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Uma análise da recepção do programa de televisão supernanny na educação de crianças, baseada em entrevistas com mães de florianópolis. O texto discute as mudanças na instituição da família e o papel do programa supernanny como mediador e organizador de questões vividas na educação de crianças. Além disso, o documento aborda as perspectivas construtivistas de piaget e freinet para analisar as técnicas apresentadas no programa.
O que você vai aprender
Tipologia: Exercícios
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Juliana Achcar
Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Educação
Orientadora: Profª Drª Gilka Girardello
Florianópolis 2013
Dedico este trabalho a todas as
pessoas que, algum dia, se permitiram
ter dúvidas ao educar uma criança
À Iara, Maria, Pietra, Priscila e Rosa que, com coragem, compartilharam
comigo suas dores e alegrias do cotidiano na educação de crianças.
À Gilka, agradeço pela oportunidade de crescimento e de liberdade
proporcionada durante os momentos de pesquisa e de escrita. Agradeço
especialmente pelo seu carinho, confiança e dedicação em cada troca,
encontro e leitura.
Ao Habibis, por seu companheirismo amoroso, pela tranquilidade
oferecida nos momentos difíceis, pelas risadas do dia a dia. Este
trabalho é também fruto das nossas intermináveis conversas sobre
educação de crianças, que continuarão fazendo parte de nossas vidas.
Ao meu pai Eduardo que, com muitas pitadas de humor e de confiança,
aguardou ansiosamente a conclusão deste trabalho. Agradeço também
pelo apoio emocional e suporte material, oferecidos com tamanha
generosidade quando necessário.
À minha mãe Cleide, mulher forte e guerreira, que tanto me ensinou
sobre esse tema hoje tão rico pra mim.
Às minhas irmãs, Tati e Cris, pela cumplicidade em compartilhar suas
experiências enquanto meninas, mulheres e mães.
Aos professores dessa banca: Monica Fantin e João Josué, pelas
certeiras colocações durante a qualificação e na leitura desse trabalho e
às professoras Denise Cord e Juliane Odinino, pela disponibilidade de
participação nessa etapa tão fundamental do mestrado.
Ao Professor Lucídio que, desde a graduação, acompanha e incentiva
minha trajetória acadêmica com amizade e sabedoria.
À Vivi, pela alegre parceria e por fazer questão em estar perto nos
momentos em que estive longe.
Aos colegas do NICA (Núcleo Infância, Comunicação e Arte) que, em
suas diversidades, apimentaram essa discussão. Agradecimento especial
ao Rodrigo, Lyana e Gabi, pelas boas conversas durante essa trajetória e
à Laura, por seu incentivo e confiança ao meu caminho enquanto
educadora.
Aos meus amigos da turma ECO, especialmente Gabi Falcão Klein,
sempre disposta à amizade.
À Pati, Soninha e Betânia, funcionárias do PPGE, por suas contribuições
também burocráticas.
Aos meus amigos Luanda, Deusnir e Fernanda, que foram pacientes
aguardando minha presença em nossos encontros.
À Lyvia, Manuela, Andréia, Leandro, Luiza, Jocemara, Daiana,
Kamille, Mara, pela pura amizade nos diferentes momentos da vida.
Ao Carlos, meu amigo querido que, vestido de vizinho, alimentou as
solitárias tardes com prosas e quitutes.
Aos meus amigos da capoeira, que me fazem lembrar que todo dia há
um novo aprendizado.
Agradeço especialmente aos meus dois sobrinhos, Pedro e Rosa Lina,
que dão sentido a este trabalho pelo colorido de suas diferenças.
O trabalho tem como horizonte temático a ideia de que educar crianças pequenas, dentro da família, mostra-se como uma questão complexa nos dias de hoje, o que pode ser verificado pelo crescimento de manuais e outros produtos culturais que abordam o tema: livros, revistas, artigos, sites , blogs , seriados, reality shows. O programa de televisão SuperNanny é um exemplo destes materiais que têm o objetivo de “ensinar” os pais a educar seus filhos. A presente pesquisa pretende contribuir para caracterizar o cenário social e educativo em que tal Programa alcança elevados índices de audiência, e principalmente compreender como as famílias – especificamente um grupo de mães da cidade de Florianópolis - no quadro de contextos socioculturais distintos, recebem o Programa e usam as estratégias nele ensinadas no cotidiano da educação de suas crianças. Para isso, foram realizadas e analisadas entrevistas semiestruturadas com mães que fazem ou fizeram parte da audiência do Programa SuperNanny. A pesquisa se fundamenta teórica-metodologicamente nos estudos latino-americanos de recepção, especialmente em Martín-Barbero, e em autores como Arendt, Foucault, Buckingham, e Fischer. Nessa pesquisa evidenciou-se que, frente às mudanças das instituições que se ocupavam das crianças, dentre elas a família, há uma produção discursiva sobre a crise da autoridade familiar e a crescente busca pelo mercado de especialistas. O Programa SuperNanny, ao transformar os dilemas familiares em espetáculo também através das técnicas apresentadas no Programa, serviu como uma das referências para as mães aprenderem a educar seus filhos, sugerindo que parte da audiência do Programa deve-se também à falta de interlocução no cotidiano sobre a temática da educação dos filhos e às incertezas que permeiam o cotidiano das famílias na vida contemporânea.
Palavras-Chave: Educação de Crianças, Família, Televisão, Recepção, Programa SuperNanny.
Educating young children, within the family, appears to be a complex issue today, which can be verified by the proliferation of manuals and other cultural products that address the theme: books, magazines, articles, websites, blogs, series, reality shows. The TV show SuperNanny is an example of these materials that are intended to “teach” parents how to educate their children. This research aims at contributing to characterize the social and educational scenario in which such TV show reaches high audience ratings, and especially to understand how families - specifically a group of mothers from the city of Florianópolis - within different sociocultural contexts, produce meanings from the TV show and use the strategies taught on it in the daily education of their children. Semi-structured interviews were conducted with mothers who are or have been part of the SuperNanny audience. The research is based on theoretical and methodological Latin American studies of reception, especially in MARTÍN-BARBERO, and on other authors like ARENDT, FOUCAULT, BUCKINGHAM and FISCHER. In this resear ch it became clear that, in the face of changes of the institutions that the children were engaged, among them the family, there is a discursive production on the crisis of family authority and the growing quest for experts. The Tv program SuperNanny, by turning the familiar dilemmas into a entertainment show also through the techniques presented in the program, served as one reference to the mothers learn how to educate their children, suggesting that part of the audience of the Tv Show it should also be due the lack of daily interlocution about the education of children and uncertainties that surround the daily life of contemporary families.
Keywords: Education, Children, Family, TV, reception, SuperNanny TV show.
3.3.9 “Parece que eles se mandam sozinhos, que eles não têm mãe e não têm pai” 125 3.3.10 “Tem hora de trabalhar e a hora de brincar” 134 3.3.11 “Tu és tia e és madrinha, então tu sabes que tens que educar” 138
CAPÍTULO CONSIDERAÇÕES FINAIS 141
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 149 ANEXOS 157
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Para situar o modo como a pergunta central que motivou esta pesquisa começou a tomar forma, volto alguns anos no tempo. No ano de 2003 iniciei o curso de graduação em Pedagogia na Universidade Federal de Santa Catarina. Durante a primeira metade da graduação, fui bolsista de Iniciação Científica de um núcleo de pesquisa em movimentos sociais e educação intercultural^1 , e tive a oportunidade de trabalhar junto a diversos projetos de educação popular. A seguir, tornei- me bolsista de extensão em um projeto de educação no contexto da reforma agrária (PRONERA)^2. Viajávamos frequentemente pelo interior do Estado para acompanhar as turmas e o trabalho pedagógico realizado pelos educadores. A cada visita pedagógica, uma cidade diferente, uma nova turma de educandos para conhecer e uma nova casa de assentados para pousar.
Através da aproximação com a cultura do campo, as diferenças entre o meio urbano e meio rural ficavam nítidas. Mas algo em comum me chamava atenção: a maioria das casas de assentados tinha televisão e as famílias tinham o hábito de assisti-la. Tal evidência me aproximou pela primeira vez das seguintes questões: o que pode ser tão interessante na televisão que nos faz dedicar tempo a ela? De que formas que uma novela, por exemplo, poderia influenciar os hábitos de uma família, uma comunidade? Compreender como negociamos e atribuímos significados para tais imagens e conteúdos presentes nas mídias permaneceu como pergunta e curiosidade, me remetendo ao âmbito dos estudos de recepção de mídia.
Com a minha formação na graduação, com habilitação em Orientação Educacional (concluída no segundo semestre de 2007), minha trajetória profissional tomou novos rumos: desenvolver e conhecer o trabalho na educação infantil em escolas fundamentadas na
(^1) MOVER/UFSC: Núcleo de pesquisa em movimentos sociais e educação
intercultural que identificava, em pesquisas acadêmicas, as principais questões nas relações de identidade e diferença que se desenvolvem em movimentos sociais, particularmente no âmbito das relações entre culturas étnicas, geracionais e de gênero. (^2) O Projeto Educação e Cidadania: Interação entre Sujeitos Educadores/as faz
parte do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA).
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Ao iniciar o mestrado, dei-me conta do quanto educar crianças é uma questão complexa nos dias de hoje, o que pode ser conferido diariamente nos meios de comunicação e no aumento do número de manuais de orientação que abordam o tema: livros, revistas, artigos, sites , blogs , seriados, reality shows. Em sua maioria, eles abordam temas como autoridade, disciplina e limite e ensinam métodos e técnicas para a educação de crianças. Dentre os muitos livros de aconselhamento para adultos sobre a educação de crianças que são hoje best-sellers, estão Limites sem trauma , de Tânia Zagury (2000), Quem ama, educa , de Içami Tiba (2002), Domando sua ferinha , de Cristopher Green (2003), Guia das famílias felizes , de John Irvine (2004), Pais e Professores Educando com Valores , de Cris Poli (2008), Pais Responsáveis educam juntos , também de Cris Poli (2011). Observo que estes dois últimos são de autoria da mesma pedagoga que desempenha o papel de SuperNanny na série brasileira.
No Brasil, um grande número de programas de televisão sobre a temática vêm sido transmitidos em canais abertos e fechados de televisão. No canal de televisão por assinatura GNT, entre 2011 e 2012, eram exibidos os programas SuperNanny, Mothern e Quebra-Cabeça. O canal por assinatura Discovery Home & Health apresentava o S.O.S. Babá, A domadora e Anjinhos. Nas emissoras de canal aberto de televisão eram exibidos nesse período o programa SuperNanny, produzido e exibido pelo SBT e o Troca de Família , produzido pela Rede Record.
Surgia para mim aí o indicativo de que a experiência educativa e os complexos dilemas presentes na relação entre adultos e crianças haviam se tornado, de alguma forma, um tema atraente para o telespectador, tomando forma em programas televisivos, como é o caso do Programa SuperNanny.
O Programa SuperNanny foi criado na Inglaterra, em 2004. Desde a primeira edição, foi apresentado por Joanne A. Frost e exibido no Brasil através do GNT, canal de TV por assinatura. O Programa SuperNanny tornou-se uma franquia atualmente produzida em 10 países, sendo a versão televisiva de maior popularidade de um tipo de programa destinado a ensinar aos pais formas de educar os filhos. A edição
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brasileira do Programa^4 é exibida em vinte países, ganhou o prêmio de melhor reality show em 2006 e foi indicada no mesmo ano na categoria Melhor Programa de TV no Prêmio Extra de TV. O Programa brasileiro é tido como referência nos demais países e foi um dos programas de maior Ibope na emissora, sendo que 105 famílias participaram do Programa e aproximadamente 30 mil famílias estavam inscritas^5 para participar em 2012.
Conforme descrito no website institucional da versão brasileira do Programa em 23 de outubro de 2011, sobre a apresentadora Cris Poli:
A educadora já ajudou mais de 90 famílias diretamente no programa e outras milhares através das técnicas que ensina na TV. A cada episódio, ela atende ao apelo desesperado de pais que perderam o controle na educação dos filhos. E o que Cris Poli geralmente encontra é um casal emocionalmente desestruturado, enfrentando crianças que choram demais, brigam demais e desrespeitam demais, porque no fundo gritam por limites. E é nessa hora que a SuperNanny entra em ação para colocar ordem na casa. Ela mostra como organizar uma rotina, como impor regras claras e associá-las ao cantinho da disciplina e como passar a ter atitudes simples, como brincar com seu próprio filho, transformam o ambiente de uma casa. Educar uma criança pode ser muito mais saudável e divertido do que se pensa. E se você ainda não descobriu isso, tá na hora de chamar a SuperNanny (SBT, 2011).
4 O Programa, com produção nacional, era exibido desde abril de 2006, pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), canal da TV aberta, sob a direção de Ricardo Perez. Atualmente é dirigido por Adriana Cequetti. O Programa saiu do ar em abril de 2011, pois foi vendido pela emissora Channel4 para a emissora Warner Channel, conforme a entrevista que realizamos com a apresentadora, e voltou a ser exibido em julho de 2012. (^5) Pesquisa realizada no site “O Fuxico”: (www.ofuxico.terra.com.br) e no site
do “Instituto Cris Poli para o Ensino”: (http://www.crispoli.com.br/instituto). Ultimo acesso em: julho de 2012.