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Análise da Argumentação Científica em Filme Sociocientífico: Desmatamento e Valores Morais, Notas de estudo de Construção

Uma análise da argumentação científica de alunos em resposta a um filme sociocientífico sobre desmatamento. A análise utiliza o padrão de argumentação de toulmin e identifica conceitos científicos e mensagens do filme nas respostas dos alunos. Além disso, o documento destaca os padrões morais e valores presentes nas respostas dos alunos, que ilustram a importância de considerar as consequências éticas de ações humanas.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Tucupi
Tucupi 🇧🇷

4.6

(74)

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO / INSTITUTO DE FÍSICA/
INSTITUTO DE QUÍMICA/ INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
Argumentos, conhecimentos e valores em respostas a
questões sociocientíficas –
um caso no ensino fundamental
ÉRICA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE DELL ASEM
Orientadora: Professora Doutora Sílvia Luzia Frateschi Trivelato
Dissertação de mestrado apresentada
ao Instituto de Física, ao Instituto de
Química, ao Instituto de Biociências e
à Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, para a
obtenção do título de Mestre em
Ensino de Ciências.
São Paulo
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Baixe Análise da Argumentação Científica em Filme Sociocientífico: Desmatamento e Valores Morais e outras Notas de estudo em PDF para Construção, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO / INSTITUTO DE FÍSICA/

INSTITUTO DE QUÍMICA/ INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS

Argumentos, conhecimentos e valores em respostas a

questões sociocientíficas –

um caso no ensino fundamental

ÉRICA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE DELL ASEM

Orientadora: Professora Doutora Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Física, ao Instituto de Química, ao Instituto de Biociências e à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências.

São Paulo

Agradecimentos

Em primeiro lugar à Deus, pela luz e inspiração que me guiaram desde os meus primeiros anos escolares até esses meses de leituras, escritas e reescritas de meu trabalho.

À minha orientadora Silvia, pelo carinho e atenção maternal e por sempre estar disposta a me ensinar os conhecimentos das diferentes ciências desde como se prepara um autêntico risoto italiano até como se faz uma revisão bibliográfica.

Aos colegas de GEPEB, Sandra, Bruno, Rafa, Rena, Paula, Dani, Sarah, Paty, Maíra, Rodrigo, Zé, Celi e Sansão, pelas conversas, risadas, inspirações, discussões sobre a “régua” do Toulmin e tardes de sexta-feira, que fechavam a semana com chave-de-ouro.

Ao Agnaldo e à Rosana, pelas contribuições em minha qualificação, para que eu pudesse chegar ao trabalho de hoje.

Às minhas professoras, Márcia e Margarida, por contribuírem diretamente em minha formação inicial na pesquisa em educação e em ensino de ciências, pelas discussões ao longo de um ano no Colégio de Aplicação da UFRJ.

Ao meu pai, minha mãe e meu irmão, que sempre me ensinaram a buscar a felicidade nas coisas simples da vida, que me mostraram o quanto é importante o conhecimento e o quanto é importante trabalhar com o que se gosta.

Ao meu verdadeiro amor e amigo, Daniel, que esteve ao meu lado desde a escolha de minha faculdade até os caminhos que me trouxeram aqui. Agradeço por toda força e incentivo nos momentos mais difíceis que passei, começando pelo Vestibular, passando por minha mudança para São Paulo até a conclusão deste trabalho, sempre iluminando meus dias e minhas tardes de domingo seja na praia ou no clube.

Aos meus fiéis amigos do Rio, Carolina, Manuela, Juliana, Conrad, Maria, Renato, Thiago e Victor, pelos anos descompromissados na escola, em que éramos felizes e não sabíamos, em que descobri minha verdadeira paixão: ser professora (não posso me esquecer dos “brothers” and “sisters” também).

Às minhas eternas amigas biológicas, Kurau, Liviete, Giba, Rênitz, Bruneca, Camis, Sammy, Mariete e Furacão (e agregados) pelos anos maravilhosos de Biologia, pelas saídas de campo, pelas discussões sobre os mistérios e explicações da natureza, por contribuírem para me tornar a bióloga que sou hoje.

Aos meus amigos “emprestados” de São Paulo, Collazo, Samantha, Paulo, Dani, Vale, Carina, Cintia, Leo, Toquinho, Dani, Fausto, Dide, Sena, Telma, Lopes, Livia, Fonseca, Sandra, Cabral e Gilara, por fazerem São Paulo ser uma cidade aconchegante, por me apresentarem bons restaurantes e por fazerem as rodadas de pôker serem bem divertidas.

Resumo

ASEM, E. C. A. D., Argumentos, conhecimentos e valores em respostas a questões sociocientíficas – um caso no ensino fundamental , Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação, Instituto de Biologia, Instituto de Física, Instituto de Química, Universidade de São Paulo, 2010.

Neste trabalho, analiso em que medida estudantes do 5º ano do ensino fundamental de uma escola particular do município de São Paulo se apropriam dos conceitos científicos veiculados por um filme infanto-juvenil (Os Sem Floresta, 2006) na construção de seus discursos argumentativos e se, também, utilizam padrões morais e valores em seus textos por se tratar de uma questão sociocientífica. As questões sociocientíficas são aquelas que envolvem tomadas de decisões relacionando aspectos científicos, culturais, sociais e políticos, além de questões morais e éticas. Essas questões não apresentam uma solução única, definitiva e satisfatória do ponto de vista moral. O problema de desmatar uma área de floresta para a construção de um condomínio suscita diferentes olhares e opiniões sendo considerada a questão sociocientífica norteadora deste trabalho. Essa questão foi desenvolvida a partir do tema central do filme infanto-juvenil apresentado aos alunos. Os critérios de escolha do filme foram: sua linguagem dinâmica condizente com a faixa etária, sua ampla divulgação e aceitação pelo público e sua temática relacionada às questões ambientais, políticas, econômicas, sociais, éticas e culturais, contemplando os currículos com ênfase Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente – CTSA. Inicialmente é feita uma discussão sobre a análise do discurso do filme para perceber as mensagens que estão por dentro de seu discurso, com o objetivo de alicerçar a análise dos textos dos alunos. Os textos produzidos sobre a questão do desmatamento foram transcritos e analisados segundo o padrão de argumento Toulmin (2006). A partir deste referencial de análise, foram identificados valores empregados pelos alunos, como: respeito ao meio ambiente, valor à vida, ao coletivo, à cultura, à moradia e aos recursos financeiros. Os valores usados nas respostas estavam presentes no filme trabalhado, o que mostra que o filme apresenta grande influência na construção das respostas dos alunos. O respeito ao meio ambiente foi o valor que apareceu com maior frequência, mostrando uma estreita ligação das respostas com as mensagens do filme. Os alunos responderam à questão utilizando raciocínios baseados em princípios, consequências, emoção ou intuição. Os padrões morais foram categorizados segundo o padrão moral racionalista proposto por Sadler & Zeidler (2004). A maioria das respostas apresentou consequências (Raciocínio Moral Consequencialista) para o ato de desmatar, mesma abordagem do filme. Os conceitos científicos também apareceram de forma significativa nas respostas, principalmente os conceitos que são trabalhados no filme, como: desmatamento, extinção das espécies, recursos necessários para a sobrevivência das espécies, animais como pragas naturais, cadeia alimentar, hibernação e plantio de árvores. A garantia (W), segundo o padrão de Toulmin (2006), foi o elemento do argumento que mais apresentou conceitos trabalhados no filme, mostrando que os alunos utilizam como justificativa as informações do próprio filme. A preponderância dos padrões morais, valores e conceitos científicos presentes no filme na construção das respostas dos alunos mostra o quanto as mensagens presentes nesse recurso são significativas aos alunos e passam a fazer parte de seus repertórios.

Palavras-chave: questões sociocientíficas, argumentação, valores e padrões morais, filmes, análise do discurso.

Key-words: socioscientific issues, argumentation, moral patterns and values, movies, discourse analysis.

SUMÁRIO

3.1.1 Transcrição, descrição das cenas do filme e categorização dos

  • APRESENTAÇÃO ..............................................................................................................
    1. APOIOS PARA A INVESTIGAÇÃO ..............................................................................
    • 1.1 Importância da linguagem no ensino de ciências ............................................
    • 1.2 As questões sociocientíficas e o ensino de ciências ........................................... - 1.2.1 Questões de educação ambiental: uma realidade ...............................
    • 1.3 Utilização de filmes no ensino de ciências ........................................................
    • 1.4 Referenciais teóricos para a análise dos dados .................................................
      • 1.4.1 Como se analisam argumentos? ..........................................................
      • 1.4.2 Como se identificam padrões morais e valores? .................................
    1. DESENHO DA INVESTIGAÇÃO .................................................................................
    • 2.1 Descrição da situação investigativa ..................................................................
    • 2.2. Construção da atividade ...................................................................................
      • 2.2.1 Escolha do filme ..................................................................................
      • 2.2.2 Proposição da atividade ......................................................................
      • 2.2.3 Delimitação da questão sociocientífica ...............................................
      • 2.2.4 Coleta de dados ...................................................................................
  • INVESTIGAÇÃO ................................................................................................................ 3. CONSTRUÇÃO, APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS DA
    • 3.1 Tratamento dos dados ........................................................................................ - filme ................................................................................................... conceitos científicos e dos padrões morais e valores contidos no
      • 3.1.2 Análise do discurso do filme trabalhado ............................................. - 3.1.2.1 Apresentação do dado ........................................................... - 3.1.2.2 Descrição do dado ................................................................. - 3.1.2.3 Análise do discurso ................................................................ - 3.1.2.4 Em que discursos o filme se assenta? ....................................

Apresentação

A Ciência apresenta um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade humana. Sua contribuição destacou-se a partir da primeira metade do século XIX, quando se inicia o desenvolvimento tecnológico com o domínio das fontes de energia, de novos meios de transporte e comunicação, de armamentos e conhecimentos especializados. Já na segunda metade do século XIX à primeira metade do século XX, ocorre um salto no processo de desenvolvimento tecnológico, caracterizado pela incorporação e aplicação de novas teorias científicas, propiciando domínio e exploração de novos potenciais energéticos, como usinas hidroelétricas e termelétricas, uso de derivados do petróleo, surgimento de indústrias químicas, das fundições, usinas siderúrgicas e transportes, além dos novos meios de comunicação, como telégrafo com e sem fio, rádio, gramofone, fotografia e cinema. Nos dias de hoje, a comunicação entre as pessoas desenvolveu-se, expressivamente, por meio dos telefones fixos e móveis, dos satélites e da internet. Além disso, os avanços científicos estão na área da Biotecnologia, como o desenvolvimento das células-tronco, a clonagem e os transgênicos e, na área ambiental, a partir de discussões sobre aquecimento global, fontes de energia renováveis e uso controlado da água, entre tantos outros temas imprescindíveis para a nossa sociedade moderna. A partir dessa realidade, a compreensão da Ciência e de seus processos é essencial para a participação dos jovens na sociedade. Deve-se propiciar uma oferta de oportunidades educacionais reflexivas para amplas parcelas da população estudantil. A Ciência produz não só soluções para questões sociais, mas também novos problemas, como armas atômicas, que oferecem riscos à própria sobrevivência da humanidade. Porém, quando o tema passa a ser manipulação genética, mudanças produzidas pelo homem ao ambiente, transgênicos, a situação é diferente do que na utilização de armas atômicas. A diferença é o fato de que a Ciência é incapaz de produzir um diagnóstico seguro, prevalecendo à probabilidade e não o determinismo. Assim, a Ciência passa a fazer parte da discussão em diversas instâncias governamentais, empresariais e comunitárias, dessa forma as referidas características da Ciência devem ser consideradas pelos cidadãos, que devem se posicionar em diversas situações, inclusive a eleitoral.

Essas questões, envolvendo aspectos científicos para os quais a Ciência não apresenta uma solução única, definitiva e satisfatória, são chamadas de questões sociocientíficas. Essas questões são caracterizadas como perguntas abertas, ou seja, não possuem uma resposta definida e, normalmente, apresentam um dilema em que os alunos devem defender uma posição. Esse tipo de questão dá margem à utilização de padrões morais e valores pessoais na construção das respostas dos alunos (BELL & LEDERMAN, 2003; SADLER & ZEIDLER, 2004). A formação de estudantes que possam dialogar com os diferentes campos do saber, que possam tomar decisões sobre questões sociais, ambientais, políticas e econômicas deve passar pelo âmbito da escola. Fazer com que o ensino de ciências produza condições e estímulo para uma aproximação dos jovens aos processos científicos, entendendo suas regras, seus processos e suas formas de linguagem, pode possibilitar o acesso dos jovens à cultura científica, podendo criar um diálogo entre os estudantes e os saberes das ciências. No ensino de ciências, um dos aspectos que tem sido muito divulgado para se apresentar a linguagem científica é o uso da argumentação. Lee, Wu & Tsai (2009) fizeram uma revisão bibliográfica de 2003 a 2007 nas revistas Journal of Science Education , Science Education e Journal of Research in Science Teaching e basearam-se nos dados que Tsai & Wens (2005) haviam revisado nas mesmas revistas no período de 1998 a 2002. Os autores perceberam que os estudos sobre argumentação ganharam significativa atenção entre os pesquisadores da área, destacando que, dos dez artigos mais citados nessas revistas no período de 1998 a 2002, os dois primeiros tratavam sobre argumentação e que, de 2003 a 2007, tratavam sobre argumentação (2º., 3º. e 5º. lugares), raciocínio informal (7º. e 10º. lugares) e alfabetização científica (1º. e 9º. lugares). Isso mostra que as pesquisas sobre argumentação tiveram maior destaque pelos pesquisadores de 1998 a 2007. Particularmente, o raciocínio informal e a alfabetização científica receberam maior atenção dos pesquisadores de 2003 a 2007. A construção de argumentação é uma habilidade que os estudantes podem desenvolver para resolverem problemas advindos da vida real. Pesquisadores perceberam a importância da argumentação no ensino de ciências e deram atenção a aprendizagem dos conceitos científicos a partir da argumentação (LEE et al ., 2009). Driver et. al (2000)

et al. , 2003; FARRE et al. , 2004; ROSE, 2003, 2007, REZENDE & STRUCHINER, 2009; GOMES-MALUF & SOUZA, 2008; MESQUITA & SOARES, 2008; PIASSI & PIETROCOLA, 2006, 2009; DUBCEK, 1998; FREUDENRICH, 2000; SHAW, 2000, BRAKE, 2003, DARK, 2005; PALACIOS, 2007; MACHADO, 2008; MUNEIRO & OLIVEIRA, 2007; TOMAZI et al. , 2009; KOMINSKY & GIORDAN, 2002; SANTOS & MORTIMER, 2009). E, por último, apresento as categorias de análise dos dados: o padrão de argumentação segundo Toulmin (2006) e os padrões morais segundo o padrão moral racionalista proposto por Sadler & Zeidler (2004). Capítulo 2: Discuto o desenho investigativo do trabalho, apresentando a descrição da situação investigativa, a construção da atividade, a escolha do filme infanto-juvenil trabalhado e a coleta de dados. Capítulo 3: esse capítulo dedica-se à análise detalhada dos dados da investigação. Inicialmente, apresento a transcrição e descrição das cenas do filme. Posteriormente, para respaldar as discussões, faço a análise do discurso do mesmo, a partir da linha francesa de M. Pêcheux (KOCH, 1987) e Foucault (FISCHER, 2001). O objetivo dessa análise do discurso foi entender a linguagem, a dinâmica e a intencionalidade do material, analisando e descrevendo o que está por trás desse recurso. Em seguida, faço a análise do texto escrito dos alunos identificando os diferentes elementos que aparecem em suas respostas: os conceitos científicos, o padrão de argumentação e os padrões morais e valores. Discuto os diferentes conceitos científicos presentes nas respostas dos alunos, se são apresentados no filme ou não. Discuto como os alunos constroem sua argumentação e como as mensagens do filme se articulam no argumento. Por último, analiso a presença dos padrões morais e valores nos argumentos dos alunos. Capítulo 4: Teço alguns comentários sobre a análise dos dados da investigação e suas possíveis implicações. Ao final, insiro as referências bibliográficas e os anexos com as cópias das respostas dos alunos.

1. Apoios para a investigação

1.1 Importância da linguagem no ensino de ciências

“Linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pelos indivíduos. Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem, um proporcionando recursos ao outro. Desta forma, a linguagem tem um papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo.” (VYGOTSKY, 1934)

A linguagem pode ser caracterizada pela fala, pela escrita, pelos gestos e pelas imagens (gráficos, tabelas, fotos, desenhos e filmes), recursos que podem aparecer em diferentes contextos. Ao pensarmos no ensino de ciências, esses diferentes recursos da linguagem podem proporcionar um melhor aprendizado sobre os conceitos científicos, fazendo com que tais informações possam ser assimiladas pelos alunos, levando ao aprendizado a partir da reorganização de seus significados (JEWITT et al. , 2001). A linguagem é o recurso central para a construção das significações dos sujeitos nos diferentes campos do conhecimento. Nesse sentido, salientam Yore et al. (2003), que a linguagem é uma ferramenta para facilitar o pensamento e o raciocínio plausível, para dar sentido aos eventos do mundo natural e para resolver problemas de comunicação. Acreditando que a aprendizagem pode ocorrer a partir da utilização dos diferentes recursos da linguagem, Lemke (2006) estuda a natureza da aprendizagem e relata que os estudantes precisam aprender como acumular e interiorizar os conteúdos em longo prazo. O autor defende que os estudantes devem ser estimulados em diferentes ambientes, como laboratórios, ambientes virtuais e ambientes naturais, para que se efetive a aprendizagem. Além disso, Lemke (2006) defende que os estudantes aprendem através de diferentes recursos, como desenhos, diagramas, gráficos, mapas, fotos, filmes, simulações 3D, entre outros, que podem ser tanto estáticos quanto dinâmicos. O autor conclui, em seu trabalho, que, o mais significativo é que o aprendizado ocorre principalmente quando os alunos fazem a relação dos diferentes significados através de todas essas modalidades, combinando texto e imagem, atividades e resumos, narrativas e observações. Toda essa interação não é automática e natural, é culturalmente específica e deve ser ensinada e aprendida. A maneira

linguagem escrita é importante para a formação do pensamento dos indivíduos e que ela pode favorecer o ensino de ciências, indo ao encontro do ensino por enculturação, é importante que o ensino de ciências contemple as características peculiares da linguagem científica, dando ênfase ao discurso argumentativo. O conhecimento científico é diferente de outros domínios, porque os enunciados, conclusões, hipóteses ou teorias não constituem meras opiniões, mas devem estar sustentados em evidências, dados empíricos ou respaldo de natureza teórica. A argumentação é definida como a capacidade de relacionar dados e conclusões, de avaliar enunciados teóricos à luz de dados empíricos ou outras fontes (KUHN, 1993). Acreditando na aproximação entre a argumentação e o fazer ciências, ensinar os alunos a construírem um discurso argumentativo para explicarem suas observações, hipóteses e conclusões sobre os dados das aulas é uma maneira de aproximá-los da prática científica, inserindo-os nessa cultura. É através da prática da argumentação e da justificação que os indivíduos que participam de uma mesma comunidade comunicacional compartilham conhecimentos e verdades. Portanto, a argumentação é ação humana presente em todas as esferas/culturas e de fundamental importância para a formação dos indivíduos (SCARPA, 2009). Devemos levar em consideração a pesquisa citada por Carvalho (2007), em que assuntos como ciência e tecnologia apareceram como mais interessantes à população brasileira do que política ou moda, assemelhando-se aos interessados por esportes. Nessa mesma pesquisa, 37% não se interessam por Ciência e tecnologia por não entenderem o assunto, por isso devemos refletir em como tornar o assunto interessante. O estudo dos processos de argumentação é relevante para a aprendizagem das ciências porque a construção do conhecimento científico abrange práticas de justificação, de basear as conclusões em provas (JIMÉNEZ ALEIXANDRE, 2005). A partir da construção da argumentação, os alunos são capazes de relacionar as explicações científicas em seus contextos adequados, sem deixar de lado suas experiências anteriores (CAPECCHI et al. , 2000). Consequentemente, podemos tornar os estudantes mais interessados aos assuntos de ciência e tecnologia, fazendo-os relacionar os conceitos científicos a problemas do dia-a- dia.

Durante a década de 1980, houve um movimento acompanhado por um grande número de países e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (UNESCO), que defendia a ideia de “ciência para todos” através da educação formal e não- formal. Esse movimento visava à formação de cidadãos críticos, capazes de entender a Ciência como parte da cultura, de procurar o próprio conhecimento científico constantemente, de questionar o conhecimento difundido pela mídia e de interagir de forma consciente com o mundo ao seu redor (CAZELLI & FRANCO, 2001). Esse processo pode ser definido como “alfabetismo”, em que há o foco no conhecimento, no entendimento e na habilidade requeridos para uma atuação efetiva na vida cotidiana em função do papel da Ciência, da Matemática e da tecnologia na vida moderna, visando uma população matemática, científica e tecnologicamente alfabetizada, para depender menos uns dos outros, diminuindo o domínio das elites cultas. A partir desses objetivos, surge o termo “alfabetismo científico”, que é definido pelos países membros da OECD/PISA como: “ser capaz de combinar o conhecimento científico com a habilidade de tirar conclusões baseadas em evidências de modo a compreender e ajudar a tomar decisões sobre o mundo natural e as mudanças nele provocadas pela atividade humana” (OECD, 2000). Há duas visões da alfabetização científica, que se complementam, segundo Brown, Reveles & Kelly (2005): a perspectiva centrada no âmbito sociocultural dos sujeitos e a perspectiva centrada no conhecimento propriamente dito. A perspectiva centrada no âmbito sociocultural propõe a aquisição do conhecimento como parte da preparação do indivíduo para a vida social. Nessa perspectiva, a linguagem é utilizada para construir as interações, tendo lugar significativo o discurso falado e o discurso escrito. E, a perspectiva centrada no conhecimento propriamente dito propõe a inserção dos estudantes em atividades sociais, que levarão à formação do conhecimento em um segundo momento. Segundo Fourez (2004), a perspectiva da alfabetização científica para o ensino de ciências apresenta objetivos humanistas , que visam à capacidade de se situar em um universo técnico-científico e de poder utilizar as ciências para decodificar seu mundo, tornando-o, assim, menos misterioso, mantendo sua autonomia crítica na sociedade e familiarizando-se com as grandes ideias provenientes das ciências. Essa perspectiva da alfabetização científica apresenta também objetivos ligados ao social , que são: diminuir as