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Terra Sonâmbula - Resumo das Obras da Fuvest, Notas de aula de Conflito

Em Terra Sonâmbula, o menino Muidinga deseja conhecer suas origens e sua identidade, enquanto Kindzu, autor dos cadernos que Muidinga encontra, sonha ser um.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Andre_85 🇧🇷

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6_Aulas Especiais_FUVEST_Terra Sonambula_ROSE.qxp 11/08/2021 11:21 Página I
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Em Terra Sonâmbula , o menino Muidinga deseja conhecer suas origens e sua identidade, enquanto Kindzu, autor dos cadernos que Muidinga encontra, sonha ser um guerreiro naparama. As histórias das duas personagens se interseccionam ao longo do romance, ligando-se ambas no final da narrativa, que retorna à imagem inicial de Muidinga aproximando-se do cadáver de Kindzu. Muidinga e o velho Tuahir representam duas gera - ções de vítimas da guerra e de suas consequências. Por meio das histórias dos dois, Mia Couto tece o retrato de Moçambique em um momento de mudança, metafo- rizando essas duas personagens o passado e o futuro do país. Outra metáfora é notável na personagem Vinticinco de Junho, representando um país que surge da esperança na Independência de Moçambique, a 25 de junho de 1975, surpreendido com uma guerra civil logo depois. Junhito, como é chamado afetivamente, acaba tendo que se esconder para conseguir sobreviver e é disfarçado em galinha, vivendo entre elas até desaparecer, uma vida impedida, assim como a do país, em que o sonho da liberdade do domínio português dá lugar à destruição de uma guerra tão insana quanto a transformação de Vinticinco em animal. No desfecho do romance, Junhito reaparece no sonho de Kindzu, metaforizando, agora, a esperança de liberdade e reconstrução verdadeiras para Moçambique.

4. ENREDO

O enredo de Terra Sonâmbula desenvolve-se em tor - no das vidas de Kindzu e Muidinga que, embora tenham perspectivas diferentes, acabam se entrecruzando. Por meio de uma trama elaborada, repleta de metáforas, neologismos, recriações linguísticas, Mia Couto aborda os temas da guerra, da morte e do sonho, revelando aos leitores uma narrativa impregnada de elementos sobrenaturais e situações fantásticas associadas à cultura e tradição moçambicanas. Muidinga e o velho Tuahir caminham procurando um refúgio da guerra e, no meio do percurso, encontram um machimbombo (ônibus) recém-queimado, instalam-se nele, retiram os corpos carbonizados e enterram-nos. Próximo ao veículo, há o cadáver de um homem e, ao seu lado, uma mala, na qual Muidinga encontra suprimentos, roupas e cadernos escritos que relatam a vida de Kindzu, o homem morto. O menino passa a ler os diários para Tuahir: Kindzu parte de sua aldeia, após a morte do pai, procurando os guerreiros naparamas (homens que lutam contra as

injustiças) para se tornar um deles. Em seu percurso, Kindzu encontra-se assombrado pela figura do pai morto (o pescador Taímo), pela culpa de ter abandonado a mãe, eternamente grávida, e pela ausência do irmão, que fora condenado a viver com as galinhas para não morrer, de acordo com uma premonição do pai. Kindzu, tentando se transformar num homem, desliga-se de seus antepassados, mas não consegue abandonar definitivamente suas raízes. Ele prepara uma canoa e parte para experiências repletas de magias e sonhos. Ao chegar a Matimati, é aconselhado por alguns populares para que se afaste de lá por causa das tragédias que vinham acontecendo na região. Um navio havia naufragado nas proximidades e fora saqueado pelo povo faminto que, ao voltar para a terra com os suprimentos, viu-se surpreendido pela violência das águas e muitas pessoas desapareceram. O governo local proibiu, então, que a população voltasse ao navio sem que houvesse uma organização para recolherem-se os suprimentos que nele havia. O clima de desconfiança se instalou na região porque a população acreditava que as autoridades de Matimati queriam enriquecer sozinhas com o que havia na embarcação. Kindzu retoma sua viagem, é surpreendido por uma tempestade e arrastado para o navio encalhado, onde encontra Farida, “ a filha do céu ”, irmã gêmea de Carolinda, esposa do “ administraidor ” Estêvão Jonas. O nascimento de gêmeas era visto como prenúncio de desgraça e, por isso, a mãe de Farida e Carolinda fora obrigada a matar uma das meninas, mas, em vez disso, ela apenas separou as filhas sem que ninguém soubesse. Após a morte da mãe, Farida partiu, pois já não suportava ser acusada de todas as desgraças que ocorriam no local. Acolhida na casa de Virgínia e Romão Pinto, ela experimentou momentos de ternura e preconceito. Estuprada pelo português Romão Pinto, Farida decidiu partir, deu à luz um menino e entregou-o a uma missão. Tempos depois, o filho, Gaspar, ao saber que a mãe procurava por ele, fugiu da missão. Farida, então, refugiou-se no navio encalhado e, quando Kindzu foi à embarcação, atraído por um anão mágico, ela lhe pediu que resgatasse seu filho Gaspar. Kindzu, apaixonado por Farida, volta a Matimati, reencontra Antoninho, ajudante de Surendra Valá, amigo indiano de Kindzu, e segue para a casa do administrador. Assane tornara-se sócio de Surendra e organizava uma festa para inaugurar uma loja. A sociedade dos dois era apenas um meio que Assane usava para disfarçar suas ideias xenófobas e valer-se do dinheiro do indiano que, àquela altura, já aparentava sinais de loucura.

Kindzu e Carolinda encontram-se na inauguração da loja de Assane e Surendra, ocasião em que ocorre um conflito entre homens armados e a multidão, seguindo-se a explosão da loja, na qual Assma, esposa do indiano, morre. Kindzu precisa encontrar tia Euzinha para obter infor- mações sobre Gaspar. Ele procura um guia, Quintino Massua, para levá-lo ao campo de refugiados e, enquanto aguarda a embriaguez do rapaz passar, Kindzu envolve-se com Carolinda, esposa do administrador Estêvão Jonas. Kindzu procura D. Virgínia, esposa de Romão Pinto, e encontra-a refugiada em sua loucura. Ele pergunta sobre Gaspar e Virgínia relata que havia cuidado do menino, mas ele fugira. Nesse meio tempo, surge o administrador de Matimati para conversar com o falecido Romão Pinto, que havia voltado dos mortos e vagava na casa velha. Os dois combinam negócios escusos e corruptos, além de reforçarem a necessidade de se estimular o racismo para que ninguém desconfiasse da sociedade entre um português branco e um moçambicano negro. Carolinda aparece na casa e ameaça denunciar o marido, retirando-se logo a seguir. A esposa do adminis - trador encontra, então, Kindzu e lhe revela que amara o marido no passado, mas passara a odiá-lo quando descobrira suas atividades ilícitas, estimuladas pela sede de poder. Estêvão Jonas havia conhecido Farida, o que provocava ciúmes em Carolinda, motivo que a leva a investir contra a mulher refugiada no navio encalhado. Envolvida sexualmente com Kindzu, Carolinda nem sequer imagina que partilha o mesmo homem de Farida, na verdade sua irmã gêmea. Quintino e Kindzu seguem para o campo de refugiados e, no percurso, Kindzu vê um mampfana, a ave matadora de viagens. Chegam ao local e encontram tia Euzinha, que relembra a sobrinha Farida com ternura. Kindzu mostra a ela o colar que Carolinda havia lhe dado e ela confirma que Farida e Carolinda são irmãs gêmeas, mas uma não poderia saber da existência da outra. Sobre Gaspar, no entanto, ela só sabe que ele fora transferido para outro campo de refugiados. Kindzu, seguindo o conselho de tia Euzinha, permanece um tempo naquele lugar e constata a fome e a desgraça. Quintino conhece Jotinha, considerada feiticeira por muitos, e se envolve com ela. Carolinda surge e revela que partirá no avião que traz medica men- tos, mas, antes, distribuirá a comida, a qual está armazenada para os famintos do campo de refugiados. Os dois casais dormem no campo de refugiados e, no

dia seguinte, Euzinha aconselha Kindzu a partir. Ele regressa a Matimati e é informado que Farida morrera numa explosão na ilha do farol. Kindzu decide, então, retornar à família e aceita uma carona no ônibus, o qual partiria de lá no dia seguinte. Durante a noite, ele sonha que desce um vale cheio de luz e vê um grupo de pessoas muito pobres seguindo um feiticeiro, profetizando o fim dos tempos de maneira dolorosa e cruel:

Chorais pelos dias de hoje? Pois saibam que os dias que virão serão ainda piores. Foi por isso que fizeram esta guerra, para envenenar o ventre do tempo, para que o presente parisse monstros no lugar da esperança. Não mais procureis vossos familiares que saíram para outras terras em busca da paz. Mesmo que os reencontreis eles não vos reconhecerão. Vós vos convertêsteis em bichos, sem família, sem nação. Porque esta guerra não foi feita para vos tirar do país mas para tirar o país de dentro de vós. Agora, a arma é a vossa única alma. Roubaram-vos tanto que nem sequer os sonhos são vossos, nada de vossa terra vos pertence, e até o céu e o mar serão propriedade de estranhos. Será mil vezes pior que o passado pois não vereis o rosto dos novos donos e esses patrões se servirão de vossos irmãos para vos dar castigo. Ao invés de combaterem os inimigos, os melhores guerreiros afiarão as lanças nos ventres das suas próprias mulheres. E aqueles que vos deveriam comandar estarão entretidos a regatear migalhas no banquete da vossa própria destruição. E até os miseráveis serão donos do vosso medo pois vivereis no reino da brutalidade. ( Terra Sonâmbula , 2007, p. 200, 201)

Logo após o discurso, o feiticeiro espargiu os presentes com um líquido mágico, fazendo todos entrarem em convulsão e transformarem-se em animais. No sonho, Kindzu percebe que se transforma num naparama e vê seu irmão Junhito tornar-se um homem, libertando-se de sua condição de galo e reunindo-se à família magicamente. Kindzu segue a viagem no machimbombo e, repentinamente, sente um baque. Vê, então, o ônibus queimado, batido em uma árvore, e um menino se aproximando: era Gaspar, a última visão de Kindzu. Assim terminam os cadernos de Kindzu lidos por Muidinga, que segue em um barco, chamado Taímo, com o velho Tuahir, que, doente, aguarda a morte.

Texto para as questões 5 e 6.

O velho se apressa a emendar: não sou seu tio! E

ameaça: o moço que não abuse familiaridades. Mas

aquele tratamento é só a maneira da tradição, argumenta

Muidinga.

— Em você não gosto. — Não lhe chamo nunca mais. — E me diga: você quer encontrar seus pais por quê? — Já expliquei tantas vezes. — Desconsigo de entender. Vou-lhe contar uma

coisa: seus pais não lhe vão querer ver nem vivo.

— Por quê? — Em tempos de guerra filhos são um peso que

trapalha maningue.

Saem a enterrar os cadáveres. Não vão longe. Abrem

uma única campa para poupar esforço. No caminho do

regresso encontram mais um corpo. Jazia junto à berma,

virado de costas. Não estava queimado. Tinha sido mor -

to a tiro. A camisa estava empapada em sangue, nem se

notava a original cor. Junto dele estava uma mala, fecha-

da, intacta. Tuahir sacode o morto com o pé. Revista-lhe

os bolsos, em vão: alguém já os tinha vazado.

— Eh pá, este gajo não cheira. Atacaram o

machimbombo há pouco tempo.

O miúdo estremece. A tragédia, afinal, é mais recente

que ele pensava. Os espíritos dos falecidos ainda por ali

pairavam. Mas Tuahir parece alheio à vizinhança. Enterram o último cadáver. O rosto dele nunca chega a ser visto: arrastaram-no assim mesmo, os dentes charruando a terra. Depois de fecharem o buraco, o velho puxa a mala para dentro do autocarro. Tuahir tenta abrir o achado, não é capaz. Convoca a ajuda de Muidinga: — Abre, vamos ver o que está dentro. Forçam o fecho, apressados. No interior da mala estão roupas, uma caixa com comidas. Por cima de tudo estão espalhados cadernos escolares, gatafunhados com letras incertas. O velho carrega a caixa com manti- mentos. Muidinga inspecciona os papéis. ( Terra Sonâmbula , 2007, p. 11-12)

5. Explique a inversão da expressão “ nem morto ” para “ nem vivo ”. 6. Mia Couto sustenta em sua obra o poder da criatividade por meio da invenção de palavras, recriação da oralidade, exercícios lexicais, que conferem ao texto a ruptura com as formas convencionais da literatura. A partir disso, extraia do texto um exemplo de: a) coloquialismo; b) transgressão da norma gramatical; c) metáfora; d) ressignificação da palavra.

1) Gaspar/Muidinga é filho de Farida e Romão

Pinto, que a violentou quando ela regressou à casa do antigo colono. Resposta: D

2) De acordo com o Dicionário Houaiss , aforismo é

máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral; apotegma, ditado , que permitem uma reflexão de natureza prática ou moral , como possibilitam todos os fragmentos apresentados nas alternativas. Resposta: E

3) Em I, o neologismo “admolesta” surge da união

de admoestar e molestar ; em II, “miraginações” mistura os substantivos miragem e imaginação ; em III, ocorre a união dos verbos chilrear e reinar ; e, em IV, “administraidor” resulta da junção de adminis trador e traidor****.

4) a) O provérbio original, “em terra de cego,

quem tem um olho é rei”, significa que a posse de um bem, ou característica superior ao comum, possibilita alguma forma de vantagem ou respeito decorrente da supe - rioridade estabelecida de se ter a possibi li - dade de ver em meio aos cegos. Na subversão do ditado, Mia Couto aplica a ele o sentido de que a posse de um bem, que falta aos demais, gera violência e a necessidade de se apoderar do que é do outro, e não o aceitar como superior.

b) O ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” significa que a persis tên - cia é capaz de provocar resultados diferentes do que a expectativa normalmente deter - mina. Na versão de Mia Couto, a água e a pedra perdem suas características originais quanto às suas consistências e surpreendem, possibilitando resultados diferentes dos que lhes seriam óbvios e naturais.

5) Conforme o contexto do romance (que apresenta a guerra civil moçambicana como pano de fundo às aventuras de Muidinga, Tuahir e Kindzu), a procura pelos pais, meta de Muidinga, é uma bus - ca perdida, pois os pais não desejam encontrar os filhos vivos, uma vez que, em tempo de guerra, o menor sofrimento é vê-los mortos.

6) “ Eh pá ” é coloquialmente empregado como vocativo para chamar a atenção do interlocutor; em “ o moço que não abuse familiaridades ”, a omissão da preposição “ de ” rompe com a norma gramatical; há metáfora em “ os dentes charruando a terra ”, pois “ charruar ” significa “ arar ” e os dentes seriam, no contexto, o arado; e a palavra “ desconsigo ” não é empregada, conforme a norma culta, para indicar “desfazer o conseguido”, mas é usada, coloquialmente, nessa acepção, em Angola e Moçambique.

TERRA SONÂMBULA

GABARITO

OBRAS DA FUVEST

PORTUGUÊS