormindo mal composto ou roncando, ressentia-se e dizia que dormia como secular e não como religioso. Com os inúmeros jejuns e vigílias, com a extrema penitência e com a austeridade da vida que levava, estragou-se tanto o seu estômago, que o pouco que comia não podia mais retê-lo e, se algo ficava, era mais para dilatar-lhe a morte do que para sustentar- lhe a vida. Veio a perder o paladar de tal maneira
as coisas publicas ou de obediência às suas próprias e voluntárias. Mas quando se achava livre e sem obrigação de acudir às coisas comuns e de obediência, desaparecia e mergulhava de tal modo na consideração das coisas invisíveis como não se tivesse sentido nem memória de coisa alguma da terra. Caminhou certa vez um dia inteiro ao longo do lago de Lausanne e à noite, comentando seus companheiros sobre aquele lago, admirou-se, afirmando firmemente que não havia visto e nem sabia que lago se tratasse. Outra vez, indo falar aos padres da Cartuxa, emprestaram-lhe um cavalo bem adestrado e com um arreio curioso; e como o Prior da Cartuxa tivesse reparado no aparato que o cavalo levava, dirigiu-se ao santo para avisá-lo e ele, abrindo os olhos para ver o que antes não havia visto, disse que ele também estava admirado e com grande sinceridade confessou que não havia reparado naquilo. De onde se vê o quão concentrado e absorto andava sempre este santíssimo homem, não só dos exercícios corporais, como também em outros negócios de muita importância, nos quais parecia impossível não distrair-se das coisas divinas. O mesmo se pode dizer da doutrina de São Bernardo, porque costumava ir ao campo e aos bosques tratar familiarmente com o Senhor para receber raios e luz do céu, e na oração e na meditação penetrar os altíssimos mistérios da teologia. E costumava dizer, pela graça, aos seus amigos, que o pouco que sabia das Sagradas Escrituras, o havia aprendido meditando e orando nos campos, sem ter outro mestre que não as musgo e faias. Mas esta ciência da Sagrada Escritura, que ele dizia que era pouca, foi um dos raros e eminentes dons que recebeu; porque tinha tão assimiladas todas as palavras e sentenças dos livros sagrados que, quando falava, escrevia ou pregava, era a Sagrada Escritura, não como quem a cita, mas como quem a havia ruminado, digerido e convertido em si. E o próprio santo confessou algumas vezes que, orando, havia visto a Sagrada Escritura como declarada e exposta diante de si. Mesmo assim, não por isto deixava de ler e de estudar com grande cuidado as interpretações dos padres e santos doutores, sem igualar- se com eles e fazendo-se de mestre, mas sim, como humilde discípulo, sujeitando-se com modéstia ao que eles haviam escrito e seguindo com grande acerto o exemplo que eles nos deixaram, como em suas devotíssimas obras se pode ver.
deste fato, o abade repreendeu suavemente a pusilanimidade do procurador e aqueles religiosas aprenderam a confiar em Deus, que nunca desampara aos que realmente O servem.
Tinha-se São Bernardo por indigno de que Deus se servisse dele para a salvação das almas, mas a grande caridade que ardia em seu peito o fazia esquecer-se de sua indignidade e dava-lhe grandes ânsias de buscar e procurar a salvação de seus próximos. Pôs-se uma noite a considerar isto na oração, e teve uma visão em que parecia- lhe que de todas as partes, por aqueles montes, vinha um grandíssimo número de homens, de diversos estados e hábitos, e que baixavam ao vale onde estava seu mosteiro, de modo que não caberia toda aquela gente naquele lugar. O significado da visão foi manifestado pelos fatos na multiplicação dos religiosos que militaram sob este grande patriarca e dos muitos e ricos mosteiros que em tantos lugares se fundaram pela sua mão. Entre os que vieram tomar o hábito, para maior consolação de São Bernardo, um dos primeiros foi Tescelin, seu pai, que fazendo-se filho e irmão em espírito daquele que havia engendrado segundo a carne, entrou no mosteiro e concluíu santamente sua peregrinação. A irmã, a única que permanecia no mundo, casada com um homem rico e entregue às galas e pompas da terra, tendo chegado ao mosteiro muito enfeitada e acompanhada para ver seus irmãos, ficou confusa quando soube que não a queriam ver; ouvindo as palavras de vida que lhe disse São Bernardo que, vencido pelos prantos e lágrimas que derramava, acabou saindo para vê-la, transformou-se e de tal maneira que converteu todo o cuidado que antes punha em embelezar e enfeitar seu corpo para embelezar a sua alma e enriquece-la com obras de penitência e de piedade, e isto com tão grande fervor que seu próprio marido, ao fim de dois anos, concedeu-lhe licença para entrar no convento das monjas de Villeto e consagrar-se ao Senhor, onde perseverou santamente e entregou seu espirito a Deus.
Mas não deve causar tanta admiração que Deus Nosso Senhor trouxesse tantos homens de tão diferentes estados e condições para que O servissem em um gênero de vida tão rigoroso e perfeito sob a regra e instituição de São Bernardo, quanto o modo raro e maravilhoso com que os trazia pela intercessão e pelas orações do próprio santo.
Certa vez veio uma quadrilha de jovens cavaleiros, bizarros e
galhardos, para ver o santo abade, de quem a fama publicava grandes coisas. Era tempo de Quaresma, e eles, com o ardor da juventude, buscaram um lugar ali, próximo à igreja, para correrem, exercitarem-se nas armas e se entreterem. Pediu-lhes o santo que não o fizessem, mas não quiseram. Mandou então que lhes levassem cerveja e, abençoando-a primeiro, deu-a para que bebessem. Mal haviam saído do mosteiro quando, movidos por um novo espírito que vinha do céu, começaram a tratar entre si sobre a vaidade do mundo, seus enganos e perigos, e de tal maneira se inflamaram no desejo da perfeição que logo, sem demora, todos juntos, com um só ânimo e uma só vontade, voltaram ao mosteiro e com muita humildade pediram para que nele fossem admitidos, onde com grande fortaleza e paciência, passando por muitos trabalhos, perseveraram gloriosamente na religião.
Foi esta mudança verdadeiramente proveniente da destra do Altíssimo, mas não o foram menos outras, entre as quais a de um clérigo chamado Marcelino que, indo em nome do arcebispo, seu senhor, receber São Bernardo que vinha a Mogúncia, dizendo-lhe quem era e quem o enviava, o santo parou e, pondo os olhos nele, disse-lhe:
"Outro Senhor maior vos enviou e quer se servir de vós".
E ainda que a princípio o clérigo contradissesse e estivesse alheio e muito além de tal pensamento, no fim se rendeu e em companhia de muitos homens doutos e honrados veio até o mosteiro de Claraval para pedir o hábito.
E não é de menor admiração o que sucedeu com Henrique, irmão carnal do rei de França; antes, é tão maior quanto mais
"Não já vos disse que é vosso?"
Ouviram esta argumentação todos os presentes e o próprio André, o qual, mais obstinado e furioso do que antes, balançando a cabeça, dizia dentro de si, como depois o confessou:
"Agora sim conheço que és falso profeta, porque jamais acontecerá o que dizes".
Partiu no dia seguinte muito furioso, lançando maldições ao abade e suplicando a Deus que se abrisse a terra para que tragasse aquele mosteiro. Mas naquela mesma noite, estando na pousada, sentiu tão grandes aguilhões ou impulsos e movimentos interiores, que logo levantou-se da cama sem esperar o dia e voltou a Claraval para pedir com grande humildade que lhe fosse concedido receber o hábito, para admiração e consolo dos que ali estavam e sabiam sobre o que havia se passado.
Em outro caminho que fez São Bernardo a Flandres, ganhou para o Senhor alguns nobres e letrados flamengos, que o seguiram e voltaram com ele para a Borgonha. E em Chalons, cidade da Champanhe de França, estendendo as redes da pregação, colheu uma grande quantidade de excelentes homens, e cada dia se via entrar pelas portas de seu mosteiro muitos que, movidos pela fama do santo e desenganados da vaidade e dos embustes do mundo, vinham para imitar a Cristo sob tão valoroso capitão.
No principio de seu governo, medindo a seus súditos pelo seu próprio espírito e fervor, foi mais severo e rigoroso do que convinha; porque primeiramente, quando recebia algum noviço, entre outras coisas, avisava-o que deixasse o corpo fora do convento e que somente entrasse com o espírito.
Quando confessava a seus monges, qualquer que fosse a falta, por leve que fosse, parecia-lhe grave, e pedia a todos tão grande perfeição, que a muitos tirava a esperança de alcançá-la e até a vontade de procurá-la. Daqui nascia uma certa tristeza nos corações dos súditos, que lhes tirava o ânimo, a devoção e aquele fervor que costuma ser grande espora para aproveitar e correr na virtude. Mas era tão grande a opinião que todos tinham sobre a santidade do seu bom padre, que punham toda a culpa em sua fraqueza ou em sua pouca capacidade, sem queixarem-se dele nem contradizendo-o nas coisas que mandava. E esta humildade dos súditos, pela vontade de Deus, abriu os olhos ao superior; porque, vendo São Bernardo a humildade e modéstia de seus religiosos, começou a jogar sobre si a culpa, e determinou-se a não carregá-los, nem afligi- los, nem dizer-lhes nada, senão cuidar de a si até que Deus lhe revelasse outra coisa. Estando a considerar estas coisas, certa noite apareceu-lhe um menino vestido de uma luz celestial e mandou-lhe expressamente que não deixasse de dizer a seus filhos tudo o que sentia, porque não seria ele que falaria, mas o Espirito Santo que falaria nele. E, juntamente com este preceito, infundiu-lhe o Senhor uma nova graça e um singular dom de suavidade e doçura, com a qual aprendeu e compadecer-se dos fracos e a ajustar-se e acomodar-se à capacidade dos rudes e e tirar de cada um o que, salva a disciplina religiosa, bondosamente pudesse. E assim veio a mudar-se de tal maneira que pareceu outro homem, e começou com extraordinária ternura e solicitude a prever e prevenir as necessidades não apenas da alma, como também do corpo de todos os seus súditos. E porque alguns chegassem a ver que debaixo de seus hábitos velhos e remendados trazia um áspero cilício, o deixou, com medo de que outros, com graves enfermidades, o quisessem imitar e seguir aquele rigor vendo que ele, estando enfermo e fraco, não o deixava, tanto foi o cuidado que depois