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Este documento analisa a relação conjugal de aurélia e fernando na obra senhora de josé de alencar e como ela reflete as relações utilitárias da sociedade capitalista brasileira. O autor examina como a relação entre eles está vinculada a um poder econômico e como a modernidade influenciou a relação pura. Além disso, o texto apresenta algumas práticas para a construção da confiança em um relacionamento.
Tipologia: Notas de estudo
Compartilhado em 07/11/2022
4.6
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Brasília - DF 2014
Monografia apresentada à Faculdade de Ciências da Educação e Saúde - FACES, do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, como requisito à aprovação e obtenção do grau de licenciado em Letras Português. Orientador: Profª. MSc. Débora Cabral Brasília - DF 2014
Dedico esta pesquisa ao meu esposo, fonte inspiradora do meu viver. Aos meus filhos e noras, pelo apoio e incentivo. Aos meus pais, por sempre acreditarem em mim. À minha netinha, para que ela não esqueça que vale a pena sonhar e que nunca é tarde para fazer dos nossos sonhos realidade.
Tributo minha gratidão a Deus que, por seu amor e bondade me sustentou com a destra da sua força e me proporcionou condições para a elaboração deste trabalho. Ao meu amado esposo, pelo amor e compreensão a mim dedicados durante este processo. Seu apoio e cumplicidade foram meu suporte para esta conquista. Aos meus filhos e noras, por estarem sempre ao meu lado, incondicionalmente, durante esta trajetória. Aos meus pais, pelo amor incondicional e pela credibilidade a mim dispensada. Aos meus familiares, pelas palavras de incentivo. À minha igreja ADS, que compreendeu a minha ausência em momentos importantes. Às minhas queridas amigas Lucivânia e Valléria, que sempre estiveram ao meu lado nos momentos bons e nos momentos de tensões vividas durante a graduação. Aos meus mestres, que sempre procuraram compartilhar os seus conhecimentos, proporcionando assim o meu crescimento intelectual, cultural e social. Em especial, agradeço à professora Ana Luiza Montalvão Maia (in memoriam ), que muitas vezes me incentivou a prosseguir nessa jornada. À professora Olívia Freitas, que compartilhou na escolha dessa obra para análise. À professora Cátia Martins, coordenadora do curso, pelo apoio e incentivo. Ao professor orientador André Moreira, por todos os cuidados e dedicação na produção desta pesquisa. O seu apoio foi de fundamental importância para a concretização deste estudo.
Esta pesquisa analisa a obra Senhora , de José de Alencar. A trama desenvolvida neste romance gira em torno do casamento por interesse. O autor desenvolve o enredo de maneira requintada, com uma linguagem rebuscada, de cenários belíssimos em torno da natureza, como é próprio do Romantismo. As cenas de idas e vindas mostram o conflito vivido pelo casal, pois Aurélia não perdoa o marido pelo abandono no passado, com isso ela o coloca na posição de mercadoria. Ele, por sua vez, busca a sua dignidade, procurando libertar-se do martírio que ele próprio causou. Em resumo, a obra desenvolve as contradições amorosas que permeiam os relacionamentos, levando-os à fragmentação do ser. Com isso pode-se afirmar que há um diálogo entre a obra e a sociedade pós-moderna, pois o sujeito da modernidade tardia é um sujeito fragmentado e essa fragmentação está presente na obra, por meio dos protagonistas. O estudo tem por âncora os teóricos Anthony Giddens, Stuart Hall, José Teixeira Coelho Neto, Zygmunt Bauman, Antônio Cândido, Afrânio Coutinho, Antônio Soares Amora e outros. Palavras-chave: Amor e dinheiro. Conjugalidade. Modernidade. Senhora. José de Alencar.
10 De forma semelhante, na composição de Senhora , Alencar expõe o conflito entre o casal Aurélia e Fernando por meio da fala carregada de impiedade, egoísmo e violência que Aurélia dirige ao seu marido na tão esperada noite de núpcias. [...] e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor um homem vendido. [...] Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muita rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento. (ALENCAR, 2005, p.69 ). Segundo Antônio Cândido (2005), o romancista apresenta uma heroína que tem em suas mãos o poder do dinheiro e que, movida por um forte sentimento de vingança, martiriza Fernando, seu marido, colocando-o na posição de mercadoria, produto de mercado que se adquire por um bom preço. Zygmunt Bauman (2004) aponta que desejo e amor são irmãos, mas não apenas isso, são irmãos gêmeos. Contudo, não são gêmeos idênticos, ou seja, apresentam alguns traços distintos. Para ele, “desejo é vontade de consumir. Absorver, devorar, ingerir e digerir – aniquilar.” (BAUMAN, 2004, p.23). Enquanto que “amor, por outro lado, é a vontade de cuidar, e de preservar o objeto cuidado” (BAUMAN, 2004, p. 24). Afirma ainda que, se o desejo quer devorar, o amor quer ter a posse. “O desejo é o ímpeto de vingar a afronta e evitar a humilhação” (BAUMAN, 2004, p.23). Aurélia, movida pelo desejo de vingança, compra a sua felicidade por meio do casamento com Fernando Seixas. Desejo, como é natural, obter o que pretendo, o mais barato possível; mas o essencial é obter; e portanto até a metade do que possuo, não faz questão de preço. É a minha felicidade que vou comprar. (ALENCAR, 2005, p.27). Com base nessas informações, os objetivos estabelecidos neste estudo contribuíram para organizar o trabalho em três capítulos: 1) Pós-modernidade e identidade; 2) contexto histórico do Romantismo e o Romantismo no Brasil; 3) análise do amor mercadológico de Aurélia e Fernando na obra Senhora.
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Anthony Giddens, sociólogo proficiente da atualidade, em seu livro Modernidade e Identidade apresenta a questão da modernidade com enfoque principal no “eu”. Para ele: A modernidade altera radicalmente a natureza da vida social cotidiana e afeta os aspectos mais pessoais de nossa existência. A modernidade deve ser entendida num nível institucional; mas as transformações introduzidas pelas instituições modernas se entrelaçam de maneira direta com a vida individual, e portanto com o eu (GIDDENS, 2002, p.9). Para o autor, as instituições modernas divergem de toda a dinâmica social do passado, na interferência com o impacto global e os hábitos tradicionais. Ele propõe uma análise da interconexão entre os dois extremos da extensão e da intencionalidade, de um lado as influências globais e de outro as tendências pessoais do indivíduo. Stuart Hall (2006), por sua vez, afirma que “as transformações associadas à modernidade libertam o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e culturas” (p.25). Isso significa que a modernidade não é uma ordem que substitui as certezas do hábito e da tradição pela certeza da racionalidade do conhecimento, embora ela seja uma ordem pós-tradicional, afirma Giddens (2002). E acrescenta ainda que “nas culturas tradicionais, o passado é honrado e os símbolos valorizados porque contêm e perpetuam a experiência das gerações” (1991, p. 44). Para ele, essa tradição é resistente a mudanças. Só por essas questões, já se percebe que pensar o conceito de modernidade é uma árdua tarefa, pois abrange muitas questões da Sociologia, Filosofia, Psicologia e de outras ciências sociais. O autor e crítico francês Charles Baudelaire (1996), que influenciou as últimas décadas do século XIX, afirma que “a modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável”. (p.25). Por sua vez Teixeira Coelho define modernidade como “a reflexão sobre o fato” (p. 12). Para Lefebvre “é a crítica ou esboço da crítica, menos ou mais desenvolvido; é, ainda, a autocrítica, quando existe. É a tentativa de conhecimento” (apud COELHO, 1986, p. 12). Em consonância com o posicionamento de Baudelaire (1986), Stuart Hall aponta que “as sociedades modernas são, portanto, por definição, sociedades de
13 Giddens (2002) esclarece que “as instituições modernas apresentam certas descontinuidades com as culturas e modos de vida pré-modernos” (p. 22). Ele aponta que o extremo dinamismo afasta a era da modernidade de qualquer analogia com as culturas tradicionais. Ou seja, a corrida contra o tempo, o avanço tecnológico, o imediatismo são características presentes nas instituições modernas que impedem a semelhança com as culturas antigas. Para ele, o dinamismo da vida social moderna está ligado a um conjunto de três elementos: separação de tempo e espaço , mecanismo de desencaixe e reflexividade institucional. Em relação a tempo e espaço nas culturas pré– modernas, a conexão estabelecida era “através da situcionalidade do lugar” (p. 22). O tempo e o espaço estavam ligados por meio do lugar, afirma o autor. O “quando” e o “onde” são apontados como marcadores que ligaram o “quando” não apenas ao “onde” do comportamento da sociedade, mas também à essência desse comportamento, ou seja, os efeitos que tudo isso causava na vida social pré- moderna. Com a separação de tempo e espaço, Giddens (2002) afirma que se desenvolveu uma dimensão vazia de tempo e isso tornou-se o ponto principal para separar o espaço do tempo. O primeiro acontecimento desse processo foi a invenção e difusão do relógio mecânico, que como instrumento de marcação do tempo tornou acessível as profundas mudanças na vida cotidiana. Essas mudanças não foram apenas locais, mas, segundo o autor, foram universais e hoje o mundo se apresenta com um sistema de tempo universalizado e zonas de tempo globalizadas diferentes de tudo o que as eras pré-modernas conquistaram. Ao se referir sobre as organizações e a organização como características da modernidade, esclarece-se que elas são inexplicáveis sem o restabelecimento do tempo e do espaço separados. O autor acrescenta que a organização social moderna coloca as ações de indivíduos bem próximas, embora distantes fisicamente, e isso se dá por meio da globalização. Ele afirma que “ ’o quando’ está diretamente conectado ao ‘onde,’ mas não, como em épocas pré-modernas, pela mediação do lugar (GIDDENS, 2002, p.23). A segunda influência apresentada por Giddens (2002) é o desencaixe, que corresponde à chave para acelerar o distanciamento entre tempo e espaço concebido pela modernidade. A esse desencaixe, ele chama de “deslocamento das
14 relações sociais dos contextos locais e sua rearticulação através de partes indeterminadas do espaço-tempo” (p. 24). De acordo com o autor, existem dois mecanismos de desencaixe. O primeiro é chamado por ele de fichas simbólicas, que são meios de troca que vão e vêm nesse contexto social moderno. Giddens (2002) apresenta como exemplo o dinheiro e o classifica como o mais importante, uma vez que, para ele, a economia monetária se torna mais apurada na modernidade. O segundo mecanismo de desencaixe apontado pelo autor são os sistemas especializados que colocam em parênteses, ou seja, separam o tempo e o espaço utilizando de modos de conhecimento técnico para aqueles que fazem uso deles. Para Giddens (2002), a terceira influência sobre o dinamismo da modernidade é a reflexividade, que para ele é o monitoramento reflexivo da ação totalmente ligada à atividade humana. Ele acrescenta que reflexividade institucional é “o uso regularizado de conhecimento sobre as circunstâncias da vida social como elemento constitutivo de sua organização e transformação” (p. 26). 1.1 O LOCAL, O GLOBAL E A TRANSFORMAÇÃO DE VIDA DIÁRIA De acordo com Giddens (2002), a separação de tempo e espaço, os mecanismos de deslocamentos e a reflexividade da era moderna estabelecem propriedades universais para a compreensão da expansão de sociedade moderna e as práticas estabelecidas tradicionalmente. Para ele, a globalização se define como “a interseção entre presença e ausência, ao entrelaçamento de eventos e relações sociais à distância com contextualidades locais” (2002, p. 27). Esse fenômeno traz para perto aquilo que está distante, é como ter o mundo ao alcance das mãos, no que diz respeito à informação. O autor ressalta que ninguém está isento das mudanças transformadoras que a era moderna provoca. Os riscos de catástrofes ecológicas e guerra nuclear existem e isso afetaria a todos, inclusive àquelas que vivem em ambientes tradicionais. A exemplo do Brasil, tem-se os índios que vivem em aldeias no estado do Pará. Por mais que eles vivam distantes dessa globalização, sofrerão as consequências.
16 ambiente de educação proporcionado a ela por aqueles que dela cuidam. Giddens (2002) traz o esclarecimento de que é por meio dessa rotina disciplinar que se constrói referência para o existir no sentido do ser. O investimento de confiança que a criança deposita nos seus cuidadores pode se tornar um casulo protetor contra as ansiedades existenciais, afirma o autor. Esse casulo protetor, no entanto, pode ser rompido por acontecimentos negativos, pois manter-se vivo trará implicações de risco. As rotinas e as formas de domínios ligados a elas, nos primeiros anos de vida, de acordo com Giddens, são maneiras de ajustes ao mundo de indivíduos e objetos. São esses ajustes que dão sustentabilidade para a aceitação do mundo exterior. E é por meio dessa aceitação que se pode originar a autoidentidade do que é o não eu através desse aprendizado. A ansiedade é colocada por Giddens (2002) como sistema de segurança total desenvolvida pela pessoa em situações de perigos e riscos particulares. Isso implica dizer que a ansiedade está muito mais ligada às emoções individuais de cada um. Ele afirma que todo ser possui um referencial de segurança no ser enquanto ser. Nesse contexto, os indivíduos reagem diferentemente diante de medos e perigos a que estão expostos. Giddens reconhece que: Toda ansiedade é tanto normal quanto neurótica-normal porque os mecanismos do sistema básico de segurança sempre envolvem elementos geradores de ansiedade, e neurótica no sentido em que a ansiedade “não tem objeto”, no emprego que Freud faz dessa expressão (2002, p.48). A semente da ansiedade instala-se no medo que a criança tem de perder a primeira pessoa que lhe dedicou todo o cuidado, em geral a mãe, afirma o autor. Isso a leva a sentir ameaçada no centro do eu e também na segurança do ser enquanto ser. A confiança adquirida pela criança nos seus primeiros anos de vida é agora fragilizada pela sensação de abandono, sentimento contrário ao amor que, ligado à confiança gera coragem e esperança. De acordo com Giddens (2002), a interligação de ansiedade, confiança e de rotinas diárias ajudam a entender práticas da vida cotidiana como elementos de enfrentamento Na construção do cotidiano da vida, os indivíduos respondem a questão do ser e isso ocorre por meio do processo de atividades a que se submetem, ressalta o autor.
17 A “identidade” do eu, ao contrário do eu como fenômeno genérico, pressupõe uma consciência relativa. É aquilo “de que” o indivíduo está consciente no termo de “autoconsciência”. A auto – identidade, em outras palavras, não é algo simplesmente apresentado, como resultado das continuidades do sistema de ação do indivíduo, mas algo que deve ser criado e sustentado rotineiramente nas atividades reflexivas do indivíduo (GIDDENS, 2002, p.54). Entende-se que o enfrentamento da vida cotidiana no mundo moderno forja a identidade, isso ligado com a natureza fragilizada da biografia que o indivíduo possui. A identidade do eu não está na maneira de agir, nem tão pouco na forma que as pessoas reagem, mas, de acordo com o autor, está na capacidade de seguir em frente, escrevendo sua própria história.
19 As mulheres estão desertando em massa do casamento, seja pelo divórcio, ou emocionalmente, deixando-o com parte de seus corações... A maioria, depois de um período inicial de tentativas, parte em busca de outros lugares onde investir sua vida emocional. Mulher após mulher, depois dos primeiros anos “tentando”, desiste e começa a se afastar em silêncio, gradativamente, talvez até imperceptivelmente (HITER, 1988 apud GIDDENS, 2002, p.88). Com base no texto acima citado, a mulher da era moderna pode ser vista como quem possui a livre escolha para decidir o que quer e o que não quer, permanecer ou não em um relacionamento que só lhe causa malefícios. De acordo com Giddens (2002), essa mulher decidida rompe relações tumultuadas, mas não rompe com o amor, pois ela sai à procura do afeto e da relação que lhe sejam favoráveis. Na pura relação, os parceiros envolvidos estão fazendo um autoexame, um reflexivo do eu. A pergunta “como estou” está muito ligada aos benefícios que a relação pode proporcionar, afirma Giddens. Um outro ponto importantíssimo que Giddens (2002) aponta é o compromisso. O autor o coloca como personagem central nas relações puras. Ele afirma que o compromisso é essencial, porque assume o lugar que as âncoras externas ocupavam nos relacionamentos pessoais que se tinham na pré- modernidade. O amor romântico contemporâneo, para o autor, é uma forma de compromisso, porém, entre o amor e o compromisso, ele afirma que o segundo é a categoria mais ampla, pois a pessoa comprometida reconhece as tensões inerentes dessa relação moderna e assume os riscos, ainda que por um período de tempo. Ele pontua ainda que o compromisso pode ser mediado pela força do amor, porém, os sentimentos que giram em torno do amor não garantem em si mesmo o compromisso. O compromisso só será mantido mediante decisão, ou seja, a pessoa é quem decide manter ou não o compromisso, portanto compromisso é decisão. Na trama de Alencar é possível encontrar essa característica na personagem de Aurélia que entre os muitos conflitos e tensões vividos na relação, ela decide pelo amor de Fernando. Outro aspecto enfocado por Giddens (2002) na relação pura é a intimidade. Para ele, a intimidade gera estabilidade, e não está associada à falta de privacidade, como era vista na cultura europeia pré-moderna. O autor destaca que a busca de intimidade tem um valor positivo e a privacidade possibilita as satisfações psíquicas que a intimidade pode proporcionar.
20 A relação pura para Giddens (2002) depende também da confiança mútua entre os parceiros. Para ele, a confiança é adquirida, não vem dentro do pacote, precisa ser trabalhada, confiança como processo de construção exige que a pessoa precisa, ao mesmo tempo, confiar e ser confiável, é uma via de mão de dupla. No que diz respeito à construção de confiança, o autor ressalta a importância de conhecer a personalidade do parceiro e ter a capacidade de entender a forma de adquirir as respostas almejadas. Wegscheider-Cruse (apud GIDDENS, 2002, p. 93) apresenta algumas propostas práticas para a construção da confiança: dispensar tempo para ouvir o que o outro tem a dizer, levando em consideração que a comunicação tem relevante importância para a intimidade; prestar atenção nas questões e só dar por encerrado depois de resolvê-las, pois encerrar o problema sem resolvê-lo pode gerar conflitos; criar um ambiente de atenção, buscando juntos o prazer. 1.5 O CORPO E A AUTORREALIZAÇÃO Ao se referir ao corpo, Giddens (2002) o descreve como “um objeto em que todos temos o privilégio de viver ou sermos condenados a viver, fonte das sensações de bem-estar e de prazer, mas também das doenças e tensões” (p.95). Isso implica afirmar que o corpo não é apenas uma existência física, ele exerce junto a isso uma atividade prática nas relações cotidianas. Sendo assim, ele é essencial para a definição de autoidentidade. O autor esclarece que a aparência e a postura são de particular importância para o surgimento da modernidade. Em várias culturas pré-modernas, a aparência estava ligada aos padrões tradicionais. Os enfeites faciais e a maneira de vestir, até certo ponto, eram meios de mostrar a individualidade, mas a proporção dessa conquista era muito limitada. A aparência indicava muito mais a identidade social que a identidade pessoal. Assim, a maneira de vestir e os adornos usados são características da aparência corporal e, de acordo com o autor, essas características são usadas como sinal para traduzir os comportamentos. Nesse sentido, a sensualidade do corpo aponta para o manuseio da intenção ao prazer e à dor. A roupa e a identidade social