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Neste artigo, investigamos a utilização do corpo feminino como suporte e disparo de um discurso político nas artes visuais. Através do estudo de artistas como jenny saville, hannah hoch e hannah wilke, abordamos a importância da arte feminista nas mudanças que envolvem a desconstrução da representação idealizada do feminino. As mulheres questionam o papel que ocupam na sociedade e a utilização desse pelas mesmas, desafiando as representações culturais e objetificações históricas do feminino na arte.
Tipologia: Provas
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ARTIGOS
Letícia HONÓRIO, Universidade Federal de Santa Maria O presente artigo tem como objetivo a investigação sobre a utilização do corpo feminino como suporte, e/ou disparo de um discurso político no espaço das artes visuais. O artigo traz a importância da arte feminista nas mudanças que envolvem a crescente desconstrução em relação à representação idealizada do feminino como veículo de controle, de heteronormatividade. O presente trabalho aborda artistas que discutem diversas linguagens do campo das artes visuais e possuem um papel fundamental nessa desconstrução da representação do feminino, como: Jenny Saville, Hannah Hoch e Hannah Wilke. Todas trabalham, à sua maneira, com o papel da mulher na sociedade, questionando o espaço que lhes é dado e a utilização desse pelas mesmas. P A L A V R A S - C H A V E : A r t e. F e m i n i n o. C o r p o. D e s c o n s t r u ç ã o. Heteronormatividade.
A arte sempre teve o papel de comunicar, é uma prática discursiva que molda diversos padrões e princípios socioculturais de uma sociedade. A história da arte esteve por muito tempo sobre o predomínio de artistas homens, que costumavam trazer para suas obras reflexos‑ 1 de um meio predominantemente masculinizado. Segundo Simioni (2008, p. 29) “durante o século XIX, a arte parecia ser uma profissão exclusivamente masculina... as poucas mulheres que ousaram ingressar nesse sistema dominado pela academia eram julgadas por seus pares de modo pejorativo, como amadora”. Com isso, a objetificação do feminino na arte não é algo incomum, até mesmo a partir da inclusão de algumas mulheres neste meio. Temos na história da arte diversas obras com a clássica figura da Vênus, como na reconhecida pintura de Sandro Botticelli “ O Nascimento da Vênus ”^1. Nessas obras, a maioria dos artistas se apropriaram dessa misticidade dessa entidade para retratarem o nu feminino. Nestas e em outras obras a mulher é representada como um ser inocente, puro, pacificado, que divergem com a figura do homem empoderado, onipotente. Há também a imagem da mulher sedutora, que era tida como uma "tentação" ao homem, o que evidencia o caráter erótico que acompanha diversas obras. Vemos um exemplo na obra de Édouard Manet “ Olympia ” 2 , onde o artista apresenta a figura de uma provável prostituta acompanhada de uma escrava. Elas carregam uma "verdade absoluta" em que as mulheres são representadas conforme o desejo masculino, criando um estereótipo feminino nas artes, e com isso eles, os homens, buscam deter o poder sobre suas ações, seu corpo e sua sexualidade. O sociólogo Pierre Bourdieu afirma em seu livro, A Dominação Masculina (1998), que "uma relação desigual de poder comporta uma aceitação dos grupos dominados, não sendo necessariamente uma aceitação consciente e deliberada, mas principalmente de submissão pré- reflexiva". Ao final do século XIX, e no início do século XX, as mulheres começam a ter uma maior participação em algumas atividades, anteriormente com predominância masculina, como a entrada no mercado de trabalho, acesso a instituições de ensino, isso ocorre também nas artes. A partir daí inicia-se uma inquietude por parte das mulheres, que começam a questionar-se sobre as posições que ocupavam na 1 O Nascimento da Vênus , 1486, Têmpera sobre tela, 172,5 X 278,5 cm, Galleria degli Uffizi, Florença. ! 2 Olympia , 1863, Óleo sobre tela, 130,5 X 190 cm, Museu d'Orsay, em Paris.
Figura 1: Hannah Hoch, Mutter , 1930, Fotomontagem.^4 Hoch abordava em suas obras a ideia de uma mulher "incompleta" que detinha quase nenhum poder sobre si, nem mesmo sobre o controle reprodutivo. Nos apresentava um corpo transfigurado, um corpo comum, que não era o modelo de beleza da época. A obra acima, Mutter (1930), retrata um torso de mulher com a face coberta com uma máscara, onde é possível ver somente um olho e a boca. Na época chegou-se a levantar a hipótese de que a artista teria feito um "auto- retrato" questionando a identidade feminina, pois apesar de deter uma grande produção, Hoch enfrentava o mesmo problema que outras artistas mulheres, vivia às sombras de um artista homem, Raoul Hausmann 5 com quem teve um relacionamento extraconjugal, por parte dele. Hoch buscava também em suas fotomontagens levantar a crítica ao uso da imagem feminina na publicidade de cosméticos e produtos em geral, os quais eram grandes propagadores dessa ideia de um padrão de beleza, de um corpo "à venda" que o movimento pretendia desconstruir. ! 4 Fonte da Figura 1: http://mhsartgallerymac.wikispaces.com/Collage ! 5 Raoul Hausmann foi um artista plástico, poeta e romancista Austríaco, nasceu em 12 de julho de 1886 e morreu em 1 de fevereiro de 1971.
Hoch assim como outras artistas do período inicial do movimento, foram as precursoras na tentativa de acabar com essa ideia de dominação visual perante o corpo feminino, foi a partir das fotomontagens que ela representou um olhar para outro tipo de corpo, não aquele corpo erotizado, desejado por homens, de uma mulher hipoteticamente submissa e conformada. Mas, sim o corpo de uma mulher livre, livre para ser triste, para ser feliz, para estar com raiva, para não querer estar na "moda". Hannah encontrou então no Dadaísmo um ponto de partida para expor suas críticas, como cita Roters: É certo que o encontro inicial com Dadá deu, sem dúvida, uma diretriz à arte de Hannah Höch e levou-a a descoberta das capacidades criadoras. Porém, foram precisamente os seus próprios princípios criadores que lhe fizeram reconhecer a afinidade com o Dadá; esses mesmos princípios que obedeciam ao seu caráter e às suas tendências artísticas, cuja afinidade seletiva a conduziria temporariamente ao Dadá, foram também aqueles que depois a levaram a afastar-se pouco a pouco do Dadá e a seguir seu próprio caminho. (ROTERS, pg.65)
Com o surgimento da bodyart , e partir dos estudos de gênero, que afirmam que o gênero é uma construção social (BEAUVOIR, 1949), o movimento foi se transformando. O feminismo também trata de questões que não envolvem só às mulheres, mas de questões sociais que também buscam emancipação como a política sexual de gays e lésbicas, as lutas raciais de negras e negros, e os debates sobre as classes sociais. O uso do próprio corpo feminino como instrumento da arte abriu espaço para mais uma conquista da arte feminista. A apropriação de seu corpo como matéria-prima para o seu fazer arte é empoderador, contrapõe a objetificação de mulheres pretendida por homens. Uma artista que podemos citar deste período é a Hannah Wilke 6 , americana, reconhecida pelos seus exemplares das “Vulvas” de terracota, que são algumas das primeiras disseminações da imagem de uma vagina explícita em uma obra, no meio artístico. Isso já demonstra a libertação do corpo feminino na arte, a aceitação e a desinibição de algo antes "temido". Da exploração da própria sexualidade, do conhecimento sobre o corpo feminino, que anteriormente era um saber que só cabia aos homens legitimar. A obra ! 6 Hannah Wilke nasceu em 7 de março de 1940, em New York, e morreu em 28 de janeiro de 1993, em New York, nos Estados Unidos da América.
Figura 3: Hannah Wilke, Starification Object Series , 1974-82, Fotografia, Hannah Wilke Coleção e Arquivo, Los Angeles.^8 Wilke recebeu algumas críticas em relação ao modo que se auto fotografava, que às vezes assemelham-se as fotos com modelos, fato também ocorrido pela sua beleza que faz parte do padrão estabelecido pelas propagandas publicitárias, moda e toda a sociedade em geral. Mais tarde, a artista desenvolve um linfoma, e após o tratamento de quimioterapia e um transplante de medula óssea, a artista decide fazer seu último trabalho, o “ Intra-Venus Séries ” (1992-1993). Nessa obra a artista utiliza-se da sua deterioração para questionar os procedimentos clínicos, a relação estabelecida com a imposição de um padrão de beleza e a configuração dos tratamentos médicos fornecidos às mulheres. ! 8 Fonte da Figura 3 :https://www.moma.org/interactives/exhibitions/2010/originalcopy/ works10.html#
Figura 4: Hannah Wilke, Série Intra-Venus , 1992-1993, Fotografia, Institute of Contemporary Art, Los Angeles.^9 A obra abrange toda uma ressignificação do corpo perante suporte e também finalização de um processo ocasional que a artista fortemente explorou. Wilke utiliza-se do próprio corpo na tentativa de um discurso com a sociedade, a partir das ações sobre seu corpo, a artista mostra uma mulher que se aceita, que luta contra os estereótipos e que se empodera.
Na contemporaneidade a mulher já atingiu certos espaços e a lutapor direitos é constante. Nas artes não é diferente, a utilização do corpo feminino nas performances, instalações e outras linguagens, propagou-se fazendo com que a ideia artística de um corpo feminino ficasse cada vez mais subjetiva. A construção de um corpo feminino com base somente nas características biológicas femininas é questionada. Ainda há padrões de beleza, e talvez seja utopia pensarmos em uma sociedade sem esses paradigmas excludentes, mas a inserção das mulheres nos meios sociais em busca de autonomia, de controle sobre si própria, nos leva a problematizar não só as características estéticas dessa ! 9 Fonte da Figura 4: https://www.artsy.net/artwork/hannah-wilke-intra-venus-series- number-6-february-19-
Figura 6: Jenny Saville, Passage , 2004, Óleo sobre tela, 336 x 290 cm.^12
As mulheres atualmente estão cada vez se inserido mais nos espaços de arte, passaram a ocupar um espaço que anteriormente as mantinham ocultas. A arte feminista, que surgiu como uma reação à pretendida heteronormatividade compulsória no meio artístico, ainda resiste. A contemporaneidade veio para abrir espaço para que as/os artistas pudessem se reinventar, renovar os seus conceitos, repensar o papel da arte em meio ao contexto político em qual vivemos e levar em conta as subjetividades que emergem a cada dia. A reconfiguração de um corpo feminino nas artes abre portas para uma discussão que vai muito além do caráter estético, está tratando também de questões políticas, da mulher enquanto sujeito numa sociedade heteronormativa. Considerar essa (des)construção na configuração de mulher no meio artístico é um ! 12 Fonte da Figura 6 :https://parkstoneinternational.wordpress.com/2015/10/15/jenny- saville-bares-all/
começo para questionar-se a apresentação de outras reconfigurações do sujeito artista. A arte, assim como outras áreas do conhecimento, necessita com urgência absorver e potencializar discussões sobre a construção do gênero, e a criação de identidades nesse contexto contemporâneo.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão Artista: Pintoras e Escultoras Acadêmicas Brasileiras. Fapesp, 2008. BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Le Deuxième Sexe. Nova Fronteira, Brasil, 2009. BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. La Domination Masculine. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. NEAD, Lynda. El desnudo feminino: Arte, obscenidade y sexualidad. Madrid: Editorial Tecnos, 1998. NOCHLIN, Linda. "Why Have There Been No Great Women Artists?" New York: Basic, 1971. ROTERS, Eberhard. Simbolismo da Imagética na obra de Hannah Höch. In: Hannah Hoch 1889-1978 Colagens. Ostfildern: Instituto de Relações Culturais com o Exterior, VG Bild-Kunst e Autores,