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Neste documento, suad haddad de andrade discute o conceito de transferência e contratransferência na psicanálise, baseado no trabalho de sigmund freud e melanie klein. A transferência é descrita como a marca fundamental da prática analítica, enquanto a contratransferência representa as reações e sentimentos do analista em relação ao paciente. O autor aborda a importância de se considerar as reações do analista na compreensão do paciente e na dinâmica da terapia.
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Transferência e Contratransferência Suad Haddad de Andrade
Freud, no seu trabalho inicial com as pacientes histéricas, percebeu muito cedo que elas viviam conflitos: conflito entre seus desejos, seus impulsos sexuais e as proibições externas ou as exigências da realidade. Continuando suas teorizações vai nos mostrar, bem mais tarde, que o conflito pode ser visto de outra maneira: entre o Ego e o Id, os impulsos, e também entre o Ego e o Superego. O Superego como os pais ou o social internalizado e oferecendo oposição ao Id e ao Ego. E a conclusão é de que os sintomas eram a expressão de conflitos não resolvidos. Como trabalhar com isto? Freud, no inicio de seu trabalho, tentava explicar às pacientes o que ele percebia; ele falava para elas como se instalavam os conflitos e como elas estavam vivendo esta briga interna. Mas muito cedo, e isto aconteceu ainda quando trabalhava com Breuer, percebeu que as pacientes viviam desejos intensos para com o médico. O próprio Breuer, tomado de surpresa por Ana O., quase teve seu casamento desmoronado. Havia então um fenômeno típico, perigoso com o qual era preciso se acautelar. No caso Dora, ( publicado em 1905 mas escrito bem antes, em 1901 – “Fragmento da análise de um caso de histeria”) ficou bem claro para Freud que o rompimento do trabalho depois de apenas três mêses de análise, ocorreu por causa dos desejos intensos da paciente e que ele não percebeu em tempo e não mostrou a ela. Havia os sintomas histéricos de Dora, mas, diz Freud, surgiu um novo sintoma: a transferência. E êle dá a definição, que é clássica: “Novas edições ou fac-similes de impulsos e fantasias que são criados e se tornam conscientes durante o andamento da análise; possuem entretanto esta particularidade, que é característica de sua espécie: substituem uma figura anterior pela figura do médico. Em outras palavras : é renovada toda uma série de experiências psicológicas, não como pertencentes ao passado, para com os personagens do passado, mas aplicadas à pessoa do médico no momento presente.” Eram sentimentos que eram tornados conscientes, ou despertados na análise. Reedições ou edições revistas. Eram as Transferências. Então, havia os sintomas de Dora mas, diz Freud, surgiu um novo sintoma, a transferência. Daí, era preciso combater este sintoma como se combate os outros? Se a transferência era pensada como um obstáculo, como resistência, agora, pela primeira vez a transferência é introduzida de maneira diferente: a transferência não pode ser evitada. “O tratamento não cria a transferência mas simplismente a revela, como outros fatores psíquicos ocultos”....”A transferência que parecia predestinada a agir como o maior obstáculo à
psicanálise, torna-se seu maior aliado “. Foi à partir daí que a psicanálise passou a ser o que é; foi quando se inventou ou se instalou a situação analítica.
Esta capacidade de transferir é próprio da mente humana. O que é transferir? O desejo, o impulso pressiona a mente, se faz representar na mente e pressiona para que a mente dê uma solução. A mente revela então uma de suas características: ela desenvolve a capacidade de substituir. Transferimos interesses, emoções, fantasias, ansiedade, culpa, de um objeto para outro; são todas tendências ligadas ao processo de formação de símbolos. Portanto, no nosso trabalho, o conflito reaparece, é transferido para o terapeuta, e ao reaparecer pode ser trabalhado. Freud descobre assim o instrumento de trabalho fundamental da análise: a transferência é a marca da prática analítica. Então depois de ser vista como perigosa ela passa a ser nossa forte aliada. E o Método da Psicanálise nada mais é do que a criação de uma situação, de um setting, que possibilita o surgimeto ou a emergência da transferência para que ela possa ser trabalhada, interpretada. Só que no início se olhava a transferência para ver como ela aparecia, e Freud mostrava isto ao paciente – mostrava como era no passado e como estava se repetindo ali. Lentamente a técnica vai mudando, em decorrência do desenvolvimento teórico e todo o manejo da trasnferência vai se reformulando..
Em 1927 Melanie Klein numa polêmica com Ana Freud sobre a análise de crianças vai trazer significativos achados. Ana Freud dizia que a criança não pode ser analisada porque ela não faz transferência para o analista, já que ainda não acabou de realizar a relação com os pais, e não elaborou ainda a situação edípica. A análise de crianças, neste período inicial, tinha mais um vértice educativo ou de apoio; Ana Freud se preocupava muito em acolher bem as crianças, em dar um suporte a elas, além de instalar normas com função realmente educativa. Já Klein não tem esta postura e mesmo com crianças muito pequenas ela não interdita, não censura, não ensina, não aprova, nem reprova. Ela instala a postura de neutralidade, como com os adultos, e isto possibilita ou cria as condições para a transferência. No seu trabalho ”As origens da transferência” ela afirma que a criança transfere desde o início, até para os pais. Afirma também que o Édipo é muito precoce e com estes dois conceitos revoluciona a psicanálise na teoria e na prática, portanto não só em relação à transferência. O que ela quer dizer com isto: que as relações com os pais já incluem a transferência. Para ela o que existe é um mundo interno povoado de objetos, os objetos internos que vão se instalando através dos mecanismos de projeção e introjeção que atuam desde o nascimento. O mundo interno é o espaço no qual as vivências emocionais são
novas conexões emocionais o que permite a expansão do mundo interno, nos seus significados e afetos. Toda vez que nos relacionamos com alguém há uma relação que é objetiva, clara, consciente e uma outra que é fantasiosa. Vocês, por exemplo, vieram aqui para uma conversa sobre este tema nosso – este é o aspecto consciente, objetivo. Mas quantas fantasias acompanham este movimento, fantasias a meu respeito, à respeito de como vou desenvolver o tema, de como pode ser uma aula inaugural, à respeito do encontro com os colegas, e assim por diante. O encontro analítico tem esta especificidade de oferecer ao paciente um conhecimento melhor dele mesmo, do seu mundo de fantasias, e as expectativas do paciente em relação a isto são sempre muito intensas, as vezes muito penosas. Então o medo que o paciente tem da análise e do analista nada mais é do que o medo do que não conhece de si mesmo mas que ele geralmente fantasia como sendo ruim. São nossos aspectos desconhecidos, sempre, o que mais nos angustiam, embora compareçam como medo da análise ou do analista. No que, de certa forma eles têm razão.( uma das minhas observações aos candidatos é sobre a importância do analista para o paciente, coisa difícil de se aceitar porque é assustador.) Então, dos conceitos de Freud passamos para os de Klein, que vão abranger novos fenômenos. Este é o destino de toda teoria forte – ela está sempre se reavaliando e se revalidando na prática e exigindo reformulações porque ela própria detecta novos fenômenos que precisam ser explicados. É a prática, a clínica que está sempre trazendo novos achados, novos problema, e nos obrigando a pensar, a reformular, a trazer novas hipóteses. Este é o destino de toda teoria forte, e a transferência é uma delas.
E a Contratranferência também surgiu da prática. Quase ao mesmo tempo, Henrich Racher na Argentina, e Paula Heimann na Inglaterra começam a falar na contratransferência – algo que ocorre com o analista e que pode intervir no seu trabalho. As reações do analista ao seu paciente sempre foram vistas como algo muito sério que intervinha fortemente na observação, na captação do paciente. Era algo que ocorria para atrapalhar, e por isso era necessário muito cuidado. Muitos autores chegavam a dizer, taxativamente, que o remédio para a contratransferência era o analista voltar para o divã.. Dizendo de outra forma: os sentimentos, as reações do analista ao paciente, até as fantasias que lhe ocorrem na sessão eram vistos como obstáculos à sua captação do que ocorria com o paciente; eram tidos sempre como dificuldades do analista que ele precisava detectar para não prejudicar a análise.. ( falar da oposição de Klein a Heimann sobre a publicação do trabalho sobre a contratransferência)
Mas estes dois autores começam a se dar conta que a contratransferência não é contra nada, mas à favor. Passaram a escrever sobre a importância destes fenômenos que ocorriam com o analista e a proporem que eles não eram ocasionais ou não significavam que o analista estava comprometido com suas coisas, tão somente. Não , podiam ser parte integrante da vivência do momento e deviam ser levadas em conta pelo analista na sua busca de compreender o que estava se passando com o paciente. Então, a mente do analista começa agora a entrar na sessão. O que se passa com o analista começa a fazer parte do setting e é considerado como o resultado da interação e não mais como um fenômeno intruso que deve ser evitado. Isto significa que a personalidade do analista está inteira ali na sessão, colaborando com o trabalho. Temos que nos deixar tocar pelo paciente, temos que nos deixar penetrar pelo paciente. Este é um assunto muito debatido, importante, que continua em elaboração pelos psicanalistas, embora alguns aspectos já estejam bem assentados. Não vou entrar em detalhes mas vocês vão ouvir falar de simetria, assimetria, neutralidade, distanciamento, abstinência etc. Vocês terão cursos exaustivos sobre isto quando estudarem a Técnica e a Teoria da Técnica. Deixo só bem assinalado que hoje ninguém duvida de que o que ocorre numa sessão diz respeito à intersubjetividade, isto é, as duas mentes ali presentes interagem, uma influencia a outra e, espera-se, ambas saem enriquecidas da experiência. A instrumentação da contratransferência é a grande tarefa do analista e representa um avanço importante. Na situação analítica há uma interdependência mútua entre A e analizando; para alguns autores cria-se um campo onde se concentra toda nossa pesquiza. O conceito fundamental que instrumenta nossa observação na vivência transferencial-contratransferencial é a Identificação Projetiva. O que é isso? Foi M. Klein, em 1946, no seu trabalho “Notas sobre alguns mecanismos esquizoides” quem definiu e esclareceu este mecanismo. Ela nos diz: projetamos nos outros nossos aspectos indesejáveis (não só), mas não exatamente no outro mas dentro do outro. E passamos a identificar o outro como sendo ou tendo aquele aspecto que eu projetei. Vamos dar um exemplo: Se eu chego aqui com a idéia de que o que eu preparei para falar a vocês não vai agradar, ou não vai ser bem aceito por vocês, vai ser considerado insatisfatório ou qualquer coisa assim, eu vou ficar insegura, até com medo de vocês. O que eu estou fazendo? Estou projetando minha exigência em vocês. Vocês se tornam os exigentes, a ponto de me incomodarem sériamente. Fico atenta a vocês para detectar as queixas e sou capaz de sair dizendo que vocês não gostaram, que eu percebi bem isso, etc. Eu estou imaginando uma situação em que eu sou o paciente e vocês o analista. Então como eu projetei a
o que ele está vendo, através da interpretação. A maneira como ocorre a interação não deve ser explicitada ao paciente; esta tarefa é só do analista; este é o seu trabalho.( não podemos responsabilizar o paciente, sobrecarregá-lo).
Vocês estão vendo que temos que nos deixar tocar pelo paciente, nos deixar perturbar por ele. Não há outro caminho. E é para podermos lidar com todas estas tensões que necessitamos da nossa análise pessoal, o mais profunda e minuciosa possível. É por isso que se fala tanto em transferência; não só porque é a marca do trabalho psicanalítico mas principalmente porque é muito fácil conhecer as teorias psicanalíticas; o difícil é o trabalho com elas. Também é por isso que na maior parte do tempo se faz psicoterapia, que pode ser muito importante também, mas não tem o alcance para o paciente e a dificuldade para o analista, que a análise traz. A Psicoterapia de orientação analítica usa o mesmo corpo teórico da Psicanálise. O que é diferente é o manejo destas teorias na clínica, no aqui - agora da sessão. É o manejo da relação analista-analisando o que diferencia a psicoterapia da análise, ou melhor, é o trabalho com a transfe- contra. que caracteriza o trabalho analítico. Na análise estamos centrados nas emoções, nas emoções que emergem ali no contato. Não ficamos mais buscando levantar as repressões mas tentando encontrar os significados das fantasias, das angústias e das defesas que estão ocorrendo ali naquele momento. Estamos sempre caminhando para poder pensar a situação, para chegar a novos conhecimentos; e a capacidade do analista de poder sonhar, de poder viver suas emoções sem se perder nelas é o grande desafio.
Um aspecto importante que não quero deixar passar ( muito serão deixados, evidentemente) é o que diz respeito à confusão da transferência-contra. com I.P. e I.I. Ambas fazem parte, ocorrem freqüentemente mas não explicam toda a dinâmica e a estrutura das relações A x An.; também não levam em conta todo o trabalho que ocorre dentro do campo. O conjunto Trans- Contra representam sempre uma situação total, como diz Klein, e involucra fantasias, defesas, emoções, enfim, experiências emocionais as mais complexas. A importância da I.P. é porque ela representa o movimento mais significativo de comunicação e de defesa; nós a usamos para nos libertarmos dos sentimentos difíceis, insuportáveis. Representa também a necessidade de negar partes nossas insuportáveis, principalmente negar a separação Ego – Objeto. Ponho aspectos meus no outro e fico misturado com ele; assim eu não sou eu e o outro não é o outro. É o que chamamos de relação narcisista.
A I.P. é um mecanismo que tem sido muito discutido por diferentes autores, mas tem sido aceito pela grande maioria, com algumas variações na sua compreensão e manipulação.
Um outro tipo de ocorrência dentro da relação analítica é uma espécie de conluio inconsciente entre A e An que recebeu o nome de enactement traduzido por encenação. É quando o analista é envolvido sutilmente e sem se dar conta, num comportamento definido pelo paciente. Na I.P. o analisando atua dentro da mente do analista colocando um aspecto seu, de sua própria mente, que agora vai atuar dentro do analista; são estados emocionais que migram de um para o outro. No enactement há uma resposta do analista a certos estímulos do paciente e se refere sempre a um comportamento, a uma ação que passa a ser executada pelo analista; por isto se intitula de encenação. Se vocês prestarem a atenção verão que isto é comum: o analista é levado a tomar partido, geralmente do lado do paciente; o analista é levado a dar conselhos, ou é levado a supervisionar o trabalho do paciente, ou fica torcendo pelo sucesso do paciente e ai fica bravo ou o tranquiliza como fazem os pais e assim por diante. Na verdade o analista pode Ter estes sentimentos mas não pode atuá-los e deve ficar atento para não sair da situação onde o importante é saber das fantasias do paciente e apontar sua angústia, sua defesa e a maneira como lida com os objetos.
Então o que podemos fazer no trabalho psicanalítico: ajudar o paciente a recolher estes aspectos que estão sendo projetados fora, recolher o que se livrou e não quer ver em si, e recolocá-los em si mesmo – e aprender a viver com eles. É a reintegração dos aspectos rejeitados e projetados é que constitui o objetivo de nosso trabalho. No exemplo que eu dei: se vocês, como analistas, mostram a mim que sou eu que sou muito exigente, e sofro com minha exigência, e eu posso reconhecer isso e passo a pensar nisto, vou