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Toxicologia do Aldicarb em Cães e Gatos: Propriedades e Tratamento, Slides de Toxicologia

Uma revisão bibliográfica sobre a toxicologia do aldicarb, um anticolinesterase inhibidor de alta toxicidade, enfatizando suas propriedades químicas, toxicocinética, toxicodinâmica, diagnóstico e aspectos clínicos e terapêuticos da intoxicação em cães e gatos. O documento aborda a importância da intoxicação por aldicarb, que afeta cerca de 3 milhões de pessoas anualmente e causa mais de 220 mil mortes mundiais, sendo usado de forma clandestina e ilegalmente como raticida doméstica e no extermínio de animais de estima. O texto discute as propriedades químicas do aldicarb, sua toxicocinética, toxicodinâmica, diagnóstico e os aspectos clínicos e terapêuticos da intoxicação em cães e gatos.

O que você vai aprender

  • Como ocorre a toxicocinética do Aldicarb?
  • Quais são as propriedades químicas do Aldicarb?
  • Quais são os sintomas clínicos e terapêuticos da intoxicação por Aldicarb em cães e gatos?

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Osvaldo_86
Osvaldo_86 🇧🇷

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1206 Xavier et al.
Ciência Rural, v.37, n.4, jul-ago, 2007.
Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, p.1206-1211, jul-ago, 2007
ISSN 0103-8478
RESUMO
O aldicarb (Temik®), um agente anticolinesterásico
carbamato vulgarmente conhecido como “chumbinho”, é
considerado um dos praguicidas mais tóxicos disponíveis
comercialmente. No Brasil, embora seja registrado para uso
agrícola exclusivo, tem sido freqüentemente apontado como o
responsável por diversos casos de intoxicação em seres humanos
e em animais. Desta forma, o presente estudo faz uma
abordagem da toxicologia deste agente, enfocando as
propriedades químicas, a toxicocinética, a toxicodinâmica, o
diagnóstico e os aspectos clínicos e terapêuticos da intoxicação
em cães e gatos.
Palavras-chave: aldicarb, carbamatos, toxicidade,
intoxicação, cães, gatos.
ABSTRACT
Aldicarb (Temik®), an anticholinesterase inhibitor
of the carbamate group known as ‘chumbinho’, is one of the
most toxic of registered pesticides, and has its use restricted to
agriculture in Brazil. In spite of it, aldicarb is being very often
involved in severe intoxication in humans and animals. It is
largely and illegally sold as rodenticide and often used in baits
for intentional poisoning of companion animals. Because of
this the aldicarb toxicology was reviewed empathizing its
chemical properties, toxicokinetic, toxicodynamic, diagnostic
and the clinical and therapeutics aspects in dogs and cats.
Key words: aldicarb, carbamates, toxicity, poisoning, dogs,
cats.
INTRODUÇÃO
A ampla utilização dos praguicidas tem
resultado em aumento do número de intoxicações
humanas e animais, principalmente em países em
desenvolvimento. São relatadas cerca de 3 milhões de
vítimas anualmente e mais de 220 mil mortes no mundo
todo (TALCOTT & DORMAN, 1997; GARCIA-
REPETTO et al., 1998; KALKAN et al., 2003). No Brasil,
dados mais recentes do Sistema Nacional de
Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX)
mostram que, no ano de 2003, os praguicidas em geral
foram responsáveis por 12.788 (15,47%) casos de
intoxicação no homem e 565 (40,91%), em animais
(FIOCRUZ, 2006).
Dentre os praguicidas, os organofosforados
e carbamatos estão entre as principais causas de
intoxicação aguda, em situações acidentais ou não. Isto
pode ser atribuído à alta toxicidade de alguns destes
compostos, à facilidade de aquisição de produtos
registrados para uso agrícola, veterinário ou doméstico
contendo estas substâncias e também ao fato de que a
fiscalização da comercialização dos praguicidas de uso
proibido ou restrito é ineficiente. Em especial, cabe
destacar o caso do aldicarb, um carbamato de alta
toxicidade, que é vendido de forma clandestina e usado
ilegalmente como raticida doméstico e no extermínio
sobretudo de animais de companhia.
- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -
IDepartamento de Patologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade de São Paulo (USP). Av. Prof.
Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, 05508-900, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: fgxavier@usp.br. Autor para correspondência.
IIDepartamento de Patologia, FMVZ, USP, São Paulo, SP, Brasil.
Toxicologia do praguicida aldicarb (“chumbinho”): aspectos gerais, clínicos e terapêuticos
em cães e gatos
Fabiana Galtarossa Xavier1 Dario Abbud RighiII Helenice de Souza SpinosaII
Aldicarb toxicology: general, clinic and therapeutic features in dogs and cats
Recebido para publicação 25.01.06 Aprovado em 20.02.07
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1206 Xavier et al.

Ciência Rural, v.37, n.4, jul-ago, 2007.

Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, p.1206-1211, jul-ago, 2007

ISSN 0103-

RESUMO

O aldicarb (Temik®), um agente anticolinesterásico carbamato vulgarmente conhecido como “chumbinho”, é considerado um dos praguicidas mais tóxicos disponíveis comercialmente. No Brasil, embora seja registrado para uso agrícola exclusivo, tem sido freqüentemente apontado como o responsável por diversos casos de intoxicação em seres humanos e em animais. Desta forma, o presente estudo faz uma abordagem da toxicologia deste agente, enfocando as propriedades químicas, a toxicocinética, a toxicodinâmica, o diagnóstico e os aspectos clínicos e terapêuticos da intoxicação em cães e gatos.

Palavras-chave : aldicarb, carbamatos, toxicidade, intoxicação, cães, gatos.

ABSTRACT

Aldicarb (Temik ®^ ), an anticholinesterase inhibitor of the carbamate group known as ‘chumbinho’, is one of the most toxic of registered pesticides, and has its use restricted to agriculture in Brazil. In spite of it, aldicarb is being very often involved in severe intoxication in humans and animals. It is largely and illegally sold as rodenticide and often used in baits for intentional poisoning of companion animals. Because of this the aldicarb toxicology was reviewed empathizing its chemical properties, toxicokinetic, toxicodynamic, diagnostic and the clinical and therapeutics aspects in dogs and cats.

Key words : aldicarb, carbamates, toxicity, poisoning, dogs, cats.

INTRODUÇÃO

A ampla utilização dos praguicidas tem resultado em aumento do número de intoxicações humanas e animais, principalmente em países em desenvolvimento. São relatadas cerca de 3 milhões de vítimas anualmente e mais de 220 mil mortes no mundo todo (TALCOTT & DORMAN, 1997; GARCIA- REPETTO et al., 1998; KALKAN et al., 2003). No Brasil, dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) mostram que, no ano de 2003, os praguicidas em geral foram responsáveis por 12.788 (15,47%) casos de intoxicação no homem e 565 (40,91%), em animais (FIOCRUZ, 2006). Dentre os praguicidas, os organofosforados e carbamatos estão entre as principais causas de intoxicação aguda, em situações acidentais ou não. Isto pode ser atribuído à alta toxicidade de alguns destes compostos, à facilidade de aquisição de produtos registrados para uso agrícola, veterinário ou doméstico contendo estas substâncias e também ao fato de que a fiscalização da comercialização dos praguicidas de uso proibido ou restrito é ineficiente. Em especial, cabe destacar o caso do aldicarb, um carbamato de alta toxicidade, que é vendido de forma clandestina e usado ilegalmente como raticida doméstico e no extermínio sobretudo de animais de companhia.

- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -

IDepartamento de Patologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade de São Paulo (USP). Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, 05508-900, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: fgxavier@usp.br. Autor para correspondência. II (^) Departamento de Patologia, FMVZ, USP, São Paulo, SP, Brasil.

Toxicologia do praguicida aldicarb (“chumbinho”): aspectos gerais, clínicos e terapêuticos

em cães e gatos

Fabiana Galtarossa Xavier^1 Dario Abbud RighiII^ Helenice de Souza SpinosaII

Aldicarb toxicology: general, clinic and therapeutic features in dogs and cats

Recebido para publicação 25.01.06 Aprovado em 20.02.

Toxicologia do praguicida aldicarb (“chumbinho”): aspectos gerais, clínicos e terapêuticos em cães e gatos. 1207

De acordo com a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente do Rio de Janeiro , o tráfico de aldicarb é tão ou mais lucrativo quanto o de entorpecentes, chegando a movimentar, somente no Estado do Rio de Janeiro, cerca de R$ 3 milhões por ano. Além disso, em muitos casos, ocorre adulteração do produto, que é misturado a grafite, milho moído, farinha de trigo ou areia, além da associação com organofosforados e anticoagulantes, agravando o quadro de intoxicação e dificultando o tratamento médico no caso de ingestão acidental (FERNANDES, 2003). Em Medicina Veterinária, dados nacionais e internacionais mostram a participação do aldicarb como agente tóxico utilizado para exterminar animais de companhia ou silvestres, estando este problema sempre relacionado ao seu uso ilegal e criminoso (DELAUNOIS et al., 1997; FRAZIER et al., 1999; GUITART et al., 1999; MOTAS-GUZMÁN et al., 2003; XAVIER, 2004). No Brasil, um estudo realizado em 1.633 cães e gatos recebidos por um Serviço de Necroscopia Veterinário mostrou que, dos 234 (14,3%) casos relacionados à intoxicação exógena, o aldicarb foi o agente tóxico mais comum, sendo responsável por 89% dos casos de intoxicação em cães e 94,4% dos casos em gatos (XAVIER, 2004). No mesmo sentido, outros trabalhos destacaram a participação deste carbamato nas intoxicações animais no Brasil (SPINOSA & FLÓRIO, 1993; LOBO JR., 2003; GUIMARÃES et al., 2004; ALMEIDA et al., 2005). Estes dados reforçam a importância do conhecimento da toxicologia deste agente, facilitando o reconhecimento precoce dos sinais clínicos e o tratamento mais adequado dos pacientes, bem como a necessidade da instituição de medidas mais eficientes de fiscalização e punição dos responsáveis por qualquer operação de distribuição e uso não permitido do produto.

Aldicarb: propriedades químicas, toxicocinética e toxicodinâmica O aldicarb ou 2-metil-2(metiltio)- propionaldeído O-(metilcarbamoil) oxima, um metil- carbamato, foi introduzido na agricultura na década de 60 com o objetivo de controlar uma ampla variedade de insetos, ácaros e nematódeos (TRACQUI et al., 2001). No Brasil, ele é manufaturado na forma de pequenos grânulos pretos, com 15% de princípio ativo (Temik 150 ®), e é popularmente conhecido como “chumbinho”. O aldicarb é um praguicida sintético solúvel em água e na maioria dos solventes orgânicos, estável em condições ácidas, degradável em meios alcalinos concentrados, não-inflamável e não-corrosivo (RAGOUCY-SENGLER et al., 2000). Além disso, é

relativamente persistente no ambiente, com meia-vida variando de 9 a 60 dias, dependendo do tipo de solo e das condições climáticas. Todavia, há relatos da presença de resíduos 100 a 400 dias após a sua aplicação (MOTAS-GUZMÁN, 2003). O aldicarb é usado diretamente no solo e, após a aplicação, é absorvido pela raiz e distribuído por todo vegetal, de forma que a simples lavagem da planta não é suficiente para eliminar o praguicida. Sendo assim, o consumo de certos produtos inadequadamente tratados pode resultar em exposição ao aldicarb, como este ainda pode haver de contaminação de águas subterrâneas (FARLEY & MCFARLAND, 1999). O aldicarb é altamente tóxico por via oral e, qualquer que seja sua apresentação, a absorção no estômago é rápida e praticamente completa, sendo que os sinais clínicos da intoxicação podem se iniciar cinco minutos após a ingestão. A elevada lipofilicidade deste composto resulta em toxicidade dérmica aproximadamente mil vezes maior que a dos outros carbamatos, podendo ser absorvido rapidamente pela pele íntegra, se na forma líquida (TRACQUI et al., 2001). Além da alta toxicidade do aldicarb pelas vias oral e dérmica (KERR et al., 1991), estudos em camundongos, ratos e cobaias mostraram que a inalação do aldicarb por cinco minutos é extremamente tóxica para estas três espécies (GRENDON et al., 1994). A Environmental Protection Agency (EPA) classificou o aldicarb na categoria 1, que é a de mais alta toxicidade (RAGOUCY-SENGLER et al., 2000). Após ser prontamente absorvido por qualquer uma das vias de exposição, o aldicarb é rapidamente oxidado a aldicarb sulfóxido (ASX) e uma porção deste é lentamente degradada a aldicarb sulfona (ASN), antes de ser hidrolisado a agentes não- colinérgicos (BARON, 1994; HARPER et al., 1998). O aldicarb e seu metabólito ASX possuem toxicidade aguda semelhante para mamíferos, embora este último seja um inibidor mais potente da acetilcolinesterase, apresentando DL 50 oral para ratos de 0,49 a 1,41mg kg-1; o ASN é menos ativo que o aldicarb, com DL 50 oral para ratos de 20,0 a 27,0mg kg-1^ (BURGESS et al., 1994). Estes compostos têm sido apontados como indicadores da exposição ao aldicarb, embora sejam estáveis por, no máximo, dois dias em animais vivos ou mortos (HARPER et al., 1998; COBB et al., 2001). O aldicarb e seus metabólitos são distribuídos em vários tecidos, mas não há evidências de acúmulo destas substâncias em nenhum deles e nem mesmo da presença de resíduos após cinco dias da exposição. Por outro lado, a presença do aldicarb em tecidos fetais foi observada em ratos, indicando que há a possibilidade de passagem transplacentária em mães expostas (WEXLER, 1998).

Toxicologia do praguicida aldicarb (“chumbinho”): aspectos gerais, clínicos e terapêuticos em cães e gatos. 1209

O conteúdo estomacal de animais de companhia constitui excelente matriz para a identificação laboratorial de aldicarb (XAVIER, 2004) em virtude da alta solubilidade dos grânulos no fluido gástrico, intervalo extremamente curto entre a ingestão, início dos sinais clínicos e morte, além do efeito estabilizante do pH ácido estomacal de monogástricos sobre o aldicarb (FRAZIER et al., 1999). A administração deste conteúdo por intubação gástrica em camundongos é um método utilizado com finalidade diagnóstica, pois produz quadro clínico clássico, com intervalo de latência de 5 a 15 minutos e início de episódios de convulsões clônicas intensas e óbito (MOTAS-GUZMÁN, 2003). Além das provas anteriores, a cromatografia em camada delgada (CCD) tem sido utilizada com bastante sucesso em animais para o diagnóstico qualitativo dos casos de toxicose por aldicarb. Para isto, amostras de conteúdo gástrico ou de alimentos suspeitas devem ser mantidas congeladas até o momento da análise (XAVIER, 2004). O emprego da cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) também pode ser útil na identificação e quantificação do aldicarb em amostras biológicas (GUIMARÃES et al., 2004; MELITO, 2004)

Aspectos clínicos e terapêuticos da intoxicação por aldicarb em cães e gatos O quadro de intoxicação por aldicarb é semelhante ao promovido pelos demais praguicidas anticolinesterásicos, mas, por se tratar de um agente extremamente tóxico, tende a iniciar seus efeitos rapidamente, podendo levar o paciente ao óbito em poucos minutos após a exposição oral. Portanto, o prognóstico vai depender principalmente da dose ingerida e do tempo decorrido entre a exposição e o primeiro atendimento. Em cães e gatos, a intoxicação por organofosforados e carbamatos evolui progressivamente, iniciando-se com um quadro de agitação (movimentação compulsiva com ou sem interação com o meio ambiente), evoluindo para hipoexcitabilidade (estado de prostração e apatia, mesmo perante a estímulos externos) ou hiperexcitabilidade (estado geral de excitação excessiva, inclusive frente a estímulos externos). É comum a ocorrência de sialorréia, observada em maior intensidade nos gatos, e tremores musculares; segue-se a miose, micção freqüente, diarréia, bradicardia, dor abdominal e êmese. A ocorrência de bradicardia é mais comum, mas pode haver taquicardia pela liberação de catecolaminas pelas adrenais. Em casos severos, observa-se cianose e dispnéia, em virtude do acúmulo de secreções

respiratórias e de broncoconstrição, além de depressão acentuada do SNC; a morte advém da hipóxia resultante das alterações respiratórias e da bradicardia (MCENTEE et al., 1994; NORSWORTHY, 2004; GFELLER & MESSONNIER, 2006). Os praguicidas anticolinesterásicos estão associados também à ocorrência de neuropatia periférica tardia (dores musculares, fraqueza muscular progressiva e diminuição dos reflexos tendinosos que ocorrem após duas a três semanas ou até meses após a exposição) e à síndrome intermediária (paralisia da musculatura proximal dos membros, da musculatura flexora do pescoço e da musculatura respiratória que ocorre 24 a 96 horas após a crise colinérgica aguda), alterações bastante descritas para organofosforados e menos freqüentemente para carbamatos (LEON et al., 1996; ANDRADE FILHO & ROMANO, 2001). Em um estudo clínico realizado com 11 cães e 5 gatos intoxicados por aldicarb, diversas alterações eletrocardiográficas foram encontradas, destacando- se aquelas observadas no segmento ST, e distúrbios de condução no ramo descendente da onda R em cães e a ocorrência de arritmias graves em gatos (LOBO JR., 2003). Em três cães, sinais clínicos compatíveis com a síndrome intermediária foram observados 2 a 4 dias após a exposição, sendo representados principalmente por ptose palpebral, hiporreflexia e flacidez da musculatura do pescoço. Achados semelhantes são descritos na espécie humana em indivíduos que desenvolveram a síndrome intermediária após a exposição a organofosforados (HE et al., 1998). Nos casos de intoxicação aguda oral por anticolinesterásicos, as medidas emergenciais mais importantes são a interrupção da absorção do agente tóxico, obtida através da indução da êmese ou da lavagem gástrica (até duas horas após a exposição) e a administração do sulfato de atropina em doses suficientes para o controle dos sinais muscarínicos (HANSEN, 1995; RAGOUCY-SENGLER et al., 2000). O xarope de ipeca pode ser utilizado pela via oral (VO) para induzir êmese em pacientes conscientes e alertas (BLODGETT, 2006), devendo ser administrada em cães na dose de 1 a 2,5ml kg-1(máximo de 15ml no total) e na dose de 1 a 3,3ml kg -1^ , em gatos (BEASLEY & DORMAN, 1990; DORMAN 1995; GFELLER & MESSONNIER, 2006). Como adsorvente, recomenda- se o carvão ativado (1 a 2g kg-1^ , VO), juntamente com um catártico (caso o paciente não esteja apresentando diarréia), como o sulfato de sódio (0,25g kg-1, VO, diluído em 5 a 10 volumes de água), durante pelo menos 12 horas (BLODGETT, 2006; GFELLER & MESSONNIER, 2006). O uso do catártico tem como finalidade a promoção da passagem do carvão ativado pelo trato

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gastrointestinal e a eliminação da toxina adsorvida através das fezes (BUCK & BRATICH, 1986). Catárticos contendo magnésio devem ser evitados caso os sinais neurológicos estejam presentes (GFELLER & MESSONNIER, 2006). Em cães e gatos intoxicados por anticolinesterásicos, recomenda-se a administração do sulfato de atropina na dose de 0,1 a 0,5mg kg - (HANSEN, 1995; BLODGETT, 2006), sendo que um quarto da dose deve ser administrada pela via IV e o restante pela via subcutânea (SC) ou intramuscular (IM). Recomenda-se a utilização da menor dose efetiva possível, dada a possibilidade de que sejam necessárias várias repetições, baseadas no reaparecimento ou na persistência dos sinais respiratórios. Neste caso, preconiza-se a administração da metade da dose inicial. Além disso, quando houver dispnéia severa, a oxigenoterapia deve ser realizada, a fim de prover a demanda aumentada de oxigênio exigida pelo miocárdio (GFELLER & MESSONNIER, 2006). É possível a ocorrência de convulsões neste tipo de toxicose, sendo necessária a administração cautelosa de benzodiazepínicos, como o diazepam, na dose de 0,5 a 1,0mg kg-1, IV (ALLEN, 1998). Além disso, é importante o tratamento da acidose, caso seja apontada na gasometria, por meio da fluidoterapia e da administração do bicarbonato de sódio (GFELLER & MESSONNIER, 2006). Para o controle dos tremores musculares, alguns autores recomendam o uso de anti-histamínicos, como a difenidramina (dose de 1 a 4mg kg-1, IM ou VO, cada 8 horas), embora isto seja bastante controverso, principalmente por não ser reconhecida a ação antinicotínica destes medicamentos e pelo risco de agravamento dos efeitos neurológicos (CLEMMONS et al., 1984; FIKES, 1990; BLODGETT, 2006). O uso das oximas no tratamento da intoxicação por organofosforados é amplamente aceito, mas seu papel na intoxicação por carbamatos é ainda bastante controverso (TALCOTT & DORMAN, 1997), já que formam um complexo enzima-praguicida reversível espontaneamente, além de ligarem-se em ambos os centros ativos da enzima, impedindo sua reativação pela oxima. Experiências clínicas em seres humanos não confirmaram o valor do uso destas substâncias, mas estudos em animais utilizando a pralidoxima sozinha ou em conjunto com a atropina mostraram aumento da toxicidade aos carbamatos, contribuindo para a contra-indicação de seu uso em um quadro de intoxicação por este tipo de praguicida (RAGOUCY-SENGLER et al., 2000; ANDRADE FILHO & ROMANO, 2001; BLODGETT, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido ao seu baixo custo, às facilidades de aquisição e a sua alta toxicidade, o aldicarb tem sido amplamente utilizado de forma ilegal como raticida doméstico e como agente de escolha para exterminar animais de companhia, criando um cenário que coloca em risco também a saúde humana. Sendo assim, a divulgação de informações a respeito deste tema, incluindo o estudo da toxicologia do aldicarb, é altamente relevante não somente por fornecer auxílio à rotina do médico veterinário, mas também por servir como um novo documento que torna público a gravidade do problema no Brasil.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

REFERÊNCIAS

ALLEN, D.G. et al. Handbook of veterinary drugs. 2.ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998. 886p.

ALMEIDA, C.G. et al. Intoxicação em cães e gatos: estudo retrospectivo dos casos atendidos em um centro veterinário privado durante o período de 1996 a 2004. Revista Brasileira de Toxicologia , v. 18, p. 286, 2005. ANDRADE FILHO, A.; ROMANO, C. Anticolinesterásicos. In: ANDRADE FILHO, A. et al. Toxicologia na prática clínica. Belo Horizonte: Folium, 2001. Cap.5, p.53-60. BARON, R.L. A carbamate insecticide: a case study of aldicarb. Environmental Health Perspectives , v.102, n.11, p.23-27,

BEASLEY, V.R., DORMAN, D.C. Management of toxicoses. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice , v.20, n.2, p.307-337, 1990. BLODGETT, D.J. Organophosphate and carbamate insecticides. In: PETERSON, M.E.; TALCOTT, P.A. Small animal toxicology. 2.ed. St. Louis: Saunders, 2006. Cap.66, p.941-

BUCK, W.B., BRATICH, P.M. Activated charcoal: Preventing unnecessary death by poisoning. Veterinary Medicine: Food Animal Practice , v.81, p.73-77, 1986.

BURGESS, J.L. et al. Aldicarb poisoning. A case report with prolonged cholinesterase inhibition and improvement after pralidoxime therapy. Archives of Internal Medicine , v.154, n.24, p.221-224, 1994.

CLEMMONS, R.M. et al. Correction of organophosphate- induced neuromuscular blockade by diphenhydramine. American Journal of Veterinary Research , v.45, n.10, p.2167-2169,

COBB, G.P. et al. Nonlethal method for forensic evaluation of aldicarb exposure in wildlife. Archives of Environmental Contamination and Toxicology , v.40, p.77-88, 2001.