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Trata sobre a influência do sol sobte a vida na terra
Tipologia: Teses (TCC)
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Não perca as partes importantes!
Marília Cunha Botelho
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Curso de Mestrado UFPA/MPEG, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Zoologia.
Orientador: Dr. Ronaldo Borges Barthem
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MARÍLIA CUNHA BOTELHO
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Curso de Mestrado UFPA/MPEG, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Zoologia.
Orientador: Dr. Ronaldo Borges Barthem
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a DEUS, por me fazer capaz de realizar esse trabalho;
Ao meu orientador Dr. RONALDO BARTHEM, pela confiança e apoio durante a execução dessa pesquisa;
A ELETRONORTE pelo apoio no financiamento do projeto e concessão dos dados de desembarque pesqueiro da área de estudo. Agradeço especialmente à ARIMILTON e ANASTÁCIO JURAS;
Ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudo;
Ao CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO e seus PROFESSORES que me ajudaram a enxergar além do meu pequeno conhecimento;
Às amigas secretárias da Pós-Graduação DOROTÉIA e ANETE, pelo apoio e incentivo;
Aos membros de minha banca de qualificação Dr. WOLMAR e Dr. LUIZ COSTA, pelas sugestões que colaboraram para o crescimento do meu trabalho;
Ao Dr. EFREN JORGE GONDIN FERREIRA pela ajuda na classificação taxonômica dos peixes;
Ao Dr. MIGUEL PETRERE, pelas sugestões nas análises dos dados de desembarque;
Aos PESCADORES que gentilmente participaram das entrevistas e aos que me ajudaram durante as coletas, em especial Seu CADICI e Seu CONCEIÇÃO;
À COLÔNIA DE PESCADORES DE MARABÁ e de TUCURUÍ pelo apoio, especialmente ao seu BIBI, presidente da colônia de Marabá, por me conceder seu barco durante nossa incrível jornada pelo rio Tocantins;
Ao PAULO, pela ajuda com os mapas;
Á DANIELE, pela ajuda na localização das áreas de pesca;
À minha família BOTELHO, pelo aconchego durante as minhas viagens de campo, especialmente ao vovô BOTELHO e à vovó EUNICE pelo maravilhoso café da manhã com cuscuz que preparava todos os dias;
Á ODILAR, ROSÂNGELA e VAGNA, pela companhia e boa vontade durante minha primeira coleta;
Á VALÉRIA e NILDA, pela hospitalidade e gentileza que me receberam em sua casa;
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À minha irmã NATÁLIA, verdadeira guerreira que sempre ajudou na minha formação, pelo amor dedicado a mim, sem o qual eu nada seria;
Ao meu querido marido JÚNIOR ALVES, companheiro, amigo e ajudante nº 1. Agradeço o seu amor, dedicação, apoio e compreensão em meus momentos de ausência;
A todos meus FAMILIARES pelo carinho e apoio, especialmente aos meus tios e tias FÁTIMA, GERALDO, CIDA e CHARLES. Também não poderia deixar de agradecer aos meus irmãos postiços THAÍS e THALES, pela companhia e alegria que me proporcionaram durante essa fase de minha vida;
Aos AMIGOS da turma de mestrado de 2005, pela amizade e companheirismo durante o curso, especialmente ao velho amigo LUIZ PAULO e a SUZANNA e DANIELLE, amigas que conquistei para a vida inteira;
Aos AMIGOS que me receberam de braços abertos na Ictiologia, pela agradável convivência: Dr. LUCIANO MONTAG, Seu ARAGÃO, Seu ALBERTO, LILIANE, GLÁUCIA, LENE, FÁBIO, MARCELA, THYAGO, NATÁLIA, MARINA, DANIELLE, MARCELO, SHIRLEY, PRISCILLA e CRIS. Agradeço especialmente a colega de trabalho e amiga ADNA, por nunca medir esforços quando precisei de sua ajuda e pela amizade e bons momentos que passamos juntas;
Ao pesquisador Dr. MAURÍCIO CAMARGO, por quem eu tenho grande respeito e admiração, pela amizade e por seus conselhos que foram e são decisivos na minha formação desde a graduação;
À BIÓLOGA e MESTRE em Ciência Animal ROSE pela amizade e parceria durante anos de estudo e redação de artigos científicos;
Agradeço especialmente a minha grande incentivadora e meu maior exemplo de vida. Uma pessoa ímpar em minha vida, a quem eu devo tudo o que sou e conquistei. A ela agradeço o meu caráter e minha força para continuar em busca daquilo que acredito. Ainda que a sua ausência me cause dor, é em seu nome que sigo adiante... Obrigada por tudo vovó LYDIA!
Finalmente, agradeço a TODOS aqueles que de uma forma ou de outra me ajudaram. Tenho certeza que todos seus nomes não caberiam em uma folha de papel.
A TODOS... Muito obrigada!
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Figura 1. Mapa da área de estudo.................................................................................................. 5
Figura 2. Distribuição da porcentagem dos pescadores entrevistados em relação ao tempo na atividade pesqueira na área de influência da UHE-Tucuruí no ano de 2006 (n = 144)...... 12
Figura 3. Porcentagem dos pescadores migrantes ao longo dos anos de 1934-2006 na região da área de influência da UHE-Tucuruí (n=97)........................................................................ 14
Figura 4. Áreas de pesca dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí. A. Sequeiro ou beiradão; B. Boca de igarapé; C. Pauzada ou galhada............................................................................ 15
Figura 5. Pesca de assento do “tucunaré” no lago da UHE-Tucuruí, com caniço e linha de mão (Ilustração: Carlos Alberto Freitas Alvarez). ..................................................................... 17
Figura 6. Pesca de andada no lago da UHE-Tucuruí (Ilustração: Carlos Alberto Freitas Alvarez). ............................................................................................................................................ 17
Figura 7. Pesca de espera com espinhel no lago da UHE-Tucuruí (Ilustração: Carlos Alberto Freitas Alvarez). ................................................................................................................. 18
Figura 8. A. Boinha. Apetrecho de pesca dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí; B. Pesca de espera com boinha (Ilustração: Carlos Alberto Freitas Alvarez)........................................ 19
Figura 9. Pesca de mergulho no lago da UHE-Tucuruí (Ilustração: Carlos Alberto Freitas Alvarez). ............................................................................................................................. 20
Figura 10. Embarcações utilizadas na pesca dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí. A. Barco de motor rabeta e barco com motor de centro; B. Casco de madeira. ................................ 23
Figura 11. Entraves sociais, econômicos, ambientais e de uso do espaço na pesca dos “tucunarés” apontados pelos pescadores da área de influência da UHE-Tucuruí (n = 87) 29
Figura 12. Etnoespécies de “tucunarés” do lago da UHE-Tucuruí identificadas pelos pescadores artesanais locais A. “açu”, “açurana”, “beiradeiro” ou “brasileiro”; B. tinga”, “pintado”, “peniche”, “pinima” ou “tucunaré-branco”; C. “putanga”, “pitanga”, “macaco” ou “macaquinho”. .................................................................................................................... 33
Figura 13. A. Cichla piquiti (Kullander & Ferreira, 2006); B. Cichla kelberi (Kullander & Ferreira, 2006) .................................................................................................................... 33
Figura 14. Mancha lateral da cabeça até a nadadeira caudal em sub-adultos de Cichla piquiti (Kullander & Ferreira, 2006).............................................................................................. 34
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Tabela 1. Escolaridade dos pescadores de “tucunarés” do lago da UHE-Tucuruí (n=144) ........ 12
Tabela 2. Educação dos filhos dos pescadores de “tucunarés” do lago da UHE-Tucuruí (n=144) ............................................................................................................................................ 12
Tabela 3. Fonte de renda dos pescadores de “tucunarés” do lago da UHE-Tucuruí (n=144) ..... 13
Tabela 4. Local de origem dos pescadores de “tucunarés” entrevistados da área de influência da UHE-Tucuruí em 2006 (n = 144) ....................................................................................... 13
Tabela 5. Classificação segundo o tamanho dos “tucunarés” do lago da UHE-Tucuruí e seu valor comercial (preço do marreteiro). ............................................................................... 22
Tabela 6. Características gerais das embarcações empregadas na pesca dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí (n = 58) ................................................................................................... 24
Tabela 7. Características da pesca dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí por sistema de organização social (n = 144)............................................................................................... 25
Tabela 8. Tipos de embarcações em cada sistema de organização social da pesca dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí (n = 58)................................................................... 25
Tabela 9. Soluções apontadas para os entraves na pesca dos “tucunarés” no lago da UHE- Tucuruí (n = 50) ................................................................................................................. 29
Tabela 10. Conduta dos pescadores de “tucunarés” do lago da UHE-Tucuruí em relação ao período de defeso estabelecido para as espécies migradoras (n = 103).............................. 30
Tabela 11. Causas da permissão da pescaria dos “tucunarés” durante o período de defeso apontadas pelos pescadores da área de influência da UHE-Tucuruí (n = 64) .................... 30
Tabela 12. Comparação das características morfológicas das espécies Cichla kelberi e Cichla piquiti segundo Kullander & Ferreira (2006) ..................................................................... 34
Tabela 13. Cognição comparada baseada em aspectos ecológicos e comportamentais dos “tucunarés” ( Cichla sp.) do lago da UHE-Tucuruí............................................................. 38
Tabela 14. Distribuição espacial do desembarque dos tucunarés (kg e % em relação ao total pescado considerando as demais espécies) nos anos de 1997 a 2003 ................................ 59
Tabela 15. Distribuição espacial do desembarque de “tucunarés” (kg) nos anos de 1997 a 2003 ............................................................................................................................................ 59
Tabela 16. Renda bruta da pesca dos “tucunarés” estimada no período de 1997 a 2003 (preço do pescador) ............................................................................................................................ 60
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Tabela 17. Importância relativa da receita bruta da pesca dos “tucunarés” em relação às demais espécies pescadas na região de influência da UHE-Tucuruí no período de 1997 a 2003 (preço do pescador). ........................................................................................................... 60
Tabela 18. Captura total de “tucunarés” por combinação de apetrechos de pesca na área de influência da UHE-Tucuruí nos ano de 1997 a 2003 ......................................................... 61
Tabela 19. Volume de “tucunarés” (kg) desembarcados nos portos da área de influência da UHE-Tucuruí por área de pesca nos anos de 1999 a 2002 ................................................. 62
Tabela 20. Distribuição das capturas (kg) de “tucunarés” por porto e área de pesca nos anos de 1999 a 2002 ........................................................................................................................ 63
Tabela 21. Desembarque das capturas de “tucunarés” por área de pesca nos anos de 1999 a 2002 ............................................................................................................................................ 66
Tabela 22. Estatística descritiva para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “MATERNAL” no ano de 2002. ......................................... 66
Tabela 23. Testes de normalidade para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “MATERNAL” no ano de 2002. ......................................... 67
Tabela 24. Estatística descritiva para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “FUNAI” no ano de 2002. ................................................... 67
Tabela 25. Testes de normalidade para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “FUNAI” no ano de 2002. ................................................... 67
Tabela 26. Estatística descritiva para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “BACURI” no ano de 2002. ................................................ 67
Tabela 27. Testes de normalidade para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “BACURI” no ano de 2002. ................................................ 68
Tabela 28. Estatística descritiva para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “JACUNDÁ” no ano de 2002.............................................. 68
Tabela 29. Testes de normalidade para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “JACUNDÁ” no ano de 2002.............................................. 68
Tabela 30. Estatística descritiva para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “PIRANHEIRA” no ano de 2002 ........................................ 68
Tabela 31. Testes de normalidade para as séries de CPUEs (kg) referentes aos desembarques de “tucunarés” da área de pesca “PIRANHEIRA” no ano de 2002 ........................................ 69
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A pesca na Amazônia se destaca entre as regiões brasileiras pela riqueza de espécies exploradas, quantidade de pescado capturado e dependência da população a esta atividade. Este estudo descreve a pesca comercial dos “tucunarés” Cichla spp. no Baixo Rio Tocantins-PA, norte do Brasil, na área de influência da UHE-Tucuruí, com ênfase no reservatório. O estudo foi dividido em 2 capítulos. O primeiro descreve a pesca em relação às artes de pesca, estratégia dos pescadores, ambientes explorados, sazonalidade e o manejo local segundo a percepção dos pescadores. Ainda neste capítulo, foram analisados o conhecimento local dos pescadores, a classificação etnobiológica dos “tucunarés”, e aspectos sócio-econômicos e ecológicos envolvidos. Foram realizadas entrevistas com os pescadores e observações diretas em campo. A pesca dos “tucunarés” no lago da usina tem grande importância na vida sócio-econômica desses pescadores, e se caracteriza como principal fonte de renda. A pesca ocorre em locais específicos e utiliza métodos e equipamentos rudimentares. Segundo os pescadores, a produção é influenciada por variáveis ambientais e pelo uso da rede de emalhar, a qual afasta os “tucunarés” dos ambientes de pesca. O uso do espaço é o principal conflito entre os pescadores. As relações sociais no sistema de parceria e a presença do atravessador diminuem a rentabilidade da pesca para o pescador. Os pescadores possuem conhecimento consistente sobre a ecologia dos “tucunarés”. O seu sistema de classificação reconhece três etnoespécies, duas das quais, constituem uma única espécie científica. No capítulo II, são analisados dados de captura dos “tucunarés” coletados pela ELETRONORTE de 1997 a 2003 e a unidade de esforço de pesca mais adequada para os dados. A captura foi analisada por porto, arte de pesca, tipo de embarcação, área de pesca e ciclo de enchente do rio. Os dados demonstram que as frotas dos diferentes municípios possuem características próprias e exploram as áreas de pesca mais próximas. Os maiores níveis de captura são encontrados nos períodos que o nível do rio está subindo ou descendo, sendo a pesca com “caniço”, responsável pela maior parte da captura. As canoas são as embarcações mais utilizadas. Os dados demonstram que a pesca dos “tucunarés” é mais importante nos municípios e áreas de pesca localizados no lago da usina. A CPUE só apresenta comportamento estatístico adequado quando analisada por área de pesca e as unidades de esforço mais adequadas são números de pescadores e de dias de pesca após sofrerem transformação logarítmica. Palavras-chave: Pesca, tucunarés, Cichla spp., etnoconhecimento, CPUE
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This study describes the freshwater fishery based on peacock bass ("tucunaré") Cichla spp. in the lower Tocantins River, Pará state, northern Brazil, in the area influenced by the Tucuruí hydroelectric dam, with emphasis on the reservoir. The study was divided in two parts: Chapter I describes the commercial peacock bass fishery with relation to fishing gear, fishing strategies , utilized environments, seasonality, and local fishing management according to the fishermen’s perception. The fishermen’s local knowledge was studies, including their ethnobiological classification of peacock bass types, and the social, ecological, and economical aspects involved. Interviews with fishermen and participation observation were conducted in situ. The Tucurui reservoir peacock bass fishery is of great importance in the social and economic life of these fishermen and is their main income source. This fishery occurs in specific places in the lake and uses rudimentary methods and equipment. According to the fisherman, production is influenced by environmental variables and by the use of guild nets, that the fishermen say drives away peacock bass from the fishing environments. The use of environments for fishing is the main source of conflict among fisherman. Social relations among fishermen in a system of partnership and the presence of middlemen diminish the the fisherman’s income. Fishermen possess consistent knowledge on the ecology and behavior of peacock bass. Their system of fish classification recognizes three ethnospecies, two of which constitute a single scientific species. Chapter II treats peacock bass yields at landing points in the lake, from 1997 to 2003, according to data furnished by ELETRONORTE, and a measure of fishing effort was considered that was most adequate for these data. The data were analyzed according to port, fishing gear, type of boat, fishing grounds, and river flood cycle. The data demonstrated that different cities possess fishing fleets with their own characteristics and that these utilize nearby fishing grounds. The greatest yields were during periods of flooding and subsidence of water levels, with hook and line fishery being responsible for most of the catch. Canoes were the most used boats. The yield data at landing points indicate that this fishery is more important in cities and areas located on the lake. Fish yield for unit of effort only shows adequate statistical behavior when analyzed for fishing grounds and the adjusted units of effort are number of fisherman per days of fishing, after logarithmic transformation. Key words: Fishery, peacock bass, Cichla spp., ethnoscience, Yield per unit of effort
A pesca é uma das atividades humanas mais importantes na Amazônia, pois além de constituir fonte de alimento, base para o comércio local e internacional, gera renda e opção de lazer, especialmente à população residente nas margens dos rios de grande e médio porte (Santos & Santos, 2005). O próprio processo de colonização da região, centrado ao longo da calha do Solimões/Amazonas e de seus principais tributários é o reflexo da importância dos rios e dos recursos pesqueiros na vida do homem amazônico (Santos & Santos, 2005). Com a construção das grandes hidrelétricas a partir da década de 70, a pesca comercial passou a ser praticada por pescadores profissionais nos reservatórios construídos na região, sendo a produção destinada à comercialização na própria região e, eventualmente, em outras regiões do país (Santos & Santos, 2005). Os reservatórios são ecossistemas aquáticos artificiais que alteram as características hidrológicas e ecológicas de um rio. A comunidade de peixes do reservatório é dominada por espécies pré-adaptadas ao ambiente lêntico que podem inclusive sustentar pescarias bastante rentáveis, principalmente nos primeiros anos após a formação do reservatório (Petrere Jr., 1996). O processo de formação da comunidade de peixes dos reservatórios envolve um aumento da participação dos peixes predadores na composição do desembarque da pesca comercial, como o que aconteceu com os “tucunarés” no período inicial de pós- enchimento do reservatório da UHE-Tucuruí. A causa provável foi o aumento da abundância de suas presas naturais, que por sua vez tiveram suas populações expandidas devido ao aumento da produção biológica das áreas alagadas, sustentada pela entrada de nutrientes originada da floresta em decomposição. Ao longo deste período, todas as outras categorias tróficas diminuem, especialmente os detritívoros (Ferreira & Zuanon, 2000). De outubro de 1987 a setembro de 1988, 1.424t de peixe foram capturadas no “novo lago”, das quais 56.7% eram “tucunarés”, enquanto que a pescada ( Plagioscion spp.) chegou a 21.2%. O restante da captura se distribuiu entre 47 outras espécies (Petrere Jr., 1992a). Após a fase de pós-enchimento, houve uma queda na participação do “tucunaré”, de 69% do total desembarcado para 21% entre 1988 e 1998 (La Rovere & Mendes, 2000). O mesmo fenômeno ocorreu no Reservatório de Balbina, a elevada abundância dos estoques de “tucunarés” Cichla spp. nos anos seguintes ao fechamento das
comportas, resultou em um grande aumento no número de pescadores e, com o passar do tempo, diversos fatores, incluindo a pesca excessiva, resultaram na redução dos estoques e na desaceleração da atividade (Santos & Oliveira, 1999). Em Tucuruí, a explicação para este fenômeno foi tanto o término do ciclo de abundância das espécies forrageiras, quanto pela pesca intensiva e seletiva do “tucunaré” (La Rovere & Mendes, 2000), que vem sendo realizada apenas com restrição no tamanho mímino de captura de 35cm. Durante os 23 anos de funcionamento da UHE-Tucuruí, a pesca comercial no reservatório passou a ser exercida pela população de pescadores estabelecidos nas margens do lago artificial, as técnicas de pesca foram aprimoradas e a produção pesqueira passou a fazer parte do comércio local. Este estudo se propõe a realizar uma análise interdisciplinar da pesca comercial dos “tucunarés” no lago da UHE-Tucuruí, visando com isso atender às recomendações do Macrozoneamento da região de estudo realizado pela Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do estado do Pará (SECTAM), de se estudar a biologia pesqueira das principais espécies de peixes de importância econômica da região, os sistemas de produção pesqueira artesanal e o perfil das organizações sociais de pescadores na área de influência do lago de Tucuruí (SECTAM, 2000). Para isso, o presente estudo foi dividido em duas etapas organizadas em capítulos. O primeiro apresenta uma abordagem descritiva da pesca artesanal dos “tucunarés” no reservatório da UHE-Tucuruí sob o enfoque econômico, social e organizacional da pesca, considerando a percepção ambiental dos pescadores em relação ás variáveis da pesca e às mudanças e impactos ocorridos na região, além de buscar compreender a classificação etnotaxonômica das espécies dos “tucunarés” e seus aspectos etnoecológicos segundo os pescadores locais. O capítulo seguinte apresenta as estatísticas gerais dos dados de desembarque da pesca comercial dos “tucunarés” capturados na área de influência UHE-Tucuruí e analisa a unidade de esforço de pesca mais conveniente para os dados analisados.
temperatura, precipitação, umidade atmosférica, insolação, velocidade dos ventos e demais parâmetros climáticos (La Rovere, 1999). O relevo topográfico da bacia varia de 200 a 500m, exceto nas nascentes com altitudes superiores a 1.000m e na região compreendida entre Tucuruí e a foz, onde as altitudes são sempre inferiores a 100m (SUDEPE, 1977).
A UHE-Tucuruí está localizada no baixo Tocantins, no terço final do rio Tocantins. O clima é tropical, com temperaturas elevadas, atenuadas nas altitudes maiores, com estações distintas determinadas pela intensidade pluviométrica (SECTAM, 2000). O período de chuvas vai de dezembro a abril, onde a média mensal de precipitação chega à cerca de 500mm, decrescendo para valores inferiores a 50mm (junho a novembro). A precipitação anual varia entre 1.700 e 2.400mm (Eletronorte/INPA, 1984). O rio Tocantins e o Lago de Tucuruí, formado pela barragem da hidrelétrica, marcam a hidrografia da área (SECTAM, 2000). Segundo Merona (1987), o baixo rio Tocantins possui um regime hidrológico característico de rios tropicais, com uma enchente rápida e de grande amplitude. O nível mais alto das águas ocorre geralmente em março e o mais baixo nos meses de setembro e outubro, apresentando variação anual média de 9m. A umidade relativa da região apresenta valores muito elevados no período chuvoso, com média anual de aproximadamente 76% (La Rovere, 1999). O principal tipo de vegetação dessa região é a Floresta Ombrófila Densa que ocorre ao longo do leito do rio, com matas de várzea e de igapó que não são muito extensas (Diegues, 2002). Os solos mais presentes na região são os Podzólicos vermelho-amarelos e vermelhos, que ocorrem geralmente nos chapadões ou superfícies de erosão estabilizadas mais antigas, assim como nas pediplanícies e fluvioplanícies interiores. Estes solos são geralmente profundos e bem drenados, caracterizados pela baixa fertilidade e necessidade de correção e adubação para o uso agrícola (ANA, 2006). Localizam-se, principalmente, na margem esquerda do reservatório, ocupando mais que 60% da área de influência do reservatório (La Rovere, 1999). Os Latossolos Vermelho- Amarelos e Amarelos representam cerca de 25% da área e localizam-se, principalmente, na margem direita do reservatório; são pobres em nutrientes, mas podem ser utilizados para fins agrícolas, quando adubados e corretamente preparados (La Rovere, 1999).
O local onde foi implantada a barragem de Tucuruí situa-se ao final de um longo trecho encachoeirado (Figura 1). O reservatório está situado na zona de contato entre as rochas cristalinas do Complexo Xingú (margem esquerda) e rochas metamórficas de baixo grau, do Grupo Tocantins (margem esquerda, leito do rio e margem direita) (La Rovere, 1999). A inundação de grandes áreas de floresta e a decomposição do material orgânico ocasionaram um deplecionamento do oxigênio dissolvido (OD) nas camadas mais profundas do reservatório, e a produção e liberação de CO 2 e CH 4 , durante e logo após o período de enchimento. Atualmente o reservatório de Tucuruí apresenta diferentes compartimentos, com características limnológicas e dinâmicas próprias, determinadas pelo tempo de residência hidráulica próprios; morfologia das margens; diferentes profundidades, padrão de estratificação térmica e química, e vazões afluentes, que varia com o ciclo hidrológico (La Rovere, 1999).
Figura 1. Mapa da área de estudo.