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Esta dissertação analisa a relação entre gênero e religião na congregação cristã no brasil (ccb), com ênfase na discriminação da mulher perante o gênero masculino. O trabalho aborda a história, origem e fundamentos da ccb, a primeira e mais tradicional igreja pentecostal do brasil, e a importância da mulher nela. A pesquisa utiliza métodos bibliográficos, documentais e entrevistas estruturadas e não estruturadas.
Tipologia: Notas de aula
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Certificado pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade Unida de Vitória - 06/07/2018.
Trabalho final de Mestrado Profissional Para obtenção do grau de Mestra em Ciências das Religiões Faculdade Unida de Vitória Programa de Pós-Graduação Linha de Pesquisa: Religião e Esfera Pública
Orientador: Dr. José Mário Gonçalves
Certificado pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade Unida de Vitória - 06/07/2018.
Esta dissertação buscou analisar aspectos relevantes sobre a relação entre gênero e religião, focando a discriminação da mulher perante o gênero masculino no contexto da igreja Congregação Cristão no Brasil (CCB). O trabalho está organizado em três capítulos: no primeiro capítulo, utilizou-se de pesquisa bibliográfica sobre a temática: Gênero e Religião, focando a discriminação da mulher tanto no contexto religioso quanto no mercado de trabalho. No segundo capítulo, foi realizada uma pesquisa documental no Estatuto da Congregação Cristã no Brasil mostrando como funciona sua doutrina. O terceiro capítulo, trata da atuação da mulher no contexto da CCB. Para este capítulo foram realizadas dois tipos de entrevistas: uma estruturada e outra não estruturada, com a participação de uma das primeiras mulheres da Congregação Cristã no Brasil na cidade de Montes Claros, localizada no norte de Minas Gerais. O propósito desse trabalho foi conhecer a história, a origem e os fundamentos da Congregação Cristã no Brasil, que é a mais antiga denominação pentecostal do país, e a importância na atuação da mulher nesta igreja. As entrevistas mostraram que, na percepção das mulheres da CCB, elas desempenham funções tão importantes quanto às executadas pelos homens. Palavras-chave: Relação de Gênero; Pentecostalismo; Congregação Cristã no Brasil.
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Figura 01 - Louis Francescon fundador da Congregação Cristã no Brasil.............................. 24 Figura 02 – Rosina Balzano Francescon ................................................................................. 27 Figura 03 - Louis Francescon com a Esposa Rosina Balzano Francescon e filhos no ano de 1903 .......................................................................................................................................... 30 Figura 04 - Primeira igreja da Congregação no ano de 1910 na cidade de Santo Antônio da Platina no Estado do Paraná ..................................................................................................... 31 Figura 05 - Primeira casa de oração em São Paulo, situada à Rua Uruguaiana ...................... 32 Figura 06 - Igreja Flutuante no Estado do Amazonas ............................................................. 32 Figura 07 - Central da CCB no Brás, São Paulo - SP Atual templo-sede no bairro do Brás .. 33 Figura 08 - Visão interna de uma das congregações espalhados em todo o Brasil ................. 34
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O presente trabalho é resultado de uma pesquisa de mestrado que investiga as relações de gênero e religiosidade_._ O foco da pesquisa foi a discriminação da mulher perante o gênero masculino no contexto da igreja Congregação Cristã no Brasil (CCB). Esta pesquisa foi realizada na cidade de Montes Claros no Norte de Minas Gerais. Para o embasamento deste trabalho, foi utilizado como método a pesquisa bibliográfica, para o primeiro capítulo; para o segundo capítulo, fez-se uma pesquisa documental utilizando-se do Estatuto da Congregação Cristã no Brasil, e para o terceiro capítulo foi utilizado dois tipos de entrevistas, uma estruturada realizada através de questionário e uma entrevista não estruturada onde as perguntas foram abertas e respondidas no âmbito de uma conversação com uma das primeiras mulheres que se converteram à CCB na cidade Montes Claros, pois a CCB na referida cidade teve seu início através da liderança de uma mulher. O primeiro capítulo aponta religião tendo embasamento nos estudiosos que buscaram contribuir com essa temática destacando-se Émile Durkheim em sua obra As formas elementares da vida religiosa^1_._ O conceito de gênero teve como referência Joan Scott, que é uma especialista na história do movimento operário no século XIX e do feminismo na França, que é sem dúvida, uma das mais importantes pesquisadoras sobre o uso da categoria gênero em história. Scott define gênero como “um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder”^2. Para a autora usar a categoria gênero denota rejeitar as justificativas biológicas para as desigualdades nas semelhanças igualitárias entre os sexos. Crê ainda que através das relações de gênero as relações de poder são construídas. Para finalizar o primeiro capítulo foi realizado um estudo sobre as relações de gênero como fator de discriminação, pois as relações de gênero mostram atualmente as discriminações da mulher em função de sua inserção no mercado de trabalho. O segundo capítulo mostra a origem da Congregação Cristã no Brasil (CCB), que é a primeira e a mais tradicional igreja pentecostal do país. A Congregação Cristã no Brasil mais conhecida como a igreja do véu, foi fundada no Brasil no ano de 1910 pelo italiano Louis Francescon. Através da realização desta análise, podemos perceber que a CCB possui sua própria doutrina; cargos e funções delimitadas e definidas; o uso do véu pelas mulheres, dentre
(^1) DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996. (^2) SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. UFRS, v. 20, n. 2, p. 71- 99 jul./dez. 1985, p. 71-99.
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outras que serão abordadas. Este capítulo é uma pesquisa documental, pois tem o Estatuto da CCB como instrumento da pesquisa. Esta análise, por focar o gênero feminino, deseja demonstrar a importante contribuição de uma mulher conhecida como irmã Rosina Balzano Francescon, que foi a esposa e companheira de Louis Francescon. No terceiro capítulo foram realizadas dois tipos de entrevistas: uma estruturada, através de questionário em anexo, com quatro mulheres que exercem ministério dentro da CCB sendo: uma organista, duas porteiras (sendo uma que atua na porta de entrada do lado das mulheres e a outra porteira que atua na porta do sanitário feminino) e uma Irmã da Piedade; e a entrevista não estruturada, com uma das pioneiras da Congregação Cristã no Brasil, na cidade Montes Claros. O objetivo geral da pesquisa foi o de conhecer a história, a origem e os fundamentos da Congregação Cristã no Brasil, que é a mais antiga denominação pentecostal do país, e a importância na atuação da mulher nesta igreja. E os objetivos específicos foram: conhecer as doutrinas e estatutos da CCB; compreender o uso do véu pelas mulheres; investigar cargos de ministério executados pelas mulheres desta igreja. Pretendeu-se, com este estudo, quebrar paradigmas e desmistificar o conceito de que somente os homens da Congregação Cristã no Brasil possuem ministério, deixando de fora qualquer atuação que tenha a participação das mulheres no corpo ministerial da igreja.
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visibilidade, num contexto mais amplo de questionamento dos paradigmas que, até então, informavam a ciência^7.
O conceito de gênero foi utilizado primeiro nas ciências médicas, na psicologia e na sociologia^8 , e a partir dos anos de 1980, foi inserido na história das mulheres. Após esta data muitos órgãos e departamentos vêm estudando esse conceito inclusive o Ministério da Educação:
Para as ciências sociais e humanas, o conceito de gênero se refere à construção social do sexo anatômico. Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos. Por exemplo, o fato de as mulheres, em razão da reprodução, serem tidas como mais próximas da natureza, tem sido apropriado por diferentes culturas como símbolo de sua fragilidade ou de sujeição à ordem natural, que as destinaria sempre à maternidade^9.
As relações de gênero na maioria das vezes geram intolerância religiosa, desigualdade de poder e de prestígio entre diferentes pessoas da sociedade moderna, as chamadas relações de poder entre homens e mulheres. O gênero é uma construção social^10 , portanto se apresenta de forma diferente dependendo da época e do local devido aos costumes, experiências cotidianas, leis, religião, família e política que variam de pessoa para pessoa e de lugar para lugar. Até mesmo entre as classes religiosas. E quando se fala de intolerância em religião o indivíduo tem dificuldade de aceitar as diferenças culturais, diferenças essas que causam incômodo em algumas religiões.
Encontramos um exemplo de intolerância religiosa na relação com o candomblé e outras religiões de matriz africana. O sacrifício animal no candomblé e em outras religiões afro-brasileiras tem sido considerado como sinônimo de barbárie pelos praticantes de outros credos: trata-se, contudo, simplesmente, de uma forma específica para que homens e mulheres entrem em contato com o divino, com os deuses – neste caso, os orixás - cada qual com a sua preferência, no que diz respeito ao sacrifício. Outras religiões pregam formas diversas de contato com o divino e condenam as práticas do candomblé como ‛erradas’ e ‛bárbaras’, ou como ‛feitiçaria’, a partir de seus próprios preceitos religiosos^11.
(^7) SOUZA, Sandra Duarte de. A relação entre religião e gênero como um desafio para a Sociologia da Religião_. Revista Caminhos_ 8. Goiânia, v. 6, n. 1, jan./jun. 2008, p. 13-32. PORTAL SOCIOLOGIA. Disponível em: http://www.sociologia.com.br/o-conceito-de-genero/. Acesso em: 24 mar. 2018. 9 BRASIL, Ministério da Educação. Gênero e Diversidade na Escola: formação de professoras/es em gênero, sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009. p. 25. 10 GOMES, Camilla de Magalhães. Gênero : uma construção social. Blogueiras Feministas. Disponível em: http://www.blogueirasfeministas.com/2011/04/genero-uma-construcao-social/. Acesso em: 24 mar. 2018. 11 BRASIL, 2009, p. 25.
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O objetivo é analisar a mulher religiosa, no mercado de trabalho, e a mulher atuante da Congregação Cristã no Brasil dentre outros aspectos. No próximo item será analisado o conceito de gênero entendido como categoria teórica para referenciar o debate ora proposto.
1.1 Conceito de Gênero
Quando se fala em gênero não encontramos apenas uma resposta definitiva. O termo gênero, podemos qualificar como sendo de caráter polissêmico, que possui mais de um significado. Dependendo de determinada corrente teórica podemos compreender masculinidade
(^12) BARBOSA, Ana Paula Tatagiba. Há guardas nas fronteiras: discursos e relações de poder na resistência ao trabalho masculino na educação da infância 64 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012. 13 NICODEMUS, Augustus. Cristianismo descomplicado : Questões difíceis da vida cristã de um jeito fácil de entender. São Paulo: Mundo Cristão, 2017. p. 90.
Os valores e as características que marcam atributos femininos direcionam a mulher a uma posição subalterna diante do homem. Assim ela deveria ser educada para atuar na esfera familiar, cuidando do lar, do marido e dos filhos. Necessitaria corresponder a movimentos delicados e sincronizados e falar num tom de voz que entoasse delicadeza. Além desses atributos, deveria enquadrar um conjunto de qualidades vistas como natural: “ser pura, honesta, disponível e abnegada” 12. Quando falamos de forma como homens e mulheres são condicionados ao mundo religioso referimos aos papéis de gênero e consequentemente a divisão social. Estes papéis, ou imagens de gênero nada mais são que as construções sociais e culturais que implicam em oportunidades diferenciadas de inserção de homens e mulheres no campo religioso por meio de papéis de gênero que determinam território feminino. O foco dessa pesquisa não se trata da chamada “ideologia de gênero”, mas sim as relações de gênero onde focaremos a mulher. Pois a ideologia de gênero trata questões relativas ao processo que cada indivíduo percorre ao longo da vida para a construção de sua própria identidade, conforme seu gênero.
A chamada ideologia de gênero chegou ao Brasil com toda força nos últimos anos, como parte de uma estratégia do governo federal, que tentou passar material com esse conteúdo em livros e apostilas distribuídos em escolas públicas. Essencialmente esse pensamento afirma que ninguém nasce homem e ninguém nasce mulher, teoria formulada na década de 1960 pela feminista radical francesa Simone de Beauvoir 13.
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terminação gênero refere a compreensão histórica, social e cultural na qual cada indivíduo está inserido de forma distinta nos espaços econômicos e sociais. Nesta perspectiva, gênero é algo construído a partir das relações sociais. Durante todo processo de crescimento e desenvolvimento dos seres humanos, são pré-determinados nas funções de cada sexo. Os diferentes papéis são impostos pela sociedade e são transformados ao momento histórico, da ideologia, da cultura, da religião e conforme o desenvolvimento econômico. Gênero é uma divisão analítica que corresponde e ilustra socialmente a diferença sexual. É uma construção das ciências sociais que menciona a idealização social do sexo. O conceito de gênero veio distinguir o “ dimorfismo sexual ”^18 do ser humano das características do feminino e masculino nas culturas.
1.2 Relação de Gênero como fator de discriminação
Perante a sociedade as relações de gênero mostram atualmente discriminação da classe feminina que ainda “existe uma diferença entre homem e mulher, do ponto de vista fisiológico, mas a diferença de gênero se estabelece a partir das relações sociais, fundamentadas nas diferenças percebidas entre os sexos”^19. Um dos principais problemas referentes ao estudo de gênero é a insistência da segregação de ideias de homem e mulher realizarem funções diferentes em um espaço exclusivo para homens. Embora atualmente a mulher tenha sua importância reconhecida no debate de grandes questões nacionais, insiste-se em resistir à incorporação desse tema em debates atuais.
A categoria de gênero possui, então, duas dimensões entrelaçadas. A primeira afirma que a realidade biológica do ser humano não é suficiente para explicar o comportamento diferenciado do masculino e feminino na sociedade. A segunda nos mostra que o poder está distribuído de forma desigual entre os sexos: as mulheres geralmente ocupam posição subalternas na organização da vida social e das religiões do ocidente^20.
(^18) Dimorfismo sexual , característica que diferenciam os machos das fêmeas. ANDRADE, Antenor; ANDRADE, Márcia Cristina Ribeiro (Org.). Biologia, manejo e medicina de primatas não humanos na pesquisa biomédica. Rio de Janeiro/RJ. Fio Cruz, 2010. p. 19 57. MACHADO, Jacqueline Simone de Almeida. Gênero sem razão: mulheres e loucura no Sertão Norte Mineiro, 26f Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social, Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES, Montes Claros/MG, 2009. 20 ULRICH, Claudete Beise. Ensino Religioso e Relações de Gênero: tecendo novos e coloridos fios-contribuições para um currículo não sexista. In: JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; OLIVEIRA, Lílian Blankde (Org.). O Ensino Religioso: memória e perspectivas. Curitiba: Champagnat, 2005, p. 248.
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No contexto educacional também é visto como um meio de superar as desigualdades sofridas pelas mulheres. A inclusão das mulheres na universidade como acadêmicas e em seguida como professoras universitárias fez com que modificassem as relações de gênero existentes e fizeram surgir uma nova subjetividade feminina. Hoje a participação dos professores tanto da rede estadual quanto da rede municipal é composta pela maioria de mulheres. Para o nível superior os novos parâmetros na relação homem/mulher vivenciados na universidade e na vida profissional são totalmente diferentes do contexto religioso, pois nesse contexto ainda encontramos desigualdade em que diz respeito à ralação de gênero. Entretanto, no contexto religiões valorizam principalmente o homem excluindo as mulheres de algumas atividades realizadas dentro e fora da religião. Embora tenha havido grandes mudanças na vida da mulher, foi à custa de muito sacrifício e muita guerra onde houve a participação das mulheres.
Após a Guerra Civil Americana (1860-1865), toda uma geração de mulheres sentiu- se encorajada a participar e ampliar seus limites de inserção neste horizonte religioso, repensando a experiência nacional. O feminismo e a luta pelos direitos das mulheres dentro das Igrejas e na sociedade civil nasceram ao mesmo tempo e como parte de um mesmo movimento histórico. Em 1840, o envolvimento das mulheres americanas no abolicionismo favoreceu a consciência dos limites sociais e da condição injusta das mulheres na sociedade^21.
Gênero se torna uma construção social, significativa, pois quando nascemos, pelas questões anatômicas, nascemos meninos ou meninas. Sendo do gênero masculino ou gênero feminino a sociedade espera comportamentos específicos para cada um dos gêneros. Nas décadas passadas as mulheres eram responsáveis pela casa e pela família e os homens responsáveis pelo trabalho.
O feminismo propunha uma transformação radical das relações de gênero em todos os domínios da vida social, tanto o público, como o privado. Importante lembrar que este feminismo teve como substrato material, a emergência da sociedade urbano- industrial moderna, que foi marcada pela entrada das mulheres no mercado de trabalho, a qual se ampliou progressivamente no decorrer do século XX. Aos poucos, as mulheres passaram a ter uma dupla jornada de trabalho (doméstica e extra- doméstica) e, com isto, a nova responsabilidade de conciliar vida profissional com vida familiar. Outro fator importante foi o advento da contracepção medicalizada e segura nos anos 1960, dando possibilidade às mulheres de escolherem o número de filho/as que desejavam. Neste contexto social em que as mulheres começaram a ocupar cada vez mais o espaço público por meio da inserção no trabalho assalariado e na educação formal, as contradições do espaço privado vinham à tona e tornava-se premente politizá-las^22.
(^21) SILVA, Eliane Moura da. Gênero, religião, missionaríssimo e identidade protestante norte-americana no Brasil ao final do século XIX e inícios do XX 22_. Mandrágora_. Universidade Metodista de São Paulo, n. 14, p. 25-26, 2008. SCAVONE, Lucila. Religiões, Gênero e Feminismo_. Estudos da Religião,_ São Paulo, dez. 2008. p. 1-8.
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exemplos demonstrativos de que a hierarquia de gênero, em diferentes contextos sociais, é em favor do masculino. De onde vêm as afirmações de que as mulheres são mais sensíveis e menos capazes para o comando? A ideia de ‘inferioridade’ feminina foi e é socialmente construída pelos próprios homens e pelas mulheres ao longo da história^26.
Não só no contexto religioso, mas no mercado de trabalho, embora existam algumas tentativas em promover mais e melhores empregos, em sua maioria pelo Ministério do Trabalho, seus efeitos geralmente são pequenos, não promovem a igualdade de gênero. Porém a atuação parece ser ainda um tanto quanto tímida, pois “apesar do movimento de aproximação dos rendimentos, é preciso destacar que este se dá de forma ainda lenta e desigual entre os grupos, não alterando de fato a estrutura das desigualdades”^27. No mercado de trabalho, o sexo e a cor são características que influenciam nas oportunidades das pessoas. Por exemplo, as mulheres têm uma remuneração inferior (para alcançar o mesmo nível salarial têm que estudar bem mais do que os homens), os vínculos empregatícios são mais frágeis e as condições de trabalho mais desfavoráveis. Em relação a cor “as desvantagens à mulher negras são percebidas quando lhes são reservada apenas as piores tarefas e, consequentemente, um salário nada digno por seus esforços”^28.
A melhoria das condições de inserção no mundo do trabalho nos últimos anos não alterou, portanto, a estrutura da divisão racial e sexual do trabalho, motivo pelo qual uma conjuntura econômica desfavorável tende a ser ainda mais regressiva, sobretudo para as mulheres negras, inseridas majoritariamente em relações instáveis e desprotegidas de trabalho^29.
Existe uma divisão por gênero, do trabalho remunerado e trabalho doméstico, sendo alguns de responsabilidade do sexo feminino. Quando as mulheres fazem parte do quadro de funcionários do trabalho remunerado suas funções normalmente não são valorizadas e também menos reconhecidas profissionalmente. As características biológicas entre o sexo masculino e o sexo feminino geralmente são utilizadas para justificar as discriminações às mulheres. Por ter capacidade de gerar filhos, é atribuída a ela a necessidade de permanecer exercendo tarefas desenvolvidas no lar, o que não obriga a mulher cuidar dos filhos ou de outras atividades domésticas sozinhas. Geralmente as mulheres são limitadas de suas necessidades e capacidades em detrimento da diferença sexual. “A presença feminina no mercado de trabalho tem sido,
(^26) BRASIL, 2009, p. 39. (^27) BRASIL. Ministério do Trabalho_. Mulheres e trabalho:_ breve análise do período 2004-2014_._ Nota Técnica nº 24, Brasília: 2016. p. 13. 28 29 SILVA, Maria Aparecida.^ Trajetória de mulheres negras ativistas. Curitiba: Appris. 2017, [s. p.]. BRASIL, 2016, p. 11
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tradicionalmente, medida por meio do indicador de taxa de atividade, que aponta a proporção de pessoas de uma determinada faixa etária que está disponível para o mercado de trabalho”.^30 Em toda a história da humanidade, o trabalho feminino se fez presente com maior ou menor intensidade, dependendo do contexto histórico. “Analisar a história das mulheres corresponde à análise da história da humanidade, pois não há indícios de sociedade que foram criadas e/ou sobreviveram sem a influência feminina”^31. A mulher sempre executou tarefas em rebanhos, artesanatos de barro, de madeiras, de pedra, vestuários e ainda sempre foi de responsabilidade das mulheres “a criação dos filhos”^32 , de cuidar da alimentação dos familiares, dos doentes e de todo trabalho doméstico. O processo de emancipação da mulher teve início na Europa e nos Estados Unidos. “A Primeira Guerra Mundial também provocou um movimento de inclusão. As fábricas reclamaram a força de trabalho das mulheres, para substituir a dos homens”^33. No período da Primeira Guerra Mundial, foi preciso fazer o recrutamento dos homens, para que constituíssem os exércitos havendo então a necessidade de convocar o sexo feminino para trabalhar nas fábricas, principiando a sua inserção no mercado de trabalho produtivo. “As mulheres sempre trabalharam, mas foi na I Guerra Mundial que lhes criou condições propícias para trocarem o espaço doméstico pelo das indústrias pesadas e outros setores de atividades onde predominava a mão-de-obra masculina”^34. Com a inserção da mulher em fábricas, foram criados condições para garantir igualdade de salários para a mesma função exercida pelo sexo masculino e também adequar o período de trabalho a gestação, partos e amamentação. Nas últimas décadas vivenciam-se mudanças nos comportamentos da sociedade, pois percebe-se um ingresso maior das mulheres no mercado de trabalho. Apesar das suas responsabilidades reprodutivas e domésticas, verifica-se diversidade de atividades ocupadas por elas. Isso quer dizer que a mulher está exercendo dupla jornada de trabalho. Existem muitas formas de discriminação e preconceitos que permeiam o cotidiano da mulher: dificuldade de promoção profissional, discriminação clara ou não na contratação de casadas e com filhos, assédio sexual, dentre outros. “Os estudos sobre desigualdades de gênero
(^30) BRASIL, 2016, p. 4. (^31) SILVA, Amanda Daniele. Mãe/mulher atrás das grades: a realidade imposta pelo cárcere à família monoparental feminina. São Paulo: UNESP, 2015. p. 66. 32 BORIS, Eileen. Produção e reprodução, casa e trabalho. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP , São Paulo, v. 26, n. 1, 2014, p. 101-121. 33 CANTELLI, Paula Oliveira. O trabalho feminino no divã: dominação e discriminação. São Paulo: LTR, 2007, p. 186. 34 FERREIRA, Eduarda Ventura (Org.). Percursos Feministas : desafiar os tempos. Lisboa: UMAR/Universidade Feminista: 2015. [s.p.].
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