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direito do surdo de ter a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua de instrução, juntamente com o português, na modalidade escrita.
Tipologia: Notas de aula
Compartilhado em 07/11/2022
4.5
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Não perca as partes importantes!
Salvador 2017
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do título de doutora em Psicologia, na área de concentração Psicologia do Desenvolvimento.. Orientadora: Sônia Maria Rocha Sampaio
Salvador 2017
À Arabutã, companheiro de tantas viagens, muitas vezes porto seguro, outras bote salva- vidas, sempre parceiro, que essa tese tornou também meu marido.
Aos leitores do blog Jeitos de Ser e Conviver, que me ensinaram tanto, sem se darem conta disso. Espero que esse trabalho lhes faça jus e lhes traga alguma retribuição.
A Frédérique Dupuy, que transferiu sua generosidade de Sônia pra mim, sem que eu tivesse feito absolutamente nada pra merecer isso, agradeço pelas traduções luxuosas que fizeram esse trabalho melhor.
A Beatriz Santos, amiga querida que essa tese trouxe de volta pra minha vida, agradeço por te encontrar tão diferente e ainda tão igual em afeto e profundidade.
Às mulheres da Bem Viver, que apoiam meus sonhos como se fossem seus, agradeço pelo suporte constante e torcida incondicional. É um privilégio trabalhar e conviver com vocês. A Bárbara e Juliana, pelas conversas, leituras, sugestões e, principalmente, pela amizade.
Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos, que não cessam de me ensinar sobre a vida, agradeço pelo seu amor e pelos tantos momentos de ternura e felicidade.
Aos meus sogros, brindes inesperados, exemplos em tantas situações, agradeço pela atenção afetuosa e pela expressão de admiração e respeito.
Mais uma vez à minha tia Naura, agradeço pela correção do trabalho e pela disponibilidade de sempre e para tudo.
À minha vó, que é tão boa vó de adultos como foi de (tantas!) crianças, agradeço pelo apoio constante.
À minha mãe, que tanto respeita e apoia minhas escolhas, agradeço por sua admiração e por sua presença delicada e absolutamente imprescindível. Você é o espelho em que mais gosto de me olhar.
“[...] apenas a aceitação crítica de uma herança permite pensar com independência e inventar um pensamento para o porvir, um pensamento para tempos melhores, um pensamento da insubmissão, necessariamente infiel.”
(Elisabeth Roudinesco)
The present PhD project, entitled For Other Psychology of Deafness , emerges as a development of my Master's degree research, that investigated the meanings produced by two deaf young women regarding their experiences as higher education students. The contact with Disability Studies and Deaf Studies, whose proposals are, respectively, the social model of disability and the understanding of deafness as a linguistic and cultural difference, has triggered questions about the role played by Psychology in the attention to deaf people. I was motivated by the impression that the encounter between these two fields of research and practice could lead to mutual transformation, with reciprocal benefits. Using a Developmental Psychology perspective, I aim to reflect on the different possibilities of intersections between Psychology and deafness and about the specificities of the practice of a psychologist with the deaf persons. This approach has an interdisciplinary character: in addition to the aforementioned references, it dialogues with Epistemologies of the South, Neurosciences and Psychoanalysis, including some of Foucault’s ideas and concepts. Six papers are produced and presented in an attempt to answer two questions, around which the project is structured. The first one inquiries about the relevance and usefulness of thinking about a Psychology of Deafness , and is approached from the psychic, social and cognitive dimensions, having as their respective themes the psychic constitution of the deaf person, the construction of a social identity and the acquisition of reading and writing. The second question concerns the specificity of the psychologist's work with deaf persons and their families, and is approached through a review of the scientific production of Brazilian psychology on the subject, analysis of interviews with psychologists and identification of spaces which lack a psychological approach. As a result, I advocate for a Psychology of Deafness that overcomes a direct association between hearing loss and a set of cognitive and psychic characteristics, but rather considers the specificities of the development of deaf persons and their being in the world.
Key-word s: Psychology. Deafness. Psychology of Deafness. Disability. Interdisciplinarity.
Figura 1 Escrita de Sinais, vocabulário da casa................................................................... 116
Figura 2 Codificação de vogais em português (brasileiro) falado complementado .............. 119
Figura 3 Codificação de consoantes em português (brasileiro) falado complementado........ 120
Figura 4 Nuvem de palavras gerada a partir das palavras-chave dos artigos analisados ....... 145
Figura 5 Imagem produzida para marcar as comemorações do Setembro Azul, publicada no perfil da rede social em 06 de setembro de 2015................................................................. 221
Figura 6 Imagem produzida para homenagear os motoristas surdos, publicada no perfil da rede social em 24 de julho 2015. ........................................................................................ 221
Quadro 1 Resumo de informações coletadas em artigos nacionais sobre etiologia da surdez .......................................................................................................................................... 200
Quadro 2 Trechos de comentários deixados por leitores no blog ......................................... 222
Quadro 3 Trechos de comentários deixados por leitores no perfil da rede social ................. 226
Navegar é preciso; viver não é preciso.^1
As heterotopias, conceito criado por Foucault (1984), assim como as utopias, são espaços caracterizados por se relacionarem a todos os outros espaços, porém, em uma dinâmica de contradição com estes. Ao passo que as utopias são, por definição, um lugar sem lugar, um lugar necessariamente irreal, as heterotopias são localizáveis, funcionam como um espaço que, enquanto representa, contesta e inverte todos os outros. Presentes, segundo o autor, em todas as culturas, as heterotopias podem assumir funcionamentos diversos ao longo de sua história. Ainda, elas justapõem diferentes espaços, mesmo aqueles incompatíveis entre si. As heterotopias criam, quase sempre, heterocronias, recortes no tempo, rupturas na temporalidade tradicional. Como característica, possuem sempre um sistema de abertura e de fechamento, que isola, mas, também, possibilita o acesso. Por fim, todas as heterotopias possuem uma função em relação ao espaço restante.
Pois bem, me agrada pensar que, em um trabalho acadêmico, a Apresentação pode ser esse lugar outro, que já é, ainda não sendo. Seção opcional, goza de certos privilégios, tais como uma suspensão das regras formais e uma maior liberdade linguística. Aqui o autor se presentifica e se declara. A Apresentação pode ser lugar de expor a implicação do pesquisador, que, como disse Ardoino (1991, p. 04) é “da ordem da opacidade”, e agrega à racionalidade motivações, desejos, projeções e identificações, todos co-autores da construção do conhecimento.
Embora se localize no início do trabalho, ela não é seu ponto de partida. Como um segmento de reta, une dois pontos, porém, apenas para ressaltar a existência de infinitos pontos em um e outro sentido. Esta Apresentação tem, portanto, como toda heterotopia, uma função, que é, aqui, a de ligação entre dois pontos; quais sejam, a pesquisadora e seu objeto de estudo. Mas não apenas esses, ela também se presta à ligação entre o leitor e o texto. Não como um prefácio, do qual o mesmo Foucault (1972) denuncia o caráter restritivo, sendo mais uma aclimatação. Ainda, a Apresentação é lugar de ligação entre a pessoa que eu era ao começar
(^1) Em latim: Navigare necesse; vivere non est necesse. Frase atribuída ao general romano, Pompeu, que a teria dito aos seus marinheiros, para encorajá-los a viajar durante um período de guerra. Foi celebrizada pelo poema Navegar é Preciso, do poeta português Fernando Pessoa. Seu emprego aqui faz referência ao duplo sentido do adjetivo preciso, que remete à ideia de necessário, mas também de precisão, exatidão.
extremamente diferentes entre si, no que diz respeito à construção da linguagem, como cada uma delas passou por transformações marcantes no curto período em que durou o estudo. Do mesmo modo, a pesquisa me ensinou sobre a ingenuidade, e inutilidade, de tentar enquadrar o vivido em categorias teóricas, quase sempre dicotomizadas e simplificadas para fins didáticos.
O presente projeto desenha-se, portanto, como desdobramento desta pesquisa, que realizei como aluna do Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Ao longo do mestrado, tive contato com um corpo teórico denominado Estudos sobre a Deficiência, que se tornou decisivo para os rumos daquela investigação. Este conjunto de estudos, que começa a se delinear na década de 1970, propõe um modelo social, em oposição à visão dominante e eminentemente biomédica da deficiência (BRADDOCK; PARISH, 2001; DINIZ, 2007).
Para o Modelo Social da Deficiência, não é a lesão ou condição orgânica que determina os limites à pessoa deficiente, mas a relação entre esta e um contexto social que não é capaz de incluir um corpo com impedimentos (DINIZ, 2007; DINIZ; BARBOSA; SANTOS, 2009). Em oposição a uma compreensão da deficiência sustentada exclusivamente no referencial biomédico, esse modelo propõe que seu estudo frequente, também, o campo das humanidades.
Foi fundamental, ainda, a aproximação aos Estudos Surdos, que partem de uma compreensão da surdez como diferença cultural e linguística, e propõem a construção de saberes e práticas que considerem as particularidades da aquisição da linguagem e construção do conhecimento pelos surdos como qualitativamente diferentes daquelas dos ouvintes, além de enfatizar o caráter social das limitações que se impõem a estes (BISOL; SIMIONI; SPERB, 2008; SKLIAR, 2010; SOLÉ, 2005). Alguns temas explorados pelos Estudos Surdos lançam luz sobre a complexidade que subjaz ao estudo da surdez, entre os quais a relação entre poder e saber, a natureza política do fracasso educacional na pedagogia para surdos e a medicalização dos discursos e práticas com surdos (SKLIAR, 2010).
O confronto entre esses referenciais teóricos e a participação da psicologia no estudo e prática com surdos revela uma relação conflituosa. A tradição normalizadora da psicologia a aproxima das profissões reabilitadoras, responsáveis pela manutenção da hegemonia biomédica na concepção da surdez (SOLÉ, 2005). Deste modo, para defensores do Modelo Social da Deficiência e teóricos dos Estudos Surdos, suas produções se baseariam em pressupostos equivocados e simplistas, que contribuíram para disseminar afirmações equivocadas sobre os surdos.
Mas eis que o mundo não se divide em oralistas maus e bilinguístas bonzinhos, tampouco em oralistas esclarecidos e bilinguístas raivosos. As contribuições teóricas e éticas não são exclusividade de um ou outro paradigma, que, ademais, não são os únicos possíveis. Além disso, quando se tornam “bandeiras de luta”, essas duas visões são potencialmente nocivas, na medida em que o olhar atento às particularidades de cada situação é negligenciado e perde-se de vista o objetivo de melhorar a vida de cada pessoa com quem lidamos, em nome de disputas por poder e ajustes de contas históricos (BERNARD, 2004).
A psicologia tem uma participação escassa, embora crescente, no pensar e agir com as pessoas surdas. Essa pode ser uma consequência das disputas ideológicas entre diferentes formas de pensar e cuidar da deficiência. No âmbito particular da surdez, há vários espaços que podem e devem ser ocupados pela psicologia, alguns deles tratados ao longo do trabalho, contanto que ela esteja disposta ao diálogo e a abrir mão de sua vocação para a normalização. Essa pode ser, creio eu, uma interface poderosa, com repercussões mútuas nos dois campos de pesquisa.
Para além do que a psicologia tenha a contribuir, parece-me que o tema da surdez, quando abordado a partir de um paradigma que inclua as contribuições dos Estudos sobre a Deficiência e dos Estudos Surdos, confronta a psicologia, em especial a psicologia do desenvolvimento, com conflitos históricos e ainda atuais, como a relação entre o indivíduo e a sociedade, o inato e o aprendido, a dimensão biológica e a social; mas, também, com a fragilidade da própria divisão interna da psicologia em diferentes campos, tais como psicologia do desenvolvimento, social e organizacional, para citar algumas.
No rebatimento desta discussão, identifico o meu esforço de encontrar meu próprio lugar na psicologia, com a qual mantenho uma relação desde sempre interdisciplinar, desde sempre desconfortável com a necessidade de me posicionar deste ou daquele lado. Não obstante a possibilidade de procurar abrigo em outro lugar, ainda insisto em pensar uma psicologia em que caibam meus interesses e desejo de repensar as fronteiras do conhecimento. O estudo da surdez se encaixa bem nessa itinerância.
Assim, se o trabalho com a surdez não se inicia, para mim, de forma deliberada, o desejo de permanecer nesse campo, contudo, deve ser assumido como uma escolha. Identifico dois eixos que sustentam esta decisão, a dimensão intelectual e a ética. Do ponto de vista intelectual, me fascina o fato de que a compreensão em profundidade da surdez e suas implicações cotidianas me obriguem a reconstruir uma série de conceitos que tomava como certos. Em alguma medida, esta seria uma motivação bastante egoísta, não fosse