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Este documento discute a exclusão de surdos em escolas inclusivas e a importância da comunidade surda. Ele aborda a necessidade de comunicação visual, a história e a questão linguística da estrutura da língua de sinais, a arte, a educação específica e as diferentes categorias de identidades surdas. O texto também explora a influência do poder ouvinte na construção da identidade surda e a importância de associações surdas no brasil.
Tipologia: Notas de estudo
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Introdução
Atualmente, na área da surdez, debata-se muito sobre a cultura, identidade e comunidade surda. Antes de tudo, para entendermos melhor o que é cultura, identidade e comunidade surda, precisamos primeiro nos desarmar de nossos preconceitos e olhar para o surdo não como um deficiente, mas sim como um indivíduo diferente. Afinal, se refletirmos sobre o conceito da palavra deficiência, nós perceberemos que todos, em alguma área de nossa vida, seja física, emocional, familiar, profissional e outras, temos algum tipo de deficiência e nem por isso somos rotulados de deficientes. A única diferença entre o surdo e o ouvinte é o fato de o surdo não utilizar como canal e meio de comunicação a audição, mas essa aparente e pequena diferença desencadeará uma série de fatores que veremos a seguir. Segundo Perlim 1998 “Ser surdo é pertencer a um mundo de espaço visual e não auditivo”
lugar para o sujeito plural e cultural, visto que as identidades se moldavam dentro de uma representação única. Outra concepção de identidade, em Hall (1997, p.ll) é a do sujeito sociológico. Essa pode ser considerada uma visão um pouco mais ampla, uma vez que reconhece a importância do social para a formação do indivíduo. Apesar de admitir a influência do social na vida e construção do sujeito, esta concepção não abandona a idéia de uma "essência". O indivíduo possui uma essência, seu "Eu" que pode ser modificado, lapidado pelo mundo exterior. Nessa concepção, várias justificativas são apresentadas quando a sociedade se depara com as desigualdades crescentes entre os sujeitos. Por exemplo, a exclusão dos surdos na escola inclusiva, poderia ser explicada da seguinte forma: o surdo não foi suficientemente estimulado pelo meio em que vive para conseguir disputar com o ouvinte uma situação hegemônica. Este é apenas um exemplo, que posso mencionar, entre diversos outros que se utilizam da influência do social na formação do indivíduo. A terceira concepção de identidade colocada por Hall (1997, p.13) refere-se ao sujeito pós-moderno , conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel", formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. A partir da última interpretação de Hall (1997), é possível a exploração das identidades do sujeito surdo, concebendo-as a partir de uma visão situacional. Para uma concepção do sujeito surdo como portador de identidades culturais, preciso vê-los dentro da diferença. Está na diferença, na maleabilidade das representações, as possibilidades da construção e desconstrução das identidades surdas. Trata-se de dizer que o sujeito surdo, descentrado, assume múltiplas dinâmicas e múltiplas culturas na formação de sua identidade. O desafio que se coloca é de como examinar essas identidades ou, quais relações de poder estão envolvidas na sua constituição. Os Estudos Culturais em Educação, ao analisar as conjunturas históricas e discursivas na constituição dos sujeitos, assegura a emergência da discussão das identidades surdas. Entendo que o discurso autoritário ouvinte tem prevalecido nas práticas sociais, constituindo e mantendo a identidade e a cultura surdas subalternas e subordinadas. Resgatar esse tema nos estudos culturais permite olhar o surdo não mais como corpo mutilado, ou descapacitado, mas sim, como sujeito cultural dentro de uma questão de alteridade.
1.1 O encontro com a alteridade
O encontro com os autores pós-estruturalistas possibilita encarar a identidade surda a partir de uma perspectiva política, colocando as relações de poder no centro da discussão. Para mim, este olhar inquieto é uma reviravolta. Bhabha (l 994, p.I 80) reconhece a alteridade através da cultura:
A alteridade cultural funciona como o momento da presença na teoria do différence. () destino da não satisfação se encontra preenchido pelo reco- nhecimento da alteridade C01110 U111 símbolo (e não signo) da presença da significãncia do différence. A alteridade representa o ponto de equivalência 011 identidade num currículo no qual o que necessita provar os limites é assumido. Nega-se qualquer conhecimento da alteridade cultural enquanto um signo diferencial, implicando condições especificamente históricas e discursivas solicitando uma construção de práticas e leituras diferentes.
Podemos entender, a partir de Bhabha (1994) que, o reconhecimento da alteridade sugere estratégias que permitem aproximar a dependência e a resistência culturais do sujeito surdo. Neste ponto entram aspectos específicos do surdo: a história, a questão lingüística da estrutura da língua de sinais, a necessidade de comunicação visual, () sinalizar das mãos, a arte, a educação específica. Todos estes signos / significados implicados na identidade, constituem-se como símbolos para a produção de sentido do sujeito possuidor de identidade surda. No entanto, esses significados são alternativas que aproximam o específico surdo. Um encontro com estas especificidades deixa um rastro de sentido para a pessoa surda. Essas especificidades prenunciam à pessoa surda que "ser surdo não é algo vazio", é indício de uma totalidade significativa. A surdez física não interessa aqui, pois se constitui em uma visão patológica ou medicalizante, sendo uma questão delicada e totalmente diferente do que proponho a partir dos estudos culturais: é uma questão destituída de sentido quando se trata da representação na alteridade. A surdez física está representada socialmente pelo corpo mutilado e que leva consigo a necessidade da integração, o estereótipo e a normalização. Os surdos que vivem nessas condições de subordinação parecem estar vivendo na "terra do exílio". Têm dificuldades de encarar formas vitais para contentar a todos. Este é um
Nossa presença entre ouvintes não é legal."
Ou ainda esse outro, de outra pessoa surda:
“ Um dia descobri que nunca iria falar como os ouvintes, seria mesmo impossível. Era preciso pegar o meu jeito próprio de ser surda, de ter minha comunicação visual".
Conheço casos de surdos que abandonaram os meios sociais ouvintes e foram viver com outros sujeitos surdos devido à necessidade de comunicação. As identidades surdas estão aí, e não se diluem totalmente no encontro ou na vivência em meios sócio-culturais ouvintes. Porém, essas identidades se tornam mais fortes quando isso se dá dentro dos movimentos surdos. O encontro surdo-surdo é essencial para a construção da identidade surda, é como um abrir do baú que guarda os adornos que faltam ao personagem. Esta situação de dependência do outro - igual é visível e acaba por excluir todo e qualquer sujeito que não pertence ao grupo. Vejamos, por exemplo, o caso dos deficientes auditivos, aqueles que ouvem com dificuldade e corrigem esta falha com o aparelho auricular: esses sujeitos não se enquadram na dependência da comunidade surda que faz uso da comunicação visual e não auditiva.
1.2. Categorias de Identidades Surdas
Antes de iniciar as explanações sobre as várias categorias de identidade surda, precisa-se entender o conceito de ouvintismo e sua diferença com o oralismo. Ouvintismo: ideologia dominante que trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte; percepções que legitimam as práticas terapêuticas habituais. Forma atual de continuar o colonialismo sobre os surdos. Oralismo : filosofia dominante, foi e segue sendo hoje, em boa parte do mundo, uma ideologia dominante dentro da educação do surdo. A concepção do sujeito surdo ali presente refere exclusivamente uma dimensão clínica - a surdez como deficiência, os surdos como sujeitos patológicos - numa perspectiva terapêutica. A conjunção de idéias
clínicas e terapêuticas levou em primeiro lugar a uma transformação histórica do espaço escolar e de suas discussões e enunciados em contextos médico-hospitalares para surdos. Surdo não é Deficiente, é apenas Diferente, com signos diferentes de ouvintes. Os surdos têm signos visuais enquanto os ouvintes têm signos auditivos. As pessoas surdas têm a sua comunicação visual, têm a sua própria língua, a língua de sinais permite que o surdo crie a sua linguagem interior, entender os conceitos da vida, e além disso também permite que o surdo tenha formação de linguagem e pensamento, ter orgulho de sua diferença, e além do mais é uma língua mais rica do que a falada. Infelizmente a influência do poder ouvintista prejudica a construção da identidade surda, tornando evidente que as identidades surdas assumam formas multi-facetadas em vista das fragmentações a que estão sujeitas face à presença do poder ouvintista que lhe impõe regras, inclusive, encontrando no estereótipo surdo uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito surdo. Levando em conta os fatores sociais, familiares, o poder ouvintista que determinam na construção da identidade do sujeito surdo, há categorias de identidades surdas, uma vez que existem diferenças entre os surdos:
1.2.1 Identidade Surda Flutuante
Podemos identificar uma característica própria dos surdos subordinados ao oralismo e a integração: identidades surdas flutuantes'. Suponho a existência de identidades surdas, mesmo quando ela é negada por surdos ou ouvintes que atribuem à surdez uma condição de diversidade. Há surdos que vivem sob uma ideologia latente, que trabalha para socializá-los de maneira compatível com a cultura dominante. Esta identidade é interessante porque permite entrar em contato com o surdo “colonizado”. A hegemonia imposta pela representação da identidade ouvinte faz com que o surdo se espelhe nesta representação, vivendo e se manifestando de acordo com o mundo ouvinte. Analisando as escolas de integração, vamos logo sentir que, naquele contexto, as professoras e professores ouvintes criam estratégias comunicativas por iniciativa própria para conseguir, assim, uma interação com o aluno surdo. Aí, o surdo sempre vai ter o ouvinte como o modelo de identidade. Essa é uma identidade onde o surdo nega a cultura surda e procura a cultura ouvinte. A representação da surdez neste ambiente é estereotipada (é feio ser surdo, eu sou como os ouvintes, eu falo, o surdo esconde a comunicação em LIBRAS...).
colega ouvinte deixou-a por outra. Dessa vez sentiu-se desanimada com a experiência. A colega não entende bem a fala e ela não consegue compreender bem a colega. A pessoa deficiente auditiva não tem boa voz, é muito mal articulada porque ouve mal. Ela também não conhece sinais. A sua vida parece oscilar como um pêndulo entre surdos e ouvintes, não consegue ter amigos. Rejeita os surdos e busca os ouvintes. Estes a rejeitam por ela não saber falar corretamente. Os surdos a evitam, pois ela não sabe sinais e não os aceita. É bem triste. São casos bem claros: ela fala, mas não é compreendida pelos ouvintes, tem vocabulário reduzido; ela não sinaliza perfeitamente visto que não lhe atrai as coisas dos surdos. É uma oscilação de não gostar de ir aos surdos e querer ir aos ouvintes sem ter onde fixar-se.
A hegemonia dos ouvintes exerce uma rede de poderes difícil de ser quebrada pelos surdos, que não conseguem resistir a esse poder. Na família a falta de informação sobre o surdo é total e geralmente predomina a opinião do médico, e algumas clínicas reproduzem uma ideologia contra o reconhecimento da diferença. Estes são alguns mecanismos de poder construídos pelos ouvintes sob representações clínicas da surdez, colocando o surdo entre os deficientes ou retardados mentais.
1.2.3 Identidade Surda de Transição
Estão presentes na situação dos surdos que foram mantidos sob o cativeiro da hegemônica representação da identidade ouvinte e que passam para a comunidade surda. Transição é o termo usado para nomear o momento de encontro e passagem do mundo ouvinte, com representação da identidade ouvinte, para o mundo da identidade surda. Se a aquisição da cultura surda não se dá na infância, normalmente a maioria dos surdos precisa passar por este momento de transição, visto que grande parte deles são filhos de pais ouvintes. No momento em que esses surdos conseguem contato com a comunidade surda, a situação muda e eles passam pela des-ouvintização, ou seja, rejeição da representação da identidade ouvinte. Embora passando por essa des-ouvintização, os surdos ficam com seqüelas da representação, o que fica evidenciado em sua identidade em reconstrução. Aqui podemos vislumbrar uma passagem da comunicação visual/oral para a comunicação visual sinalizada
diferentes discursos presentes no grupo, começam a ser questionadas e rearticuladas neste ambiente. As múltiplas posições e representações dos sujeitos surdos permitem estabelecer o transitório de novas identidades surdas, fundamentadas nas diferenças.
Conclusão
A formação de identidades surdas precisa ocorrer naquilo que chamamos de espaço de transição, ou seja, entre os espaços culturais surdos. As identidades surdas bem como as identidades culturais - são estruturas descentralizadas. Elas se estruturam no deslocamento das origens e têm articulação com práticas e prioridades culturais diferentes. Admitir que o surdo possa apenas ter uma representação de identidade, a identidade ouvinte, é quebrar a viabilidade flexível do "tomar-se", é fixar-se num sistema de significação fechado, recusando-se a manter uma área de significação flexível, ou seja, a negociação da representação. A alteridade deve estar presente para favorecer novas iniciativas inclusive a iniciativa política da surdez. A possibilidade final de construção de identidade de fronteira pode dar-se após a construção da identidade original. Essa possibilidade quebra a narrativa colonial. O surdo naturalmente pode tomar-se um sujeito expressivo para projetar seu ser no mundo. Ele tem uma diferença e esta diferença enfrenta o mundo do medo capital dominante, ou seja, o cenário hegemônico. Esse medo capital é o que tanto a classe acadêmica quanto a ali vista devem abandonar. A identidade surda é incômoda na sociedade, mesmo assim ela precisa ser assumida. Ela é um passo para assegurar a subjetividade da cidadania e esvaziar o individualismo agressivo da exclusão. Ela deve mover-se para além de uma mera celebração representativa da identidade ouvinte em seus moldes agrilhoados.
2. Comunidade Surda
Para Padden, Comunidade é:
“[...]um sistema social geral, no qual pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras [...]Uma comunidade é um grupo de pessoas que mora em uma localização particular, compartilha as metas comuns de seus membros e, de vários modos, trabalha para alcançar estas metas ”.
2.1 Início das Organizações Surdas
O ano de 1834 pode ser dito como uma grande época de início das organizações surdas. Nos banquetes que as comunidades surdas realizavam na época, falavam muito do "povo surdo" e da "nação surda", enquanto a expressão "comunidade surda" teve origem mais recente. O elo que distingue a comunidade surda de outras comunidades e faz com que a comunidade surda determine a marcação simbólica de sua diferença, não pela nacionalidade, classe, raça, etnia, mas pela cultura.
Para o movimento surdo, contam as instâncias que afirmam a busca do direito do indivíduo surdo em ser diferente em questões sociais, políticas e econômicas que envolvem o mundo do trabalho, da saúde, da educação, do bem-estar social (PERLIN, 1998)
Isso é bastante comum entre os grupos minoritários. E a tendência a buscar aspectos simbólicos que possibilitem a diferenciação como uma das discussões centrais entre o essencialismo e o não-essencialismo. Essencialismo: pode fundamentar suas afirmações tanto na história quanto na biologia; por exemplo, certos movimentos políticos podem buscar alguma certeza na afirmação da identidade apelando seja à verdade fixa de um passado partilhado, seja ás verdades biológicas. O corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem nós somos, servindo de fundamento para a identidade.
avassaladora, as idéias do oralismo, cujo resultado final culminou com o controle dessa associação pelos ouvintes. Em 16 de maio de 1953, uma outra associação denominada "Associação Alvorada de Surdos" surgiu no Rio de Janeiro. Era uma organização especial para um grupo de surdos oralizados da classe alta, da qual os surdos pobres e sinalizantes não podiam participar. A presidente dessa associação era a Sra. Ivete Vasconcelos, famosa professora ouvinte e adepta do oralismo, entretanto ela, bem mais tarde, aderiu às idéias da comunicação total e também aos ideais de Gallaudet, porém, com a sua morte, assumiu a presidência dessa associação o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier que, por quase dezoito anos, esteve à sua frente. Essa associação mantém suas atividades até hoje, mas a grande diferença dos movimentos iniciados pelos surdos no Brasil está nas Associações de Surdos fundadas pelas lideranças surdas, que inauguraram um novo capítulo nas relações políticas entre surdos e ouvintes. Em 1950, na cidade de São Paulo, alguns surdos que tinham liderança e ex- alunos do INES, costumavam encontrar-se para um bate-papo na praça da Matriz ou em alguma rua-ponto, independentemente de sua classe social. Essa prática teve sua origem com os alunos do INES, que se reuniam para conversar quando saíam das aulas. Tal comportamento se justificava principalmente pela possibilidade de trocarem informações na sua própria língua, sem o controle dos ouvintes e, também, pelo prazer de estarem juntos. Sempre que um surdo tinha tempo disponível, ele procurava se reunir com outros surdos em algum ponto de encontro. Naquele período, também existiam as atividades de esporte, porém elas eram realizadas em conjunto com ouvintes devido à dificuldade que tinham para encontrar espaços para praticarem esportes entre si. Esses grupos, apesar de se reunirem permanentemente para um bom "bate-papo", não tinham idéia da existência das Associações de Surdos. Essa reunião de surdos nas ruas de São Paulo não está distante da historia dos surdos de todas as capitais e cidades brasileiras. Quase todas as Associações de Surdos, nos dias de hoje, têm o início de sua história nas reuniões em algum ponto de encontro, tanto nas ruas quanto nas praças. São raras as Associações de Surdos que iniciaram suas atividades na casa de surdos ou de algum ouvinte. O início da Associação de Surdos de São Paulo deu-se devido a uma viagem de passeio a Buenos Aires realizada por um surdo (Armando Melloni) que participava de um desses grupos de encontro em Campinas/SP. Nessa viagem, ele conheceu surdos da Argentina
que participavam de uma Associação (Associocion dos Sordosmudos Ayuda Mutua, primeira associação fundada da América Latina, originada nas comunidades surdas da França) que funcionava naquela capital argentina. Convidado a conhecê-la, constatou que os surdos tinham um espaço próprio para a associação. No retorno de sua viagem, esse surdo de Campinas relatou a sua experiência para os grupos de surdos que se encontravam nas ruas. Ao mesmo tempo em que ficaram admirados com a notícia, também tomaram a iniciativa de fazer contato com a diretoria dessa Associação, trazendo para o Brasil a sua forma de ver a organização dos surdos. Assim, os surdos de São Paulo fundaram a primeira Associação realmente de surdos no Brasil. Ao ser fundada, em 19 de março de 1954, a Associação de Surdos de São Paulo passou a ter como meta criar novas associações, nos mesmos moldes, em outros Estados do país. Dessa forma, em janeiro de 1955, foi fundada a Associação dos Surdos do Rio de Janeiro e, em 30 de abril de 1956, a Associação dos Surdos de Minas Gerais. Engajado nesse novo projeto de construção de Associações de surdos pelo Brasil afora, estava o professor Francisco de Lima Júnior, de Santa Catarina que, a exemplo dos outros surdos, fundou, em 1955, o Círculo dos Surdos em Florianópolis, além de colaborar com Salomão Watnick na fundação da Associação dos Surdos de Porto Alegre. Segundo o surdo Dellatore, "as Associações de Surdos, além de funcionarem como ponto para encontro esportivo dos surdos, funcionavam também como divulgadoras da língua de sinais e como identificadoras da capacidade do surdo como cidadão", apud FENEIS,2002. A Comunidade Surda Brasileira comemora, 26 de setembro, o Dia Nacional do Surdo, data em que são relembradas as lutas históricas vividas por melhores condições de vida, trabalho, educação, saúde, dignidade e cidadania, bem como pelo pleno reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e da cultura surda em todas as instâncias sociais. Esse dia é sugerida devido ao fato desta data lembrar a inauguração da primeira escola para Surdos no país em 1857, com o nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, atual INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos.
3. Cultura Surda
3.1 Definição de Cultura
É através da cultura que uma comunidade se constitui, integra e identifica as pessoas e é justamente isto que nós estudaremos neste capítulo, como o surdo se constitui através de sua cultura. Tylor (1871 apud FERREIRA, 2003, p.10) define cultura “...como sendo todo comportamento apreendido que independe de uma transmissão genética”, ou seja, a cultura sofre influências do meio. A lingüista surda Padden (1989 apud FELIPE, 2001, p.38) determinou diferenças entre cultura e comunidade. Para ela:
“uma cultura é um conjunto de comportamentos aprendidos de um grupo de pessoas que possui sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições [...] A cultura surda é mais fechada que a Comunidade Surda. Membros de uma cultura surda se comportam como as pessoas Surdas, usam a língua das pessoas de sua comunidade e compartilham das crenças das pessoas Surdas entre si e com outras pessoas que não são surdas”.
Cultura Surda
Com o passar do tempo, nos grupos humanos, forma-se um conjunto de pessoas, resultante das experiências de seus membros e todas postas em comum. Ao conjunto das imposições de conviver de um grupo é chamado "Cultura". Numa visão antropológica, é um conjunto sobredeterminado de valores, através dos quais um grupo de sujeitos, mesmo que mantidas diferenças individuais, pratica um mesmo modo de refletir sobre si mesmo e sobre o universo, podendo, assim, viver junto, partilhando crenças e costumes comuns. É aprendida socialmente. Ao longo dos séculos, os surdos foram formando uma cultura própria centrada principalmente em sua forma sinalizada de comunicação, com modelo cultural diferente dos ouvintes. Entende-se cultura surda como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define enquanto grupo diferente de outros grupos.