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Fadiga e Coordenação do Chute no Futebol: Estudo com Novatos e Experientes., Notas de estudo de Literatura

Um estudo que investigou os efeitos da fadiga na coordenação do chute no futebol, em sujeitos novatos e experientes. O estudo observou reduções nos parâmetros de controle do movimento em ambos os grupos, mas com menor impacto em sujeitos experientes. Além disso, os padrões de coordenação diferentes entre novatos e experientes foram discutidos, sugerindo uma reorganização nos padrões de movimentos quando a capacidade neuromuscular de produzir tensão é reduzida em resposta à fadiga.

O que você vai aprender

  • Quais são as implicações práticas desse estudo para professores de Educação Física, técnicos e atletas?
  • Quais são os efeitos da fadiga na coordenação do chute no futebol?
  • Existem diferenças nos padrões de coordenação entre sujeitos novatos e experientes no chute do futebol?
  • Como os padrões de coordenação de movimentos explosivos são afetados pela fadiga?
  • Como a reorganização nos padrões de movimentos ocorre em resposta à fadiga?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

VictorCosta
VictorCosta 🇧🇷

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SÉRGIO LUIZ FERREIRA ANDRADE
COORDENAÇÃO DO CHUTE DO FUTEBOL SOB CONDIÇÕES
DE FADIGA EM SUJEITOS NOVATOS E EXPERIENTES
Dissertação de Mestrado defendida como pré-
requisito para a obtenção do título de Mestre em
Educação Física, no Departamento de Educação
Física, Setor de Ciências Biológicas da
Universidade Federal do Paraná.
CURITIBA
2004
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SÉRGIO LUIZ FERREIRA ANDRADE

COORDENAÇÃO DO CHUTE DO FUTEBOL SOB CONDIÇÕES

DE FADIGA EM SUJEITOS NOVATOS E EXPERIENTES

Dissertação de Mestrado defendida como pré- requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação Física, no Departamento de Educação Física, Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná.

CURITIBA

SÉRGIO LUIZ FERREIRA ANDRADE

COORDENAÇÃO DO CHUTE DO FUTEBOL SOB CONDIÇÕES DE

FADIGA EM SUJEITOS NOVATOS E EXPERIENTES

Dissertação de Mestrado defendida como pré- requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação Física, no Departamento de Educação Física, Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. André Luiz Félix Rodacki

4.3 VARIÁVEIS TEMPORAIS RELATIVAS DE COORDENAÇÃO.............. 41

4.3.1 Instante da máxima velocidade angular do quadril em relação ao instante da máxima velocidade angular do joelho .................................................... 42 4.3.2 Início da extensão do joelho em relação ao instante de máxima velocidade angular do quadril ..................................................................... 43 4.3.3 Instante da máxima velocidade angular do joelho em relação ao instante da máxima velocidade linear do maléolo..................................................... 43

**5. DISCUSSÃO.................................................................................................... 44

  1. CONCLUSÕES............................................................................................... 52**

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 54

ANEXO ............................................................................................................... 60

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - MÉDIAS E DESVIOS-PADRÃO DAS VARIÁVEIS ABSOLUTAS

DOS SUJEITOS NOVATOS E EXPERIENTES.............................. 3 7

TABELA 2 – VARIÁVEIS TEMPORAIS RELATIVAS....................................... 4 2

LISTA DE ABREVIATURAS

Máxima velocidade linear do maléolo lateral....................................................... MVLM

Máxima velocidade angular do joelho.................................................................. MVAJ

Máxima velocidade angular do quadril................................................................. MVAQ

Taxa de variação angular do joelho....................................................................... TVAJ

Amplitude máxima de flexão do joelho................................................................ FJ

Amplitude máxima de extensão do quadril........................................................... EQ

Coeficiente de inclinação da pelve........................................................................ CIP

Instante da máxima velocidade angular do quadril............................................... IMVAQ

Instante da máxima velocidade angular do joelho................................................ IMVAJ

Início da extensão do joelho..................................................................................IEJ

Instante da máxima velocidade linear do maléolo................................................ IMVLM

RESUMO

Este estudo objetivou investigar os efeitos de diferentes condições de fadiga na coordenação do chute do futebol, em sujeitos novatos e experientes. Trinta sujeitos adultos jovens do sexo feminino foram classificados em dois grupos: 15 sujeitos novatos e 15 sujeitos experientes. Os grupos foram submetidos a um protocolo que visou induzir fadiga, através de 10 sprints sucessivos, intercalados por um chute ao gol. Os padrões de coordenação do chute foram similares entre novatos e experientes, em todas as condições. Em ambos os grupos, foram observadas reduções nos parâmetros de controle do movimento, em função da fadiga, apesar dos parâmetros de controle terem sido maiores nos sujeitos experientes em todas as condições. Concluiu-se que o chute possui um estereótipo consistente de coordenação, que não é afetado pela fadiga em sujeitos novatos e experientes. Em contrapartida, o controle é afetado em condições de fadiga, apresentando uma menor redução em sujeitos experientes, em comparação a sujeitos novatos.

Palavras-chave: coordenação, controle, fadiga, chute, futebol.

1. INTRODUÇÃO

A capacidade de adaptação do sistema neuromuscular para a execução de movimentos em diferentes contextos é um dos fatores determinantes para uma performance eficiente. Uma das questões intrigantes no estudo da coordenação motora é a compreensão de como o sistema neuromuscular organiza os segmentos do corpo que interagem entre si para produzir movimentos multi-articulares. A maior parte dos estudos que investigaram coordenação foi feita com movimentos executados em condições laboratoriais, fora de um contexto esportivo, onde muitos fatores podem influenciar a performance. Sabe-se que a fadiga pode ocorrer tanto temporariamente quanto cumulativamente até o final de um jogo de futebol, por exemplo (MOHR et al., 2003). Embora os efeitos fisiológicos da fadiga tenham sido amplamente estudados (BIGLAND-RICHIE e WOODS, 1984; ENOKA, 1995), pouco se sabe sobre como a fadiga periférica pode influenciar as estratégias de organização do sistema neuromuscular para a produção de movimentos multi-articulares. As seqüências de movimentos dos segmentos corporais são intimamente influenciadas pelas forças musculares que geram torques ao redor das articulações para acelerar, retardar ou modificar o movimento. Desta forma, é necessário controlar a magnitude e os aspectos temporais da ativação muscular para que o objetivo do movimento seja alcançado. ANDERSON e SIDAWAY (1994) demonstraram que indivíduos experientes apresentam padrões de coordenação diferentes de indivíduos novatos no chute do futebol, entretanto, o movimento foi feito sem fadiga. Sob fadiga, definida como a diminuição acentuada da performance devido à atividade física (ENOKA, 2002), uma nova seqüência de movimentos dos segmentos (coordenação) pode emergir. Portanto, se existe uma relação entre controle motor e força muscular, sugere-se que uma reorganização no padrão dos movimentos dos segmentos ocorra quando a capacidade do sistema neuromuscular para produzir tensão é reduzida em reposta à fadiga. VAN INGEN SCHENAU et al. (1995) teorizaram que quando as propriedades de gerar tensão do sistema músculo-esquelético são alteradas (ex.: como ocorre com a diminuição da capacidade de gerar tensão sob fadiga), acontecem mudanças nos

tempos relativos de ativação muscular para evitar a deterioração do padrão de coordenação. Alguns estudos têm observado alterações nos padrões cinemáticos e cinéticos de movimentos realizados sob condições de fadiga. Em uma tarefa de pequenos saltos consecutivos executados durante um prolongado período de tempo, BONNARD et al. (1994) demonstraram mudanças nas estratégias de ativação muscular, e indicaram a existência de mecanismos compensatórios que retardaram a diminuição da performance sob fadiga. FORESTIER e NOUGIER (1998) mostraram que foi necessário mudar o padrão cinemático intersegmentar, para manter bons desempenhos em um arremesso de precisão com pré-fadiga de alguns músculos dos membros superiores, em sujeitos experientes. Os autores demonstraram que a seqüência próximo-distal, que geralmente é observada em movimentos explosivos (PUTNAM, 1991), não foi mais obedecida e verificou-se uma diminuição nas amplitudes articulares, resultando num aumento na rigidez do sistema. Investigando os efeitos da fadiga no chute do futebol, LEES e DAVIES (1988) observaram que a velocidade da bola foi menor nas condições com fadiga, embora a velocidade linear do pé tenha sido maior nesta condição. A utilização de um padrão de controle muscular estereotipado indica que o sistema neuromuscular controla o movimento sem considerar as propriedades contráteis dos músculos (capacidade de gerar tensão). Tal conceito foi enfatizado através de modelos teóricos por BOBBERT e VAN SOEST (1994), que afirmam que para que o sistema neuromuscular ajuste o controle às propriedades contráteis musculares de forma ótima, é necessário que os sujeitos pratiquem o movimento exaustiva e repetidamente. Dentre os poucos estudos realizados com movimentos explosivos sob condição de fadiga, RODACKI et al. (2001b, 2002a) demonstraram experimentalmente que as variáveis cinemáticas que descrevem a coordenação (tempos relativos dos movimentos dos segmentos corporais) e a ativação muscular (tempos relativos do recrutamento muscular) de saltos verticais máximos permaneceram relativamente inalteradas. A prática parece ter um papel importante na performance de movimentos explosivos, permitindo que o sistema neuromuscular se adapte às condições dos contextos “reais” (ex.: esportes), nos quais a fadiga é geralmente inevitável. Assim, caso o movimento seja praticado em condição de fadiga,

1.1. OBJETIVOS

Este estudo teve como objetivo analisar a coordenação motora do chute de potência do futebol em diferentes condições de fadiga, em sujeitos novatos e experientes, através das relações topológicas do movimento. As relações topológicas de um movimento descrevem as ações relativas dos segmentos corporais entre si, e mudanças nesses padrões podem fornecer evidências de aspectos específicos de mudança de coordenação. Os objetivos específicos são:

a) Comparar os padrões de coordenação do chute entre sujeitos novatos e experientes, sem fadiga; b) Descrever a coordenação do chute de potência em diferentes condições de fadiga, em sujeitos novatos e experientes.

1.2. HIPÓTESES

H 1. Os sujeitos novatos apresentarão diferenças nos tempos relativos de coordenação do chute, quando comparados àqueles dos sujeitos experientes.

H 2. Haverá uma redução nos parâmetros absolutos de controle do chute (velocidades e amplitudes articulares) em sujeitos novatos e experientes quando este for efetuado nas condições de fadiga.

H 3. Os sujeitos novatos e experientes apresentarão estabilidade nos tempos relativos de coordenação do chute, em todas as condições de chute, independente de seu estado de fadiga (sem fadiga e em diferentes condições de fadiga).

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. TEORIAS DE CONTROLE MOTOR

Acredita-se que é possível classificar as teorias sobre como o sistema neuromuscular controla o movimento, em função da importância relativa dada à informação fornecida pelos componentes centrais do sistema de controle e pelo ambiente. Os filósofos gregos antigos, como Platão, diziam que as pessoas criavam uma “imagem” da ação, anterior à própria ação. Esta noção inicial ajudou a construir o conceito da teoria dos programas motores, definida como um conjunto de comandos motores pré-estruturados e armazenados nos centros altos, que definem os detalhes essenciais de uma habilidade, análogo a um gerador central de padrões (SCHMIDT e WRISBERG, 2000). Esta teoria apresenta limitações para explicar a imensa capacidade de memória que seria necessária para armazenar todos os programas motores isolados, requeridos para se controlar os incontáveis diferentes movimentos que um indivíduo é capaz de produzir. Outra limitação é o problema da novidade de movimentos, que questiona como indivíduos habilidosos são capazes de produzir com eficácia movimentos novos ou variações nunca antes praticadas de um movimento, sem ter desenvolvido programas motores específicos para isto (MAGILL, 2000; SCHMIDT e WRISBERG, 2000). A idéia original dos programas motores serviu de base para o conceito de programas motores generalizados, hipoteticamente definidos como uma representação abstrata armazenada no sistema nervoso central que controla predominantemente a estrutura temporal de uma futura ação (KELSO, 1997). Esta hipótese surgiu para explicar as qualidades adaptativas e flexíveis do comportamento de movimentos coordenados. De acordo com esta proposta, o programa motor generalizado seria responsável por uma classe de ações, e não somente por um movimento ou uma seqüência específica de movimentos. Acredita-se que a evolução deste conceito supera as limitações existentes nas teorias anteriores sobre programa motor (MAGILL, 2000). Entretanto, KELSO (1997) afirma que os programas motores generalizados tratam-se de uma teoria estática e similar à forma como opera um computador, e não explicam

partir de demonstrações relativamente estáveis de desempenho (MAGILL, 2000; SCHMIDT e WRISBERG, 2000). Segundo o modelo clássico de FITTS e POSNER (1967) apud MAGILL (2000), a aprendizagem se desenvolve em três estágios sucessivos. No primeiro estágio, o aprendiz se concentra nos problemas de natureza cognitiva, onde procura visualizar e processar as informações relevantes para o reconhecimento dos objetivos e dos aspectos necessários para a execução da tarefa. No estágio associativo, o aprendiz muda sua ênfase dos problemas cognitivos e estratégicos para uma fase de organização mais efetiva e padronizada de movimentos para a execução da tarefa, procurando associar os movimentos com certas respostas do meio ambiente. Esse estágio é também chamado de estágio de refinamento, onde a variabilidade do desempenho começa a diminuir e os erros são menos grosseiros. Após muita prática e experiência, podendo levar vários anos, o aprendiz pode passar para o estágio autônomo, onde a habilidade é executada de forma automática e com baixos níveis de concentração, pois não necessita de qualquer instrução prévia e pode ser realizada simultaneamente com outras tarefas. Melhorias de desempenho são mais difíceis de se detectar, pois os indivíduos estão próximos dos limites de suas capacidades e há pouca variabilidade entre tentativas subseqüentes. Além disso, os praticantes experientes são altamente capazes de detectar seus próprios erros e fazer os ajustes necessários para corrigi-los. Nem todos os indivíduos que aprendem uma habilidade atingem o estágio autônomo, pois este depende da qualidade das instruções e da qualidade e quantidade da prática (MAGILL, 2000; SCHMIDT e WRISBERG, 2000). Para explicar a aquisição de padrões de coordenação de movimentos novos, NEWELL (1985) propôs dois estágios de aprendizagem motora. No primeiro estágio, o aprendiz adquire a organização das características topológicas apropriadas dos segmentos. No segundo estágio, o aprendiz irá aprimorar de forma escalar os parâmetros dos padrões relativos adquiridos do movimento, no processo denominado como controle. Existem poucos estudos na literatura que investigaram especificamente cada um desses estágios, sendo que a maioria está direcionada para um estágio intermediário de controle não-otimizado (NEWELL, 2001). Acredita-se que as mudanças das características topológicas do movimento durante a aprendizagem

indicam a estratégia que o aprendiz usa para organizar o redundante número de graus de liberdade que podem ser envolvidos na tarefa. Segundo BERNSTEIN (1967), essa estratégia consiste inicialmente na redução do número de graus de liberdade, permitindo pouco ou nenhum movimento nas articulações, de forma a simplificar essa organização tornando-a mais facilmente controlável. Acredita-se que à medida que a aprendizagem progride, ocorre a liberação gradativa dos graus de liberdade anteriormente restringidos, incorporando-os na coordenação do movimento de forma dinâmica e controlável, até atingir um terceiro estágio, onde o sistema neuromuscular passa a utilizar as forças passivas (reativa, friccional, gravitacional e inercial) e as propriedades elásticas dos músculos de forma mais econômica e eficiente. Alguns estudos confirmaram experimentalmente os estágios da teoria de congelamento e liberação dos graus de liberdade. VEREIJKEN et al. (1992) observaram pouco movimento nas articulações dos membros inferiores e do tronco no início da aprendizagem de uma tarefa em um simulador de esqui com indivíduos adultos. Com a prática, os ângulos articulares aumentaram sua amplitude, envolvendo um número maior de graus de liberdade no movimento. ANDERSON e SIDAWAY (1994) demonstraram que para simplificar o controle do movimento, houve restrições nas amplitudes articulares do quadril e do joelho no padrão do chute do futebol, antes de submeter indivíduos principiantes à prática (Figura 1). Após 10 semanas, essas restrições foram sendo reduzidas e as articulações obtiveram maior liberdade de movimentos dentro de uma estrutura coordenativa, o que possibilitou que a articulação do joelho tirasse maior vantagem mecânica da velocidade gerada pela articulação do quadril, resultando num aumento significativo da velocidade linear do pé. Observou-se também que o padrão de coordenação do chute de sujeitos novatos, após 10 semanas de prática, foi similar ao padrão apresentado por sujeitos experts , com mais de 10 anos de experiência no futebol. Tais resultados evidenciaram os dois estágios de aprendizagem de NEWELL (1985), e mostraram que as diferenças nos padrões de coordenação do chute de sujeitos experts e iniciantes com 10 semanas de treinamento estão nos parâmetros absolutos do movimento (ex.: amplitudes e velocidades angulares) (figuras 1 e 2).

Tais resultados fornecem sustentação para as idéias de BERNSTEIN (1967) sobre os três estágios de aprendizagem na coordenação de movimentos novos. Entretanto, outros estudos contestam a proposta de diminuição e subseqüente liberação dos graus de liberdade como uma estratégia universal de aprendizagem (NEWELL, 2001; YOUNG-GYU, 2003), afirmando que o número de graus de liberdade envolvidos na tarefa pode tanto aumentar quanto diminuir com a aprendizagem. Portanto, sugere-se que a dimensão do sistema depende da tarefa e de suas demandas. As experiências anteriores no desempenho de uma habilidade podem influenciar num novo contexto ou na aprendizagem de uma nova habilidade, definindo-se como transferência de aprendizagem (MAGILL, 2000). HOFF e HAALAND (2002) verificaram que um período de treinamento específico pode melhorar o desempenho em habilidades do futebol no uso do pé não-dominante. Além disso, observaram que o treinamento resultou em melhoras no desempenho com o pé dominante, em relação ao grupo controle. Esses estudos podem evidenciar a perspectiva dos programas motores generalizados, onde acredita-se que o treinamento melhore um programa motor geral disponível para ambos os lados esquerdo e direito. Entretanto, o maior nível de atenção utilizado pelos jogadores no treinamento da perna não-dominante pode representar a dependência de uma combinação entre percepção e ação que é facilmente explicada pela perspectiva dos sistemas dinâmicos (KELSO, 1995). Tal percepção consiste na coleta de informações relevantes do meio ambiente, como velocidade, deslocamento de massa e campo visual. Assim, a melhoria da capacidade de coletar informações relevantes da interação entre o jogador e o meio ambiente pode explicar a transferência de aprendizagem bilateral (HOFF e HAALAND, 2002).

2.3. COORDENAÇÃO MOTORA

Define-se coordenação como os movimentos relativos entre os segmentos corporais, ou entre os segmentos e um objeto (NEWELL, 1985). Ações coordenadas do corpo humano são executadas através da aplicação controlada de forças musculares que produzem padrões distintos de ação dos segmentos (PUTNAM, 1991). Baseado na

idéia de que há muito mais opções disponíveis do que as necessárias para se produzir um movimento, BERNSTEIN (1967) formulou o “problema dos graus de liberdade”, que questiona como o sistema neuromuscular organiza ações estereotipadas, visto o grande número de possibilidades de seqüências de ativação e combinação de músculos para a realização de um movimento. Acredita-se que diminuindo o número de graus de liberdade no início do processo de aprendizagem, pode-se reduzir o problema da redundância neuromuscular, mantendo-se as articulações rígidas e seus ângulos relativamente constantes, permitindo pouco ou nenhum movimento. À medida que acontece o progresso da aprendizagem, ocorre então uma liberação gradual do controle rígido dos graus de liberdade, incorporando-os num sistema dinâmico controlável. Neste segundo estágio, a organização torna-se mais econômica à medida que o sistema passa a utilizar melhor as condições do meio ambiente (forças passivas, tais como: reativa, friccional, gravitacional e inercial) e elementos musculares elásticos para acentuar a eficácia das forças ativas geradas pela musculatura. A organização dos graus de liberdade numa só grande unidade funcional é denominada na literatura como estrutura coordenativa (TURVEY, 1990). A redundância do sistema neuromuscular é uma das questões centrais no campo de estudos da coordenação. Observa-se que há um padrão único de ativação para cada ação motora específica, entretanto, não se conhecem os processos que originam tais padrões. Além disso, na literatura de estudos comportamentais há crescentes evidências de que além de restrições biofísicas, fatores psicomotores e até mesmo culturais podem contribuir para a seleção de posturas e para a formação de padrões de movimentos (GIELEN et al., 1995). Uma vez que a contração muscular é o principal componente interno de força para criar, manter, mudar ou retardar movimentos para permitir que os segmentos do corpo interajam com o meio ambiente, a coordenação dos movimentos pode também ser investigada através da análise dos efeitos cinemáticos das ações musculares. Conseqüentemente, a coordenação dos movimentos pode ser analisada através do tempo e da seqüência nos quais os movimentos dos segmentos são funcionalmente organizados para se atingir um objetivo (CLARK et al., 1989; RODACKI, 2001a).