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Uma investigação sobre os conceitos de inferência na linguística, com ênfase na compilação de principais conceitos e na proposta de um conceito mais estrito. O texto discute diferentes categorias de inferências, como inferências lógicas, horizontais, verticais, obrigatórias e facultativas, e sua relação com o processo de compreensão textual. Além disso, o autor aponta a necessidade de uma sistematização do estudo das inferências.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Tese apresentada à Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – para obtenção do título de Doutor em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, nível de Mestrado e Doutorado - área de concentração Linguagem e Sociedade. Linha de Pesquisa: Linguagem: Práticas Linguísticas, Culturais e de Ensino. Orientador (a): Prof. Dr. José Borges Neto.
Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do título de Doutor em Letras e
aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Letras – nível de Mestrado e Doutorado, área de concentração em Linguagem e
Sociedade, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
Profa. Dra. Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Prof. Dr. César Batisti Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Prof. Dr. Jorge Bidarra Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Profa. Dra. Márcia Sipavicius Seide Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Prof. Dr. José Borges Neto Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Cascavel, 15 de setembro de 2017
FLORES, Pablo Jamilk. Arqueologia da inferência. 2017. 139 f. Tese (Doutorado em Letras). Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Cascavel, Paraná.
A pesquisa ora apresentada focalizou-se em reflexões e análise envolvendo o tema
das inferências. A partir de estudos e de nosso conhecimento empírico sobre a
temática, despontaram-nos algum(ns) questionamento(s) que se destacaram como
norteadores de nossa investigação: o que são inferências? Como o conceito de
inferência foi empregado ao longo da história dos estudos linguísticos? Como é
possível estabelecer uma classificação dos tipos de inferências? Com o propósito de
encontrar respostas a essa problematização, traçamos, como objetivo geral, delinear
o histórico do termo na história dos estudos linguísticos com breves análises pautadas
na Filosofia. Na perspectiva de alcançar o objetivo proposto, sustentamos a pesquisa
nos pressupostos teóricos de Copi (1978), Hegenberg (1974), Benoit Hardy-Vallée
(2013) para as discussões sobre a natureza de um conceito; bem como nos trabalhos
de Grice (1975), Levinson (2007), Sperber & Wilson (2005), Charaudeau (2004), Clark
(1992), Koch (1998), Coscarelli (2002), Dell’Isola (2001) e Marcuschi (2008) para as
discussões sobre o histórico das inferências. Trata-se, portanto, de uma pesquisa
pautada na Linguística Textual, na Linguística Cognitiva e na Pragmática, do tipo
hermenêutica, que se propôs a analisar as inferências sob alguns pontos de
intersecção teórica entres as pesquisas relativas ao tema. O levantamento de dados
foi possível por meio de uma revisão da bibliografia específica a respeito das
inferências. Como resultado desse processo de investigação, entendemos que a
inferência é o resultado de uma operação cognitiva, baseada no processamento de
informações de um input , com a finalidade de contribuir com a resolução de um
problema de natureza interpretativa por meio da geração de informações novas,
hauridas da relação entre a decodificação das informações originais e a comparação
delas com os dados contidos no repositório mnemônico-experiencial do indivíduo.
. PALAVRAS-CHAVE : Inferência, Lógica, Linguística, Conceito.
Quando, em um contexto comunicativo, o indivíduo se vê interpelado a respeito
do evidente sentido de uma sentença, estabelece-se uma dificuldade que interessa à
análise linguística. Dizer que a depreensão do sentido de algum texto é algo lógico
significa assumir que há uma interpretação latente, única e verdadeira, a qual aguarda
pela “coleta cognoscente” de quem lê.
Parece surgir, nesse contexto, a necessidade de estabelecer alguns critérios
para poder falar em interpretação. O que se tem verificado é a frequente recorrência
à identificação de pressupostos comunicativos e intenções de falantes, leitores e
produtores de texto, para poder dar fôlego à discussão que parece associar os
sentidos de um texto à possibilidade sua de captação e de demonstração.
Um dos termos que mais parece ter sido tomado de empréstimo para fomentar
esse tipo de raciocínio é a “inferência”. A própria conceituação de inferência é bastante
movediça. Fato que, de certo modo, desestabiliza o rigor científico necessário para
tratar do processo de interpretação, pois se há um conceito por demais amplo, por
demais distinto, por demais impossível de se definir, torna-se inviável a sua utilização
para a pesquisa científica, a menos que se tome tal como um conhecimento de
natureza axiomática^1.
O que se observa, no caso da inferência, entretanto, é que não se pode
concebê-la como um axioma, uma vez que não se trata de um conceito inicial
necessário do qual derivam outras inferências por meio de uma fórmula mínima
estruturada. Todavia, é notório que as referências ao termo inferência são muito
constantes em pesquisas relacionadas ao processamento de texto pelo leitor,
predição leitora, produção de sentidos e sequenciação narrativa. Um fato que muito
se destaca é que – como será visto no levantamento bibliográfico – muitos
pesquisadores admitem não haver consenso para o conceito de inferência; admitem
que cada pesquisador adota uma perspectiva distinta (e que, em alguns casos, pode
(^1) Um axioma é definido, na lógica tradicional, como uma sentença ou proposição que, por ser um consenso inicial necessário ao pensamento, dispensa demonstrações ou provas.
verbal ou não verbal, torna-se difícil chegar a resultados que possibilitem um trabalho
baseado em uma metodologia com um delineamento mais claro.
Partindo do pressuposto de que a inferência é um elemento essencial à
compreensão de um texto (em virtude de ser praticamente impensável um texto que
contenha exatamente todas as informações necessárias para sua compreensão), é
possível entender que a compreensão do fenômeno inferencial (suas condições, seus
desdobramentos, sua possibilidade de classificação etc.) torna-se elemento-chave
para qualquer pesquisa que se volte à construção dos sentidos de um texto.
Entretanto, a maior dificuldade está em encontrar um elemento que consiga congregar
as pesquisas que utilizam a base conceitual pautada na análise de inferências.
A divergência que foi apontada em relação aos conceitos pode ser vista por
meio dos seguintes exemplos^2 : Hayakawa (1939): inferência é uma asserção sobre o
desconhecido, feita com base no conhecimento. McLeod (1977:6 ): inferência é
informação cognitiva gerada com base em outras informações (considerando o que
está escrito). Bridge (1977:11): inferência é informação não explicitamente
estabelecida, mas gerada em um processo de especificação de proposições.
Fredericksen (1977:7): inferência é conhecimento gerado. Por meio da crítica dessas
definições, destacam-se alguns pontos de confluência como a ideia de que inferência
é uma informação ou um conhecimento que é gerado. Outro ponto de aproximação
reside no fato de que, para alguns autores, a inferência não está explícita na superfície
do texto e cabe ao leitor realizar um processo mental para acessá-la.
Nota-se, também, que – em algumas definições de inferência (como o caso de
Bridge [1977]) – há menção a elementos que fazem parte do vocabulário comum ao
estudo da lógica, tal como o termo “proposição”. Isso quer dizer que o problema se
estende a um campo que amplia o escopo da análise: falar de inferência também é
falar sobre lógica. Buscar-se-á, na investigação a respeito da construção dos sentidos
e da possibilidade de avaliação relacionada ao que se encontra na Lógica, um ponto
nodal para tentar associar algumas das diferentes visões de inferência.
De acordo com a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações, do ano de 2000
até o ano de 2014, mais de 240 teses foram escritas e defendidas no Brasil tendo
como assunto a leitura e a formação do leitor. Muitas dessas pesquisas utilizam como
fundamentação teórica, os pressupostos da Linguística Textual - que possui uma
(^2) Os quais serão discutidos ao longo do trabalho. Os exemplos citados nessa enumeração foram extraídos da obra de Regina Perét Dell’Isola (1988): Leitura: inferências e contexto sociocultural.
definição própria de inferência (a qual está mais voltada à identificação de processos
de referenciação em uma sentença). Outras pesquisas baseiam-se na Linguística
Cognitiva e na Psicolinguística (como as que se preocupam com o papel das
inferências na constituição da comunicação cotidiana – Clark [1993]) e possuem
adotam outra postura na definição de inferências. Esse dado aponta para um
raciocínio que serve de justificativa para a presente pesquisa: com um número tão
grande de pesquisas acerca de leitura e de formação do leitor em curso ou já
finalizadas, faz-se necessário realizar uma compilação de informações que seja
suficientemente clara para contribuir com futuras pesquisas que tomem como base
um elemento tão caro para a leitura como inferência.
O objetivo geral da pesquisa é realizar uma compilação dos principais conceitos
de inferência disseminados no campo dos estudos linguísticos fundamentalmente, a
fim de apontar as semelhanças e divergências entre os diferentes conceitos e propor
um conceito, cuja extensão possa servir a futuros estudos que necessitem de uma
definição mais estrita desse termo.
O primeiro objetivo específico do trabalho repousa sobre tentar apontar a
origem do termo inferência e investigar quais foram as modificações conceituais
operadas até chegar à presente descontinuidade conceitual que se apresenta sobre
as inferências e sobre o processo inferencial. O segundo objetivo específico do
trabalho se volta para realizar ou identificar uma classificação dos tipos de inferência
que estão baseados em pressupostos teóricos distintos, a fim de verificar sua utilidade
para o conceito que deverá ser proposto. O terceiro objetivo específico é identificar se
há algum elemento invariante dentre as conceituações propostas que possa ser
empregado para sistematizar dos diversos conceitos sobre inferência em apenas uma
linha de raciocínio que represente o processo inferencial.
Como se trata de um trabalho pautado em uma “varredura” conceitual, não é
correto mencionar que há apenas uma base teórica que fundamenta o trabalho em
questão. Dentre as fontes pesquisadas, destacam-se a Linguística Textual
(essencialmente Koch e Marcuschi), a Psicolinguística (Herbert Clark e Arthur
Graesser), a Semântica Argumentativa (Ducrot) e a Teoria da Relevância (Sperber e
Wilson). Com a finalidade de poder discutir a construção de um conceito, a orientação
principal é o trabalho de Benoit Hardy-Vallée (2013).
O método adotado para proceder à pesquisa consiste na revisão bibliográfica
de literatura específica a respeito de inferências e sua possível conceituação. Como
Definir é uma atividade intelectual que organiza a vida humana. Muito embora a definição tenha esse status de elemento integrante da atividade intelectual, realizá- la não é tarefa muito simples. Cotidianamente, o homem lida com uma série de conteúdos/conceitos de cuja definição não pode prescindir e, quando não conhece a definição de uma palavra ou de um conceito com que se relaciona, surgem problemas no processamento específico das informações.
Antes de prosseguir, é forçoso fornecer algumas explicações a respeito do que foi mencionado. Inicialmente, afirma-se que definir é uma atividade intelectual. Para tanto, leia-se a passagem de Hegenberg (1974):
O homem nasce de uma “circunstância” – o primariamente dado – e a transforma em “mundo”, um local em que pode viver. Seu ajuste com o contorno é de ordem intelectual e se efetua de várias maneiras, com auxílio da filosofia, da religião, da ciência e da arte. A ciência, em especial, muito contribui para que esse ajuste possa realizar-se. Investigando, ou seja, observando, percebendo, medindo, o homem chega a certas generalizações que lhe são indispensáveis, para explicar, predizer e retrodizer os fenômenos, que perdem, assim, o caráter “caótico” de que se revestem, a um primeiro exame, para se verem “integrados” em sistemas criados precisamente com o objetivo de permitir aquele ajuste intelectual com o meio. (HEGENBERG, 1974, p. 15)
Segundo esse pensamento, é uma atividade humana ajustar as formas do mundo para formas inteligíveis, ou seja, transformar o que é empírico e – no dizer do autor – caótico em algo intelectualmente processável, a fim de que possa ser item constante de uma cadeia de conhecimentos que permitam interagir com o mundo de maneira organizada. Essa atividade de organização passa pelo nível conceitual, o de analisar, detalhar, sintetizar e (re)apresentar os objetos/fenômenos mundanos para que possam fazer parte de uma realidade intelectiva que possa ser – em parte – compartilhada com outros seres humanos.
O que é dado no mundo, a realidade material, compõe apenas uma parte do universo com que o indivíduo lida. O que é tangível, sensível ou experienciável não se traduz em unicidade. As abstrações conceituais são tão importantes como a possibilidade de experimentar fenômenos, uma vez que são essas abstrações que hão de compor a tradução de qualquer experiência (real ou virtual) para que outros indivíduos possam conhecer ao menos por meio dessas abstrações conceituais experiências que, de fato, não puderam experienciar.
Essa (re)apresentação do mundo sob forma conceitual – advinda das operações mentais do homem – não surge pronta após qualquer experiência. Ela
necessita de uma codificação, e é precisamente aí que reside mais um problema relacionado à atividade de conceituar as – por assim dizer – formas do mundo. Os diferentes códigos utilizados pela humanidade servem de ferramenta para traduzir o experienciável e dar-lhe nomes e características, a fim de que seja possível estabelecer limites para que o intelecto possa se organizar. Como os códigos não são de todo semelhantes (há apenas aproximações estruturais e de ordem do preenchimento semântico das palavras), ocorre essencialmente uma atividade de segunda tradução: do que se experimenta para o código exprimível^3. Por esse raciocínio, resulta claro que de um código para o outro (ou mesmo dentro de um mesmo código), há operadores que se atualizam a depender de variáveis como local, tempo, natureza do registro (maior ou menor formalidade, ou tensão) etc.
Esse problema de tradução do mundo é alvo de preocupação científica. Provavelmente, a ciência – a julgar pela tradição da física grega – tenha definido seu lugar no campo dos conhecimentos justamente por fornecer ferramentas que operem com o fator de distinção de um empirismo sensível a uma epistemologia mais rigorosa. Para retornar aos gregos, é possível dizer que muito da filosofia platônica se voltava a esse fenômeno. Em sua alegoria da caverna , é possível perceber uma distinção entre o mundo percebido (irreal, ilusório) e o mundo em si de realidades intangíveis (o Hiperurânio). As ideias (no sentido platônico) representam o conhecimento, porque são vistas como uma realidade imutável^4. Mesmo que, séculos mais tarde (ou anteriormente, se considerados os sofistas), o perspectivismo surgisse para desmontar a ideia de imutabilidade, fica fulcrada, no ponto fundamental da filosofia ocidental, a necessidade de estabelecer conceitos para fazer uma distinção do mundo.
Ao passo que o pensamento ocidental se especializava, a necessidade de organização dos conhecimentos crescia exponencialmente. A grande demonstração disso é a taxonomia aristotélica dos conhecimentos (o que foi, com efeito, muito além da divisão de classes e espécies): a separação do que é física, metafísica, poética, retórica, lógica e demais divisões do conhecimento. O período sistemático da filosofia é o que ratificou a organização do que é inteligível pautada no agrupamento de conhecimentos especializados de diferentes naturezas.
Não é a pretensão fazer um extenso apanhado da evolução da epistemologia. Na verdade, o descrito até então, serve apenas para exemplificar como foi preciso apostar em uma estratégia de organização da atividade intelectual humana, para que o conhecimento pudesse possuir regras que o tornassem cumulativo. Essa estratégia de organização é o que serve de princípio para a compreensão humana, porque ela não se dá necessariamente pela experiência, ou seja, estar no mundo e operar
(^3) Por “código exprimível” não se entenda apenas linguagem verbal. Evidentemente, há diversas formas de estabelecer a tradução do que se experimenta. (^4) Ao estabelecer essa imutabilidade das ideias, o pensamento platônico perde muito em prolificidade.
As definições estipulativas e lexicográfica não podem servir para reduzir o caráter vago de um termo. Uma expressão é vaga quando da origem aos casos limítrofes, de modo que é impossível determinar se o termo lhe deve ser ou não aplicado. O uso corrente não pode servir como recurso para uma decisão, visto que não seria suficientemente claro sobre a questão – se fosse, o termo não seria vago. Portanto, para chegar a uma decisão é necessário transcender o uso corrente; uma definição capaz de ajudar a decidir os casos limítrofes deve ir além do que é puramente lexicográfico. Poderemos dar a tal o nome de definição aclaradora. (COPI, 1978, p. 116-117)
Para o autor, a vagueza que as definições estipulativas e lexicográficas podem criar está relacionada à capacidade de uma seleção múltipla de conteúdos para compor o definiens de um definiendum qualquer. Não que os parâmetros para o estabelecimento de definições estipulativas ou lexicográficas sejam vagos, não é esse o mérito do raciocínio. Trata-se, com efeito, de uma reflexão que – provavelmente – pode expor o fato de a composição do conjunto que formará o definiens (estipulativamente ou lexicograficamente) ser, de certo modo, menos regrada do que se pretende a composição aclaradora de um definiens. Segundo o autor, não se aplicam os critérios de verdade ou falsidade para uma definição aclaradora, pois parece ser mais sensato discutir a noção de conveniência ou inconveniência da definição.
O quarto tipo de definição que o autor apresenta é denominado definição teórica. De acordo com sua reflexão, entende-se que tais definições estão amparadas por convicções relativas a teorias, ou seja, uma definição teórica possui seu definiens pautado em um tipo peculiar de entendimento atrelado a um conjunto de conhecimentos. Isso quer dizer que as teorias são o fundamento para que sejam realizadas as definições de caráter teórico. Evidentemente, essas definições são suscetíveis a alterações, uma vez que as teorias são alvo de discussão e constante atualização – a depender da evolução do conhecimento humano. Os sistemas filosóficos estão repletos de definições teóricas que lhes dão sustentação ao mesmo tempo em que servem de sustentáculo para novas definições da mesma natureza. A preocupação do filósofo ou do cientista está mais em adaptar as definições ao sistema de que comungam do que o contrário; o que sugere mais um exercício de retórica do que um exercício de pesquisa.
Por fim, Copi indica o quinto tipo de definição: definição persuasiva. Segundo o pensamento do autor, o propósito desse tipo de definição é influenciar atitudes. A função de uma definição persuasiva não é referencial, é emotiva; ou seja, um definiens enunciado em linguagem emotiva pode ser instrutivo e influenciador ao mesmo tempo. Textos que buscam a adesão do leitor a qualquer custo costumam valer-se desse tipo de recurso.
Ao fim desse pequeno entrecurso teórico, é possível estabelecer um pequeno quadro comparativo dos tipos de definições para Irwing Copi:
Tipo de definição Definiendum Propósito Definiens Estipulativa Termo inteiramente novo; apresentado pela primeira vez.
Propósito de instrução.
Selecionado para identificar características que possam exprimir o minimamente a proximidade com o definiendum , quando não meramente convencionada. Lexicográfica Termo que não precisa ser necessariamente novo. Semelhante ao trabalho de dicionarização.
Propósito de desambiguação.
Conjunto de características que podem ser avaliadas nos critérios de verdade e falsidade quando analisadas no léxico de uma língua. Aclaradora Termo que não precisa ser necessariamente novo. Busca eliminar a vagueza que pode ser proveniente de definições de natureza estipulativa ou lexicográfica.
Propósito de precisão.
Seleção criteriosa de características que sejam, o menos possível, partilhadas por outros elementos que não lhe sejam correlatos.
Teóricas Termo que não precisa ser necessariamente novo.
Propósito de sistematização.
Caracterização teoricamente adequada aos objetos a que se aplica. Persuasivas Termo que não precisa ser necessariamente novo.
Propósito de persuasão (de influenciar atitudes).
Caracterização feita em linguagem emotiva.
Essa tabela é uma demonstração de como a reflexão a respeito do processo humano de atribuir caraterísticas a objetos (físicos ou teóricos) passou por especialização. Tomando como base a reflexão de Copi, é possível discorrer a respeito dos procedimentos de definição, ou seja, quais são as técnicas utilizadas para associar definiendum a definiens.
e tomá-lo como correto no momento de estabelecer o conjunto de definiens de um definiendum , a operação de atribuir identidades semânticas, por assim dizer, àquilo com que o homem se relaciona; definir continua sendo um problema epistemológico. Isso se afirma principalmente porque, definidos tipo e técnica, é mister perscrutar a respeito da existência de regras para se realizar uma definição.
Copi (1978) postula que há cinco regras para avaliar as definições, uma vez que propostas. Segundo o autor, essas regras se aplicam – primordialmente – às definições lexicográficas. Ei-las (as regras):
Nota-se, por meio dessas regras, que a normatização sugerida por Copi (1978) para estabelecer uma definição – ainda de lexicográfica – pode ser um caminho para pensar demais tipos de definição. Talvez, para aquiescer à necessidade de outros tipos de definição, condições ulteriores devessem ser acrescentadas. Para uma definição teórica, seria possível acrescentar a regra de que uma definição teórica não pode contradizer o princípio básico da teoria à qual está filiada ; para uma definição aclaradora, seria possível acrescentar a regra de que uma definição aclaradora não pode conter elementos vagos ; para uma definição persuasiva, seria possível acrescentar a regra de que uma definição persuasiva não pode ser desprovida de apelo emotivo.
Regras previamente estabelecidas; esforços concentrados na tentativa de compreender o procedimento para se chegar a uma definição e o que resta? Qual pode ser considerado o resultado imediato de um processo de definição? Ao que parece, essa atividade mental, que trata essencialmente da abstração para a criação ou para a atualização de elementos organizadores do pensamento, resulta em algo que se pode traduzir – por uma tentativa ainda que grosseira – como um conceito. Ou seja, operam-se definições a fim de que seja possível chegar a conceitos. Questiona- se – portanto – se é possível distinguir uma definição de um conceito. Tentemos estabelecer uma distinção.
Para acrescentar ao já mencionado, atente-se para o que se lê no Dicionário de Filosofia de Niccola Abbagnano (2012) a respeito do que é uma definição em um paradigma filosófico:
Declaração da essência. Distinguem-se diversos conceitos de D., que correspondem aos diversos conceitos de essência (v.), mais precisamente: 1Q conceito de D. como declaração da essência substancial; 2° conceito de D. como declaração da essência nominal;
3Q conceito de D. como declaração da essência-significado. (ABBAGNANO, 2012 p. 235)
Desse modo, entende-se que uma definição busca – por meio da relação entre definiendum e definiens – identificar a essência do que se está para definir. Essa discussão se volta mais à Ontologia do que à Lógica propriamente falando, entretanto sua utilidade é visível se considerarmos que uma definição parece estar às voltas com uma visão mais tangível, mais física – por conseguinte – , da relação entre o que se busca definir e o que se faz para isso. Distinguem-se, na verdade, três modalidades de declaração da essência: uma substancial, uma nominal e uma pautada pelo significado (que seria a síntese das anteriores). A declaração de essência substancial é contrária ao Nominalismo – que acredita na irrealidade e no caráter meramente abstrato dos universais , ou seja afirma que entidades sem existência autônoma são caracterizadas como nomes, como um meio convencional para a compreensão de objetos singulares.
Na discussão a respeito das definições, Abbagnano (2012) cita a obra de Boécio^9 ( De Diffinitione ) para identificar 15 espécies de definição, o que pode contribuir com o que está sendo discutido. A fim de que seja possível identificar didaticamente as espécies apontadas por Boécio, sintetizou-se o seguinte quadro:
Espécie Características Substancial Tenta identificar a substância. Nocional Indica mais o que o objeto faz, menos o que ele é. Qualitativa Vale-se de uma qualidade do objeto. Descritiva Feita com características peculiares ao objeto. Verbal Trata-se de esclarecer a palavra com outra palavra. Por diferença Consiste em esclarecer a diferença entre dois objetos. Por metáfora Consiste em fazer uma comparação subentendida, na aproximação de
(^9) Anício Mânlio Torquato Severino Boécio (em latim: Anicius Manlius Torquatus Severinus Boethius, Roma, ca. 480 — Pavia, 524 ou 525), também conhecido como Severino Boécio ou simplesmente Boécio, foi filósofo, poeta, estadista e teólogo romano. Suas obras tiveram uma profunda influência na filosofia cristã do Medievo. Inclui-se entre os fundadores da Escolástica.