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TEÓFILO DE ANTIOQUIATEÓFILO DE ANTIOQUIA
Segundo livro a Autólico
Os autores sacros
Ensinamento dos autores sacros sobre cosmologia
- Em primeiro lugar, eles estão de acordo em nos ensinar que do nada Deus tirou todas as coisas. Com efeito, nada foi coetâneo com Deus: ele próprio é o seu lugar, não conhece a necessidade e é anterior a todas as coisas. Mas ele quis criar o homem, que o conheceu. Finalmente, foi para o homem que ele preparou o mundo, pois aquele que é criado tem necessidades; mas o incriado de nada necessita. Tendo Deus o seu Verbo imanente em suas próprias entranhas , gerou-o com a sua própria sabedoria, emitindo-o antes de todas as coisas .(3) Teve este Verbo como ministro da sua criação e por meio dele fez todas as coisas. Este se chama Princípio, pois é Príncipe e Senhor de todas as coisas por ele feitas. Este, portanto, que é espírito de Deus e Princípio e Sabedoria e Força do Altíssimo, desceu sobre os profetas, e por meio deles falou sobre a criação do mundo e tudo o mais. De fato, não existiam profetas quando o mundo era feito; existia, porém, a sabedoria que nele estava, e o seu Verbo santo, que sempre estava presente a ele. Daí ele dizer por meio do profeta Salomão: "Quando ele preparava o céu, eu estava com ele, e quando ele afirmava os alicerces da terra, eu estava junto dele, harmonizando tudo“.
- O começo da criação foi a luz, porque é ela que manifesta o ornamento da criação. Por isso diz: "E disse Deus: 'Haja luz', e a luz se fez. E Deus viu que a luz era boa". -Evidentemente, foi criada como coisa boa para o homem. -"Colocou uma separação entre a luz e as trevas, e Deus chamou a luz dia e as trevas chamou noite. Houve uma tarde e houve uma manhã: um dia. E dis- se Deus: 'Haja um firmamento no meio da água e separe entre água e água. E assim se fez. E fez Deus o firmamento e colocou uma separação entre a água que estava por cima do firmamento e a água que estava por baixo do firmamento. E Deus chamou o firmamento céu. E Deus viu que era bom. Houve tarde e houve manhã: segundo dia. E disse Deus: 'Reúna-se a água que está debaixo do céu numa só reunião, e apareça a terra seca'. E assim se fez. A água se reuniu em suas reuniões, e a terra seca apareceu. E chamou Deus a terra seca terra e as reuniões de águas chamou mares. E Deus viu que era bom. E Deus disse: 'Que a terra faça brotar toda erva verdejante, produzindo semente conforme a sua espécie e semelhança, e árvores frutíferas que produzam frutos, que tragam em si a sua semente conforme a sua semelhança'. E assim se fez. A terra produziu erva verdejante que produz semente conforme a sua espécie, e árvores frutíferas que produzem frutos, que trazem em si sua semente conforme a sua espécie, sobre a terra. E Deus viu que era bom. Houve tarde e houve manhã: terceiro dia.
Cosmologia bíblica
Alguma coisa ainda sobre o sétimo dia, sobre o qual todos os homens falam, mas cuja razão a maior parte desconhece. De fato, o que os hebreus chamam de sábado significa em grego sétimo dia, nome que todo o gênero humano lhe dá, sem saber, porém, por que assim é chamado. O que o poeta Hesíodo diz, afirmando que do Caos nasceu o Érebo, a Terra e o Amor, que domina, segundo ele, a todos, seja deuses, seja homens, é dito de maneira vazia e fria e totalmente alheia à verdade. Com efeito, Deus não deve se deixar vencer pelo prazer, quando até os homens temperantes se abstêm de todo prazer vergonhoso e de todo mau desejo.
- Além disso, ao começar o relato da criação pelas coisas da terra, aqui de baixo, Hesíodo tem pensamento puramente humano, baixo, fraco para ser aplicado a Deus. É o homem que, sendo daqui de baixo, começa a construir pela terra, e logicamente não pode pôr o telhado antes de ter assentado os alicerces. O poder de Deus, porém, se manifesta antes de tudo em fazer as coisas do nada e depois fazer como quiser. De fato, o que é impossí- vel para os homens é possível para Deus. Por isso, o profeta diz que antes foi criado o céu, que tem forma de teto, dizendo: "No princípio, Deus fez o céu", isto é, que o céu foi feito pelo Princípio, conforme dissemos antes. De certo modo, chama a terra de solo e alicerce, e de abismo à imensidão das águas, e também de trevas, porque o céu, criado por Deus, cobria como uma tampa tanto as águas como a terra. O espírito, que se mantinha sobre a água, o qual Deus deu para animação da criação, como deu a alma ao homem, misturando o sutil com o sutil- pois o espírito é sutil e a água também o é -, para que o espírito alimente a água, e a água, com o espírito, alimente a criação, pene- trando-a por todas as partes. Esse único espírito, ocupando o lugar da luz, se mantinha entre a água e o céu, a fim de que, de certa maneira, as trevas não se comunicassem com o céu, que está mais próximo de Deus, antes que Deus dissesse: "Faça-se a luz". Assim, o céu, como uma abóba- da, continha a matéria, semelhante a uma bola. Com efeito, outro profeta, chamado Isaías, falando a respeito do céu, disse: "Este é o Deus que fez o céu como uma abóbada e o estendeu como uma tenda para nele habitar".
- Além disso, considera a diversidade que há nessas coisas, sua variada beleza e multidão, e como, através deles, se nos manifesta a ressurreição, sendo prova da- quela que um dia se realizará em todos os homens. De fato, se refletes bem, quem não se admirará que de uma semente minúscula de figo se forme uma figueira e que de outras peque ninas sementes nasçam árvores enormes?
- No quarto dia foram criados os luzeiros. Deus, que sabe tudo de antemão, sabia as bobagens que os vãos filósofos iriam dizer, com intenção de eliminar a Deus: que tudo quanto nasce na terra se deve ao influxo dos elementos. Por isso, para que a verdade ficasse clara, as plantas e as sementes foram criadas antes dos elementos, pois o posterior não pode produzir o que é anterior.
Os luzeiros contêm o exemplo e símbolo de um grande mistério, pois o sol é símbolo de Deus e a lua o é do homem. Como o sol difere muito da lua em poder e glória, assim Deus é muito diferente da humanidade; como o sol perma- nece sempre cheio e não diminui, assim Deus permanece sempre perfeito, repleto de poder, inteligência, sabedoria, imortalidade e de todos os bens. Em troca, a lua perece cada mês, e de certo modo, morre, e é símbolo de como é o homem; depois torna a nascer e cresce, para demonstrar a ressurreição futura. Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade, de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria. No quarto símbolo está o homem, que necessita de luz. Assim temos: Deus, Verbo, Sabedoria, Homem. É também por isso que os luzeiros foram criados no quarto dia.(1)
- No quinto dia foram criados os animais que procedem das águas, pelas quais e nas quais se mostra a multiforme sabedoria de Deus. De fato, quem seria capaz de enume- rar sua quantidade e a variedade de suas variadíssimas espécies? Além disso, o que foi criado das águas por Deus foi abençoado por ele, para que isso servisse de prova sobre o que os homens deveriam receber: penitência e remissão dos pecados através da água e banho de regene- ração, todos os que se aproximam da verdade, renascem e recebem a bênção de Deus.
Os monstros marinhos e as aves carnívoras são símbolo dos avarentos e transgressores. De fato os ani- mais aquáticos e aves, embora sendo de uma única natureza, alguns permanecem no que é conforme a natureza, sem prejudicar aos mais fracos, guardam a lei de Deus e se alimentam das sementes da terra; outros transgridem a lei de Deus, comendo carne, e prejudicam os mais fracos. De modo semelhante, os justos, guardando a lei de Deus, não mordem nem causam dano a ninguém, vivendo santa e justamente; mas os ladrões, assassinos e ateus assemelham-se aos monstros marinhos, às feras e aves carnívoras, pois de certo modo engolem os mais fracos.
O ensinamento dos autores sacros sobre antropologia
- Quanto à criação do homem, não há palavra humana que possa expressar a sua grandeza, ainda que a narração da Escritura divina seja tão breve. Com efeito, o fato de que Deus diga: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança" dá, antes de tudo, a entender a dignidade do homem. De fato, tendo Deus feito o universo por sua palavra, considerou tudo como coisa acessória e julgou como obra eterna digna de sua criação somente a criação do homem. Além disso, Deus se apresenta como se precisasse de ajuda, pois diz: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança", mas não diz a ninguém essa palavra "Façamos", a não ser a seu próprio Verbo e à sua Sabedoria. Tendo feito o homem e tendo-o abençoado para que se multiplicasse e enchesse a terra, submeteu a ele todas as coisas para que o servisse, ordenou que desde o princípio se alimentasse com os frutos da terra, sementes, ervas e árvores e que os animais fossem seus comensais, os quais também deveriam comer todas as sementes da terra.