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documento referente a trabalho técnico cientifico
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
Copyright © Mario Sergio Cortella, 2020 Copyright © Paulo Jebaili, 2020 Copyright © Editora Planeta do Brasil, 2020 Todos os direitos reservados. Preparação: Carmen T. S. Costa Revisão: Vivian Miwa Matsushita e Renata Mello Diagramação: Vivian Oliveira Capa: Filipa Pinto / Foresti Design Adaptação para eBook: Hondana
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) ANGÉLICA ILACQUA CRB-8/ Cortella, Mario Sergio Ainda dá!: a força da persistência / Mario Sergio Cortella, Paulo Jebaili. — São Paulo: Planeta do Brasil, 2019. 144 p. ISBN: 978-85-422-1888-
ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:
2020 Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA PLANETA DO BRASIL LTDA. Rua Bela Cintra, 986, 4o andar – Consolação São Paulo – SP – 01415- www.planetadelivros.com.br faleconosco@editoraplaneta.com.br
Não sou atleta, sou jornalista, mas o título deste livro teve origem nas quadras de tênis. A expressão “ainda dá” era proferida por Francisco Cotrim Miranda, profissional de TI, com quem comecei a jogar por volta de 2005. Ele é treze anos mais velho (ou mais idoso, como costuma ressalvar o Professor Cortella) do que eu. E, desde a primeira partida, sempre fiquei impressionado com a disposição com que o Fran (como é conhecido) chegava nas bolas. Alguns pontos que eu presumia finalizados só seriam de fato consumados dois ou três lances depois. Aos 52 anos, Francisco chegava em todas, até nas bolas mais improváveis. Quando ele me vencia, soltava o “ainda dá”. Nunca interpretei essa fala como a de alguém que tripudia o adversário. Sempre ouvi esse bordão como uma forma de o Fran celebrar superações: “ainda dá para estender os limites do corpo”, “ainda dá para encarar um adversário mais novo”, “ainda dá para sair da quadra feliz”, “ainda dá para ter satisfação nisto que me proponho a fazer”. Nos jogos sob o sol intenso do verão, eu mesmo falava “ainda dá”, ao deixar a quadra, pelo simples fato de continuar vivo. Era disso que se tratava: “ainda dá” é uma forma de celebrar a vida. No final de 2011, aos 57 anos, o Fran passou por uma cirurgia no joelho. Será que ainda daria para jogar no mesmo pique? Ele voltou ainda melhor! Certa feita, em um torneio, o Fran enfrentou um adversário e venceu bem o primeiro set. Antes do segundo, o rival soltou o seguinte comentário para justificar o mau desempenho: “Sabe como é, né? Eu já estou com 48 anos”. Detalhe: o Fran estava prestes a completar
Nessa passagem reside um ponto-chave na concepção deste livro: “ainda dá” é um modelo mental, que se reflete
numa atitude diante da vida. Enquanto um se conforma e “entrega os pontos”, o outro acredita que ainda dá. Outra inspiração surgiu em uma entrevista com a filósofa Dulce Critelli. Cheguei a ela por sugestão do Professor Cortella. Ele havia comentado que a colega Dulce desenvolvia um trabalho para executivos em vias de se aposentar, usando uma abordagem filosófica. Durante a entrevista, perguntei se havia alguma queixa recorrente desses profissionais que passam a vida imersos no mundo corporativo. Dulce foi categórica: “Todo homem chega a uma determinada altura da vida com uma dívida impagável consigo mesmo”. Aquela resposta, confesso, me atravessou: quantos sonhos e desejos arquivamos em algum canto da nossa existência para atendermos demandas do dia a dia? A frase me rondou até o momento em que resolvi voltar a estudar música. Aos 47 anos, decidi ao menos amortizar uma dívida que na juventude julguei não ter como pagar pela falta de talento. E um aspecto positivo de ficar mais velho (ops, mais idoso) é poder reavaliar certezas. A sentença de “falta de talento”, emitida mais novo, na realidade, era uma deficiência em um dos fundamentos que a música exige. Percebi que havia me imposto uma crença limitante. Agora, já em idade bem adulta, precisei de esforço para corrigir essa deficiência e de muita humildade para executar os exercícios que são o bê-á-bá da linguagem musical (muitas vezes feitos com dificuldade). Mas é disso que se trata. Não há mágica. Qualquer aperfeiçoamento requer dedicação. Errar e fazer de novo. A decisão mais importante, porém, eu já havia tomado. Não deixar a dívida comigo mesmo se acumular. Achei que ainda dava… Outro episódio que ajudou na concepção deste livro foi um encontro com o ex-jogador Zé Roberto na entrega da Bola de Prata da revista Placar , em 2012, que está descrito mais detalhadamente em um capítulo. O jogador encarnava o espírito do “ainda dá”, tanto que mais adiante continuou nos gramados por mais cinco anos, acrescentando feitos marcantes em sua carreira, encerrada aos 43 anos.
sucedido se ele aprovasse a ideia. Foi melhor que isso: “Dá um livro, sim. E esse nós vamos escrever juntos”. Trabalho com o Professor Cortella desde 2007, na condição de editor para autor. E essa experiência tem sido bem gratificante, pois é repleta de aprendizados. Um deles mostra que sonho é diferente de delírio. Então, pegando carona no exemplo que ele costuma dar, digo que, nas minhas condições atuais, não posso sonhar em ser jogador de futebol. Isso seria delírio. Mesmo assim, ao ouvir “esse nós vamos escrever juntos”, creio que compreendi o que sente um convocado para a seleção brasileira. Então, vamos nessa. Afinal de contas, ainda dá! Paulo Jebaili
crível. É o cientista que não desiste após os primeiros experimentos falharem. A sensação de “dei o melhor de mim” é uma das mais vitalizantes da experiência humana. Especialmente pela paz de espírito que proporciona. Se atinjo a minha meta, me sinto recompensado pelo esforço feito. Se não obtenho o resultado esperado, ao menos tenho consciência de que não foi por falta de empenho. Pode ser que circunstâncias tenham interferido, ou pode ser que eu não estivesse devidamente preparado – o que aperfeiçoa a reflexão sobre as minhas condições atuais e, portanto, é algo positivo. O exercício de analisar virtudes e limitações é um caminho para o autoconhecimento. E, ao buscar equacionar esses pontos fortes e fracos, abre-se um caminho para o autodesenvolvimento. Se eu não tivesse dado aquele passo a mais, provavelmente eu perderia aquela oportunidade. Se a aproveitei e consegui meu intento, ótimo. Se identifiquei a oportunidade, mas os resultados não saíram como o esperado, pelo menos eu tentei. Fiz a escolha e dei o meu máximo na minha circunstância. Não deu? Posso analisar as variáveis e tomar como aprendizado para a próxima tentativa. De todo modo, é melhor do que não ter tentado e ficar na nostalgia do “ah, se eu tivesse feito…”. Ou do que carregar a sensação de que o medo do fracasso falou mais alto que o desejo de sucesso. Afinal, a consciência da covardia de si mesmo é muito incômoda, muito dolorida. Quando você, intimamente, se sabe covarde, convive com uma perturbação. Há decisões que podem gerar frustração, mas o peso é menor do que o arrependimento de ter desistido antes mesmo de tentar. É evidente que, em qualquer tomada de decisão, deve-se considerar a possibilidade de um passo que não seja bem- sucedido ou de um resultado que fique aquém da expectativa. Ainda assim, não dar o passo é a impossibilidade de prová-lo. Toda experimentação carrega alguma dose de perigo. Não é casual que as palavras
“perigo”, “experimentar” e “perícia” tenham origem no antigo verbo latino periri. Ficar no meio do caminho é sempre desperdiçar uma possibilidade, o que leva àquela sensação da vida que acontece no futuro do pretérito, o território imaginário daquilo que não se concretizou: “eu poderia ter feito”, “eu deveria ter tentado”, “eu precisaria ter insistido”, “eu conseguiria, se…”, “eu chegaria, caso…”. Cada pessoa tem um limiar para lidar com o risco. Algumas não trocam o certo pelo duvidoso, mesmo que o certo não seja bom nem gratificante. De fato, ficar onde se está é sempre mais cômodo, mas comodidade nem sempre é indicativo de uma vida melhor. O poeta paulistano Paulo Bomfim, no livro O colecionador de minutos (Gente, 2006), escreve que “não devemos nunca nos acostumar com a vida, isso seria a morte”. Ele emprega o verbo “acostumar” no sentido de acomodar. Portanto, não se acostumar significa recusar a ideia de que as coisas são como são e não poderiam ser de outro modo. Quando a expressão “ainda dá” vem à tona, ela está muito ligada à ideia de competição. E não exclusivamente no âmbito esportivo. Eu posso estar, de fato, numa competição com o outro, mas também competindo comigo mesmo, lutando contra uma doença, contra a morte, lutando contra as crenças limitantes ou contra uma vida morna. Porém, e isto é por demais importante, em nenhum momento a ideia de “ainda dá” tem a intenção de dizer “se quiser, você alcança”, “se desejar profundo, você realiza”. Definitivamente, não é esse o espírito desta obra! “Ainda dá” é um mote para dar ânimo, alude a um estado de alma que me incline, me deixe mais propenso a procurar o meu objetivo. Não basta, contudo, eu me fiar no sonho, no desejo. Eu preciso avaliar cuidadosamente quais as condições de que disponho, em termos de estrutura, de competências, de cenário e de planejamento, entre outros fatores. O desejo é um bom ponto de partida, mas dizer “acredite no seu sonho que ainda dá” é levar para uma instância quase
engenheiro, botânico, matemático, pintor, escultor…) –, Da Vinci tinha o seu limite, estabelecido pelas circunstâncias. A imaginação é matéria-prima para toda e qualquer invenção. Tudo o que existe no mundo existiu antes na imaginação de alguém. Projetar uma realidade, portanto, faz parte do desenvolvimento humano. E isso serve também para eu projetar uma carreira, uma obra, uma formação em determinada área do conhecimento. Tão importante quanto desejar e vislumbrar é reunir as condições de tornar realidade aquilo que projeto. Isso exige capacidade de autoconhecimento. Eu preciso ter noção do que sou capaz, sobretudo para buscar informação, força, competência nos pontos em que ainda não estou capacitado para executar a ação que planejo. Eu preciso reforçar as minhas capacidades e agregar aquelas que não tenho. E o uso do termo “agregar” refere-se também à possibilidade de compor com a capacidade do outro. Dificilmente terei todos os atributos necessários ou os executarei no mesmo patamar de eficiência. O mais comum é ter alguns pontos fortes e outros em que, mesmo que os tenha aperfeiçoado, sempre haverá alguém mais desenvolto. Isso é um fenômeno que se vê cada vez com mais frequência. No mundo das ciências, por exemplo, dificilmente um prêmio Nobel tem sido dado a um único indivíduo. Notadamente nas últimas décadas, são duplas, trios ou mais os vencedores da honraria, mesmo que não tenham pesquisado juntos, como equipe. A figura do cientista solitário trancado no laboratório está mais para o século XVIII do que para os tempos atuais, em que o conhecimento está cada vez mais inter-relacionado e os saberes são multidisciplinares. No mundo do trabalho, é corriqueiro profissionais formarem parcerias, cada qual com o talento que o diferencia, para criar projetos. Acadêmicos de áreas diversas formam redes colaborativas para troca de conhecimentos. Empresas se unem, cada qual com a sua expertise, para viabilizar a entrada de um novo produto no mercado, ou para
desenvolverem uma tecnologia ou um modelo de negócio inovador. Atualmente, para dar um passo em direção ao inédito, é preciso juntar saberes e competências que uma só pessoa não tem condições de deter. Eu, como indivíduo, porém, preciso ter consciência de quais são os meus pontos fortes e quais são as minhas vulnerabilidades antes de me lançar em qualquer empreitada. Talvez não dê novamente. E faz parte do processo de autoconhecimento entender até que ponto devo avançar, retomando o vigor de uma das sentenças do escritor latino Publilio Siro (85-43 a.C.): “Em toda iniciativa, pensa bem aonde queres chegar”. Se eu me conheço, e algo não sai como o imaginado, em vez de uma frustração, tenho um aprendizado. Eu posso tentar de novo, porque, ciente das condições que se tornaram obstáculos ao meu progresso, posso enfrentá-las com maior nitidez no próximo passo.
Entusiasmo é uma força mobilizadora, mas não a única na qual devemos nos basear. O impulso inicial é importante por nos tirar da inércia, mas uma caminhada não se restringe aos primeiros passos. Muitas empreitadas tornam-se malsucedidas em decorrência de avaliações equivocadas, que podem superdimensionar os pontos fortes ou minimizar ou desconsiderar os pontos fracos – ou ainda não analisar de forma abrangente os dados de realidade. Todos os avanços, todas as conquistas, todos os grandes feitos da história da humanidade nascem da esperança de alcançar uma condição melhor do que aquela em que se está. Ter entusiasmo para buscar esse patamar superior é outro fator importante. A coragem para buscar o que se ambiciona está no cerne de todas as mudanças. Esperança, entusiasmo, coragem, todos esses elementos, no entanto, não podem ser alimentados por uma mera disposição eufórica. Nos filmes antigos sobre o Império Romano, havia as cenas de combate em alto-mar. Nas galés ficavam os remadores e havia um tripulante que, ao bater em um tambor, ditava o ritmo das remadas. Na hora da batalha, à medida que ele batia mais rápido, os remadores tinham de fazer mais força. Mas para que a embarcação ganhasse a velocidade desejada, era preciso que realmente houvesse força. Se os remadores fossem fracos, de nada adiantaria o ritmista bater mais forte. Apenas faria mais barulho, sem gerar a energia necessária. Quais são as forças de que eu realmente disponho? Essa é uma questão decisiva. O escritor gaúcho Apparício Torelly, excepcional frasista que ficou conhecido como Barão de Itararé (1895-1971), dizia: “Tem gente que é como tambor, faz muito barulho, mas é vazio por dentro”. Essa máxima nos ajuda a refletir que força de vontade não é garantia da energia. “Ah, mas eu quero muito! Tenho paixão por essa atividade.” Ótimo, então, prepare-se. Fazer o que se gosta é importante. Há pessoas que abrem mão de fazer o que gostam por motivos variados: por recompensa financeira,
por estabilidade, para agradar familiares, por status social, por conveniências, entre outros. No dia a dia, é possível ver com nitidez a diferença na entrega entre quem faz o que gosta e quem faz porque tem de fazer. Pessoas entusiasmadas são mais propensas a superar as adversidades, os contratempos, as tarefas chatas (presentes em todas as atividades) do que aquelas que cumprem burocraticamente suas funções. Pessoas entusiasmadas têm mais disposição para encontrar soluções, e os problemas tendem a ter o tamanho que realmente têm, não se apresentam como um fardo ou um obstáculo intransponível. Aqui cabe mais uma ressalva: ter paixão por algo eleva a disposição em fazê-lo, mas não significa que se tenha talento para fazê-lo em nível satisfatório. Há pessoas que adoram cantar, mas têm dificuldade de afinação. Há pessoas que amam gastronomia, mas não têm “a mão” para temperar a comida. A esperança, mesmo ativa (aquela em que se vai buscar, não a esperança da espera), não pode ser marcada pela ilusão. Diziam os gregos antigos: “Sapateiro, não passes das sandálias”. Como se alertassem: “Não tente ir além daquilo que você consegue”. Uma variação do famoso “não dê o passo maior do que as pernas”. Existem casos em que a pessoa realmente não tem aptidão para aquela atividade. Pode ser que, desde a infância, ela só tenha ouvido que tudo o que fazia era ótimo. Alimentou uma ilusão sobre si mesma e insiste em uma atividade que não desempenha bem, às vezes até gerando vergonha alheia. Mas outra interpretação possível da frase dos gregos é que o limite talvez seja temporário. Pode ser que o meu máximo, neste momento, sejam as sandálias. Mas, se eu me preparar, posso atingir um grau mais elevado, a ponto de fazer calçados mais sofisticados, com mais qualidade. Essa relação entre desejos e limites é das mais desafiadoras para se lidar. Querer é poder? Nem sempre. Há uma frase que circula muito no mundo corporativo sobre