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A presente pesquisa, intitulada Da cabeça da palavra ao pé da letra, se insere na linha de Processos e Poéticas ... Mar Egeu (91 cm x 62 cm x 5cm), 2006 .
Tipologia: Notas de aula
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Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de bacharelado no curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Prof.ª Letícia Cardoso
A todos que deixam acesa, dentro de si, a chama da imaginação.
Sou grata a todos que me acompanharam nesta trajetória, encorajando- me a continuar e não desistir nunca. Seriei eternamente grata a meu pai Abrão, e, especialmente, à minha mãe Marli, por todo seu amor, dedicação e esforço, para que eu seguisse em frente e chegasse até aqui. Karen Vefago, minha sobrinha e melhor amiga, conselheira. Sem dúvida, as nossas risadas me ajudaram a continuar de pé, de queixo erguido. Aos meus irmãos Mateus, Márcio e Mara, obrigada por tudo. Não posso deixar de citar a minha gatinha de estimação, Lucy, que não saiu do meu lado, enquanto ou escrevia esta pesquisa, e me inspirou a criar a obra A loved one.^1 Agradeço aos meus amigos, que me acompanharam desde o início da faculdade, me proporcionando momentos felizes. Ariane Bretz, que conheci por meio do curso, é uma das melhores amigas que já tive. Nathalia Silvestre, que está comigo desde o início e faz parte dessa caminhada, compartilhando risadas, conhecimentos e experiências. Monica Fischborn, Lucas Uggioni Bonfante, Rafaela Pereira, Jéssica Fernandes, Jéssica Leandro Borges, Filipe Cordova, Jonas Esteves, Fabiana Generoso, Mirelly Dandolini, obrigada por fazerem parte deste momento tão valioso para mim. Levo comigo um pouco de cada um de vocês. Amanda Emerin e Malu Dal Pont Colombo, embora tivéssemos tido contato apenas no fim do curso, ainda assim, foi o suficiente para vocês se tornarem especiais para mim. Um agradecimento especial aos profissionais que me apoiaram. Ao Marcelo Feldhaus, obrigada por toda sua dedicação, ajuda e sábios conselhos. À Edite Volpato Fernades, graças a você cheguei a esse tema de pesquisa, obrigada por acreditar em mim. À Odete Calderan, agradeço pelas dicas acadêmicas e pelo carinho. À Letícia Cardoso, minha orientadora, obrigada pela paciência e dedicação. Obrigada a todos que, de uma forma ou de outra, fizeram e fazem parte da história que construí até aqui.
(^1) Vide página 28 deste trabalho.
A presente pesquisa, intitulada Da cabeça da palavra ao pé da letra , se insere na linha de Processos e Poéticas do Curso de Artes Visuais – Bacharelado (UNESC). De natureza básica e abordagem qualitativa, a pesquisa visa investigar o trabalho de artistas contemporâneos que utilizam a palavra como matéria em suas poéticas visuais. O suporte para dar corpo à palavra, assim como o local de exposição tornam-se parte do trabalho e agregam sentido ao mesmo. A pesquisa parte do meu trabalho prático, em que a palavra, durante a observação da mesma, se insere no contexto ao meu redor ou numa brincadeira com o sentido, por meio da escuta de músicas durante as confecções de aquarelas utilizando palavra. Procurei trazer discutir alguns autores como Canton, Foucault, Gasset e Ricalde e dialoguei sobre artistas e seus processos em artes visuais com palavras em suas criações. Com esta pesquisa, percebe-se que há muitas maneiras de explorar as palavras em trabalhos de artes visuais. Encontra-se respostas durante o processo de produção das obras e dos textos abordados nesta pesquisa, assim como e novas perguntas se abriram, abrindo diversas abordagens para a mesma investigação sobre a palavra no contexto das artes visuais.
Palavras-chave : Palavra. Processo criativo. Música. Aquarela. Imagem-texto.
Figura 16 - Jenny Holzer. Untitled (Selections from Truisms, Inflammatory Essays, The Living Series, The Survival Series, Under a Rock, Laments, and Child Text),
LED - light-emitting diode. Em português: diodo emissor de luz TCC - Trabalho de Conclusão de Curso UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense
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ao meu redor. Desde placas de carro ou de trânsito a outdoors e painéis. Procuro capturar todas as palavras à minha volta. Quando adolescente, comecei a escrever palavras aleatórias que até hoje não sei como chamá-las e não gosto de rotulá-las. Pode ser que sejam pequenos fragmentos da minha personalidade. Sensações, pensamentos, momentos que vivi ou que gostaria de viver. Anos atrás, em uma noite, momentos antes de dormir, eu escrevi algo sobre fantasmas me assombrando, facas me perseguindo e pedi para que me livrassem de amar alguém.^2 Em nenhum momento eu quis ser sombria. Tratava-se apenas de uma metáfora, baseada em algumas músicas que eu costumava ouvir naquela época. Meus pensamentos nunca foram muito óbvios ou diretos. Eles giram em torno de si; de tanto explorá-los, acabam se tornando bizarros, exagerados. Portanto, minha escrita era carregada de alegrias exageradas e melancolias extrapoladas. As únicas exceções a esses exageros extrapolados são as longas histórias que criei, as quais relatam acontecimentos comuns, corriqueiros. A primeira história surgiu aos 17 anos, quando comecei a escrever uma ficção, um romance adolescente. Lembro-me que a primeira frase foi: “Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas quando me dei conta, eu estava em um avião rumo à Austrália”. Com o passar do tempo, outras histórias começaram a surgir. As diferentes inspirações foram aparecendo aos poucos, e hoje as palavras preenchem o espaço vazio do meu dia a dia. Gosto dos seus sons, dos seus significados, dos milhares de possibilidades que elas nos propiciam, para nos comunicarmos, expressarmos em diferentes caligrafias, entonações, cores, idiomas, tamanhos, volumes. A palavra está em mim e, a partir desta leitura, o (a) convido a permitir por meio de autores como Canton e Ricalde, que esteja em você.
1.1 O PONTO DE PARTIDA
A pesquisa proposta Da cabeça da palavra ao pé da letra está inserida na Linha de Pesquisa de Processos e Poéticas: Linguagens do Curso de Artes Visuais Bacharelado, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Nesta
(^2) Vide página 42 deste trabalho.
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pesquisa, procuro encontrar resposta para meu problema: ‘Como é possível produzir um trabalho em artes visuais, utilizando a palavra como linguagem principal?’. Esta pesquisa traz, como objetivo central, explorar o trabalho de alguns artistas que envolvem a linguagem da palavra em suas obras, interligando alguns pontos às minhas criações. Nos objetivos específicos, busco identificar quais os pontos de ligação nas minhas obras com as obras de alguns artistas que trabalham com palavras; discorrer sobre as variadas mensagens que são passadas através das produções que envolvem a escrita; mostrar o trabalho dos artistas com os quais me identifico, por usarem a palavra em suas criações. Esta é uma pesquisa que busca desenvolver uma produção artística, que seja diretamente ligada ao objeto investigado, razão pela qual aponto Rey (2002, p.127), no livro: ‘O meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes plásticas’, que assim se manifesta:
A pesquisa faz avançar as questões da arte e da cultura, responsabilizando- as ou apresentando-as sob novos ângulos. É desafio constante para o artista-pesquisador provocar um avanço, ou, talvez, mais próprio seria dizer um deslocamento desse campo específico de conhecimento que é delimitado pelas artes visuais.
Rey (2002, p. 134) também afirma, “[...] para a pesquisa, muito mais importante do que achar respostas é saber colocar questões.” No decorrer da pesquisa, haverá muitas questões sobre o uso da palavra, questões que poderão, quem sabe, dar surgimento a novas pesquisas futuramente, pois são infinitas as possibilidades de relatar este tema.
[...] o dispositivo tem natureza essencialmente estratégica, que se trata, como consequência, de uma certa manipulação de relações de força, de uma intervenção racional e combinada das relações de força, seja para orientá-las em certa direção, seja para bloqueá-las ou para fixá-las e utilizá- las (FOUCAULT, 1977 apud AGAMBEN, 2009, p. 28).
Defino, então, esta pesquisa, como sendo de natureza básica, pois objetiva contribuir para o desenvolvimento e crescimento de trabalhos nas áreas das artes visuais, com abordagem qualitativa, já que o uso dessa abordagem não tem a intenção de abranger o campo de pesquisa como um todo, mas buscar foco em respostas que gerem definições significativas.
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2 AS PALAVRAS EM MINHAS CRIAÇÕES
A primeira lembrança que tenho sobre as palavras que envolvem meu dia a dia em forma escrita é de anos atrás, quando eu ainda tinha treze anos de idade. Lembro que eu costumava rabiscar palavras nas bordas dos meus cadernos de escola. As palavras nem sempre formavam frases. Muitas vezes, eu as escrevia isoladamente e tudo o que queria dizer, o que eu sentia, todos os meus pensamentos se resumiam na tal palavra isolada. As letras eram desenhadas, como se todo o significado que tinham para mim fosse também expressado em forma de linhas traçadas quase que como um desenho. Eu não fazia de propósito. Era algo involuntário, que eu gostava de fazer quando estava distraída, mas eu acabava gostando do resultado e o que para outros eram apenas rabiscos, para mim eram fragmentos de meus pensamentos. Como eu sempre passava o que sentia para o papel, as palavras carregavam mensagens diversas, desde um sentimento angustiante que me incomodava muito no momento, até uma alegria que me fazia querer deixar aquela sensação agradável registrada. Ao passar dos anos, eu comecei a formar frases que tinham esse mesmo efeito para mim, pois “A realidade espreita constantemente o artista para impedir sua evasão. Quanta astúcia pressupõe a fuga genial!” (GASSET, 1999, p. 43). Muitas pessoas liam as minhas frases e diziam ‘ah, que legal’ ou então ‘que horror, que macabro isso’. Eu sempre variei os assuntos abordados nas minhas escritas. Isso sempre depende do meu humor e, quando estou feliz, trago muito romantismo em minhas palavras, muitos pensamentos positivos e palavras consideradas ‘leves’, como sorriso ou beijo, por trazerem, à mente do leitor, lembranças agradáveis. Mas, quando algo me angustia, me deixa triste, decepcionada ou preocupada, gosto de exagerar nas palavras ‘pesadas’, aquelas que trazem memórias ruins à mente do leitor, como sangrar ou sufocando. Depois das frases, aos treze anos, vieram os versos e, quando eles surgiram, decidi comprar um pequeno caderno para registrá-los.
A imaginação é claramente diferenciada do intelecto, e todas as formas de atividade poética são apresentadas como dependentes da imaginação; em épocas civilizadas a poesia só pode ser escrita por aqueles que possuem a capacidade de suspender a operação do intelecto, de colocar a mente em grilhões e de voltar ao modo irrefletido de pensamento [...] (READ, 1991, p. 17).
16 As ideias que surgiam durante o dia, espontaneamente, sem estar pensando em escrever, eram registradas no mesmo instante, assim que alcançava o caderno, mas as maiores lembranças são de escrever versos todas as noites, antes de dormir. Acabou se tornando algo habitual, algo que eu fazia por prazer. Nunca forcei as palavras a saírem da minha mente, elas gritavam, ecoavam, implorando para serem livres. E é dessa forma que sigo até hoje. Venturi (2002, p. 19) afirma que: O órgão da atividade humana que produz arte é aquilo que popularmente se chama de imaginação ou fantasia. Não aquela imaginação que se limita a associar duas coisas distantes entre elas, nem se quer o puro jogo de fantasia, que se chama fantasioso.
Creio que sempre será assim. Sinto-me travada se for ‘obrigada’ a escrever, quando não posso fantasiar. As palavras escritas são uma forma que encontrei de me libertar, pois dificilmente converso com as pessoas sobre o que sinto. É como se eu pudesse confiar apenas na escrita, não me sinto invadida quando escrevo, pelo contrário, uso palavras que não tornam as coisas óbvias. Gosto quando o leitor devaneia sobre minhas escritas. Gosto quando ele tenta acertar o que eu quis dizer, mas eles estão errados. Na verdade, não acredito no certo e no errado em relação à interpretação do que escrevo, pois, “os limites da esfera estética não são, pois, determinados unicamente pela própria realidade – e são muito variáveis” (MUKAROVSKY, 1997, p. 24). Aos quatorze anos, a música se tornou uma grande influência na minha escrita. Eu gostava de ouvir bandas de rock brasileiro, costumava me identificar com as letras das músicas e a cada vez me inspirava mais para escrever os meus versos. Foi neste momento que passei a escrever textos maiores, que sempre eram escritos para alguém, mas eu nunca tinha alguém em mente. Eu escrevia diretamente para o leitor, como uma espécie de conversa. Como uma ‘carta ao leitor’. Nesses textos, eu falava sobre diversos assuntos. Desde relacionamentos no geral ao preconceito. Sempre inspirada em letras de músicas. Eu as ouvia, refletia, formava uma opinião, muitas vezes sobre algo que não era relacionado à letra da música em si, mas que, de alguma forma, foi-me passado através do que eu ouvi nela, pois “como seres humanos, somos capazes de perceber pelos sentidos [...] assim, essa habilidade de experimentar é unicamente do ser humano e terá cada vez mais espaço no futuro” (HOLM, 2005, p. 17).
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diferentes etapas de um projeto de trabalho que envolveu a leitura do livro ‘A vida modo de usar’ de Georges Perec e conseqüente listagem de advérbios de modo cujo sufixo é ‘mente’.”
Figura 1 - Elida Tessler. A vida somente no parque, 2007
Fonte: Tessler (2007).
Esta obra de Elida me inspirou a escrever um algo pequeno, utilizando apenas palavras terminadas em ‘mente’. Este foi o resultado:
“Realmente é frequentemente e aparentemente infelizmente é decorrente inevitavelmente e lastimavelmente consequentemente loucamente apaixonadamente e somente isoladamente em minha mente.”
Além das palavras terminadas em mente, algo que também é frequente em minhas criações é a cor vermelha. Sempre uso o vermelho em minhas produções, quando quero expressar alguma agonia, inquietação. Na maioria das vezes, em minhas produções, o vermelho representa sangue. Costumo usar a palavra sangue ou sangrando, para expressar profundo sofrimento, como neste texto que escrevi em novembro de 2014:
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“Penetra por minha garganta e segue até meu peito, atravessando a alma como um espinho em chamas. A dor transborda pelos olhos. Mais uma vez. Até onde posso suportar? Complicado expressar a agonia de viver sangrando.”
Também em novembro de 2014, pela primeira vez, usei o vermelho para expressar algo positivo:
Vermelho! Vermelho é paixão, é intensidade, é sangue que corre! É ousadia, sensualidade, é desejo! Vermelho é pulsante, forte e marcante! É amor e carinho! Vermelho é vibrante, alegre e autêntico! Vermelho é vida! Então meu bem, desejo muito vermelho pra você!
Com essas palavras, eu quis expressar minha euforia do momento. Tenho um batom vermelho e percebi que só o uso quando estou de bom humor, feliz e me sentindo bem. Percebo então que, para mim, o vermelho pode variar em seu significado, mas ele nunca deixa de ser uma cor intensa, que não passa despercebida.
Definitivamente, o objeto de que a arte se ocupa, o que serve de termo à sua atenção e com ela às demais potências, é o mesmo que na existência cotidiana: figuras e paixões humanas. E denominará arte ao conjunto de meios pelos quais lhes é proporcionado esse contato com coisas humanas interessantes (GASSET, 1999, p. 26).
Em uma de minhas obras, uso a técnica da tinta vermelha para representar o sangue em uma folha arrancada de um livro. Escrevo a frase em inglês there will always be a secret, em português : sempre haverá um segredo , e do outro lado da folha, está escrito a minha filha. A frase a minha filha já veio escrita na folha, era parte do livro quando a arranquei para fazer o trabalho.