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Buscando a Inserção da Orientação Profissional na Escola Pública: Um Estudo em São Paulo, Notas de aula de Psicologia

Este documento discute as possibilidades para a integração da orientação profissional na escola pública no contexto brasileiro, com ênfase na escola pública de são paulo. O autor pesquisa condições favoráveis e desfavoráveis para a adoção desta perspectiva na escola pública, que forma a maioria dos jovens brasileiros. O texto aborda a importância da orientação profissional no desenvolvimento do estudante e as diferentes opiniões sobre suas funções no ensino médio.

O que você vai aprender

  • Como a estrutura do ensino brasileiro influencia a perspectiva dual na educação?
  • Quais são as condições favoráveis e desfavoráveis para a adoção da orientação profissional na escola pública no Brasil?
  • Quais são as implicações da institucionalização da orientação profissional na escola?
  • Quais são as diferentes opiniões sobre as funções da orientação profissional no ensino médio?
  • Qual é a importância da orientação profissional no desenvolvimento do estudante?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Lula_85
Lula_85 🇧🇷

4.5

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e do Trabalho
Nayara de Paula Faleiros
EDUCAÇÃO PARA A CARREIRA NO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA:
PROPOSTA DE MODELO INTERVENTIVO PARA A GRADE CURRICULAR
São Paulo, 2014.
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Baixe Buscando a Inserção da Orientação Profissional na Escola Pública: Um Estudo em São Paulo e outras Notas de aula em PDF para Psicologia, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e do Trabalho

Nayara de Paula Faleiros

EDUCAÇÃO PARA A CARREIRA NO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA:
PROPOSTA DE MODELO INTERVENTIVO PARA A GRADE CURRICULAR

São Paulo, 2014.

Nayara de Paula Faleiros

EDUCAÇÃO PARA A CARREIRA NO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA:
PROPOSTA DE MODELO INTERVENTIVO PARA A GRADE CURRICULAR

(Versão Corrigida)

São Paulo, 2014.

Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Psicologia.

Área de Concentração: Psicologia Social e do Trabalho

Orientadora: Profª. Drª. Yvette Piha Lehman

FOLHA DE APROVAÇÃO

Nome: Nayara de Paula Faleiros Título: Educação para a Carreira no cotidiano da escola pública: proposta de modelo interventivo para a grade curricular.

Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Psicologia.

Aprovado em: ______/________/________

Banca Examinadora

Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura: _________________

Para minha avó Benedita ( in memoriam),

que sempre incentivou nossa família a

perseverar nos estudos.

À minha mãe e irmã, verdadeiros pilares de

paciência.

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é o meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. (Carlos Drummond de Andrade)

RESUMO

FALEIROS, N.P. Educação para a Carreira no cotidiano da escola pública: proposta de modelo interventivo para a grade curricular. 2014. 182 f. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo,

A Educação para a Carreira foi um movimento surgido nos Estados Unidos na década de 1970, que propunha uma reforma na educação americana, desde o ensino elementar, fundamentada na ideia de que a educação escolar deveria ser socialmente útil, desenvolvendo no indivíduo habilidades que pudessem ser aproveitadas futuramente, quando ingressasse no mundo do trabalho. Embora essa concepção estivesse presente no pensamento educacional americano desde os primórdios da formação do Estado, sua retomada pelo movimento da Educação para Carreira num momento de declínio econômico, em que as indústrias buscavam novas estratégias de enfrentamento, abrindo espaço para a emergência do “toyotismo”, favoreceu a obtenção do apoio ostensivo de um grande número de associações civis e profissionais, além dos próprios educadores. A Educação para a Carreira se expandiu para outros países que viviam uma situação semelhante, sendo que, no Brasil, permanece sendo uma prática pouco conhecida, uma vez que há, no campo da orientação profissional, uma preponderância no uso da abordagem clínica nos atendimentos, mesmo aqueles desenvolvidos no contexto escolar. Há muitos estudos realizados em escolas que indicam o quão a orientação profissional favorece os jovens que se encontram em momento de escolha. Entretanto, paradoxalmente, a orientação profissional permanece ocupando um lugar marginal dentro deste contexto. O objetivo desta pesquisa foi buscar conhecer a realidade concreta de uma escola pública técnica do Estado de São Paulo, procurando compreender as possibilidades e a viabilidade de uma proposta de Educação para a Carreira, em formato de disciplina integrada à grade curricular dos alunos, tornar-se uma prática sistematizada no cotidiano da mesma, no intuito de superar essa posição marginal. Para tanto, a pesquisa desenvolveu-se em duas etapas. Na primeira, a partir da abordagem etnográfica, foi realizado um mapeamento do contexto escolar e suas sobredeterminações, no sentido de melhor compreendê-lo. Na segunda parte, tratou-se da construção, da implementação e da avaliação da prática interventiva em educação para a carreira no formato de uma disciplina integrante da grade curricular da escola. Frente aos resultados obtidos, é possível afirmar que esta pesquisa teve relevância não só porque proporcionou aos alunos um espaço de reflexão sobre seus estudos e projetos profissionais futuros, mas, principalmente, porque demonstrou que este espaço pode ser instituído na escola, fazendo parte do projeto político- pedagógico da mesma, ainda que não haja políticas públicas específicas na área que tragam essa obrigatoriedade. Foi possível constatar que o arcabouço legal proporcionado pela LDBEN de 1996, que permite à escola diversificar parte de seu currículo, somado a uma postura mais ativa do orientador profissional junto à mesma, pode promover, ali, a existência de um espaço de reflexão sistematizado para o jovem se preparar adequadamente para a transição escola-trabalho.

Palavras-chave: educação para a carreira; orientação profissional; educação básica; ensino técnico; etnografia; currículo.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1: Quadro-resumo das visitas realizadas durante ano letivo de 2012 ........................................................................................................................... 80 Quadro 2: Quadro-resumo das atividades realizadas durante ano letivo de 2013 ........................................................................................................................... 87 Ilustração 1: cartão mais escolhido........................................................... 94 Ilustração 2: modelo de curtigrama........................................................... 96 Ilustração 3: análise da dinâmica de curtigrama ....................................... 96 Gráfico 1: Banner "Retornos do trabalho" Neiva (2008) .......................... 105 Gráfico 2: Banner "Ambiente de trabalho" Neiva (2008) ......................... 105 Gráfico 3: Banner "Rotina de Trabalho" Neiva (2008)............................. 106 Gráfico 4: Banner "Atividades de Trabalho" Neiva (2008)....................... 106 Gráfico 5: Banner "Objetos/Conteúdos de trabalho" Neiva (2008) .......... 106 Quadro 3: Resultados do 1º domínio QEC.............................................. 118 Quadro 4: Resultados do 2º domínio QEC.............................................. 119 Quadro 5: Resultados do 3º domínio QEC.............................................. 120 Quadro 6: Resultados do 4º domínio QEC.............................................. 121 Quadro 7: Resultado do 5º domínio do QEC .......................................... 122 Quadro 8: Resultados do 6º domínio do QEC......................................... 123 Quadro 9: Resultados do 7º domínio do QEC......................................... 124

SUMÁRIO

    1. Apresentação
    1. Introdução
  • do surgimento da Educação para a Carreira............................................................... 2.1 Breve panorama do campo da orientação profissional nos Estados Unidos antes
  • 2.2 A emergência da Educação para a Carreira nos Estados Unidos
  • 2.2.1 A Educação para a Carreira nos Estados Unidos após a década de
  • contemporâneo em orientação profissional................................................................. 2.3 Depois da educação para a carreira: o Life Designing como enfoque
  • 2.4 A Educação para a Carreira em outros países......................................................
  • 2.5 Breve histórico do campo da orientação profissional no Brasil..............................
  • 2.5.1 O golpe de 64 e o Programa de Informação Profissional – PIP..........................
  • 2.6 A redemocratização e as relações entre a educação e o trabalho
  • 2.7 Educação e trabalho no ensino médio
  • 2.7 A Educação para a Carreira no Brasil
    1. Objetivos
  • 3.1Geral....................
  • 3.2 Específicos
    1. Método
  • 4.1 O caminho metodológico
  • 4.1.1 A Etnografia no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
  • 4.2 Ferramentas de trabalho.......................................................................................
  • 4.3 Caracterização da escola......................................................................................
  • 4.4 Caracterização dos participantes
  • 4.5 Caracterização da pesquisa..................................................................................
  • 4.5.1 Visitas a campo em 2012...................................................................................
  • 4.5.2 Visitas a campo em 2013...................................................................................
    1. Resultados
  • 5.1Atividades realizadas em
  • 5.2 Atividades realizadas em
  • 5.2.1 Resultados do Questionário de Educação para a Carreira (QEC)....................
    1. Discussão
    1. Considerações finais
    1. Bibliografia
  • Lista de Apêndices
  • Lista de Anexos

A Educação para a Carreira^1 , enquanto temática de pesquisa, passou a interessar-me quando eu^2 estava concluindo o Aprimoramento em Orientação Profissional e de Carreira no Serviço de Orientação Profissional (SOP) no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Durante este curso, tive contato com os principais enfoques teóricos que permearam a construção do campo da Orientação Profissional, principalmente no Brasil, e as perspectivas que se desenhavam à frente^3. O estudo da literatura científica disponível levou-me a perceber que havia muitas pesquisas no campo desenvolvidas em escolas, principalmente utilizando a Estratégia Clínica de Bohoslavsky, e que eram, em sua maioria, resultado de intervenções pontuais, realizadas com grupos de jovens do ensino médio em formato de encontros, ratificando o quão a prática da orientação profissional favorecia os jovens em momento de escolha. Entretanto, paradoxalmente, percebia-se que a orientação profissional permanecia tendo um espaço marginal na escola, percepção esta que chegou a ser debatida no I Fórum de Pesquisas em Orientação Profissional e de Carreira em 2011 pelo Grupo de Trabalho “Interfaces entre orientação profissional, educação e psicologia escolar”^4. A partir daí, passei a me fazer os seguintes questionamentos: se já havíamos percebido o “papel estratégico” que a orientação profissional tinha na escola, por que seu espaço neste contexto permanecia sendo marginal? Precisaríamos buscar uma nova abordagem de trabalho? O que a escola estava esperando da orientação profissional? Quais os entraves que impediam (ou dificultavam) que a escola abraçasse a orientação profissional enquanto

(^1) Ao longo do texto, o termo Educação para a Carreira com letras maiúsculas será usado quando nos referirmos ao conceito criado por Marland Jr. e Hoyt, durante a década de 70, nos Estados Unidos, como se verá mais detalhadamente na introdução. Quando forutilizado com letras minúsculas, tratar-se-á do processo de intervenção propriamente dito.

(^2) Neste trabalho, optamos por fazer uma redação de cunho mais pessoal, inspiradas nas colocações de Geertz (2005). Acreditamos que este tipo de redação enfatiza, no leitor, uma sensação de que “esteve lá” como estivemos; de que acompanha, muito próximo,tudo que foi experienciado durante a construção deste trabalho. Sendo assim, a maioria dos verbos foi flexionada na primeira pessoa do plural. Entretanto, em alguns momentos, principalmente quando se tratarem de situações vividas pela pesquisadora em campo, osverbos estarão flexionados na primeira pessoa do singular.

(^3) Para maior aprofundamento no tema, consultar Ribeiro, M.A; Melo-Silva, L.L. (org.). (2011). Compêndio de orientação profissional e de carreira volumes I e II: perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos. São Paulo: Vetor. (^4) Para consultar os resultados desta discussão: Uvaldo, M.C.C.; Garcia, M.L.D.; Munhoz, I.M.S.; Teixeira, M.O. (2012). Síntese das discussões e propostas do grupo de trabalho: Interfaces entre a orientação profissional, educação e psicologia escolar. Brasileira de Orientação Profissional, 13(1),125-128. Revista

prática sistematizada a ser ofertada para os alunos, fazendo parte de seu projeto político-pedagógico? Embora houvesse exemplos de escolas particulares que já haviam adotado a perspectiva da orientação profissional como parte de seu projeto político-pedagógico, como o apresentado por Vardi, Souza, Toledo e Martins (2004) na cidade de São Paulo^5 , o que continuava a me intrigar era pensar quais seriam as condições favoráveis e desfavoráveis para que a escola pública, agente formador da grande massa dos jovens brasileiros^6 , pudesse adotar tal perspectiva também. A partir daí, pesquisei possibilidades diferenciadas para a inserção da orientação profissional na escola, principalmente na escola pública, que favorecessem nessa busca por superar a marginalização a que permanecia relegada a prática de orientação profissional dentro da escola, embora se soubesse a importância da mesma no desenvolvimento do educando com vistas, inclusive, a prepará-lo para a transição escola-trabalho. Foi, então, que tive contato com as teses de Munhoz (2010) e Silva, F (2010), que me apresentaram à Educação para a Carreira. Embora fosse um conceito construído em outro momento histórico e contexto sociocultural, percebi que havia ali muitas ideias que poderiam ser colocadas em prática e adaptadas para o momento atual e para o contexto da escola pública brasileira. Ainda durante o período inicial da construção do projeto de pesquisa, tive a oportunidade, um “bom encontro” (Deleuze, 2002), de ler a dissertação de Pereira (2011) sobre o ensino de Psicologia nas escolas técnicas paulistas e passei a considerar a escola técnica como campo muito interessante de estudo, ainda mais porque eu tinha visto poucos trabalhos realizados nesse contexto específico. Assim, venho, neste momento, compartilhar os achados deste estudo. Acredito que a principal contribuição do meu trabalho para o campo da orientação profissional foi demonstrar que é possível construir e inserir, de

(^5) Os alunos do 3º ano do ensino médio possuem uma disciplina obrigatória de orientação profissional inserida na grade curricular, ministrada por um dos membros da equipe de orientadores profissionais da escola, no primeiro semestre de cada ano letivo. Adisciplina é semanal, tem duração de 1h15 minutos e se divide em três etapas: sensibilização para a escolha, informação profissional e visitas a locais de trabalho. (^6) Segundo o Censo da Educação Básica 2013 (Brasil, 2013), no Brasil há 41,43 milhões de alunos matriculados em escolas públicas e 8,61 milhões de alunos matriculados em escolas privadas.

2. INTRODUÇÃO

2.1 Breve panorama do campo da orientação profissional nos Estados Unidos antes do surgimento da Educação para a Carreira.

A orientação profissional surgiu, com um método sistematizado de atuação, no começo do século XX com Frank Parsons. Antes dele, houve algumas iniciativas pontuais para se pensar sobre a inserção no mundo do trabalho, a questão da escolha ou a possibilidade de identificação de talentos (Ribeiro & Uvaldo, 2007). Entretanto, as demandas pela orientação profissional só se tornaram mais prementes de meados do século XVIII em diante, a partir da possibilidade de se escolher uma ocupação em detrimento da transmissão hereditária (Ribeiro, 2011a). No caso dos Estados Unidos, mais particularmente, as transformações trazidas pela passagem de uma economia agrícola para uma industrial e, consequentemente, um rápido processo de urbanização, além de um vigoroso processo imigratório, despertaram preocupações no governo sobre como ministrar uma educação vocacional apropriada para os jovens que dirimisse o hiato entre a escolarização e a realidade do mundo adulto e que identificasse as pessoas “certas” para o mercado de trabalho (Herr, 2001). Parsons, com seu trabalho no Breadwinner’s Institute em 1905 e, posteriormente, no Vocational Bureau of Boston em 1908, colocou em prática sua proposta de colaborar, principalmente com os jovens, aconselhando-os, preparando-os para encontrar um espaço no mercado de trabalho e para construírem uma carreira de sucesso (Jones, 1994). Infelizmente, Parsons faleceu precocemente, nove meses após a instituição do Bureau. Sua obra Choosing a Vocation foi uma publicação post-mortem. Nela, podemos encontrar os princípios da orientação profissional e a apresentação de alguns casos por ele atendidos. Um dos princípios fundamentais de Parsons era o ajustamento vocacional do indivíduo. Para ele, uma ocupação que estivesse em desarmonia com as habilidades e capacidades do trabalhador traria ineficiência, falta de entusiasmo e baixa remuneração. Sendo assim, se o jovem fosse ajudado a encontrar sua vocação, suas melhores habilidades e seu entusiasmo, somadas às condições de trabalho, lhe proporcionariam sucesso e felicidade (Parsons,

autoconhecimento e do autoconceito – do que para o que estava sendo escolhido (Herr, 2001). A influência da teoria de Super é extremamente relevante e ressoa até hoje no campo da orientação profissional. O pilar dessa abordagem é a busca por compreender como o indivíduo desenvolve sua carreira ao longo da vida. Nessa perspectiva, teríamos um conjunto de fases e subfases, em que haveria uma tarefa evolutiva, mais ou menos previsível, a ser realizada. A primeira fase é a do Crescimento, em que se vive um momento de fantasias – “sonhar sem limites” - e de dependência do outro. A segunda fase é a da Exploração, um momento de descobertas do corpo, do sexo oposto e dos próprios sentimentos. Começa, aqui, a haver o discernimento dos interesses profissionais e um processo de afunilamento nesse sentido. A terceira fase é a do Estabelecimento, em que o indivíduo procura construir a própria vida (autonomia) e inicia sua carreira profissional. A quarta fase é a da Manutenção, em que o indivíduo busca manter a posição e o status adquiridos. A quinta e última fase é a do declínio, quando o indivíduo faz o seu desengajamento do mundo do trabalho, podendo se dedicar a outros papéis (Lassance, Paradiso & Silva, 2011). Posteriormente, Super acrescentou à sua abordagem teórica o Modelo do Arco-Íris de Carreira com as dimensões do life-span e do life-space. A primeira buscou inserir a ideia de miniciclos evolutivos – enfrentamento de momentos de transição - ocorrendo dentro das fases acima apresentadas, consideradas, então, maxiciclos. A segunda procurou evidenciar a importância do contexto sociocultural em que se vive e dos papéis sociais que o indivíduo desenvolve ao longo da vida, já que a carreira não é vivida num vácuo. (Lassance, Paradiso & Silva, 2011). Durante este período, e nos anos subsequentes, outras abordagens vieram a se desenvolver paralelamente à de Super, focadas em responderem às demandas que o momento sócio-econômico-politico-social vivido trazia. O enfoque de John Holland é um destes exemplos. Em 1959, Holland publicou a primeira versão de sua teoria tipológica, revisando-a em 1966, 1973,1985 e 1997, sendo que, nesta última, deixou uma descrição atual e sistematizada do seu modelo hexagonal dos interesses profissionais – RIASEC, que tornou-se muito difundido e utilizado até hoje (Balbinotti, Valentini & Cândido, 2006).

Cada uma das letras que compõe a sigla RIASEC representa uma das seis grandes dimensões de ambientes ocupacionais e tipos de personalidade propostas por Holland, com características comportamentais próprias. O R, por exemplo, representa o Realista, que (...) prefere trabalhar com dados objetivos, ao invés de suposições subjetivas. Valoriza coisas materiais e não costuma dar muita importância a sentimentos. Tende a ser quieto e reservado, mas com pouca autorreflexão. Aprecia atividades práticas, nas quais possa ver um resultado mais imediato. Tende a ser conservador e autocontrolado. Em geral, demonstra interesse por atividades que envolvam manipulação de objetos, ferramentas, máquinas ou animais. (Teixeira, Castro & Cavalheiro, 2008, p.181) Assim, teríamos características próprias para o Investigativo, o Artístico, o Social, o Empreendedor e o Convencional^7. Na década de 60, nos Estados Unidos, uma série de eventos trouxe importantes transformações sociopolíticas a este país: a busca pela democratização das oportunidades educacionais e ocupacionais, os movimentos pela garantia dos direitos civis e dos direitos da mulher, a entrada dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, a contracultura, entre outros. Pope (2000) caracterizou este período como sendo um “tempo de idealismo e esperança”, em que as pessoas procuravam trabalhos que fossem significativos para suas vidas e que pudessem colaborar com a transformação do mundo. Ainda segundo Pope (2000), a taxa de desemprego nos Estados Unidos no começo da década de 60 era de 8,1%, o mais alto índice desde a Grande Depressão. Esse fato pressionou o governo a buscar alternativas político- educacionais que fomentassem nos indivíduos a aquisição de informações sobre o mundo do trabalho e o desenvolvimento de habilidades de planejamento e escolha, culminando na promulgação do Vocational Education Act em 1963, que recebeu emendas de atualização em 1968 e 1976 (Herr, 1987). A partir dessa emenda de 1968, o governo passou a incentivar a criação de programas de orientação profissional para indivíduos deficientes e a defender a necessidade de se incluírem programas de orientação profissional e aconselhamento em escolas do ensino fundamental, o que estimulou

(^7) Para maiores detalhamentos sobre cada tipo, consultar as obras de Balbinotti, Valentini e Cândido (2006); Teixeira, Castro e Cavalheiro (2008) e Ribeiro e Uvaldo (2011).