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Processos motivacionais e diversidade na vida adulta, Manuais, Projetos, Pesquisas de Saúde do Idoso

Este artigo apresenta um estudo bibliográfico sobre os processos motivacionais internizados na vida adulta, a possibilidade de novas construções intrapessoais e a diversidade de vivências intrínsecas e extrínsecas que esta fase da vida evidencia. O objetivo é proporcionar maior entendimento acerca da vida adulta, dos processos motivacionais e da diversidade nesta fase da vida.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2024

Compartilhado em 03/04/2024

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Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 1 (61), p. 149-164, jan./abr. 2007
Vida adulta, processos ...
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Vida adulta, processos motivacionais e diversidadeVida adulta, processos motivacionais e diversidade
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Vida adulta, processos motivacionais e diversidade
Adult life, motivational processes and diversity
BETTINA STEREN DOS SANTOS*
DENISE DALPIAZ ANTUNES**
RESUMO – O artigo apresenta os processos motivacionais internalizados na vida adulta,
a possibilidade de novas construções intrapessoais, bem como, a diversidade de vivências
intrínsecas e extrínsecas, entre situações pessoais e contextos culturais, que essa fase da
vida evidencia e acabam por constituir estes processos de motivação ao longo da vida.
Constitui-se de um estudo bibliográfico com o objetivo de proporcionar maior
entendimento acerca da vida adulta, dos processos motivacionais e da diversidade nesta
fase da vida.
Descritores – Vida adulta; processos motivacionais; diversidade.
ABSTRACT – This article presents: the motivational processes internalized in adulthood
age, the possibility of new intrapersonal constructions, and diversity of intrinsic and
extrinsic experiences in personal situations and cultural contexts, involved in that stage
of life and which end up constituting these motivation processes during life time. This
work is a bibliographic study which aims to provide a broader understanding about
adulthood age, the motivation processes and diversity in this period of life.
Key words – Adulthood; motivation processes; diversity.
II
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INTRODUÇÃONTRODUÇÃO
NTRODUÇÃONTRODUÇÃO
NTRODUÇÃO
A vida adulta constitui-se na fase mais ativa e longa dentro da
sociedade. O ser humano adulto vivencia em suas próprias situações de
vida, características que lhe são particulares. A grande maioria produz e
* Doutora em Psicologia Evolutiva e da Educação, professora do Programa do Pós-Graduação
em Educação da PUCRS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Processos Motivacionais em
Contextos Educativos. E-mail: bettina@pucrs.br
** Mestre em Educação pela PUCRS, professora da Rede Estadual de Educação do RS. Membro
do Grupo de Pesquisa Processos Motivacionais em Contextos Educativos. E-mail:
denise.dalpiaz@terra.com.br
Artigo recebido em: janeiro/2007. Aprovado em: janeiro/2007.
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Vida adulta, processos motivacionais e diversidadeVida adulta, processos motivacionais e diversidadeVida adulta, processos motivacionais e diversidadeVida adulta, processos motivacionais e diversidadeVida adulta, processos motivacionais e diversidade

Adult life, motivational processes and diversity

B ETTINA S TEREN DOS S ANTOS * D ENISE D ALPIAZ A NTUNES **

RESUMO – O artigo apresenta os processos motivacionais internalizados na vida adulta, a possibilidade de novas construções intrapessoais, bem como, a diversidade de vivências intrínsecas e extrínsecas, entre situações pessoais e contextos culturais, que essa fase da vida evidencia e acabam por constituir estes processos de motivação ao longo da vida. Constitui-se de um estudo bibliográfico com o objetivo de proporcionar maior entendimento acerca da vida adulta, dos processos motivacionais e da diversidade nesta fase da vida. Descritores – Vida adulta; processos motivacionais; diversidade.

ABSTRACT – This article presents: the motivational processes internalized in adulthood age, the possibility of new intrapersonal constructions, and diversity of intrinsic and extrinsic experiences in personal situations and cultural contexts, involved in that stage of life and which end up constituting these motivation processes during life time. This work is a bibliographic study which aims to provide a broader understanding about adulthood age, the motivation processes and diversity in this period of life. Key words – Adulthood; motivation processes; diversity.

III II NTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃO

A vida adulta constitui-se na fase mais ativa e longa dentro da sociedade. O ser humano adulto vivencia em suas próprias situações de vida, características que lhe são particulares. A grande maioria produz e

  • Doutora em Psicologia Evolutiva e da Educação, professora do Programa do Pós-Graduação em Educação da PUCRS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Processos Motivacionais em Contextos Educativos. E-mail: bettina@pucrs.br ** Mestre em Educação pela PUCRS, professora da Rede Estadual de Educação do RS. Membro do Grupo de Pesquisa Processos Motivacionais em Contextos Educativos. E-mail: denise.dalpiaz@terra.com.br Artigo recebido em: janeiro/2007. Aprovado em: janeiro/2007.

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trabalha; do trabalho vive e dele sobrevive, em qualquer circunstância de realidade social, econômica e cultural. Estudar e entender a adultez é conhecer e perceber o que a sociedade busca em termos de futuro, e qual ideário social está construindo. Como em outras épocas históricas, as mudanças de paradigmas se devem muitas vezes às novas estruturações sociais. As transformações de ordem demográfica, o envelhecimento da população mundial, poderão determinar modificações no comportamento do ser humano. Com o aumento da população idosa no mundo inteiro, também há um aumento do número de pessoas adultas que terão uma vida mais ativa socialmente, em todos os sentidos, de empregabilidade, de economia e de cultura, e acima de tudo, de aprendizagens. O progresso não está na evolução humana, mas no futuro que o próprio homem busca e atribui às suas relativas construções em novos contextos sociais. Assim, a preocupação com estudos da idade adulta, justifica-se em parte, pela realidade da revolução demográfica que é prevista por especialistas dessa área. Ao analisar a vida adulta em sua diversidade apontam-se os processos motivacionais que poderão se estabelecer nesta fase da existencialidade humana.

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A adultez, fenômeno do desenvolvimento humano, apresenta-se com novas responsabilidades, em novos referenciais de existencialidade, em novas conquistas, em busca de um maior entendimento desta importante e mais abrangente etapa da vida humana. Por ser a fase mais longa da existência do ser humano, merece especial atenção, mesmo porque há pouco tempo vem sendo entendida e percebida com tais referenciais. Assim, compreender as interações que perpassam o fenômeno da vida adulta, em cada ser humano, é entender o processo de desenvolvimento, com suas aprendizagens e singularidades. É conceber que estar aprendendo é estar vivo, é ter vida, é não envelhecer em sua interioridade. É distinguir- se no social com responsabilidades, com direitos e deveres, com necessidades de partilhar desejos e novas conquistas. Contudo, são diferenciadas as responsabilidades sociais que advém ao indivíduo adulto. Tanto pelas conquistas, pelas lutas de classe, pelos preconceitos de raça e gênero, quanto pelas divisões de tarefas dentro do contexto familiar. A estrutura familiar atual provoca muitas mudanças que,

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vida adulta, outras subcategorias se apresentam, cronologicamente. No entanto, o autor, esclarece “que cada fase tem uma problemática específica, dividida em sub-problemáticas que atingem as pessoas em seus momentos decisivos ante seu próprio projeto vital e suas relações com os outros” (MOSQUERA, 1982, p. 98). Cabe ressaltar que a questão cronológica, que divide cada fase na vida adulta parece estar ligada à época em que a sociedade vivencia historicamente até a contemporaneidade, ou seja, as divisões de faixa etária podem ser distribuídas de acordo com o contexto social em que a pessoa estiver inserida. Antunes (2007, p.52) assinala que “ao ressaltar a não linearidade das divisões da vida adulta, aponta-se a muitas caracterizações, seja pela forma como a maturação e desenvolvimento psicológico acontece, como pelas responsabilidades e realidades que o social lhe propuser”. Então, conforme Mosquera (1982), a adultez jovem se subdivide em fase inicial denominada adultez jovem inicial, com idade aproximada entre 20 e 25 anos. Em seguida, a adultez jovem plena que compreende dos 25 a 35 anos, e, por fim, a adultez jovem final, abrangendo dos 35 aos 40 anos de idade. No que se refere ao adulto jovem, suas características físicas e psicológicas, bem como, suas pessoalidades únicas, Mosquera (1987, p. 80), elucida que há nessa fase da vida

uma grande vitalidade e uma valorização da individualidade. O adulto jovem está dotado dos mais fortes impulsos, os quais se manifestam, tanto pela impulsividade como pelo emprego vivo de suas forças. Seu estado de espírito frente à vida alcançou, por regra geral, um elevado nível. A alegria de viver e o prazer da existência lhe fornecem perspectivas.

Logo, parece que na adultez jovem o ser humano busca uma valoração pessoal, objetivando um desejo intrínseco da avaliação positiva de sua pessoa pelos conhecimentos até então adquiridos e construídos, sempre numa expectativa de alcançar uma avaliação positiva frente ao social, a respeito de si mesmo. Com muita pessoalidade, mas talvez com resquícios da onipotência da adolescência, mesmo que o medo do desconhecido venha a impedir novas aprendizagens e construções individuais. O adulto jovem deseja recompensas rápidas e externas de suas motivações e busca experimentar e demonstrar muita competência, entre produções próprias de suas investidas socioeconômicas e desejos intrínsecos.

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Ainda, entre as subdivisões da vida adulta jovem salienta-se, con- forme estabelecido por Mosquera (1982), que na subfase adultez jovem plena o adulto toma consciência da chegada em sua existencialidade adulta e procura se dar significância pessoal. No entanto, ao final da idade adulta jovem, o indivíduo vivencia situações que lhe atribuem o verdadeiro valor de sua existência e compreende, ou pelo menos idealiza, o que constituirá sua realização. Nesse sentido, de crescimento em busca da própria realização, não estão apenas tratados os poderes econômicos adquiridos na vida adulta, mas conforme Mosquera (1982, p. 100), o fundamental é que “a pessoa dá conta da importância que ela tem como ser humano”. No que concerne à adultez média, suas subdivisões são a adultez média inicial compreendendo a faixa etária dos 40 aos 50 anos, a fase dos 50 aos 60, nomeada de adultez média plena e a adultez média final, aproximadamente, dos 60 aos 65 anos de idade cronológica. Nessa segunda fase da vida adulta, adultez média, provavelmente o homem tenha alcançado seus objetivos particulares de família constituída, de empregabilidade e de moradia, e entre outras percepções acerca da vida, a adultez média lhe revela a temporalidade humana fazendo-se consciente a imortalidade. Não obstante, no adulto médio, segundo Mosquera (1987, p. 96), parece existir, predominantemente, uma tendência à extroversão, isto é, uma visualização para o mundo exterior. O adulto médio se sente possuído pelo afã de produção e por interesses objetivos, deseja ser eficaz e ter êxito. Provavelmente para dar mais firmeza e conteúdo à segurança da sua própria pessoa. Nisso, provavelmente, percebe a utilidade de suas construções pessoais frente ao social, num ímpeto de ser útil e aprender o que é ser útil. O que motiva o adulto, nesta fase, possivelmente, é a própria dispo- nibilidade. A motivação de desempenhar suas atividades e demonstrar suas capacidades tornam-se explícitas nas próprias ações sociais. Pode-se supor, também aqui, a retroalimentação de suas ações num sentido se superar os próprios erros. Assim, pode ser que na adultez média inicial revele-se um adulto que se preocupa mais com os outros indivíduos a sua volta do que propriamente com seus desejos e perspectivas, que resultem em conseqüências positivas ou negativas em suas subjetividades. O ser humano, com seu potencial resiliente abarcará distintas aprendizagens. Mosquera (1982, p. 101)

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realizações. Conseqüentemente, as suas construções internas de toda a vida refletem-se em significados particulares de cada ser humano. No período existencial dos 65 aos 70, na fase da adultez velha inicial, ainda perpassam os desejos de realizações pessoais que, muitas vezes, a própria sociedade culturalmente construída, acaba por arruinar com discriminações e gestos de intolerâncias. Essas demonstrações de não aceitação da representação social do idoso são direcionadas aos indivíduos mais experientes em ações e interrelações pessoais. Muitos indivíduos, infelizmente, não percebem a importância que as pessoas mais velhas, cronologicamente, têm na qualidade de vida e no seu futuro. Esta é uma sociedade extremamente individualista, constituída principalmente por padrões de beleza física e por valores de consumo. Salienta-se também, que na adultez tardia, o declínio das capa- cidades corporais, especialmente as condições motoras, acaba por de- terminar o não envolvimento nas responsabilidades sociais. O que, conseqüentemente, contribui para um envelhecimento mais acelerado, sempre que não houver mais um motivo extrínseco que resgate a motivação intrínseca até então constituída. A sociedade não está preparada para atentar ao conhecimento e experiência que a adultez avançada possui para partilhar. Por isso, diz-se popularmente, muitas vezes, que o corpo não mais acompanha a mente. Ou melhor, a estrutura corporal não mais acompanha os desejos particulares e intra-subjetivos, que só a pessoa pode conhecer. Ou, ainda, as possibilidades corporais não tão ativas, nessa fase da vida, não permitem tantas atividades que exigem a utilização do corpo. Nessas situações, sabe-se que há um reflexo direto na auto-imagem e auto-estima do indivíduo, que não se sente, muitas vezes, capaz de alguma realização e verbaliza sua auto-depreciação. Com tantas circunstâncias sociais vivenciadas dos 70 aos 75 anos, etapa da vida adulta velha plena, o indivíduo sente o desejo de demonstrar do que ainda é capaz, do seu controle pessoal, evidenciando o desejo de ser autônomo e não depender de outras pessoas para fazer aquilo que entende saber muito bem como realizar. Pode-se dizer que, em toda adultez velha, este comportamento humano, que visa demonstrar autonomia, é observado com freqüência. Logo, a partir dessa vontade de ser autônomo, o indivíduo adulto tardio ou avançado tem uma necessidade incondicional de ser aceito como ele é. Desejo de compartilhar suas vivências, de ser ouvido, de ter o prazer

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de dedicar seu “precioso” tempo às suas possibilidades, sem preocupar-se mais com as manifestações de repúdio do social. As transformações físicas que acontecem ao longo da vida de cada ser humano, são visualmente evidentes. No entanto, o construto da imagem corporal que cada pessoa vai vivenciar durante seu desenvolvimento, o torna único, em suas características físicas, em sua diversidade de construção e ação, influenciando as idiossincrasias emocionais e psico- lógicas. Em tudo, o ser humano é subjetividade e é diversidade. Percebe-se, em várias etapas da vida adulta, que as transformações biológicas acabam interferindo, ou mesmo determinando, as mudanças psicológicas de cada indivíduo e vice-versa. Pois, em situações adversas revelam-se processos de amadurecimento que podem provocar a efetivação da resiliência de maneira distinta em cada ser humano, em cada circuns- tância, em cada etapa da vida. Em todas essas representações pessoais percebe-se a configuração do social alicerçando e atribuindo às realizações de cada indivíduo adulto, de inter-relações a intra-relações que se estabelecem. Neste sentido, Mosquera (1982, p. 96) afirma: “cremos que entender o adulto é entender o fenômeno abrangente da sociedade que nos rodeia”. Em cada etapa da vida adulta, ou em suas subdivisões, revelam-se características e processos de crescimento, que envolvem momentos de transições, de crises, de passagens de um estado emocional psicológico para um outro, no que se refere ao desenvolvimento e amadurecimento pessoal, em busca da auto-realização.

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Cada ser humano revela-se em distintas internalizações e subjeti- vidades ímpares, que o caracterizam e o identificam com exclusividade. Seja pelos processos motivacionais vivenciados por cada indivíduo, nos diferentes contextos sociais e culturais, ou pelas características individuais de cada um, o ser humano constitui-se na diversidade. A motivação, segundo Alonso Tapia e Fita (1999) é um conjunto de variáveis que ativam a conduta do ser humano e o orientam em determinado sentido para poder alcançar um objetivo. É um processo que cada ser humano apreende de formas distintas, em virtude de suas relações interpessoais e intrapessoais. Desde a infância, as interações com outros seres humanos irão contribuir, mas não de forma determinista, à

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necessidades básicas. Elas incluem valores intrínsecos a todo indivíduo, [...]”. Ou seja, enquanto o adulto não tiver satisfeitas suas primeiras necessidades fisiológicas e de crescimento, no sentido de adquirir o mínimo para uma vida digna de qualidade, parece que não irá buscar outras necessidades mais acima das primeiras, no que se refere ao ideário hierárquico de Maslow. Caracterizando essas necessidades anteriormente apontadas, Maslow (s.d), enumera-as, numa hierarquia progressiva: necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades de amor, necessidades de estima e necessidades de auto-realização. Forma-se, pois uma pirâmide com base nas necessidades fisiológicas de ar, água, alimento, repouso, refúgio e sexo. São as primeiras necessidades humanas a serem supridas. Logo acima, na escala de Maslow, em segundo plano está a ne- cessidade de segurança. Segundo Mosquera (1985, p. 146), essa hierarquia, “se percebe mais nas crianças porque o adulto foi ensinado a inibir a reação a perigos”. Num terceiro degrau da Hierarquia de Maslow aparecem as necessidades de amor. São as necessidades próprias dos grupos sociais, que realizam as trocas de relações afetivas entre si procurando conquistar seu espaço social. Percebe-se que essas necessidades tornam-se evidentes em pequenos grupos socioculturais e constituem os mesmos. No plano acima das necessidades de amor, estão as necessidades de estima, e dentro destas está a auto-estima e o respeito por parte dos outros. Ou seja, a necessidade de sentir-se estimado e respeitado pelos outros. A falta de supressão dessas necessidades pode acarretar incapacidades de auto estimar-se, levando aos sentimentos de impotência, inferioridade, entre outros. Maslow afirma que “a satisfação da necessidade de auto-estima conduz a sentimentos de autoconfiança, valor, força, capacidade e utilidade. Sua frustração traz sentimentos de inferioridade, fraqueza e desamparo” (apud MOSQUERA, 1985, p. 147). Na seqüência apresentada, estão no último degrau da Hierarquia de Maslow, as necessidades de auto-realização. O ser humano acaba por revelar essas necessidades, somente após ter satisfeitas as anteriores. Isso pode acontecer durante toda uma vida, seja em qualquer nível de realização e desenvolvimento pessoal que a pessoa se encontrar. Contudo, as necessidades e intencionalidades que o ser humano compreende e busca após as anteriores conquistas baseiam-se em valores do ser, no “desejo de a pessoa tornar-se sempre mais do que é, de vir a ser tudo o que pode ser” (MASLOW apud MOSQUERA, 1985, p. 166).

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Entretanto, ressalta-se que os processos motivacionais são cons- tituídos como um sistema complexo que se estabelece a partir de diferentes elementos, tanto do próprio sujeito, intrínsecos, quanto de variáveis externas, extrínsecas. Ou seja, a motivação do ser humano, deve ser entendida na sua integralidade, mas percebida desde a sua singularidade. Nesse sentido, o singular em cada pessoa, é definido tanto pela diversidade individual, correspondente a cada sujeito, bem como pela diversidade contextual. López Ocaña e Zafra Jiménez (2006) conside- ram “a diversidade como um fator diferenciador, de origem natural ou social [...]”. Assim a diversidade está presente em todas as instâncias de vida do ser humano. Seja pelas características pessoais que o diferem de um indivíduo para outro, ou pela fase da vida em que se encontra, ou ainda, pelas relações interpessoais. A diversidade também pode ser percebida pelos processos motivacionais que vão se constituindo intrinsecamente em cada indivíduo. Logo, quando nos referimos diferentemente a dois indivíduos, mais evidente torna-se a diversidade, pela própria subjetividade de cada um. Parece que a diversidade é uma conseqüência no ser humano. Contudo, serão as vivências pessoais influenciadas pelo social, que determinarão a construção do ser humano. Assim, as primeiras relações familiares compreenderão as construções dos próprios ideários e dos conceitos que internalizamos da cultura. Nessas primeiras interrelações terá início a real percepção acerca de si mesmo, de acordo com o nível de relações estabelecidas. Mosquera (1975, p. 66) destaca: “o relacionamento com as outras pessoas estabelece o roteiro cinematográfico da nossa personalidade”. O sentimento acerca do próprio eu, refere-se às vivências pessoais vinculadas ao desenvolvimento cognitivo, à representação social do humano e às construções motivacionais de cada indivíduo. Além do mais, a riqueza do diverso em cada ser humano e de cada um em relação ao outro, representa a possibilidade de se instituir novas e distintas relações interpessoais. O próprio desenvolvimento de cada pessoa está relacionado a todas as ações e vivências cotidianas e a motivação intrínseca construída desde os primeiros anos de sua existência. No entanto, cabe ressaltar que as circunstâncias de vida e as experiências vivenciadas podem provocar motivações extrínsecas capazes de fazer parte de novas internalizações. Mosquera (1987, p. 55) delineia:

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A referência da vida adulta dividida em três fases, de acordo com Mosquera, aponta-se uma ligação direta de cada fase com uma ordem se- qüencial das metas motivacionais. Cabe ressaltar que essas características estão mais relacionadas com o grau de desenvolvimento da maturidade da pessoa do que com a idade cronológica, sendo assim, é fundamental levar esta questão em consideração, quando nos referimos às diferentes caracte- rísticas nas fases da vida adulta, as quais se interpenetram e não são estanques. Os estudos mais recentes de Schaie e Willis (2003) sobre a motivação humana analisam o que influi na intensidade e duração das nossas ações e na direção das nossas condutas. Essas pesquisas estão centradas na atividade dirigida a metas, as quais se constituem em um fator importante da motivação. Já Alonso Tapia (2005), ao considerar a motivação para aprender, salienta que essa depende dos objetivos, o que se quer alcançar; das metas, a satisfação que se vai obter; dos custos, os efeitos negativos ou conseqüências positivas e das expectativas para conseguir algo. Um dos tripés, que sustenta a motivação em cada pessoa, refere-se aos indicadores das metas enfrentadas em cada atividade. No estudo desse autor encontram- se, também, os referenciais sobre os motivos que levam os estudantes a querer aprender, e relaciona-o com as diferentes características de cada fase da vida adulta. A partir do exposto anteriormente sobre esta fase da vida e a diversidade, apresenta-se uma reflexão comparativa entre essas idiossincrasias e os indicadores motivacionais apresentados por Alonso Tapia (2005). Inicialmente, percebe-se que o adulto jovem, no começo de sua inserção social, no que se refere ao trabalho e constituição familiar, apresenta maior motivação quando avaliado positivamente. Esta valoração pessoal aparece num sentido da própria preservação individual, bem como, parece ser importante receber externamente recompensas por sua realiza- ção. O adulto jovem, ainda em processo de amadurecimento, necessita uma valoração externa de suas habilidades e capacidades. Na adultez média, considera-se que a aprendizagem que vem acontecendo ao longo da vida torna-se um prazer e um desafio ao indivíduo pela experiência que isso proporciona. Essa característica também é percebida na adultez jovem e continua ao longo da vida. Um outro aspecto demonstrado na vida adulta média é a preocupação em aprender a ser útil e em partilhar as suas aprendizagens e tornar-se realmente gerativo, sendo, portanto uma época da vida de grande produtividade e significado.

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Enfim, na adultez tardia ou avançada, o ser humano quer empenhar- se em ajudar os outros, sendo útil para com os demais indivíduos de sua convivência. Sheehy (1997) define esta fase de segunda onda de cuidados dispensados a outros, após ter cuidado dos seus filhos e pais, as pessoas, muitas vezes, começam a cuidar dos seus cônjuges e de outros adultos que precisem de cuidados. Também se percebe que há um contingente de autonomia muito presente em relação ao próprio controle pessoal construído. Os adultos avançados apresentam, em muitas circunstâncias, a necessidade de possuir autonomia e poder decidir sobre os seus atos. Salienta-se que, assim como as faixas etárias não podem ser restritas dentro de cada fase da vida adulta, mas são denotadas distintamente, em cada meio social em que a pessoa estiver inserida. Também, as evidências motivacionais de cada indivíduo, podem traduzir-se pela própria diversi- dade, alicerçadas nos contextos socioculturais e características pessoais. A seguir, apresenta-se a figura organizada a partir dos estudos aqui elencados pela teorização de Alonso Tapia (2005). São metas motivacionais reveladas durante a vida adulta, num percurso horário, pelas faixas etárias abarcadas.

Mo tiva çõe s na vid a a dulta

Ad u lt ez Jo vem D es ejo de obt er av aliação positi va

A du ltez Jo vem D es ejo de pres erv ar o valor pes s oal

A du ltez Jo vem D es ejo de conquist ar rec om pensas e xternas

Ad ult ez Jovem Ad ult ez M édia D esejo de aprend er e Experim entar c ompetênci a

Ad ult ez A vançad a D es ejo de aceitaç ão Ad ult ez A vançad a Inc ondic ional Desejo d e autonom ia e c ontrol e pess oal

A dul tez A vançad a Des ejo de s er útil e p oder ajudar

A du ltez M éd ia D es ejo de aprender o que é útil

Motivação na vida adulta

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