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Estudo do Meio na Geografia: Interesse pelo Mundo na Educação Fundamental, Manuais, Projetos, Pesquisas de Pedagogia

Neste texto, elisabeth cristina dantas araújo discute as contribuições do estudo do meio na construção de conhecimentos relacionados à geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. A autora apresenta reflexões construídas durante a disciplina de ensino de geografia i do curso de licenciatura em pedagogia da universidade federal do rio grande do norte. O estudo do meio é uma prática que despertar o encantamento e interesse pelo mundo, permitindo a conexão com áreas e disciplinas afins e estabelecendo uma visão complexa do entendimento dos elementos sociais, culturais, históricos e naturais através das paisagens e lugares vivenciados.

O que você vai aprender

  • Como o Estudo do Meio contribui para a construção de conhecimentos geográficos?
  • Quais são as bases teóricas e práticas oferecidas pelo Estudo do Meio para a aprendizagem de conceitos geográficos?
  • Como o Estudo do Meio pode despertar o interesse pelo mundo e contribuir para a construção de novas aprendizagens?
  • Qual é a importância do Estudo do Meio na Geografia?
  • Qual é a importância do Estudo do Meio na construção de conhecimentos nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC
O ESTUDO DO MEIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: PROPONDO A
LEITURA DE MUNDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.
ELISABETH CRISTINA DANTAS DE ARAÚJO
NATAL RN
FEVEREIRO 2019
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Baixe Estudo do Meio na Geografia: Interesse pelo Mundo na Educação Fundamental e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Pedagogia, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO

CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC

O ESTUDO DO MEIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: PROPONDO A

LEITURA DE MUNDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.

ELISABETH CRISTINA DANTAS DE ARAÚJO

NATAL – RN

FEVEREIRO – 2019

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO

CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC

O ESTUDO DO MEIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: PROPONDO A

LEITURA DE MUNDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.

DISCENTE: ELISABETH CRISTINA DANTAS DE ARAÚJO

ORIENTADOR: PROFº. DR. PABLO SEBASTIAN MOREIRA FERNANDEZ

Artigo apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia – modalidade presencial – como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia.

O ESTUDO DO MEIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: PROPONDO A

LEITURA DE MUNDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.

ELISABETH CRISTINA DANTAS DE ARAÚJO

Artigo apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia – modalidade presencial – como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia. Aprovada em 11 de dezembro de 201 8. PROF. DR. PABLO SEBASTIAN MOREIRA FERNANDEZ (Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Professor do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo – UFRN) ORIENTADOR PROFª DR. RAIMUNDO NONATO JUNIOR (Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Professor do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo – UFRN) AVALIADOR PROFª DR. FRANCISCO CLAUDIO SOARES JUNIOR (Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Professor do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo – UFRN) AVALIADOR

O ESTUDO DO MEIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: PROPONDO A

LEITURA DE MUNDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Elisabeth Cristina Dantas de Araújo^1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (^1) Email: elisabetharaujocda@gmail.com

AGRADECIMENTOS

  • Em primeiro lugar minha gratidão à Deus, por ser força, abrigo e luz. Por permitir que eu chegasse até aqui, apesar de todas as adversidades que a vida me proporcionou ao longo da minha caminhada terrena.
  • À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na qual desenvolvo estudos desde o ano de 2009, quando ingressei em minha primeira licenciatura. De lá até aqui, inúmeros foram os aprendizados e as oportunidades ofertadas e aproveitadas.
  • Aos meus pais, Edna e Ribamar, e ao meu irmão Diego, por me acolherem por toda uma vida, me devotando amor, carinho, respeito e compreensão, sendo abrigo nas horas difíceis e alicerce para a realização de todos os meus sonhos. Nada disso seria possível sem o incentivo, a paciência e os conselhos de vocês. Demorarei muitas vidas para agradecer tamanho amor e renúncia.
  • Aos meus avós maternos, Marinalva e Edival, por terem me permitido crescer em um ambiente saudável, cercado de amor, atenção, cuidado, respeito ao outro e aos seus diversos saberes. Por me ensinarem valores e princípios que levarei comigo a vida inteira, e por terem me apoiado em minhas escolhas, estimulando desde muito cedo o meu sonho de tornar-me professora.
  • À Lucas Oliveira, por sua enorme paciência, pelo apoio e respeito com as minhas escolhas pessoais e profissionais, com as horas de ausência e pela compreensão nos momentos de medo e insegurança. Apenas obrigada não é suficiente para agradecer tamanho amor, companheirismo e fidelidade.
  • À Irilene e Ricardo Oliveira, pelo carinho, respeito, acolhimento, apoio e incentivo, e por comemorarem comigo cada etapa dessa e de tantas outras trajetórias.
  • Aos meus amigos, por perdoarem todas as minhas ausências em detrimento das atribuições da universidade e do trabalho, e por acreditarem no meu êxito.
  • Ao Profº Dr. Pablo Fernandez, orientador, amigo e incentivador dessa temática tão cheia de subjetividades e encantamentos. Obrigada por acreditar que daria certo e me acolher nesse momento final do curso.
  • Aos professores do Curso de Licenciatura em Pedagogia Natal, sem os quais jamais poderia ter cumprido essa etapa da minha vida acadêmica. Seus ensinamentos e conselhos foram essenciais para a construção da Pedagoga que estou me tornando.
  • Aos colegas da minha turma inicial no curso, em especial Marília Pacheco, José Moreira e Arthur Beserra, meu grupo de trabalhos acadêmicos e amigos que levo em minha vida até hoje.
  • Da mesma forma, agradeço aos alunos da turma de Pedagogia 2016. 1 Vespertino, que me acolheram de maneira ímpar no meu retorno pós mestrado. À Amanda Fhilladélfia, Clara Capistrano, Daniele Silva, Débora Martins, Suellen Alves, Suzana Sena e Vanessa Benigno, meus mais sinceros agradecimentos por essa parceria e amizade, incrivelmente construída e alimentada por muitas xícaras de café na cantina do setor V.
  • Aos meus alunos, por serem a razão para que eu queira constantemente melhorar em minha atuação, buscando novas formas de fazê-los aprender sobre as coisas do mundo. Por fim, agradeço a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente com o desenvolvimento desse estudo, seja através de incentivo, dados e informações, apoio logístico e emocional. Ninguém vence etapas sozinho, por isso sou eternamente grata a quem se propõe a caminhar comigo.

Sumário

  • INTRODUÇÃO
  • O ESTUDO DO MEIO COMO CAMINHO AO ENSINO DE GEOGRAFIA.
  • PENSAR O ESPAÇO DA CIDADE A PARTIR DE UM ESTUDO DO MEIO.
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • REFERÊNCIAS

11 Parafraseando Alberto Caeiro, digo que as crianças são de novo nascidas a cada momento para a eterna novidade do mundo: mundo sempre novo, diferente, surpreendente, fantástico, assombroso, incrível, desafiante. “Decifra-me ou devoro-te!”. E as crianças, como Édipo diante do desafio da esfinge, se põem a decifrar o mundo... (Rubem Alves) “A leitura do mundo precede a leitura da palavra. O ato de ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho com esse mundo” (Paulo Freire). INTRODUÇÃO Inspirados nas palavras de Rubem Alves e Paulo Freire, podemos afirmar que, ensinar Geografia é também uma forma de ensinar a ler o mundo. Ler o mundo não apenas através do que é possível “enxergar ou avistar”, mas sobretudo do que é possível sentir ou acessar pelos sentidos que constituem nossas percepções. Ler o mundo por meio das cores, através dos aromas, sabores, pelas experiências e vivências construídas no espaço da escola, da família, do lugar em que se vive pode ser um caminho para a compreensão e entendimento da geograficidade, também entendida como “experiência geográfica” (DARDEL, 2011). De modo geral, o Ensino da Geografia no Ensino Fundamental I, pode ser um caminho para despertar no aluno o encantamento e interesse por “ver” o mundo através de suas concretudes e subjetividades, e pode ainda, ser condição essencial para formar um indivíduo que reconhece no mundo vivido (a partir de seus lugares), os processos, as conexões, as formas, os fluxos e as dinâmicas materiais e imateriais que inicialmente se apresentam no espaço, contribuindo para a construção de conceitos e novas aprendizagens escolares e cotidianas. Nessa tarefa de ensinar “a ler o mundo”, a Geografia de maneira privilegiada dispõe de métodos, perspectivas, conceitos, além de metodologias que permitem fazê-lo de maneira ímpar. Dentre as metodologias (e porque não considerar como um tipo de experiência geográfica?) ressaltamos a importância do Trabalho de Campo na consolidação de “um olhar e um pensar geográfico” como se pode constatar em um resgate da tradição em Humboldt a partir de seus “Quadros Geográficos”, visto que através deste “movimento” é

13 enquanto objeto de estudo da Geografia, em busca por compreender as relações entre a Sociedade e a Natureza que o constroem, articulando um conjunto de habilidades como a observação, descrição, comparação de paisagens em diversos espaços e tempos e a percepção da organização espacial. Da mesma forma, o Estudo do Meio se caracteriza por seu caráter formativo, provocativo e incentivador de um “olhar” que a ciência geográfica nos oferece na tentativa de ler o mundo a partir da sua organização, dinâmica e fenômenos. Além disso, essa prática possibilita a aproximação do sujeito com o seu lugar de vivência, com as interações que ele mesmo estabelece com o meio e muitas vezes passam despercebidas, como se o indivíduo fosse mero espectador em um “palco de paisagens pitorescas. Por essa razão, a professora de Geografia Luiza Tomita (1999, p. 13) sugere que “o ponto de partida é o estudo da realidade a partir das áreas mais próximas dos alunos”, porém, é importante que essa realidade local seja constantemente relacionada ao mundo em toda sua complexidade, pois conforme Rosângela Doin Almeida e Elza Y. Passini “esse ensino só será transformador, na medida em que o lugar possibilite à criança o estabelecimento das primeiras relações deste com o mundo e vice versa” (ALMEIDA e PASSINI, 1991, p. 13). Nesse sentido, o texto que ora se apresenta é resultado de leituras, reflexões, observações e experimentações construídas durante a disciplina de Ensino de Geografia I do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e tem como objetivo discutir as contribuições trazidas pelo Estudo do Meio na construção dos conhecimentos relacionados à Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O estudo se ampara em pesquisas e autores do Ensino de Geografia e da Pedagogia, assim como nos documentos oficiais da educação – Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) e a Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Fundamental (BRASIL, 2018).

14 O ESTUDO DO MEIO COMO CAMINHO AO ENSINO DE GEOGRAFIA. Olhar o mundo com imaginação e curiosidade, é uma das formas de começar a sua leitura. Nessa busca por (re)conhecer esse mundo de cores, cheiros, sabores e sons, partir do lugar de vivência potencializa sobremaneira a compreensão que se tem sobre essa sintonia entre nós, nossas experiências e o mundo que nos cerca. Partindo deste entendimento, elege-se como tema e objeto de reflexão - além de motivador de uma proposição educativa - o Estudo do Meio no Ensino de Geografia, que na compreensão de Lopes e de Pontuschka (2009, p. 174) seria: um método de ensino interdisciplinar que visa proporcionar para alunos e professores contato direto com uma determinada realidade, um meio qualquer, rural ou urbano, que se decida estudar. Esta atividade pedagógica se concretiza pela imersão orientada na complexidade de um determinado espaço geográfico, do estabelecimento de um diálogo inteligente com o mundo, com o intuito de verificar e de produzir novos conhecimentos (LOPES; PONTUSCHKA, 2009, p. 174). Dessa maneira, os autores colocam o Estudo do Meio como uma das possibilidades que a Geografia possui de apresentar o mundo aos alunos de uma maneira dinâmica, viva, dialógica e que permite desenvolver o “espírito” investigativo e crítico ao qual a escola se propõe a formar. Assim também defendem que através dessa prática o Ensino de Geografia promove uma aprendizagem que é baseada na interação com o meio e com o outro, em um processo de troca de experiências e discussão da realidade. Em busca de um antecedente histórico para a consolidação do Estudo do Meio como metodologia de ensino, encontramos em Célestin Freinet (FREINET, 1975) um grande expoente para tal prática, visto que sua vida e obra se fundamentam em uma missão de aproximar a aprendizagem da vida da criança. Denominadas por Freinet de “aulas-passeio”, esses momentos proporcionam às crianças e aos professores uma nova forma de pensar e agir diante do mundo e das suas relações. Assim, a aprendizagem dos conceitos e as relações entre eles se torna mais atrativa para as crianças, na visão deste pedagogo, pois parte de uma realidade próxima a elas, e dá sentido às aprendizagens construídas no ambiente da sala de aula.

16 dispostos a cultivar todos os ramos do saber e da atividade, guiados pela razão e inspirados pela ciência e pela arte, que embelezarão a vida e justificarão a sociedade. (FERRER Y GUARDIA, 2010, p. 40). Eliseé Reclus, geógrafo francês e grande entusiasta do Ensino de Geografia e dos “passeios geográficos” (o mesmo mantinha diálogos com Ferrer y Guardia) irá dizer em um texto originalmente publicado em 1903 intitulado “O Ensino da Geografia”, sobre que Geografia deveria ser ensinada para as crianças, afirmando que “[...] ao invés de raciocinar sobre o inconcebível, comecemos por ver, por observar e estudar o que se acha à nossa vista, ao alcance de nossos sentidos e de nossa experimentação” (RECLUS, 2015, p. 16). Em outro momento, o autor afirma que Se tivesse a fortuna de ser professor de crianças, sem ver-me fechado em um estabelecimento oficial ou particular, precaver- me-ia de começar a colocar livros e mapas nas mãos dos meus companheiros infantis; talvez nem pronunciaria ante eles a palavra grega geografia , mas sim os convidaria para longos passeios comuns, feliz de aprender em sua companhia (RECLUS, 2015, p.16). Para Eliseé Reclus, é importante que as excursões e viagens tenham sobretudo o objetivo de divertir a criança, pois assim ela se sente convidada a aprender e saber mais, e a ter liberdade quanto àquilo que vê nas paisagens e lugares por onde passar, sem que esteja carregada de ideias que venham do adulto e não dela mesma em suas observações e percepções. Reclus afirma que Cedo ou tarde, sempre tão pronto, chega o tempo em que a prisão da escola aprisiona a criança entre suas quatro paredes; e digo prisão , porque é o que o estabelecimento de educação quase sempre é, já que a palavra escola perdeu há muito tempo seu primeiro significado grego de recreio ou de festa (RECLUS, 2015, p. 19). Nesse sentido, é importante conceber condições para que a criança possa experienciar o ambiente que a cerca dentro e (principalmente!) fora da escola, onde ela convive com outros grupos sociais como a família, os vizinhos, os colegas de brincadeiras na rua. Nesses lugares de vida se constroem

17 relações de saber que são importantes e devem ser aproveitadas pelo professor, ao tratar dos conteúdos geográficos. Os sentimentos envolvidos na experiência com a casa, a rua, os amigos, o entorno da escola, a praça do bairro, são elementos primordiais na construção das vivências das crianças, e todos eles podem ser potencializados a partir de práticas metodológicas que priorizem o contato das crianças com o meio em que habitam e interagem. Dessa forma, a partir da década de 1960 os Estudos do Meio ganham força conceitual e prática para compor uma proposta de educação atraente e que pudesse derrubar as barreiras e fronteiras existentes entre o ambiente escolar e o espaço externo a ele, na tentativa de construir com o aluno a percepção de que o mundo tem muito a nos ensinar e, por isso, sua leitura é tão importante quanto as demais aprendizagens proporcionadas pela escola. Do ponto de vista documental, na década de 1990 com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, o documento destinado ao Ensino de Geografia traz de maneira muito sutil, uma discussão aprofundada sobre os Estudos do Meio e a sua importância na construção do conhecimento geográfico. Quando faz referência a essa abordagem, limita-se a apontar que ensinar Geografia baseando-se em metodologias como os Estudos do Meio se constituem como um forte potencializador das habilidades relacionadas à leitura da paisagem, e que incentiva o aluno a “[...] estabelecer comparações, interpretar as múltiplas relações entre a Sociedade e a Natureza de um determinado lugar” (BRASIL, 1998, p. 53). Por outro lado, no PCN da disciplina de História, o Estudo do Meio é apontado como uma forma de permitir ao aluno compreender melhor o mundo em que vive, e a partir dos elementos naturais e culturais para fazer uma leitura de mundo coerente. De acordo com o PCN de História (BRASIL, 1998, p. 93) O estudo do meio envolve uma metodologia de pesquisa e de organização de novos conhecimentos, que requer atividades anteriores à visita, levantamento de questões a serem investigadas, seleção de informações, observação de campo, confrontação entre os dados levantados e os conhecimentos já organizados por pesquisadores, interpretação, organização de dados e conclusões. Possibilita o reconhecimento da interdisciplinaridade e de que a apreensão do conhecimento histórico ocorre na relação que estabelece com outros

19 Embora não se deva esperar que uma criança de 7 ou 8 anos de idade saiba estabelecer conexões exatas entre aquilo que ela vê nas paisagens e lugares, e como essas relações interferem no seu cotidiano, é de tamanha importância que sejam apresentadas a elas, maneiras de ler o mundo a partir do seu local de vivência (STRAFORINI, 2001). A partir desse estímulo, e levando em consideração as experiências trazidas pela criança dos seus outros ambientes relacionais, torna-se mais fácil fazê-la ter curiosidade pelos caminhos que vê, observa e percorre. PENSAR O ESPAÇO DA CIDADE A PARTIR DE UM ESTUDO DO MEIO. Refletindo sobre as possibilidades de aprendizagem que são proporcionadas pelo Ensino de Geografia no tocante à percepção do mundo e sua leitura, e sobre o encantamento ao qual a criança é provocada a partir de metodologias de ensino como o Estudo do Meio, Straforini (2001, p. 88) afirma que quando uma criança entra na escola fundamental, uma nova fase da sua vida se inicia. Tudo o que ela mais quer é aprender. Essa ansiedade não se resume a ler, escrever e fazer operações matemáticas, mas também desvendar suas inúmeras indagações sobre o mundo que a cerca, as coisas naturais e humanas, o mundo da televisão, do rádio e do jornal, um mundo que é distante, mas ao mesmo tempo próximo (STRAFORINI, 2001, p. 88). Dessa forma, o papel do professor está em incentivar que essa curiosidade seja suprida não apenas a partir de conhecimentos teóricos, mas sobretudo “de tudo que puder ser observado e analisado” com base em atividades práticas, tais como o Estudo do Meio. Com isso, não queremos afirmar que tal metodologia se constitui como uma tarefa fim, ao contrário, acreditamos que a partir de uma aula em um espaço externo à classe podem sair inúmeras propostas de atividades, jogos, brincadeiras, construções literárias, visuais, escritas e sonoras. Nesse sentido – e retomando o pensamento de Tomita (1999), Almeida e Passini (2001), sobre partir da realidade da criança para fazê-la perceber a Geografia como uma possibilidade de construção da leitura do mundo – propomos uma ideia de pensar o espaço (suas paisagens e lugares) da cidade

20 a partir do Estudo do Meio. Nessa lógica, o (a) professor (a) pode propor um roteiro que contemple os principais referenciais históricos que deram origem à cidade, provocar a reflexão dos alunos a respeito da presença de elementos naturais e culturais da paisagem coexistindo em um mesmo espaço, ou mesmo as mudanças e permanências das formas e funções da cidade, como uma maneira de compreender o espaço urbano (SANTOS, 1978), com todas as suas nuances – seus aromas, cores, fluxos, fixos, sons. Experienciar a cidade através do caminhar, pode ser uma forma de conhecer a realidade que nos cerca (ou de “ler o mundo”) e de acessar um conhecimento de si conforme explana Fernandez (2008), pois, este observador geógrafo “por vir” acessa o espaço e revela “uma geograficidade do homem como modo de sua existência e de seu destino” (DARDEL, 2011, p.2), produz espacialidade ao se deparar com os sujeitos da cidade e suas práticas, suas trajetórias cotidianas e seus espaços de habitação, as desigualdades sociais, a multiplicidade de culturas, histórias, memórias, práticas de lazer, a instabilidade ou a segurança, que poderá estabelecer um itinerário de lugares. Para tanto, pode-se atribuir a esses locais seus cheiros característicos, sons, objetos dispostos ou suas cores. Tais sentidos são bastante explorados pela criança, e as auxiliam na ressignificação dos lugares e das paisagens. Assim, podemos afirmar que a experiência e o sentimento tornam-se muito próximos, visto que, à medida que a criança cresce, suas experiências visuais e sensoriais lhes remetem lembranças e pensamentos relacionados à construção do sentimento sobre aquele lugar ou suas particularidades. Essa experiência, entendida por Tuan (2013, p. 19) como “as diferentes maneiras por intermédio das quais uma pessoa conhece e constrói a realidade”, é essencial para potencializar na criança a sua imaginação e o seu envolvimento em relacionar os lugares próximos às coisas locais com aquelas somente imaginados que estão longe da sua realidade, pois “para uma criança inteligente e esperta, a experiência é uma procura ativa e em que, algumas vezes, faz extrapolações surpreendentes para além dos fatos: ela não se prende ao que vê ou sente em sua casa e em seu bairro” (TUAN, 2013, p 45). Utilizar portanto, o Estudo do Meio, como uma metodologia para pensar o espaço da cidade e para gerar “novos conhecimentos sobre o território, lugar