Baixe A Lenda de Francisco Iwerten e o Capitão Gralha: Realidade ou Ficção? e outras Notas de aula em PDF para Cultura, somente na Docsity!
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
FACULDADE DE ARTES VISUAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE E CULTURA VISUAL
IVAN CARLO ANDRADE DE OLIVEIRA
A FANTÁSTICA HISTÓRIA DE FRANCISCO IWERTEN
Hiper-realidade e simulacro nos quadrinhos do Capitão Gralha
GOIÂNIA
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor doutor Edgar Franco por ter acreditado neste projeto e
contribuído em muito com a melhoria do trabalho através de inspirada orientação.
Agradeço a meus familiares, minha mãe, minha esposa Elizabeth, meu filho
Alexandre e minhas filhas Moiras, pela compreensão, apoio e pela ajuda na revisão.
Agradeço ao amigo JJ Marreiro, autor da sobrecapa desta tese, do design dos slides
da apresentação e do convite para a defesa da tese. Além de toda a parceria na
elaboração da poética.
Agradeço ao amigo Antonio Eder, eterno parceiro de quadrinhos e sem o qual a
maior parte da poética seria impossível.
Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho
Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida lhe acompanhou:
Se ele era um sábio chinês
Que sonhou que era uma borboleta,
Ou se era uma borboleta sonhando
Que era um sábio chinês
Se ele era um sábio chinês
Que sonhou que era uma borboleta,
Ou se era uma borboleta sonhando
Que era um sábio chinês
Raul Seixas
Abstract
This thesis discusses Francisco Iwerten case. Born in Curitiba, Iwerten created
Capitão Gralha (Captain Jackdaw), the first Brazilian super-hero, and published it in
Curitiba at the beginning of 1940s. This entirely fictitious story was created in a text I
wrote to Metal Pesado (Heavy Metal) Curitiba magazine in 1997. Despite the text
being fictional, many believed that Iwerten and his creation had really existed, going
as far as Iwerten winning an Ângelo Agostini prize as Master of National Comics. In
September 2014 the story was revealed at a discussion table of II Curitiba Gibicon
comics event. The project concerns the analysis of the case and the creative process
of the album Capitão Gralha’s Lost Stories, which will be produced as if it was a
rescue of Iwerten’s stories and will have my scripts with multiple draughtsmen’s art.
The thesis is based on the concepts of simulacrum and hyperreality, especially from
the approaches of Umberto Eco and Baudrillard. The aim is to analyze how the
boundaries between reality and fiction were gradually fading and how art, literature
and comics reflect this process through works that test those limits. Literary and
artistic works that used this approach are analyzed, creating a likelihood that,
although fictional, have been taken as real. It will also be detailed historical process
of creating myths Francisco Iwerten and Captain Crow and analyzed how it has
expanded, especially after the popularization of the Internet. Will be analyzed in
detail the process of creating the project deals with the case analysis and the album
creation process lost stories of Captain Crow, released on April 1, 2016, in Gibiteca
of Curitiba. The album, using the concepts of simulacrum and hyperreality, emulates
rescue publications with stories in "original" comic Iwerten and his team, introductory
texts unraveling the creative designer process and the context of creation of each
story, and a detailed biography of Iwerten, which describes in detail the whole
trajectory of this imaginary comic artist, from his Jewish ancestry, the trip to the
United States within the good-neighbor policy and the publication of stories. The
thesis focuses on the intricacies of creating this detail and verisimilitude strategies
adopted for the album became hyper-real. It also analyzes other likelihood strategies
such as fan-page of Captain Crow, which deals Iwerten as real as to publish even
quotes.
Resumen
Esta tesis aborda el caso Francisco Iwerten. El curitibano Iwerten sería el creador
del personaje Capitán Graja, el primer súper-héroe brasileño, publicado en Curitiba a
principios de 1940. La historia, totalmente ficticia, fue creada en un artículo de mi
propia autoría publicado en la revista Metal Pesado Curitiba, en 1997. Aunque el
texto sea ficticio, muchos creyeron que tanto Iwerten y el Capitán habían existido en
realidad, a punto de Iwerten ganar el premio Ângelo Agostini como Maestro de la
Historieta Nacional y casi ser honrado por una escuela de samba. En septiembre de
2014, la historia se revela en la mesa redonda en el II Curitiba Gibicon. La tesis se
basa en los conceptos de simulacro y híper-realidad, sobre todo a partir de los
abordajes de Umberto Eco y Baudrillard. El objetivo es analizar cómo los límites
entre realidad y ficción fueran se desvaneciendo poco a poco y de cómo el arte, la
literatura y las historietas reflejan este proceso a través de obras que ponen a
prueba estos límites. Se analizan obras literarias y artísticas que utilizan este
enfoque, creando una verosimilitud que, a pesar de ficción, se han tomadas como
realidad. También se detallará el proceso histórico de creación de los mitos
Francisco Iwerten y Capitán Graja y se analizará cómo se ha expandido,
especialmente después de la popularización de Internet. Se analizará en detalle esto
proceso de creación. El proyecto trata sobre el análisis del caso y el proceso de la
creación del álbum Historias perdidas del Capitán Graja, estrenado el 1 de abril de
2016 en la Gibiteca de Curitiba. El álbum, utilizando los conceptos de simulacro y
híper-realidad, emula publicaciones de rescate de historietas “originales” de Iwerten
y su equipo, con textos introductorios que desentrañan el proceso creativo del
dibujante y el contexto de la creación de cada historia, y una detallada biografía de
Iwerten, que describe minuciosamente toda la trayectoria de este historietista
imaginario, de su ascendencia judía, su viaje a los Estados Unidos en la política de
buena vecindad y la publicación de sus historias. La tesis aborda los meandros de la
creación de estos detalles y las estrategias de verosimilitud adoptadas para que el
álbum se hacerse híper-real. También se analizan otras estrategias de verosimilitud
como la fanpage del Capitán Graja, que trata Iwerten como real, hasta el punto de
publicar citaciones de su autoría.
- Figura 1 - A entrada da personagem Valdirene no BBB levanta... p. Sobrecapa de autoria de JJ Marreiro
- Figura 2 - Zilla van den Born simulou uma viagem pelo mundo p.
- Figura 3 - Página falsa anunciava a escalação de ator brasileiro... p.
- Figura 4 - O jornal Inglês Metro foi o primeiro a publicar a notícia fake... p.
- Figura 5 - A balela do balão de Poe, é provavelmente, o primeiro... p.
- Figura 6 Suposta versão do Necronomicon. p.
- Figura 7 - Suposta capa de um Necronomicon. p.
- Figura 8 - Jornal da época relata o pânico provocado pela transmissão... p.
- Figura 9 F for fake, de Orson Welles, entrelaça realidade e ficção na arte p.
- Figura 10 - Suposta imagem do desenho de produção do filme Bat-man... p.
- Figura 11 - Cartazes do filme criados por fãs. p.
- Figura 12 Cena do Trailer do Bat-man de Orson Welles. p.
- Figura 13 - O blog Em um universo paralelo qualquer é especializado... p.
- Figura 14 - A estratégia de verossimilhança usada por Dan Brown... p.
- Figura 15 - O nome da rosa seria apenas uma tradução de Eco... p.
- Figura 16 - Benítez tornou sua história crível através de uma... p.
- Figura 17 - O e-book Delegado Tobias levou o autor a ser processado... p.
- Figura 18 - Perfil falso do jurista. p.
- Figura 19 - Outdoor sem assinatura no Rio de Janeiro faz propaganda... p.
- Figura 20 Em O Eternauta, o roteirista aparece na própria história... p.
- Figura 21 - Oesterheld faz com que leitor confunda realidade com ficção. p.
- Figura 22 Em O Eternauta, o fato da história ter sido publicada é prova... p.
- Figura 23 - 1963: retorno da tipografia manual e da impressão com... p.
- Figura 24 - Moore usa créditos grandiloquentes e com o recurso... p.
- Figura 25 - Exemplo de aliteração usado por Stan Lee nas chamadas... p.
- Figura 26 - Anúncio critica a forma como a Marvel retratava os... p.
- Figura 27 - As sessões de cartas simulavam a ingenuidade dos anos 1960 p.
- Figura 28 – Sennett traz Promethea de volta ao mundo com sua poesia p.
- Figura 29 - A encarnação pulp da heroina se destacava pelas ilustrações... p.
- Figura 30 - O prefácio de Tom Strong une ficção com fatos e pessoas reais p.
- Figura 31 Flex Mentallo apresenta uma história que mistura realidade... p.
- Figura 32 O Sentinela foi apresentado com uma releitura de um herói... p.
- Figura 33 Steve Cowley escrevia seus livros de ficção como se falassem... p.
- Figura 34 - Cowley usou o recurso de pseudônimo para aumentar... p.
- Figura 35 - O nome do artista Souzousareta Geijutsuka já indicava que... p.
- Figura 36 - A obra de Firmeza só foi reconhecida depois que a imprensa... p.
- Figura 37 - A publicação de uma notícia falsa foi a primeira parte da obra. p.
- Figura 38 - O perfil da personagem na rede Facebook foi tão convincente... p.
- Figura 39 Podcast do site Omelete divulgou a história da Pet humana... p.
- Figura 40 - A página publicou uma história em quadrinhos a partir de uma... p.
- Figura 41 - O Art book criado por Moreschi reunia apenas artistas fakes. p.
- Figura 42 - Uma das páginas do Artbook, dedicada à artista Malala Rejara. p.
- Figura 43 Zelig foi o precursor dos mocumentários p.
- Figura 44 O seriado Modern Family popularizou o gênero mocumentário. p.
- Figura 45 - Texto que deu origem à lenda de Francisco Iwerten p.
- Figura 46 - O conto "Vivo ou morto" deu origem à ideia de simular... p.
- Figura 47 A gralha - arte Luciano Lagares. p.
- Figura 48 - Proposta de Alessandro Dutra para o Capitão Gralha. p.
- Figura 49 - Primeira proposta pra o Capitão Gralha, por Edson Kohatsu. p.
- Figura 50 - Um equívoco levou Edson Kohatsu a colocar o Capitão um... p.
- Figura 51 Nota fiscal de uma compra feita por Antonio Eder na loja cujo... p.
- Figura 52 Matéria sobre o lançamento da Metal Pesado Curitiba... p.
- Figura 53 - Matéria que anunciava a publicação do Gralha na Gazeta... p.
- Figura 54 - No mesmo dia de estreia do Gralha, a coluna do pesquisador... p.
- Figura 55 - Cartilha que funcionava como guia para os autores das HQs... p.
- Figura 56 Artigo de José Aguiar para o site Omelete que cita o Capitão... p.
- Figura 57 - Matéria na revista Época sobre o filme do Gralha destaca... p.
- Figura 58 - Lancelott Martins fez em seu blog um "resgate" do Capitão... p.
- Figura 59 - O post sobre o Capitão Gralha posteriormente foi... p.
- Figura 60 - O Capitão Gralha foi destaque no Catálogo de heróis... p.
- Figura 61 - Sites como o da editora Moura Ramos citam Iwerten e a... p.
- Figura 62 – O blog Os primeiros super-heróis do mundo acrescentou... p.
- Figura 63 - A publicação do texto no próprio blog é usada como prova... p.
- Figura 64 - Resultado do Ângelo Agostini 2006. p.
- Figura 65 - Cartaz do segundo filme do Gralha. p.
- Figura 66 - Cartaz da peça de teatro do personagem. p.
- Figura 67 - Cartaz de divulgação do samba-enredo da Camisa 10... p.
- Figura 68 - O álbum O Gralha - tão banal quanto original revelou... p.
- Figura 69 O álbum Bocas Malditas tratou Francisco Iwerten como uma... p.
- Figura 70 - O autor do blog Os primeiros super-heróis do mundo... p.
- Figura 71 - Retratação da AQC retirando o prêmio de Iwerten. p.
- Figura 72 - Splash page da origem do Capitão Gralha remete à mítica... p.
- Figura 73 - Capa do Guia Visual do Capitão Gralha. p.
- Figura 74 O guia mostra visualmente o povo e o mundo de origem do... p.
- Figura 75 - Guia para desenhos de armas usadas em Byrdfhom. p.
- Figura 76 A história "Surge o Dr. Destruição" apresentava o principal vilão... p.
- Figura 77 - Típica capa da era de prata da DC Comics, com os heróis... p.
- Figura 78 Ambientação na Rua XV não é real, mas é verossimilhante. p.
- Figura 79 Estante destaca autores com nomes iniciados pela letra D. p.
- Figura 80 A origem do Dr. Destruição é contada em flash back. p.
- Figura 81 O último quadro "reflete" o segundo quadro, indicando o... p.
- Figura 82 O final da história revela o sentido de pastiche da HQ. p.
- Figura 83 Rafe da primeria página da história "O pinhão bicéfalo". p.
- Figura 84 Página pronta do "Pinhão bicéfalo". p.
- Figura 85 – Os textos sobre as histórias ajudam a dar verossimilhança... p.
- Figura 86 A citação de um crítico que teria escrito sobre Iwerten sem ter... p.
- Figura 87 Misturar fatos reais e ficcionais foi uma estratégia de... p.
- Figura 88 - O time para o qual Iwerten torcia teria servido de inspiração... p.
- Figura 89 - Recortes de jornal da época ajudam a criar o clima de... p.
- Figura 90 Primeiros esboços para a capa. p.
- Figura 91 Capas de livros que serviram de referência para a capa. p.
- Figura 92 As capas apresentam Iwerten como autor de um lado de... p.
- Figura 93 A Liga das Lendas Curitibanas seria um grupo criado por... p.
- Figura 94 Página com o vilão levou à criação de anexo com páginas... p.
- Figura 95 A página da radionovela passou por um processo de... p.
- Figura 96 - Memes brincam com a "existência" de Iwerten e do Capitão... p.
- Figura 97 A vinda de Orson Welles ao Brasil serviu para ampliar a... p.
- Figura 98 Meme brinca ao associar o Batman de Orson Welles com o... p.
- Figura 99 Os memes da sequência "A sabedoria de Iwerten" procuram... p.
- Figura 100 O quadrinista Alexandre Nagado brincou com a mitologia... p.
- Resumo p. SUMÁRIO
- Abstract p.
- Resumen p.
- INTRODUÇÃO p.
- 1 O LABIRINTO p.
- 1.1 Realidade e ficção p.
- 1.2 Simulacro e hiper-realidade p.
- 1.3 Quando realidade e ficção se misturam p.
- 2 FAKE NA ARTE p.
- 2.1 Pioneiros do fake na literatura: Poe e Lovecraft p.
- 2.2 O pânico Guerra dos Mundos p.
- 2.3 O fake como sucesso literário: Dan Brown, Eco e Benítez p.
- 2.4 O fake literário no Brasil: Delegado Tobias p.
- 2.5 O caso dos Protocolos dos Sábios de Sião p.
- 2.6 Realidade e ficção em O Eternauta p.
- 2.7 Fake e hiper-realidade nos quadrinhos de Alan Moore p.
- 2.8 Flex Mentallo, de Grant Morrison e Frank Quitely p.
- 2.9 Sentry – O Sentinela p.
- 2.9 Livros sobre o futuro espacial p.
- 2.10 Hiper-real nas artes visuais p.
- 2.11 A pet humana, obra de Gian Danton e José Loures p.
- 2.12 Art Book: a construção de uma enciclopédia de artistas p.
- 2.13 Mocumentary p.
- 3 O HOMEM QUE SONHAVA COM HERÓIS p.
- 3.1 Um pioneiro esquecido p.
- 3.2 Vivo ou morto? p.
- 3.4 Antonio se recusa a morrer p.
- 3.5 Metal Pesado Curitiba p.
- 3.6 Surge o Capitão Gralha p.
- 3.6 Iwerten e o Capitão começam a ganhar vida p.
- 3.7 A lenda se espalha p.
- 3.8 Textos acadêmicos p.
- 3.9 Os primeiros super-heróis do mundo p.
- 3.9 O prêmio p.
- 3.10 Os filmes p.
- 3.11 O Capitão Gralha samba? p.
- 3.12 Francisco Iwerten existiu! p.
- 3.13 Iwerten perde o prêmio Ângelo Agostini p.
- 4 AS HISTÓRIAS PERDIDAS DO CAPITÃO GRALHA p.
- 4.1 Um pequeno guia visual p.
- 4.2 O Doutor Destruição p.
- 4.4 O pinhão bicéfalo p.
- 4.5 As fabulosas narrativas de Iwerten p.
- 4.6 A polêmica sobre Iwerten p.
- 4.6 A biografia de uma lenda p.
- 4.7 A página Capitão Gralha p.
- 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS p.
- REFERÊNCIAS p.
Capitão Gralha, ambos fictícios, mas tomados como reais, citados em matérias
jornalísticas, artigos científicos e cronogramas de quadrinhos, uma obra totalmente
fictícia, mas que garantiu ao suposto desenhista paranaense até mesmo um prêmio
e uma quase homenagem por uma escola de samba.
O caso será analisado a partir dos conceitos de realidade-ficção e hiper-
realidade.
A poética resultado desse trabalho discute os mesmos conceitos. Trata-se do
álbum de quadrinhos Histórias perdidas do capitão Gralha, lançado no dia primeiro
de maio de 2016, na Gibiteca de Curitiba. Um esforço conjunto, por uma equipe de
quadrinistas com o objetivo de trazer a público as clássicas aventuras do herói
curitibano, assim como a biografia de seu criador e colaboradores e textos com
curiosidades sobre a produção das histórias.
Ainda como parte da poética, apresenta-se o livro Francisco Iwerten: a
biografia de uma lenda, que, de um lado apresenta Iwerten como personagem real,
digno de ser biografado, e, do outro lado, revela os bastidores de sua criação.
Para melhor organização, dividiu-se o trabalho nos seguinte capítulos:
CAPÍTULO 1 - NO LABIRINTO – Esse capítulo discute os principais
conceitos tratados no trabalho, especialmente os relacionados à ficção, realidade,
hiper-realidade e simulacro.
Capítulo 2 – FAKE NA ARTE – Este capítulo recolhe exemplos de casos em
que a arte brincou com o conceito de realidade e às vezes em que a ficção foi tida
como real.
CAPÍTULO 3 - O HOMEM QUE SONHAVA COM HERÓIS – Este capítulo
apresenta a história por trás de Francisco Iwerten e o Capitão Gralha,
provavelmente o mais longevo caso de personagem tido como real. O capítulo se
debruça igualmente sobre o processo de criação dos personagens e os
desdobramentos do caso.
CAPÍTULO 4 – AS HISTÓRIAS PERDIDAS DO CAPITÃO GRALHA – Este
capítulo destrincha o processo de criação do álbum fake As histórias perdidas do
Capitão Gralha. O capítulo também analisa a criação da biografia de Francisco
Iwerten.
1 NO LABIRINTO
1.1 Realidade e ficção
O senso comum imagina a realidade como um valor absoluto, algo externo a
nós, pronto, imutável e que pode ser percebida facilmente através de nossos
sentidos com a ajuda de nossa racionalidade. Nesse entendimento, a realidade seria
de certa forma, o oposto da ficção, vista como construção, mentira, engano.
Quando saímos do cinema ou quando acordamos de um sonho, por exemplo, experimentamos a passagem de uma a outra dessas áreas distintas da realidade. O filme (a arte) e o mundo onírico apresentam- nos elementos que nossa consciência não mistura nem confunde com aqueles provenientes da vida cotidiana (...) a vida cotidiana à qual retornamos sempre é considerada por nós a realidade por excelência, a realidade predominante. (DUARTE JÚNIOR, 1989, p. 29).
A citação destaca essa visão genérica, em que realidade é o oposto do
ficcional. Segundo Ivete Lara Camargos Walty (1985, p.15) a ficção normalmente se
confunde com o sonho, a utopia e até a loucura: “Ficção seria, pois, criação da
imaginação, da fantasia, coisa sem existência real, apenas imaginária. É por isso
que quando alguém não acredita em algo que você diz, replica logo: - Isso é ficção”.
A autora destaca inclusive que essa separação ganha contornos sociais, nos
quais a ficção seria desvalorizada em favor da realidade:
Quando se proíbe a leitura dos quadrinhos, por exemplo, pais e professores argumentam que tal leitura é empobrecedora, atrapalha o desenvolvimento da linguagem, desvia o menino das coisas “sérias”. Observamos que a sociedade está dividida em dois segmentos distintos: as coisas “sérias” ligadas ao trabalho, à técnica, à ciência, ao progresso etc – e as coisas não “sérias”, ligadas à diversão, ao lazer, ao riso, à fantasia. Admite-se a fantasia como forma de diversão, de descanso, de lazer para satisfazer uma necessidade humana, mas há que se estabelecer limites para a fantasia não ameaçar o real, para o riso não desrespeitar o sério. (WALTY, 1985, p. 29-30).
Edgar Morin argumenta que esse contexto selou também uma separação
entre a ciência (vista como coisa séria) da fantasia, da imaginação e, portanto, da
ficção:
A imaginação, a iluminação, a criação sem as quais o progresso das ciências não teria sido possível, só entravam na ciência às escondidas: não eram logicamente assimiláveis e eram sempre epistemologicamente condenáveis. Falava-se delas nas biografias dos grandes sábios, mas nunca nos manuais e tratados, de que no entanto a sombria compilação, como camadas subterrâneas do