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Este documento discute o papel crucial dos pais na formação de um vínculo seguro com a criança, especialmente na infância. O autor aborda o conceito de apego inseguro e sua relação com o luto, apresentando variantes patológicas do luto adulto e casos de crianças que sofreram perdas significativas. Além disso, o texto discute as formas diferentes de culpa que os pais podem sentir após a perda de um filho.
O que você vai aprender
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Vânia de Mello Catelan Sanches
Luto materno e o vínculo com o filho substituto
São Paulo 2012
Vânia de Mello Catelan Sanches
Luto materno e o vínculo com o filho substituto
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do grau de mestre em Psicologia Clínica, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Helena Pereira Franco.
São Paulo 2012
Dedicatória
Ao meu marido Nelson, incentivador incansável desta jornada e de todas as outras jornadas de minha vida, ao longo de 30 anos. Este trabalho concretizou-se por ter ao meu lado alguém especial, que pacientemente me acompanhou, encorajou e apoiou nesta trajetória.
Agradecimentos
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, pelo dom da vida;
Aos meus filhos, Diego e Gabriel, simplesmente por existirem e serem minha razão de viver;
Aos meus pais, que tiveram paciência para compreender minha ausência em momentos e datas especiais;
À Profa. Dra. Maria Helena Pereira Franco, orientadora deste trabalho, que recebeu- me com carinho, sempre solícita e companheira, compreendendo minha ansiedade e incentivando-me a prosseguir;
Às minha noras, Thais e Cris, pessoas especiais que alegram minha família;
Aos amigos do curso de pós-graduação da PUC-SP, que dividiram comigo os mesmos anseios e as mesmas esperanças; aos amigos do curso do Instituto 4 Estações, por compartilharem estes últimos meses de trabalho e me encorajarem de forma tão carinhosa;
Aos meus pacientes que muito colaboram para meu crescimento profissional.
This work sought the understanding of maternal grief and the aspects that could bring complications to this process. It was considered the nature of the link that would structure between the mother and the replacement child, or rather, the son who was born to soften the pain for the loss of another son and the methodology used was the case study. John Bowlby´s Attachment Theory explains the process of making and breaking of affection bonds, as well as the characteristics of these links. The way each person constructs his/her internal working model, based on the kind of attachment that was developed in early childhood under the influence of the caregivers, determines the way each one will face the difficulties that life brings. The study led to the understanding that mothers with ambivalent and insecure attachments would be more likely to seek a new pregnancy to relieve the pain of loss. The link with the replacement child might be imbued image and influence of the dead child, causing, in some cases, damage to the child's identity.
Keywords: grief, maternal grief, replacement child.
La Loggia (2004) refere-se a Anne Ancelin Schutzenberger (1995), especialista em psicogenealogia, que afirma que as dificuldades encontradas por Van Gogh para conseguir impor-se como ser humano e artista, vieram do fato de ocupar o lugar de um irmão idealizado e morto e de ter nascido no mesmo dia. Schutzenberger (idem) descreve que a família tentou manter em segredo a história do irmão morto e que o pintor levou um choque ao passar já adulto pelo cemitério e ler seu nome no túmulo do irmão. Theo, irmão querido de Vincent Van Gogh, também quis homenagear o artista dando ao filho o nome dele. O fato é que Van Gogh nunca se referia ao sobrinho pelo nome, chamando-o de “o pequeno” e, poucos meses depois de seu nascimento, suicidou-se. Schutzenberger (idem) infere que talvez, depois do nascimento de outro Vincent Van Gogh, a vida do artista não tivesse como sustentar-se, não haveria mais espaço para sua existência e a saída só poderia ser a morte. O pintor suicidou-se em 1890. Van Gogh não conseguiu fazer a mãe esquecer o irmão idealizado, vivendo de forma atribulada e sofrida, tendo sua arte se mantido desconhecida nos 37 anos que viveu. O artista vendeu apenas um quadro em vida, era considerado um peso para toda a família, tendo tido muitas discussões com o pai, pastor religioso, que não aceitava seu modo de vida. Segundo Nagera (1967), crítico e estudioso da obra de Van Gogh, o pintor tentou com sua arte justificar a existência e superar o rival morto, mas havia um medo inconsciente de competir com este irmão idealizado, tendo morrido sem o conseguir. Meissner (1993) examinou os auto-retratos pintados por Van Gogh sob um prisma psicanalítico, entendendo-os como uma forma de explorar e definir o próprio ego que se encontrava frágil e fragmentado. O artista pintou em torno de 35 auto- retratos realizados por intermédio de espelhos que foram analisados por Meissner (idem) como um processo de auto-conhecimento, busca por uma identidade.
(^) A obra “O Vinhedo vermelho” foi comprada por míseros 400 francos, 4 meses antes da morte do artista, pela pintora belga Anne Bloch, que era patronesse de vários pintores da época.
Van Gogh deixou muitas cartas que revelam sua depressão, sua relação intensa com a natureza, a preocupação com pessoas marginalizadas e a busca por reconhecimento. Haziot (1947), biógrafo de Van Gogh escreve:
Para os psicólogos e psiquiatras, essa situação sobre criança substituta cria na criança uma grande culpa em relação ao desaparecido, pois o sentimento de ter provocado tal morte por ter nascido, por existir, se impõe no núcleo de sua personalidade. Para justificar sua existência, a nova criança deve dilatar o próprio ego ao infinito, realizando prodígios ou contentar-se em ser nada e desaparecer, se não tiver energia o bastante. (HAZIOT, 1947, p.7).
Nesta biografia, Haziot (idem) comenta que, se rivalizar com um irmão vivo já é difícil, com um morto é muito pior. Para existir, Van Gogh pagou uma dívida enorme! Se não fosse a morte ocorrida com seu irmão, como ele poderia nascer? Considera que o fato de ter que substituir o irmão foi uma das forças que ativaram Van Gogh de forma decisiva e trágica. Assim como Van Gogh, muitos filhos são gerados para tornar suportável a vida de pais que não conseguem completar o luto de um filho falecido. Partindo destas constatações, a presente dissertação tem como interesse realizar um estudo sobre o luto materno, buscando compreender as possíveis complicações deste tipo de luto e como estas mães conseguirão estabelecer os vínculos com um filho que venha a nascer depois de uma perda traumática. O ponto de partida para o aprofundamento teórico sobre este tema, surgiu da necessidade de entendimento de um caso clínico. O trabalho da clínica desenvolve-se por meio do setting e é realizado entre duas pessoas, o que faz com que terapeutas sintam-se convocados a compartilhar experiências com outros profissionais da área, a buscar novas opiniões, novas referências, seja com supervisões, seminários, colóquios etc., onde idéias possam ser expostas e avaliadas incessantemente. A pesquisa acadêmica pode vir a ser um modo pelo qual as questões relacionadas à clínica sejam investigadas e elaboradas.
Na tentativa de refletir sobre estas questões, as idéias de Bowlby, Parkes, seus colaboradores e seguidores fundamentaram o desenvolvimento deste estudo. Portanto, o objeto de estudo desta dissertação é o luto materno e suas vicissitudes, embora, em vários momentos, o luto paterno também será considerado. O objetivo é compreender como se constitui o vínculo afetivo entre a mãe e filho substituto e quais as implicações deste tipo de vínculo para o desenvolvimento desta criança. Para pensar em questões sobre a formação e o rompimento dos vínculos afetivos, o luto materno, dificuldades em completar o luto e a perda de um filho, os estudos científicos sobre o luto e a Teoria do Apego fundamentam esta pesquisa. Diante do exposto, a presente dissertação fará uso das obras de John Bowlby (1951/2006, 1969/2009, 1973/2004, 1988/1989) particularmente a Teoria do Apego, para abordar a formação dos vínculos afetivos e o que ocorre com o ser humano diante do rompimento destes vínculos. Esta teoria permite perceber a importância dos primeiros anos de vida de um indivíduo no que se refere à qualidade dos cuidados recebidos inicialmente pela mãe ou cuidador e, posteriormente, pela família. Colin Murray Parkes (1996, 2006) enriqueceu a Teoria do Apego com seus estudos sobre o processo do rompimento de vínculos afetivos caracterizado pelo luto. No capítulo I, há uma revisão da Teoria do Apego de Bowlby, iniciando pelos fatos que levaram o autor a desenvolver sua obra. Sua colaboradora, Mary Ainsworth, acrescentou dados importantes à teoria, catalogando os tipos de apego observados em situações baseadas no teste da “Situação Estranha”, formulado por ela em 1978. Estes estudos foram complementados por Main e Hesse, em 1990, que incluíram mais um tipo de apego aos observados por Ainsworth, totalizando quatro tipos. Os modelos operativos de funcionamento do ego são estudados neste mesmo capítulo e referem-se ao modo pelo qual a pessoa situa-se socialmente, de
acordo com o tipo de apego predominante por ela desenvolvido, a partir dos anos iniciais de vida. Estes modelos operativos constituem-se de acordo com o apego estabelecido pela dupla mãe-bebê e estarão ativados e em funcionamento de forma automática pelo resto da vida do indivíduo. Decorrente deste modelo operativo, surge a “função reflexiva e capacidade de mentalização”, conceitos elaborados por vários pesquisadores, especialmente Fonagy (1997) e que surgiram a partir da Teoria do apego e encontram-se descritos no mesmo capítulo. Ainda no Capítulo I, há a exposição de dados sobre o autismo, idéias centrais dos estudos recentes nesta área. Apesar de não pretender abordar a fundo um tema tão complexo quanto o autismo, este subcapítulo tem como interesse agregar informações que poderão colaborar no entendimento do caso clínico e no corpo da dissertação. O Capítulo II aborda o tema da morte, trazendo as proposições de Bowlby (2004) e Parkes (2006) a respeito dos rompimentos dos vínculos e do trabalho psíquico do luto. Bowlby (idem) traçou seus postulados sobre o luto, partindo da observação de situações infantis, onde a criança “perdia” a figura de apego, tinha o vínculo rompido. Observando como as crianças se comportavam e reagiam diante desta perda, Bowlby inferiu sobre o trabalho do luto no adulto, propondo estar o luto subdividido em fases a serem enfrentadas e superadas. Novas contribuições foram acrescidas pelo trabalho de Parkes (idem) e de outros pesquisadores – Rando (1997); Neimeyer (1998); Stroebe e Schut (1999); Doka e Martin (2010) - que entenderam o luto como um processo mais complexo do que apenas a superação de fases. Estas colaborações foram importantes para o estudo do luto e estão em constante renovação. Neste capítulo, incluem-se os mecanismos de defesa analisados por Bowlby e desdobrados para que, por meio deles, o luto incompleto fosse pensado. No Capítulo III são apresentadas as idéias e estudos sobre o luto materno por serem imprescindíveis para o entendimento do caso discutido e fundamentais para a
1. 1 Histórico e conceitos básicos
O psiquiatra e psicanalista inglês, John Bowlby (1951/2006, 1969/2009, 1973/2004, 1988/1989), postulou a Teoria do Apego a partir de observações efetuadas no trabalho com crianças, cuja principal evidência eram as consequências das separações precoces entre o bebê e sua figura cuidadora. Bowlby (2006) constatou que a perda do contato materno no início da infância poderia provocar prejuízos na personalidade do ser humano. Suas obras têm sido continuamente complementadas por pesquisadores e estudiosos interessados no conhecimento da formação e rompimento dos vínculos afetivos. Em 1936, Bowlby entrou em contato com as concepções de Molly Lowden e Nance Fairbairn que defendiam a idéia de que a relação entre pais e filhos sofria a influência de conflitos inconscientes que os pais carregavam. As pesquisadoras consideravam que reminiscências destes conflitos inconscientes revelavam-se na maneira hostil e rejeitadora com que certos pais tratavam os filhos, fazendo com que Bowlby optasse por trabalhar em terapia com as crianças e seus pais por entender que a estruturação da personalidade da criança sofria interferência do ambiente em que estava imersa. Considerou que a deficiência no cuidado do bebê traria prejuízos para seu desenvolvimento, incluindo neste quesito, a separação dos pais e da criança ou ainda, pais agressivos, rejeitadores, insensíveis e manipuladores. Coletou mais informações sobre o tema com outros pesquisadores e em 1951 publicou estes estudos no livro: “ Cuidados maternos e saúde mental” , defendendo a concepção de que a interação mãe-bebê era decisiva na constituição da personalidade do indivíduo. O trabalho e a preocupação de Bowlby (2006) com as questões de separações precoces entre mães e filhos, a tentativa de entender como as condições ambientais pudessem influenciar de maneira marcante a personalidade
da criança, ganharam consistência ao entrar em contato com uma nova ciência, a etologia. O zoólogo austríaco Konrad Lorenz (1937) e colaboradores elaboraram a Etologia como uma ciência que estuda e compara o comportamento animal com o comportamento humano. A Etologia postula que jovens indivíduos de uma mesma espécie, desenvolvem um comportamento que os fazem ligar-se a um determinado membro do grupo em busca de proteção. O conceito de “imprinting” que Lorenz utilizou para descrever este comportamento instintivo do indivíduo jovem de uma mesma espécie, em busca de proteção e segurança, traria como meta a preservação da espécie. Segundo os etólogos, filhotes de mamíferos buscam proximidade com as mães para se protegerem de prováveis predadores e garantirem comida e conforto. Influenciado por estas constatações, Bowlby (2009) observou que este tipo de comportamento inato também poderia ser observado no ser humano. O autor teceu o conceito de “apego” considerando que os seres humanos estabelecem este comportamento no início de sua vida, em busca, também, de sobrevivência. Bowlby designou comportamento de apego: ... qualquer forma de comportamento que resulta na consecução ou conservação, por uma pessoa, da proximidade de alguma outra diferenciada e preferida. (BOWLBY, 2004, p.38). Na Teoria do Apego, o vínculo será tratado como apego e o objeto de amor será considerado “figura de apego”. Portanto, de acordo com Bowlby (2009), o fator ambiental influencia de forma determinante o desenvolvimento da personalidade da criança, assim como o rompimento deste laço afetivo causa grandes prejuízos emocionais. O autor (2009) diferencia o comportamento de apego do comportamento de alimentação e do comportamento sexual, pois ele teria a meta de proteger o bebê dos perigos que o cercam, sendo, portanto, um regulador de segurança. Constatou que quando o bebê aproxima-se da mãe para obter conforto e proteção, uma interação se estabelece entre a díade e é acompanhada pelas mais fortes emoções e sentimentos, satisfatórios ou não.
Levy e Orlans (1998) consideram que um vínculo afetivo compensador se estabelece em decorrência de certas atitudes maternas que podem ser destacadas, como:
Klaus e Kennel (1993) sugerem também o sorriso, entendido como uma maneira da criança atrair a atenção para si, convocar a mãe a cuidar dela; seguem destacando recursos que tem função no processo de formação e manutenção do vínculo, como a seguir:
Assim, a proximidade, a troca afetiva e o contato físico serão sentidos como agradáveis por ambas as partes, e as expressões de afeição e carinho de um pelo outro serão perceptíveis e consistentes. O padrão e a qualidade dos laços afetivos que o indivíduo estabelecerá com outras pessoas, nos diferentes momentos de vida, receberão a influência da interação mãe-bebê dos primeiros anos da infância, razão pela qual Bowlby (2004) atribui grande peso à qualidade e características desta interação. Levy e Orlans (1998) relacionam certas características desenvolvidas por uma relação de apego seguro:
Estas características provenientes do apego seguro, proporcionarão melhor adaptação ao meio social, confiança em si e no outro, capacidade de cuidar e ser cuidado, facilitando e valorizando os vínculos afetivos. As relações afetivas da criança no contexto familiar devem trazer satisfação, prazer e proteção, por ser uma interação muito compensadora. Bowlby (2004) atribui a saúde mental do indivíduo à qualidade dessa interação inicial e assinala que a ameaça de perda da figura de apego desperta na criança um sentimento intenso da ansiedade.