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Concordância Verbo-Sujeito em Português, Resumos de Morfologia e Sintaxe

Uma análise detalhada da concordância entre o verbo e o sujeito em português, abordando diferentes casos, como sujeitos diferentes, sujeitos compostos, sujeitos indeterminados e sujeitos relacionados a horas. O texto também discute a concordância do verbo com pronomes relativos e a formação de orações com sujeitos compostos.

Tipologia: Resumos

2020

Compartilhado em 27/03/2024

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matheus-ribeiro-5wv 🇧🇷

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510 NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
Nos casos acima, vemos que a oração de particípio tem sujeito diferente da
principal e estabelece, para com esta, uma relão de anterioridade.
Mas a relão temporal entre as duas orações pode ser de simultaneidade,
principalmente se o sujeito for o mesmo:
Embaraçado, não consegui chegar à porta.
(O. Lara Resende, BD, 121.)
Rodeada do bando, Mariana comia em paz na cozinha o caldo ca
ridoso. (M. Torga, NCM, 126.)
Deitada na terra, a chuva na manta, Imboti não enxerga o céu de
nuvens pesadas e escuras.
(Adonias Filho, LP, 24.)
5. Quando o particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma
relão temporal, ele se confunde com o adjetivo:
O vento enfurecido açoitava a rancharia.
(A. Meyer, S7,15.)
Os gritos das gentes desoladas atroavam a vila revolvida.
(V. Nemésio, MTC, 365.)
O corpo torturado do tratorista caíra em cima dos presos ador
mecidos àquela hora da noite.
(Luandino Vieira, WDX, 76.)
CONCORDÂNCIA VERBAL
1. A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterio
riza-se na co ncordâ ncia , isto é, na variabilidade do verbo para conformar-se
ao número e à pessoa do sujeito.
2. A concordância evita a re p etição d o sujeito, q u e p o de ser in dic ada p ela flexão
verbal a ele a ju stada:
Eu acabei por adormecer no regaço de minha tia. Quando acordei,
já era tarde, não vi meu pai.
(A. Ribeiro, CRG, 257.)
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510 NOV A G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Nos casos acima, vemos que a oração de particípio tem sujeito diferente da principal e estabelece, para com esta, uma relação de anterioridade. Mas a relação temporal entre as duas orações pode ser de simultaneidade, principalmente se o sujeito for o mesmo:

Embaraçado, não consegui chegar à porta. (O. Lara Resende, BD, 121.)

Rodeada do bando, Mariana comia em paz na cozinha o caldo ca ridoso. (M. Torga, NCM, 126.)

Deitada na terra, a chuva na manta, Imboti não enxerga o céu de nuvens pesadas e escuras. (Adonias Filho, LP, 24.)

  1. Quando o particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma relação temporal, ele se confunde com o adjetivo:

O vento enfurecido açoitava a rancharia. (A. Meyer, S7,15.)

Os gritos das gentes desoladas atroavam a vila revolvida. (V. Nemésio, MTC, 365.)

O corpo torturado do tratorista caíra em cima dos presos já ador mecidos àquela hora da noite. (Luandino Vieira, W DX, 76.)

CONCORDÂNCIA VERBAL

  1. A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterio riza-se na con cord ância, isto é, na variabilidade do verbo para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito.
  2. A concordância e v ita a r e p e tiç ã o d o s u je ito , q u e p o d e s e r in d ic a d a p e la flex ão v e rb a l a ele a ju s ta d a :

Eu acabei por adormecer no regaço de minha tia. Quando acordei, já era tarde, não vi meu pai.

(A. Ribeiro, CRG, 257.)

V E R B O 511

— Tu tens razão. Agora, tudo se clareou para mim. Não precisas voltar aqui. Não quero que te exponhas.

(J. Montello, DP, 296.)

A chuva caía violenta no quintal, ensopava a areia vermelha dos caminhos e invadia mesmo a cela, colando-lhe a roupa no corpo dorido.

(Luandino Vieira, W D X, 72.)

R EG R A S G ER A IS

C o m u m só s u je it o

O verbo concorda em número e pessoa com o seu sujeito, venha ele claro ou subentendido:

A paisagem ficou espiritualizada. Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada...

(M. Bandeira, PP, 70.)

Nada sou, nada posso, nada sigo. Trago, por ilusão, meu ser comigo.

(R Pessoa, OP, 675.)

Vieste de um país que não conheço.

(C. Nejar, OP, 1,26.)

C o m m a is d e u m s u je ito

O v e r b o q u e te m m a is d e u m s u je ito ( sujeito c o m po st o ) v a i p a r a o p lu r a l e, q u a n t o à p e s s o a , irá: a) para a l.a pessoa do plural, se entre os sujeitos figurar um da l.a pessoa:

eu e Florêncio ficamos calados, à margem.

(C. dos Anjos, DR , 39.)

Tu por um lado e eu por outro o acautelaremos das horas más.

(A. Ribeiro, V, 415.)

V E R B O 513

CASOS P A R TIC U LA R ES

C o m u m só s u je it o

O s u je ito é u m a e x p re ssã o p a rtitiv a

Quando o sujeito é constituído por expressão partitiva (como: parte de, uma

porção de, o grosso de, o resto de, metade de e equivalentes) e um substantivo ou

pronome plural, o verbo pode ir para o singular ou para o plural:

A maior parte deles já não vai à fábrica!

(B. Santareno, TPM, 40.)

A maior parte destes quartos não tinham teto, nem portas, nem pavimento.

(C. Castelo Branco, OS, 1,196.)

Uma porção de moleques me olhavam admirados.

(J. Lins do Rego, ME, 29.)

Para meu desapontamento, a maioria dos nomes anotados não dispu nha de telefone, ou eram casas comerciais, que não queriam conversa.

(C. Drummond de Andrade, BV, 12.)

O bservação: A cada uma destas possibilidades corresponde um novo matiz da expressão. Deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciarmos os vários elementos que compõem o todo.

O s u je ito d e n o ta q u a n tid a d e a p ro x im a d a

Quando o sujeito, indicador de quantidade aproximada, é formado de um

número plural precedido das expressões cerca de, mais de, menos de e similares,

o verbo vai normalmente para o plural:

Ainda assim, restavam cerca de cem viragos...

(J. Ribeiro, FE, 53.)

...e afinal, depois de tanto trabalho, de tantas palavras e canseiras, fugirem-lhe nada menos de três! (Ferreira de Castro, OC, I, 85.)

(^514) NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

O bservação: Enquanto o sujeito de que participa a expressão menos de dois leva o verbo ao plural, o sujeito formado pelas expressões mais de um ou mais que um, seguidas de substantivo, deixa o verbo de regra no singular:

A gauchada estava dividida no julgamento da carreira; mais de um torena coçou o punho da adaga, mais de um desapresilhou a pistola, mais de um virou as esporas para o peito do pé... (Simões Lopes Neto, CGLS, 331.)

Mais de um sujeito correu na salvação do pescoço-pelado. (J. C. de Carvalho, CLH, 137.)

Emprega-se, porém, o verbo no plural quando tais expressões vêm repetidas, ou quando nelas haja ideia de reciprocidade. Assim:

Mais de um velho, mais de uma criança não puderam fugir a tempo. Mais de um orador se criticaram mutuamente na ocasião.

O s u je ito é o p ro n o m e re la tiv o q u e

1. O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que concorda em número

e pessoa com o antecedente deste pronome:

Fui eu que lhe pedi que não viesse.

(J. Montello, DP, 245.)

Sou eu que lhe peço.

(Castro Soromenho, TM, 244.)

És tu que vais acompanhá-lo.

(Alves Redol, BC, 343.)

Não és tu que me dás felicidade.

(M. de Andrade, PC, 253.)

Foram eles que criaram o Brasil, que o tornaram independente, que deram maior brilho ao nosso passado.

(G. Amado, TL, 193.)

516 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Acurvado sobre a mesa esconsa de seu lavor mercantil, era, aí mesmo, um dos primeiros homens doutos que escrevia em português sem mácula.

(C. Castelo Branco, BE, 2 13.)

Observação: O verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relação ao qual vem mencio nado, ao contrário do que ocorre se construirmos a oração com o verbo no plural.

4. Depois de (um) dos que (= um daqueles que) o verbo vai normalmente para

a 3.a pessoa do plural:

Ela passou-se para outro mais decidido, um dos que moravam no quartinho dos grandes. (J. Lins do Rego, D, 107.)

Naqueles dias a meninada do colégio interessava-se vivamente pelos concursos e eu era um dos que não perdiam o bate-boca das argui ções.

(M. Bandeira, PP, II, 360-361.)

Por vezes omite-se o um:

Não sou dos que acreditam no direito divino da velhice.

(J. Nabuco, A, 294.)

Eu fui dos que se meteram ao lodo.

(Alves Redol, BSL, 325.)

João Guimarães Alves foi dos que se perderam na distância. (C. Drummond de Andrade, OC, 527.)

São raros exemplos literários contemporâneos como estes:

O homem fora um dos que não resistira a tal sortilégio.

(F. Namora, CS, 168.)

O bispo de Silves foi um dos que caiu no erro funesto.

(A. Ribeiro, PSP, 250.)

V E R B O 5 1 7

O s u je ito é o p ro n o m e re la tiv o q u e m

1. O pronome relativo quem constrói-se, de regra, com o verbo na 3.a pessoa

do singular:

Es tu quem murmura nas águas, Tu és quem respira por mim.

(M. Mendes, P, 181.)

E não fui eu quem te salvou?

(D. Mourão-Ferreira, I, 91.)

  1. Não faltam, porém, exemplos de bons autores em que o verbo concorda com o pronome pessoal, sujeito da oração anterior. Neste caso, põe-se em relevo, sem rodeios mentais, o sujeito efetivo da ação expressa pelo verbo:

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela E oculta mão colora alguém em mim. (F. Pessoa, OP, 55.)

Eram os filhos, estudantes nas Faculdades da Bahia, quem os obriga vam a abandonar os hábitos frugais. (J. Amado, GCC, 249.)

É esta a construção preferida da linguagem popular.

O s u je ito é um p ro n o m e in te rro g a tiv o , d e m o n stra tiv o o u in d e fin id o p lu ra l, se g u id o d e d e (o u d e n tr e j n ó s (o u v ó s )

Se o sujeito é formado por algum dos pronomes interrogativos (quais?

quantos?), dos demonstrativos (estes, esses, aqueles ) ou dos indefinidos no plural

(alguns, muitos, poucos, quaisquer, vários), seguido de uma das expressões de nós,

de vós, dentre nós ou dentre vós, o verbo pode ficar na 3.a pessoa do plural ou

concordar com o pronome pessoal que designa o todo:

Mas, quantos, dentre nós, ainda estão vivos, devotam à vida a mesma paixão de outrora?

(N. Pinon, FD, 47-48.)

Quantos dentre vós que me ouvis não tereis tomado parte em ro magens a Aparecida? (A. Arinos, OC, 770.)

V E R B O 5 1 9

As M e m ó r ia s P ó s tu m a s d e B r á s C u b a s lhe davam uma outra di mensão.

(T. Martins Moreira, W T , 38.)

O s u je ito é in d e te rm in a d o

Nas orações de sujeito indeterminado, já o dissemos, o verbo vai para a 3.® pessoa do plural:

— Pediram- me que a procurasse. (F. Botelho, X, 203.)

Estavam botando o búzio para os que ficavam mais distantes.

(J. Lins do Rego, ME, 60.)

Se, no entanto, a indeterminação do sujeito for indicada pelo pronome se, o

verbo fica na 3.a pessoa do singular:

Veio a hora do chá. Depois cantou-se e tocou-se ainda. (Machado de Assis, OC, II, 106.)

Ainda se vivia num mundo de certezas. (A. Bessa Luís, OM, 296.)

C o n co rd â n cia d o v e rb o s e r

1. Em alguns casos o verbo ser concorda com o predicativo.

Assim:

  1. °) Nas orações começadas pelos pronomes interrogativos substantivos

que? e quem?:

— Que são seis meses? (Machado de Assis, OC, 1 ,1041.)

Quem teriam sido os primeiros deuses?

(A. Sérgio, E , IV, 245.)

Quis saber quem eram meus pais e o que faziam. (Machado de Assis, OC, II, 567.)

2. °) Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes isto, isso, aquilo, tudo

ou o (= aquilo) e o predicativo vem expresso por um substantivo no plural:

520 NOV A G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Tudo isto eram sintomas graves. (Machado de Assis, OC, II, 280.)

— Isto não são conversas para ti, pequena.

(E Namora, TJ , 196.)

O que há de novo nelas são as cores.

(M. Bandeira, AA, 51.)

Tudo na vida são verdades de relação. (U. Tavares Rodrigues, /£, 309.)

Tal concordância explica-se pela tendência que tem o nosso espírito de preferir destacar como sujeito o que representamos por palavra nocional, pois esta alude a realidades mais evidentes. Mas, neste caso, também não é raro aparecer o verbo no singular, em con cordância com o pronome demonstrativo ou com o indefinido:

Tudo é flores no presente. (Gonçalves Dias, PCP, 230.)

Se calhar, tudo é símbolos. (E Pessoa, OP, 352.)

Tudo era os estudos, brincadeiras.

(Luandino Vieira, VE, 49.)

Nestes exemplos, os três escritores, com o singular (isto é, colocando o verbo em concordância com o pronome indefinido), procuram realçar um conjunto, e não os elementos que o compõem, a fim de sugerir-nos as diferentes realidades transformadas numa só coisa. Atente-se no efeito estilístico provocado pelo contraste de concordância neste passo de Camilo Castelo Branco:

Há neles muita lágrima, e o que não é lágrimas são algemas.

3.°) Quando o sujeito é uma expressão de sentido coletivo, como o resto, o

mais:

O resto são atributos sem importância. (M. Torga, V, 214.)

(^522) NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros à flor da boca. (M. Bandeira, PP, 1,403.)

  1. Quando o sujeito é constituído de uma expressão numérica que se considera

em sua totalidade, o verbo ser fica no singular:

Oito anos sempre é alguma coisa.

(C. Drummond de Andrade, CA, 146.)

— Dez contos?! Não será demais?

(Almada Negreiros, NG, 80.)

4. Nas frases em que ocorre a locução invariável é que, o verbo concorda com

o substantivo ou pronome que a precede, pois são eles efetivamente o seu sujeito:

Tu é que deves escolher o sítio.

(Alves Redol, BC, 343.)

Eu é que estou escutando o assobio no escuro.

(C. Lispector, AV, 94.)

Observações: 1.*) A locução de realce ê que é invariável e vem sempre colocada entre o sujeito da oração e o verbo a que ele se refere. Assim:

José éque trabalhou, mas os irmãos éque se aproveitaram do seu esforço.

É uma construção fixa, e não deve ser confundida com outra semelhante, mas móvel, em que o verbo ser antecede o sujeito e passa, naturalmente, a concordar com ele e a harmonizar-se com o tempo dos outros verbos. Compare-se, por exemplo, ao anterior o seguinte período:

José é que trabalhou, mas foram os irmãos que se aproveitaram do seu esforço.

Ou este:

Foi José que trabalhou, mas os irmãos é que se aproveitaram do seu esforço.

V E R B O 523

  1. a) Também não deve ser confundido com a expressão de realce éque o encontro da forma verbal é com a conjunção integrante que em contextos do tipo:

Bom é que não haja mais discussões. O certo é que ele não voltará.

equivalentes a:

É bom que não haja mais discussões. Que ele não voltará é o certo.

  1. a) Sobre estas e outras construções em que se dá a concorrência das formas é e que e sobre a interpretação cabível em cada caso, vejam-se José Oiticica. Manual de análise (léxica e sintática). 6.a ed. refundida. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1942, p. 235-237; ------. Sobre a expressão “é que”. Revista Filológica, 7 (27): 217-225, 1944; João Malaca Casteleiro. Sintaxe e semântica das construções enfáticas com é que. Boletim de Filologia, 25: 97-166,1976-1979.

Com mais de um sujeito

C o n co rd â n cia com o s u je ito m a is p ró x im o

Vimos que o adjetivo que modifica vários substantivos pode, em certos casos, concordar com o substantivo mais próximo. Também o verbo que tem mais de um sujeito pode concordar com o sujeito mais próximo: a) quando os sujeitos vêm depois dele:

Que te seja propício o astro e a flor, Que a teus pés se incline a Terra e o Mar.

(F. Espanca, S, 163.)

Habita -me o espaço e a desolação. (V. Ferreira, A, 24.)

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas com o xale vistoso de pano da Costa E o vendedor de roletes de cana.

(M. Bandeira, PP, 1,200.)

b) quando os sujeitos são sinônimos ou quase sinônimos:

A conciliação, a harmonia entre uns e outros é possível.

(A. Abelaira, NC, 178.)

V E R B O 525

Mas o verbo pode ir para o plural quando os infinitivos exprimem ideias nitidamente contrárias:

Em sua vida, à porfia, Se alternam rir e chorar.

(A. de Oliveira, Póst., 43.)

S u je ito s re su m id o s p o r um p ro n o m e in d e fin id o

Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo,

nada, ninguém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pronome:

O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho.

(R. de Queirós, TR, 15.)

Letras, ciências, costumes, instituições, nada disso é nacional. (Eça de Queirós, O, II, 1108.)

A mesma concordância se faz quando o pronome anuncia os sujeitos:

Tudo o fazia lembrar-se dela: a manhã, os pássaros, o mar, o azul do céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobre tudo as fontes, principalmente as fontes.

(Almada Negreiros, NG, 112.)

E não só dos homens se arreceava — tudo temia: o sol do verão, o frio do inverno, os frutos que ela colhia, as flores com que se enfeitava. (Coelho Netto, OS, 1 ,1420.)

S u je ito s re p re se n ta n te s d a m esm a p e sso a o u c o isa

Quando os sujeitos, por palavras diferentes, representam uma só pessoa ou uma só coisa, o verbo fica naturalmente no singular:

A Ideia, o sumo Bem, o verbo, a Essência,se revela aos homens e às nações No céu incorruptível da Consciência! (A. de Quental, SC, 62.)

Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie. (Machado de Assis, OC, 1,741.)

526 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

S u je ito s lig a d o s p o r o u e p o r n e m

  1. Quando o sujeito composto é formado de substantivos no singular ligados

pelas conjunções ou ou nem, o verbo costuma ir:

a) para o plural, se o fato expresso pelo verbo pode ser atribuído a todos os sujeitos:

O mal ou o bem dali teriam de vir.

(D. Silveira de Queirós, MLR, 188.)

Por muito que o tempo ou a paisagem se repetissem, essa teimosia apenas a aproximava da harmonia caprichosa da paisagem da sua infância, lá onde os cheiros, os dias e as cores nunca chegavam a sedimentar.

(F. Namora, TJ, 301.)

É a nobre dama recém-chegada, à qual nem o cansaço de trabalhosa jornada nem o hábito dos cômodos do mundo puderam impedir acompanhasse na oração aquelas que o trato de poucas horas já lhe fazia amar como irmãs.

(A. Herculano, E, 130.)

Nem a monotonia nem o tédio a fariam capitular agora. (C. dos Anjos, M, 235.)

b) para o singular, se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos

sujeitos, isto é, se há ideia de alternativa:

Fui devagar, mas o pé ou o espelho traiu-me. (Machado de Assis, OC, 1,763.)

Nem tormenta nem tormento nos poderia parar.

(C. Meireles, OP, 141.)

  1. Nota-se, porém, na linguagem coloquial uma tendência de anulai- tais distin

ções, principalmente quando os sujeitos estão ligados pela conjunção nem.

Encontra-se frequentemente o plural onde seria de esperar o singular. Assim:

Nem João nem Carlos serão eleitos presidente do clube.

528 NOVA G R A M Á T I C A DO P O R T U G U Ê S C O N T E M P O R Â N E O

Anteontem perguntou-me qual deles levaria; respondi-lhe que um ou outro lhe ficava bem. (Machado de Assis, OC, II, 280.)

Não é rara, porém, a construção com o verbo no plural quando as expressões se empregam como pronome substantivo:

Mas nem um nem outro puderam compreender logo toda a extensão e a gravidade do mal. (A. Arinos, OC, 325.)

Nem um nem outro desejavam questionar. (J. Paço d ’Arcos, CVX, 1145.)

A lo c u ç ã o u m e o u tro

A locução um e outro pode levar o verbo ao plural ou, com menos frequência,

ao singular:

Um e outro tinham a sola rota. (Machado de Assis, OC, III, 1000.)

Uma e outra obedecia logo e, à que fazia ouvidos moucos, ele enviava uma pedrada. (Ferreira de Castro, OC, 1,364.)

As duas construções são admissíveis ainda quando a locução é usada como pronome adjetivo, caso em que precede sempre um substantivo no singular:

Mas uma e outra cousa duraram apenas rápido instante.

(A. Herculano, E, 207.)

Uma e outra cousa existiam em estado latente, mas existiam. (Machado de Assis, OC, II, 287.)

Um e outro jugo nos é odioso; contra ambos protestamos. (A. de Quental, P, 1 ,167.)

S u je ito lig a d o s p o r co m

Quando os sujeitos vêm unidos pela partícula com , o verbo pode usar-se

no plural ou em concordância com o primeiro sujeito, segundo a valorização

expressiva que dermos ao elemento regido de com.

V E R B O 529

Assim, o verbo irá normalmente:

a) para o plural, quando os sujeitos estão em pé de igualdade, e a partícula com

os enlaça como se fosse a conjunção e:

O mestre com o boleeiro fizeram a emenda. (J. Lins do Rego, FM, 94.)

Gardlaso com Boscán e Petrarca são os poetas favoritos do grande épico. (J. Ribeiro, F, 294.)

O pontífice, com todos os membros do consistório, mal puderam sair suplentes. (Machado de Assis, OC, III, 582.)

b) para o número do primeiro sujeito, quando pretendemos realçá-lo em detrimento do segundo, reduzido à condição de adjunto adverbial de com panhia:

O Coronel Lula de Holanda, de preto, com a mulher e a filha, sobran ceiro, de cabeça erguida, mostrava-se à canalha de olhos compridos, com a família na seda. (J. Lins do Rego, FM, 229.)

A viúva, com o resto da família, mudara-se para Vila Isabel, desde o rompimento.

(Ribeiro Couto, NC, 71.)

S u je ito s lig a d o s p o r c o n ju n ç ã o c o m p a ra tiv a

Quando dois sujeitos estão unidos por uma das conjunções comparativas

como, assim como, bem como e equivalentes, a concordância depende da inter

pretação que dermos ao conjunto: Assim, o verbo concordará:

a) Com o primeiro sujeito, se quisermos destacá-lo:

O nome, como o corpo, é nós também.

(V. Ferreira, A, 20.)

O dólar, como a girafa, não existe.

(C. Drummond de Andrade, FA, 89.)