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Análise dos índices de representação da casa em pacientes esquizofrênicos, Notas de aula de Desenho

Um estudo sobre os índices característicos da representação da casa em 100 pacientes diagnosticados como esquizofrênicos, realizado no serviço de psiquiatria da faculdade de medicina de ribeirão preto da usp. O documento destaca os tipos de representação, aspectos estruturais e evolutivos do grafismo, e aspectos indicativos da integração lógica e contato com a realidade. Além disso, o texto discute as produções gráficas em função dos valores significativos dos índices, caracterizando a representação geral e a elaboração, denotando aspectos regressivos, comprometimento da lógica e mecanismos de defesa primitivos.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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TIPO DE REPRESENTAÇÃO DO DESENHO DA CASA
EM PACIENTES ESQUIZOFRÊNICOS
Sônia Regina Loureiro
Rita Aparecida Romaro
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
RESUMO - A representação do desenho da casa tem sido estudada
como elemento indicativo do nível evolutivo da personalidade e de suas
manifestações psicopatológicas. Objetivamos levantar os índices carac-
terísticos da representação da casa em 100 pacientes adultos, de ambos
os sexos, diagnosticados como esquizofrênicos, atendidos através do
Serviço de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -
USP, destacando-se: os tipos de representação característicos; os as-
pectos estruturais e evolutivos do grafismo e os aspectos indicativos da
integração lógica e do contato com a realidade. Procedeu-se à listagem
dos índices característicos, os quais foram inicialmente definidos. Poste-
riormente, os protocolos foram classificados, concomitantemente, por
duas psicólogas com experiência clínica. Os dados foram discutidos em
função do valor significativo dos índices, caracterizando o empobreci-
mento geral do tipo de representação e da elaboração, denotando os as-
pectos regressivos, o comprometimento da lógica e os mecanismos de
defesa primitivos próprios da patologia esquizofrênica.
TYPE OF REPRESENTATION OF A HOUSE DRAWING
IN SCHIZOPHRENIC PATIENTS
ABSTRACT - The representation of a house drawing has been studied
as an element indicating the evolutive level of personality and its psycho-
pathological manifestations. Our objective was to survey the characteris-
tical indices of house representation among 100 male and female adult
patients diagnosed as schizophrenics and seen at the Psychiatry Service
of the Faculty of Medicine of Ribeirão Preto - USP, with emphasis on
characteristical types of representation, structural and evolutive aspects
of the drawing, and aspects indicating logic integration and contact with
reality. The characteristical indices were first defined and then listed, and
the protocols were classified simultaneously by two psychologists with clini-
O primeiro autor é da Faculdade de Medicina da USP/RP, o segundo da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da USP/RP. Endereço; Avenida 9 de Julho, 980; 14025 - Ribeirão Preto, SP.
Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, V. 4, 3, pp. 225-235 225
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TIPO DE REPRESENTAÇÃO DO DESENHO DA CASA

EM PACIENTES ESQUIZOFRÊNICOS

Sônia Regina Loureiro Rita Aparecida Romaro Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto

RESUMO - A representação do desenho da casa tem sido estudada como elemento indicativo do nível evolutivo da personalidade e de suas manifestações psicopatológicas. Objetivamos levantar os índices carac- terísticos da representação da casa em 100 pacientes adultos, de ambos os sexos, diagnosticados como esquizofrênicos, atendidos através do Serviço de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP, destacando-se: os tipos de representação característicos; os as- pectos estruturais e evolutivos do grafismo e os aspectos indicativos da integração lógica e do contato com a realidade. Procedeu-se à listagem dos índices característicos, os quais foram inicialmente definidos. Poste- riormente, os protocolos foram classificados, concomitantemente, por duas psicólogas com experiência clínica. Os dados foram discutidos em função do valor significativo dos índices, caracterizando o empobreci- mento geral do tipo de representação e da elaboração, denotando os as- pectos regressivos, o comprometimento da lógica e os mecanismos de defesa primitivos próprios da patologia esquizofrênica.

TYPE OF REPRESENTATION OF A HOUSE DRAWING

IN SCHIZOPHRENIC PATIENTS

ABSTRACT - The representation of a house drawing has been studied as an element indicating the evolutive level of personality and its psycho- pathological manifestations. Our objective was to survey the characteris- tical indices of house representation among 100 male and female adult patients diagnosed as schizophrenics and seen at the Psychiatry Service of the Faculty of Medicine of Ribeirão Preto - USP, with emphasis on characteristical types of representation, structural and evolutive aspects of the drawing, and aspects indicating logic integration and contact with reality. The characteristical indices were first defined and then listed, and the protocols were classified simultaneously by two psychologists with clini-

O primeiro autor é da Faculdade de Medicina da USP/RP, o segundo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP/RP. Endereço; Avenida 9 de Julho, 980; 14025 - Ribeirão Preto, SP.

cal experience. The data were discussed as a function of the meaningful value of the indices and the general impoverishment of the type of repre- sentation and elaboration was characterized, denoting the regressive as- pects, impairment of logic and primitive defense mechanisms typical of schizophrenic pathology.

O desenho constitui uma forma de expressão gráfica, enquanto instrumento de comunicação, que possibilita a captação e reprodução, a um nível simbólico, dos pen- samentos e sentimentos de seu criador, revelando sempre algo a seu respeito. No conteúdo desenhado o sujeito se revela, expressando consciente e/ou inconsciente- mente a forma como percebe a si mesmo e o mundo, projetando, assim, sua persona- lidade através de uma linguagem não-verbal (Di Léo, 1985; Van Kolck, 1984). Do ponto de vista clínico, a análise do desenho aponta para aspectos relativos à estrutura e à dinâmica da personalidade, correlacionando níveis adaptativos, expressivos e projetivos da situação na qual ocorreu a produção. O desenho da casa, segundo vários autores, expressa um nível mais superfi- cial da integração da personalidade, abordando aspectos ligados à maturidade psi- cossexual (Van Kolck, 1981). Segundo Buck, em Alves (1986), o desenho da casa re- presenta tanto o auto-retrato do sujeito, expressando aspectos ligados à sua maturi- dade e ajustamento psicossexual, seu contato com a realidade e relacionamentos, quanto a percepção do lar-residência como cenário das relações interpessoais mais significativas, sejam elas satisfatórias ou frustradoras, em termos de presente/passa- do/futuro, expressando, assim, as relações interpessoais mais íntimas. Aberastury e Jameson, em Alves (1986), entre outros, também enfatizaram o simbolismo da casa enquanto representação do esquema corporal. Bachelard, em Al- ves (1986), salientou que a imagem da casa expressa o princípio da integração psi- cológica, revelando a respeito dos valores de intimidade do espaço interior, interrela- cionados com o sentir-se abrigado, protegido, e nesse sentido, representando o rega- ço materno, a relação primitiva com a figura da mãe. A um nível evolutivo, o desenho da Casa parece ser adquirido posteriormente ao desenho da figura humana, segundo apontam as pesquisas de Katzaroff (1910), Luquet (1913), Eng (1931), Griffiths (1935), Baumgarten e Tramer (1952), Aberastury (1971), entre outros, citados por Alves (1986), sendo provavelmente o primeiro objeto inanimado a ser representado, embora, em geral, de um modo antropomórfico. Alguns autores consideram que a forma mais primitiva de representação da casa é a facha- da, com ou sem portas e/ou janelas, sendo o telhado só posteriormente representado. Em outro momento do desenvolvimento outras paredes são adicionadas (algumas vezes justapostas) bem como os acessórios. Na fase do realismo infantil, o interior e o exterior são simultaneamente desenhados. A representação da perspectiva é adqui- rida mais tardiamente após um longo período de tentativas. Miljkovitch, definiu como casa qualquer construção que possa abrigar um organismo vivo, (ver Alves, 1986). Os estudos clínicos relativos à produção gráfica, em especial a de pacientes esquizofrênicos, tem ocupado um significativo espaço na literatura desde o século passado (Anastasi e Foley, 1944). Esses estudos em geral destacam os aspectos defensivos e psicopatológicos das produções em desenhos espontâneos ou em tarefas gráficas solicitadas para fim diagnóstico. Em nosso meio, exemplificam esses tipos de estudo os realizados por Nise da Silveira (1966).

Ex.:

  • Barraca de acampamento - representações de um quadrilátero subdividido em um triângulo e um trapézio, representando simultaneamente parede e telhado, com ou sem a presença de janelas e/ou porta.

Ex.:

  • Cabana - representações de um retângulo ou quadrado sobreposto por um triân- gulo ou quadrilátero, com ou sem a presença de janelas e/ou porta.
  • Casas representadas de modo estereotipado - representações esquemáticas constituídas de um quadrilátero ao qual se justapõe uma forma trapezoidal com uma subdivisão que pode extender-se ou não ao quadrilátero, com a presença de janelas e/ou porta, reproduzindo um modelo primitivo, empobrecido quanto aos detalhes e à adequação das proporções, contudo, identificável com a reprodução do tema soli- citado, assemelhando-se a um nfvel de produção escolar.
  • Casa reconhecíveis - representações com delimitação de ângulos sob a forma de um quadrilátero ou triângulo reproduzindo no mínimo, uma parede e um telhado, com ou sem representação de janelas e/ou porta.

Ex.:

Ex.:

  • Casas não reconhecíveis - representações que se assemelham as garatujas e as formas circulares, faltando os elementos de evolução gráfica, através da atenuação dos ângulos que tornariam reconhecíveis a representação de um quadrilátero ou triângulo, como uma reprodução primitiva do tema solicitado.

HTP. Além dessa técnica, todos os sujeitos deveriam ter sido avaliados através de pelo menos 3 técnicas projetivas, incluindo o Rorschach. Quanto à avaliação dos protocolos, procedeu-se à listagem dos índices carac- terísticos do desenho da casa, segundo a literatura, quanto aos tipos de representa- ção e aos aspectos estruturais da representação relativos a perspectiva, nível de in- tegração, presença de transparência e representação da linha de solo. Com a finalidade de tornar mais preciso o trabalho de classificação, ocupamo- nos de formular definições dos índices característicos, tomando como referencial as proposições de Van Kolch (1968), Campos (1979) e Alves (1986), como segue:

Tipos de Representação dos Desenhos da Casa:

Ex.:

  • Perspectiva correta - representações de pelo menos duas paredes sendo uma de- las indicada por linha oblíqua e o telhado reproduzindo um paralelograma, dando a impressão de profundidade.

Ex.:

  • Sem tentativa de perspectiva - representações incluindo pelo menos duas paredes, ou pelo menos duas faces do telhado indicadas por linhas retas, ou reproduções de uma parede lateral sem delimitação de telhado e porta, caracterizando um perfil ab- soluto.

Ex.:

  • Dupla perspectiva - representações incluindo duas paredes terminais e duas pare- des laterais, às quais se justapõe um telhado sob a forma de trapézio, demarcando duas faces.

Ex.:

  • Tentativa falha de perspectiva - representações incluindo pelo menos duas paredes sobre uma base reta e telhado com fracasso na reprodução de profundidade da parte lateral da casa, onde uma linha terminal vertical une o telhado a uma das pa- redes, dando a impressão de um corte abrupto.

Aspectos estruturais:

Ex.:

Casa tipo planta - representações esquemáticas do plano interior de uma casa, sob a forma de subdivisões representando cômodos em uma superfície plana, podendo ou não incluir a presença de janelas e/ou porta.

Ex.:

  • Prédio, ou casa de dois ou mais andares - representações de uma figura retangular ou quadrada, com janelas alinhadas e/ou sobrepostas, ou com indicação de linhas divisórias, dando a impressão de andares ou unidades, com ou sem a presença de telhado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão apresentados e discutidos, concomitantemente, referindo- se ao tipo de representação do desenho da casa e aos aspectos estruturais do ponto de vista da evolução do grafismo. A Tabela 1 apresenta a caracterização da produção gráfica da amostra avaliada quanto ao tipo de representação do desenho da casa.

Tabela 1 - Caracterização da produção gráfica da amostra avaliada quanto ao tipo de representação no desenho da casa.

Tipo Sexo de Representação

Casa não-reconhecfvel Casa reconhecível

Representação estereotipada Cabana Barraca Prédio ou casa de 2 ou mais andares Casa tipo planta

Masc

T

:ulino

Fem

T

inino

T

Observamos um predomínio no grupo como um todo de 98% de casas reco- nhecíveis (100% no sub-grupo masculino e 96% no sub-grupo feminino) e apenas 2% de casas não reconhecíveis (exclusivamente no sub-grupo feminino). Tal resultado provavelmente fundamenta-se no critério metodológico da amostra que incluiu so- mente os protocolos com a representação da casa, e no fato que, do ponto de vista da evolução do grafismo, esta representação é precocemente adquirida, e portanto, mais tardiamente perdida, mesmo na condição de regressão e/ou de desagregação que caracterizam o quadro esquizofrênico. Segundo Aberastury, em Alves (1986), re- produzir o próprio corpo, o corpo dos pais e posteriormente reproduzir casas, é a cro- nologia da evolução gráfica, simbolizando a casa o próprio esquema corporal do indi- víduo. Quanto às casas reconhecíveis, encontramos um predomínio no grupo como um todo de representações estereotipadas de 72% (68% no sub-grupo masculino e 76% no sub-grupo feminino), expressando um empobrecimento da representação, com a preservação de um modelo escolar, denotando uma adaptação superficial, es- tereotipada, com a realidade externa, às custas de defesas rigidamente estruturadas, o que se contrapõe com a representação habitual nos protocolos de adultos, onde há uma maior integração das partes e de detalhes, como expressão da própria intimidade do indivíduo, mas sem prejuízo de seu contato com o real.

Ocampo (1981), salienta que o controle adaptativo possibilita a realização de desenhos nos quais se observa um bom ajuste à realidade, expresso pelo tamanho, localização, discriminação mundo interno/externo, preservação de uma gestalt har- moniosa, organização coerente das partes no todo e correspondência entre o objeto gráfico e o objeto real. Nas produções estereotipadas, no entanto, observa-se apesar das características acima mencionadas, um vazio e uma pobreza de conteúdos va- riáveis de acordo com o grau de rigidez e o controle de defesas. Na amostra estudada, além das representações estereotipadas, encontramos as representações tipo cabana, 15% no grupo como um todo (18% no sub-grupo masculino e 12% no sub-grupo feminino) que juntamente com as representações tipo barraca de acampamento, que perfazem 5% no grupo como um todo (4% no sub-gru- po masculino e 6% no sub-grupo feminino), trazem o significado de defesas mais pri- mitivas com base na negação da realidade e nos aspectos mais agressivos, ligados a um desejo de isolamento e de contato com o elemento primitivo representado pela ter- ra, pela natureza, caracterizando um funcionamento egóico frágil. A nível da evolução do grafismo, a cabana parece ser uma representação mais primitiva que a barraca. A casa de dois ou mais andares foi encontrada em 5% do grupo como um todo (6% no sub-grupo masculino e 4% no sub-grupo feminino), parecendo trazer em si o sentido de isolamento, cerceamento, repressão, aliado a um aspecto depressivo. As representações de casa tipo planta, 3% no grupo como um todo (4% no sub- grupo masculino e 2% no sub-grupo feminino), parecem sugerir, pelo primitivismo, uma ausência de perspectiva e de diferenciação entre realidade externa e interna, pela presença de transparência e pela representação fragmentada do objeto, possi- velmente associada a uma introjeção fragmentada de objeto. Os aspectos estruturais ligados à perspectiva, integração, transparência, e li- nha de solo são destacados na Tabela 2.

Tabela 2 - Caracterização da produção gráfica da amostra avaliada quanto aos as pectos estruturais do ponto de vista da evolução do grafismo.

Aspectos Sexo Estruturais

Perspectiva falha Dupla perspectiva Sem tentativa de perspectiva Perspectiva correta

Ausência de integração Figura integrada

Presença de transparência

Ausência de linha de solo Presença de linha de solo

Borda da folha utilizada

Masculino

T

Feminino

T

T

A presença em 33% da amostra de transparência (36% no sub-grupo masculino e 30% no sub-grupo feminino), aponta novamente para um índice evolutivo comum na produção das crianças. "A transparência traz em si a negação da realidade, uma vez que o sujeito permite que alguma coisa seja vista através de algo que convencional- mente a esconde". (Hammer, in Van Kolck, 1968, p. 55). Esse índice presente em aproximadamente um terço da amostra é apontado co- mo associado a um rebaixamento da capacidade de julgamento (Van Kolck, 1968) ou ainda, como índice de rebaixamento intelectual. Quanto a esse último aspecto vale destacar que a amostra avaliada não apresentava índices desse tipo de rebaixamen- to, quer seja pela avaliação qualitativa através de outras técnicas, quer seja, através de elementos da história clínica; por essa razão, os índices característicos também de rebaixamento intelectual estão sendo discutidos do ponto de vista de seu significado psicopatológico ligado ao comprometimento funcional e não a um déficit da inteligên- cia. A ausência de transparência em aproximadamente dois terços da amostra é sugestiva de que no grupo estudado há um menor comprometimento da função lógica, elemento esse, contudo, pouco confirmado pelos demais índices. A representação da linha de solo mostrou-se ausente em 70% da amostra (78% no sub-grupo masculino e 62% no sub-grupo feminino) se justapondo a 30% de repre- sentação (22% no sub-grupo masculino e 38% no sub-grupo feminino). Esse índice caracteriza um predomínio de afastamento da realidade em aproximadamente dois terços da amostra avaliada, o que segundo Campos (1979) reflete o grau de contato com a realidade e a absorção pela fantasia característica da patologia esquizofrênica. A presença de linha de solo em aproximadamente um terço da amostra aponta para a possibilidade de um contato mais adequado com a realidade externa. Quanto à utilização da borda da folha esse índice foi encontrado somente no sub-grupo feminino, com uma baixa freqüência na amostra avaliada (4%), caracteri- zando a insegurança e a falta de ação independente (Van Kolck, 1968). De uma forma geral os índices estruturais apontam para um comprometimento da função lógica, e da organização geral do pensamento, denotando um predomínio do afastamento da realidade externa, com envolvimento acentuado com a realidade interna e com o predomínio da vivência de fantasia. O comprometimento da representação da perspectiva e da integração parecem ser os índices mais característicos, nessa amostra, desse tipo de comprometimento, enquanto que a presença de linha de solo e de transparência apareceram com menor freqüência, mas associadas em geral aos dois primeiros índices sugestivos de com- prometimento da lógica. Esse aspecto ressalta a importância da análise integrada dos índices, considerando-se principalmente a gestalt e a sua elaboração quanto ao tipo de representação.

CONCLUSÕES

A representação do desenho da casa mostrou-se nesse grupo de pacientes esquizofrênicos, como um elemento útil na caracterização diagnostica dos níveis de afastamento da realidade e dos aspectos regressivos, característicos desse quadro clínico. O predomínio das representações estereotipadas, com comprometimento da perspectiva e da integração das partes e da ausência de linha de solo caracterizam o

afastamento da realidade, e o prejuízo da integração lógica, indicativos da utilização de mecanismos de defesa do tipo psicótico, denotando a desorganização egóica com indiferenciação da realidade externa e interna, possivelmente associada à prevalência das vivências de fantasias levando a um ajuste frágil às demandas do meio. A menor freqüência da transparência, nesse grupo, pareceu-nos relacionar-se ao aspecto evolutivo da aquisição do desenho da casa, sendo que o empobrecimento da produção pareceu preservar, pela estereotipia, esse aspecto de julgamento crítico do real, o qual é revelado como comprometido por outros índices. Esse aspecto aponta para a necessidade da análise integrada dos diversos ín- dices considerando-se a qualidade geral da representação, a qual nesse grupo aponta para um empobrecimento geral do tipo da representação e da elaboração, denotando desse modo, os aspectos regressivos e o comprometimento da lógica associado a mecanismos de defesa mais primitivos, característicos da patologia esquizofrênica.

REFERÊNCIAS

Alves, I.C.B. (1986) - O desenho da casa - evolução e possibilidades diagnosticas. Tese de doutoramento, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo. Anastasi, A. & Foley, J.P.Jr. (1944) - An experimental study of the drawing behavior of adult psychotics in comparison with that of normal control group. Journal of Ex- perimental Psycology, 34, (3), 169-194, June. Campos, D.M.S. (1979) - О teste do desenho - como instrumento de diagnóstico da personalidade. Petrópolis: Editora Vozes. Cunha, J.A.; Freitas, N.K. & Raymundo, M.G.B. (1986) - Psicodiagnóstico. Porto Ale- gre: Artes Médicas. Di Léo, J.H. (1985) - A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre: Artes Médicas. Mestriner, S.M.E. (1982) - O procedimento de desenhos-estórias em pacientes es- quizofrênicos hospitalizados. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. Ocampo, M.L.S. e col. (1981) - O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes. Oliveira, E.M. (1978) - Perspectivas psicanalíticas dos desenhos infantis. Petrópolis: Editora Vozes. Silveira, N. (1966) - Trabalhos originais - 20 anos de terapêutica ocupacional em En- genho de Dentro (1946-1966). Revista Brasilera de Saúde Mental, vol. X - núme- ro único, 15-164. Van Kolck, O.L. (1968) - Ihterpretação psicológica de desenhos. São Paulo: Ed. Pio- neira e Editora Universidade de São Paulo. Van Kolck, O.L. (1981) - Técnicas de exame psicológico e suas aplicações no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, Vol. II. Van Kolck, O.L. (1984) - Testes projetivos gráficos no diagnóstico psicológico. São Paulo: EPU.

Texto recebido em 10/11/