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E, ao abordar a teoria de Jung, é comum que os autores iniciem conceituando dois aspectos básicos que compõem a psique: sombra e persona. Estes dois pontos ...
Tipologia: Slides
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Marcos Bráulio de Souza Caxias do Sul, 2020
Trabalho apresentado como requisito parcial para Conclusão do Curso de Graduação em Psicologia sob a orientação da Profa. Dra. Tânia Maria Cemin. Marcos Bráulio de Souza Caxias do Sul, 20 20
Tabela 1. Descrição das Cenas e Categorias de Análise ...................................................... 29
O presente trabalho tem por objetivo identificar possíveis implicações psíquicas do não reconhecimento da sombra e persona no processo de individuação de um sujeito, tendo como base a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. Para tal estudo, foi usada tanto a referência do próprio autor da teoria como de seus seguidores, facilitando a leitura e entendimento desta vasta teoria acerca dos assuntos propostos. Como método, realizou-se uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e interpretativo, utilizando-se, ainda, do artefato cultural cinematográfico Coringa, produzido pela Warner Bros Pictures e dirigido por Todd Phillips, em 2019, nos Estados Unidos. Para a apresentação das informações a serem analisadas, a escolha foi pela organização de tabelas, na qual constam as categorias, definidas após assistir ao filme por diversas vezes, usando-se do referencial de análise de conteúdo de Laville e Dionne (1999). As quatro categorias foram definidas como: contextualização, não reconhecimento da sombra, identificação com a persona e sombra maligna. A primeira categoria apresenta uma consideração acerca do personagem, retratando sua vida e alguns aspectos importantes para entender seu funcionamento. A segunda categoria, não reconhecimento da sombra, demonstra algumas situações nas quais o personagem deixa de reconhecer sua parte mais negativa, projetando sobre o outro alguns aspectos que deveria integrar como seus. A terceira categoria, identificação com a persona, discorre sobre os momentos em que o personagem adere de maneira não saudável à sua persona, impedindo desenvolvimentos psíquicos importantes para seu crescimento. Na última categoria analisada, a sombra maligna, é analisada a assimilação excessiva com seu lado negativo, sem uma integração adequada, preconizando a sobreposição da consciência pela sombra. Portanto, com a leitura destes pontos foi possível discutir e esclarecer um pouco mais acerca do funcionamento da sombra e da persona em um indivíduo que não fez de sua individuação um processo consciente, e, portanto, sadio. Palavras chave: psicologia junguiana, sombra, persona, individuação
Jung apresenta de maneira constante em sua obra o aspecto da dualidade paradoxal dos conceitos, agrupando-os em duplas e opondo um ao outro, em uma trama de possibilidades que se desvela no sujeito, sendo o desenvolvimento psíquico, o fruto da resolução das díades. Isto dá um tom de confronto, sobretudo com seu interior, não buscando a cisão, mas o entendimento e a integração, tão necessários ao ser humano (Gewehr, 2019). Também deve se levar em conta a experiência de Jung com pacientes psicóticos, até então pouco avaliados pela psicanálise de Freud, dando ao psiquiatra austríaco a oportunidade de aprofundar seus estudos desta patologia. A psicologia analítica sempre esteve presente com pacientes desta ordem, trazendo àquele que deseja adentrar em seus conceitos, uma gama de possibilidades de atuação com este viés (Pinto, 2007). Ainda pode-se destacar a abordagem de formação de personalidade da psicologia de Jung. Ele retrata a personalidade do indivíduo como um todo desde o princípio, dada já desde o nascimento, sendo essencial o desenvolvimento de todos os seus pontos a fim de que não fique fracionada, favorecendo o surgimento de sistemas autônomos e conflitantes entre si (Hall & Nordby, 200 5 ). Apesar de complexa, a teoria deve ser abordada de maneira simples, voltada a buscar em si mesmo a individualidade criativa, necessária na atuação clínica que, apesar das diferentes abordagens, é, em última análise, o milagroso toque em outra alma viva (Jung, 2013a). Utilizando-se desta abordagem, busca-se, a fim de melhor compreender o funcionamento psíquico humano, entender quais as possíveis implicações psíquicas do não reconhecimento da sombra e persona no processo de individuação de um sujeito.
2.1 Objetivo Geral Identificar possíveis implicações psíquicas do não reconhecimento da sombra e persona no processo de individuação de um sujeito. 2.2 Objetivos Específicos
dando ao leitor a clareza da dimensão da busca pelo equilíbrio através das paradoxais perspectivas de ser humano desta linha teórica (Gewehr, 2019). No mito, Psiquê é uma jovem muito diferente de suas irmãs. Filha de um rei e uma rainha, Psiquê tinha uma beleza diferente, incomum, de maneira que “tinha tal perfeição que, para celebrá-la com um elogio conveniente, era pobre demais a língua humana” (Apuleio, 1995 , p.73). Sua beleza era tanta que era, frequentemente, confundida com Afrodite, a deusa do amor, da beleza e da sexualidade. Esta confusão desperta o ciúme de Afrodite, que envia seu filho Eros para vingá-la, e fazer com que Psiquê “seja possuída de ardente amor pelo derradeiro dos homens, um homem que a Fortuna tenha amaldiçoado em sua classe, seu patrimônio, sua própria pessoa; tão abjeto, em uma palavra que, no mundo inteiro, não se encontre miséria que à sua se compare” (Apuleio, 1995 , p. 73). Contudo, ao se aproximar de Psiquê, Eros encontra uma jovem tão bela, que nenhum homem se atreve a pedir sua mão. Ao vê-la chorando por não encontrar o amor, Eros desiste de fazer o ordenado por sua mãe, mas ao contrário, aproxima-se de Psiquê como um amante, convidando a viver em seu castelo, onde terá tudo o que quiser, desde que não veja seu rosto. A história se desenrola de modo a fazer com que Psiquê, incitada pela inveja de suas irmãs, olhe o rosto de seu amado no momento em que este está dormindo. Por esta traição, Psiquê é condenada à morte e Eros, para salvá-la, recorre novamente à sua mãe. Esta, lhe dá a chance de sobreviver e ficar com seu filho: executar quatro tarefas impossíveis aos seres humanos (López-Pedraza, 2010). No conto, Psiquê as realiza, todos com a ajuda dos outros seres e deuses, que percebem seu sofrimento e impossibilidade. Estas tarefas, não só trazem o fortalecimento para Psiquê, como a levam, ao final de sua jornada, à imortalidade, onde pode permanecer com Eros, o amor. Aqui nota-se o verdadeiro desfecho psicológico do mito: a alma encontra seus sofrimentos e impossibilidades, e deve fazer o impossível e buscar por trás de cada tarefa o seu significado (López-Pedraza, 2010). Saindo do mito e voltando à teoria de Jung, se pode construir a ideia de que a busca do significado é sumariamente importante. Tal é a importância que a psicologia analítica dá para isto que a definição neurose, é o sofrimento de uma alma que não encontrou o significado (Jung, 2012 ). Assim como os trabalhos de Psiquê, a psique deve empenhar-se na busca de seus significados, executando as impossíveis tarefas, pois não é por pensar em luz que o indivíduo se torna luminoso, mas por tomar consciência da escuridão, o que é desagradável e impopular, uma obra não natural (Jung, 2013c). A questão da mitologia na psicologia junguiana é apenas uma das facetas desta teoria. Jung ainda se baseia na etnologia (ciência que estuda fatos e documentos buscando
paridade entre culturas e civilizações), estudo comparado das religiões e alquimia, buscando estas fontes a partir da necessidade de fundamentar melhor suas concepções, baseando-se na historicidade de cada uma destas pela busca do que chamou de individuação. Ele entendeu que todas estas teorias anteriores que estavam fora do campo de uma psicologia formal, muito mais antigas do que seus estudos sobre a psique, já carregavam em si uma forma de psicologia, ou seja, uma maneira que o homem sempre encontrou de dar vazão às suas necessidades de autoconhecimento (Santos, 1976). A individuação pode ser definida como uma imposição da evolução individual, um processo de tornar-se si mesmo o mais completamente possível, tanto quanto o indivíduo for capaz, dentro dos limites impostos por sua vida, com duas possibilidades de fim: enfrentado os problemas decorrentes deste processo ou ficando presos a estes. Assim sendo, a individuação constitui “ao mesmo tempo a meta e o processo” (Hollis, 1995, p. 136). A individuação psíquica é comparada, por Stein (2006), com o desenvolvimento físico. Assim como o ser humano nasce como um bebê, alcança sua maturidade corpórea aos vinte e tantos anos e inicia seu processo de diminuição de metabolismo aos trinta e poucos, assim também é o funcionamento psíquico. Conforme o indivíduo trata o corpo, estas fases podem ser entendidas, bem como no caso da psique humana. Para a perspectiva junguiana, um conjunto de imagens arquetípicas, que dão formas para as atitudes, condutas e motivações psicológicas, fornecem a sólida base de apoio para cada momento da vida e da individuação. Estas imagens arquetípicas são como instintos, sempre ligados ao corpo, mas advindos de um inconsciente coletivo. Em seus estudos, Jung percebe grande semelhança entre símbolos, rituais, atuações, etc, em tribos que não tinham tido nenhum contato entre si, nem entre seus membros, nem em seus antepassados. Ao investigar este fenômeno, desenvolve o conceito de inconsciente coletivo, uma instância psíquica compartilhada por todos os seres humanos, mas experimentado de maneira individual, em que permanecem os resquícios herdados, preexistentes, em relação à consciência. Estes fragmentos não foram esquecidos, suprimidos ou reprimidos, pois nunca estiveram na consciência (Santos, 1976). As imagens arquetípicas, ou seja, os arquétipos, são os elementos constituintes deste inconsciente coletivo, são as possibilidades que o indivíduo dispõe de reagir de certa maneira diante de cada uma das situações da vida, e são traduzidos em formas de sonhos e fantasias. Por este motivo os mitos refletem de maneira específica a psique humana, pois estão repletos dessas formas, vazias, com a qual cada um irá preencher com suas próprias questões, influenciadas pela educação e criação, “ligando-se” a um arquétipo mais do que a outro (Santos, 1976).
sombra forem integrados à personalidade, esta pessoa será muito diferente do indivíduo comum, mas, em mantendo-se inconsciente, é projetada no outro (Stein, 2006). James Hollis, um dos expoentes escritores da psicologia junguiana, relata que a psique humana não é algo singular ou unificado, como quer acreditar o ego, mas sim diversa, múltipla e, principalmente, dividida. Estas divisões, contidas de energia fractal, tem a capacidade de agir independentemente da ação consciente, podendo, inclusive, subjugar a consciência, usurpando da liberdade e tomando suas próprias diretrizes. Uma destas partes é chamada de Sombra. Apesar de haver um certo alinhamento dentro da psique, de maneira que estas partes não avancem sobre a consciência de forma abrupta, quanto mais inconsciente uma pessoa está de suas questões negadas, mais risco corre de perder, ainda que momentaneamente, sua autonomia. (Hollis, 2010). Segundo Hollis, existem quatro formas categóricas por meio das quais a sombra se manifesta na vida: a) quando permanece inconsciente, mas ativa; b) quando é renegada, mas projetada nos outros; c) quando usurpa da consciência ao tomar posse do ego; e, d) quando amplia a consciência por meio do autorreconhecimento, diálogo e assimilação de seu conteúdo. De todas, apenas esta última é saudável (Hollis, 2010). Contudo, não se pode pensar que a sombra seja apenas material negativo, ou mau em si mesmo. Qualquer coisa que não se aceita em si próprio, ou não é aceito pelos pais ou criadores, podem acabar na sombra. Hollis cita seu próprio exemplo, em que sua mãe, dada sua vida pregressa, entendia que se expor à opinião dos outros é algo ruim, e que não deve ser feito. Quanto menos for vista, melhor. Assim, ensinou seu filho a não aparecer, nunca mostrar-se, mas sim esconder-se. Desta maneira, o autor cresce, obtendo profundo conhecimento sobre o assunto, mas sem conseguir publicar nada. Sua sombra não era má, mas uma defesa contra seu, aparentemente perigoso e nocivo, eu (Hollis, 2010). Whitmont, relata uma definição peculiar de sombra, de tal maneira que pode ser exemplificada: Imaginemos um motorista que, sem perceber, usa óculos com lentes vermelhas. Ele teria dificuldades para distinguir entre as luzes vermelha, amarela e verde dos semáforos e correria perigo constante de sofrer um acidente. De nada lhe adiantaria que algumas, ou mesmo que todas as luzes que ele percebe como vermelhas fossem realmente vermelhas. O perigo, para ele, está na sua incapacidade de diferenciar e separar o que a sua “projeção vermelha” lhe impõe, Quando ocorre uma projeção de sombra, não somos capazes de diferenciar entre a realidade da outra pessoa e nossos próprios complexos. Não conseguimos distinguir entre fato e fantasia. Não
conseguimos ver onde começamos e onde o outro termina. Não conseguimos ver o outro; nem a nós mesmos. (Whitmont, 2016 , p. 37). A sombra, contudo, não representa o todo do inconsciente, mas uma parte, a que não quer, ou não pode, ser vista. Ao ser atacada, em forma de uma correção, por exemplo, revela no indivíduo algo que não é reconhecido, podendo gerar raiva ou indignação. Porém, quando esta é apresentada através de material onírico, sonhos, costuma gerar mais um silêncio embaraçoso, sendo apresentada, geralmente, como alguém do mesmo sexo. No sonho, o indivíduo pode ser aquele “que não é”, com a possibilidade de trazer à tona os valores necessários à consciência, mas que existem sob uma forma que torna difícil sua integração à vida do sujeito. De certa maneira, a sombra é como um outro com a qual se deve relacionar, às vezes cedendo e outras resistindo, mas se tornará hostil quando ignorada ou mal compreendida (Von-Franz, 2016 ). Ainda em relação aos sonhos, e também vistos em incontáveis materiais literários e cinematográficos, a sombra está sempre relacionada ao vilão e ao mal. A cor negra está também intimamente ligada com a sombra nos conteúdos oníricos, podendo aparecer como a representação de tudo aquilo que se está tentando evitar: um malfeitor, uma doença, um ser que cause medo e evitação (Barreto, 2017). 3 .2.2 Persona O nome persona , escolhido por Jung, vem do termo romano que designa as máscaras que um ator usa durante o espetáculo. A persona é uma construção feita a partir de uma mistura de questões pessoais e sociais, adotada para um fim específico. Esta pode ser consciente em maior ou menor grau (Stein, 2006). Jung considera que esta máscara aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é única, quando não passa de um papel, proveniente em grande parte da psique coletiva. Ela tem aspectos da realidade interna, de modo que o ego pode se identificar com a persona de modo exclusivo, mas, em última análise, não é real, pois representa mais o compromisso entre o indivíduo e a sociedade do que da verdadeira individualidade (Jung, 2008 ). Uma persona, ainda que necessária, quanto mais usada de maneira inconsciente, mais reforçada se torna, levando o sujeito a crer que é a máscara que usa, tornando-se dependente desta na definição de sua identidade e senso de realidade, podendo vincular a isto seu sentimento de valor pessoal e de afinidade ao grupo ao qual pertence ou quer pertencer (Stein, 2006).
determinar, em grande parte, a saúde psicológica de um sujeito, indicando em qual grau este integrou sua sombra. Se por um lado sua integração pode significar um problema moral, por outro lhe trará uma experiência mais completa e transformativa de vida. Em oposição, rechaçar a sombra, traz uma vida mais correta, mas terrivelmente incompleta, rasa em termos de abrangência psíquica. Nisto consiste o dilema, sobre o qual o ser humano deveria despender mais energia em “resolver” (Stein, 2006). Jung, relata sobre o trabalho psicológico com a sombra: Estamos convencidos de que certas pessoas possuem todos os defeitos que não encontramos em nós mesmos, ou de que se entregam a todos os vícios que naturalmente nunca seriam os nossos. Devemos ter o máximo cuidado para não projetar despudoradamente nossa própria sombra, pois ainda hoje nos encontramos como que inundados de ilusões projetadas. Se quisermos imaginar uma pessoa bastante corajosa para se desvencilhar de todas essas projeções, devemos pensar, em primeiro lugar, num indivíduo que tenha consciência de possuir uma sombra considerável. Tal homem sobrecarregou-se de novos problemas e conflitos. Converteu-se numa séria tarefa para si mesmo, porque já não pode mais dizer que são os outros que fazem tal ou tal coisa, nem que são eles os culpados e que é preciso combatê-los. Vive na "casa do autoconhecimento", da concentração interior. Seja qual for a coisa que ande mal no mundo, este homem sabe que o mesmo acontece dentro dele, e se aprender a arranjar-se com a própria sombra, já terá feito alguma coisa pelo mundo. Terá conseguido dar resposta pelo menos a uma parte ínfima dos enormes problemas que se colocam no presente, boa parte dos quais apresenta tantas dificuldades pelo fato de se acharem como que envenenados por projeções recíprocas. E como poderá ver claramente, quem não se vê a si mesmo, nem às obscuridades que inconscientemente impregnam todas as suas ações? (Jung, 2012 , pp. 105). Uma das maneiras de iniciar a integração entre sombra e persona é avaliar com clareza e honestidade os feedbacks que se recebe. Conforme ocorre o amadurecimento, mais habilidade desenvolve-se em discernir os padrões, ou melhor, a repetição de certos padrões, fazendo o sujeito conseguir identificar melhor seus pontos inconscientes. Sempre em forma de fragmentos, sonhos, palavras do outro, pequenos fatos percebidos, pode-se, caso se esteja alerta ao recado, perceber aí uma possibilidade de integração. Este movimento requer coragem e responsabilidade (Hollis, 2010).
Sombra e persona, assim como os outros complexos, sempre ambivalentes entre seus pares, estão em constante conflito, visto que são opostos. Este conflito é mediado por uma terceira parte, o ego. Desta maneira, conteúdos inconscientes da sombra, mas necessários, e conteúdos socialmente aceitos, por vezes também inconscientes, devem ser integrados, em uma nova forma. Não simplesmente um pedaço deste e um daquele, nem tampouco um simples acordo entre as partes, mas uma amálgama, um novo símbolo, com algo de ambos, que irá gerar uma nova atitude por parte do ego, uma nova relação com o mundo. Sem um ego apto a reconhecer ambas as partes, este desenvolvimento não será possível (Stein, 2006). Esta integração pode, em alguns casos, ser impossível, caso o conteúdo da sombra seja muito extremo e distante do mínimo necessário à aceitação social. Para estes casos, a medicina psicotrópica é a única saída possível, funcionando como um amortecedor que irá inibir certas fontes de energia. Em outros casos, o ego é instável ou fraco demais para moderar a impulsividade (Stein, 2006). 3 .3 Perspectivas Patológicas 3.3.1 Perspectiva Junguiana Acerca da Patologia Jung, apesar de sua formação médica, entende que os médicos não se ocupavam do doente mental enquanto um ser humano, mas, geralmente, em função de sua doença, desconsiderando a individualidade de cada um, não desempenhando papel algum a psicologia do doente mental, questionando-se acerca do que se passava no espírito destes pacientes (Jung 2016). Segundo Jung (citado por Bizarria, Tassigny, Oliveira & Jesuíno, 2013), os estudos de Freud acerca da histeria e dos sonhos foram de contribuição ímpar para a introdução da questão da psicologia na psiquiatria. Em sua tese de doutorado, Jung pesquisa sobre a cisão das ideias causadas pela esquizofrenia, penetrando na psicologia dos doentes através do teste de associação de palavras. Com isto, Jung demonstrou que mesmo em distúrbios severos como este havia a possibilidade de entender os sintomas, primeiramente de aparência desconexa, desde que se levasse em conta alguns aspectos como sonhos e visões dos próprios pacientes, escapando do determinismo (Silveira, 1981). Em sua teoria, Jung utiliza-se, de maneira proposital, de linguagem de escopo vasto, podendo dar uma impressão de duplo sentido, preferindo termos abertos em detrimento daqueles de único sentido, definindo, contudo, com precisão os termos por ele empregados.
incompatibilidade entre estes complexos (sendo sombra e persona dois exemplos destes) e a consciência do ego. Por serem inconscientes, os complexos acabam encontrando meios indiretos para se apresentarem, podendo ser de menor grau, os neuróticos, e em maior grau, os psicóticos (Bizarria et al., 2013). A psicose divide-se em duas instâncias: uma é a paranóia, normalmente uma mania de perseguição, em que o ego fragmenta-se, como uma duplicação da personalidade, mas onde os “eus” ainda relacionam-se entre si; e outra a esquizofrenia, em que o eu sofre tal fragmentação que passam a coexistir certa variedade de sujeitos, de funcionamento autônomo, uma dissociação (Jung, 2013b). Jung (2013b), defende que na neurose há uma preservação da unidade potencial da personalidade, e que no caso mais grave de psicose, a esquizofrenia, os complexos se separam de tal forma que não se reintegram, ainda que inconscientes (sua característica inata), à unidade psíquica, apresentando-se de maneira desconexa e inesperada, em que a dissociação é, geralmente, irreversível, esfacelando a totalidade do indivíduo. Dentro desta abordagem, a psique fica como um espelho partido, em que cada pedaço constituirá uma personalidade individual, sendo o ego apenas mais uma destas (Bizarria et al., 2013). Assim, as figuras cindidas possuem nomes e características banais, grotescas, caricaturais, e, em muitos aspectos, contestáveis. Além, disso, não colaboram com a consciência do paciente. [...] intrometem-se e perturbam o tempo inteiro, atormentando o eu de inúmeras maneiras. [...] Trata-se visivelmente de um caso de visões, vozes e tipos desconexos, todos de natureza violenta, estranha e incompreensível (Jung, 2013b, pp. 263- 264 ). Contudo, nem sempre será um ego ou um consciente fraco que será a causa do ponto de ruptura da psique. O mais comum é um fortalecimento excessivo do inconsciente com a presença da doença, sendo esta causa e, ao mesmo tempo, consequência. Por este motivo, a psicologia junguiana não trata diretamente de uma doença, com nome de algum manual, mas da psicologia geral do sujeito, levando em conta seu material patológico (Bizarria et al., 2013). Desta maneira, também não se procura, nesta abordagem, uma cura, já que nem o diagnóstico exato resolveria em definitivo a condição do sujeito, mas o entendimento do sujeito, servindo o terapeuta como uma orientação na tentativa de que este se compreenda (Bizarria et al., 2013). Assim, o objetivo de uma psicoterapia baseada na psicologia analítica não é tanto a exploração dos sentimentos infantis, mas o aprendizado gradual, empenhado de muito esforço, na aceitação de seus próprios limites, carregando o peso do sofrimento
pelo resto da vida. O trabalho psicológico não liberta o paciente da sua grave causa ou desconforto, mas ensina-o a se tornar adulto, enfrentando ativamente a sensação de estar sozinho com sua dor. É, ainda, um exame do sofrimento e a descoberta da densa trama de correspondência entre os eventos externos e internos que constituem cada vida (Hollis, 1999). 3 .3.2 Projeção da Sombra A sombra não é diretamente experimentada pelo ego, mas é, por ser inconsciente, projetada nos outros. Quando o indivíduo se sente profundamente irritado com um comportamento oposto ao seu, egoísmo, por exemplo, esta reação é, usualmente, um sinal de que está sendo projetado um elemento inconsciente de sua sombra (Stein, 2006). Para o entendimento do funcionamento da projeção da sombra nos termos junguianos, pode-se utilizar o mesmo conceito definido por Freud sobre a projeção do inconsciente. Pode-se caracterizar como projeção o ato em que uma percepção interna é reprimida, aparecendo posteriormente na consciência através da ação do outro, dando a percepção de ter vinda do exterior (Pinto, 2014). Contudo, para que haja a projeção, deve haver no outro um elemento real que dê esta impressão, o que ajuda a misturar percepção e projeção. Tal efeito, em uma pessoa psicologicamente incauta ou excessivamente defensiva, fará com que esta se prenda na percepção obtida, excluindo a possibilidade de ganho psicológico, que poderia ser o reconhecimento desta parte em si, promovendo a integração da sombra. Em seu lugar, o ego, usando-se dos mecanismos de defesa, poderá adotar uma posição farisaica, de satisfação com sua própria humildade (usando o exemplo de egoísmo), colocando-se no papel de vítima ou de observador, sendo apenas o outro o monstro cruel (Stein, 2006). Quando a sombra é projetada no outro de maneira totalmente inconsciente, o sujeito perde a possibilidade de reconhecê-la como sua, e, portanto, perde a possibilidade do desenvolvimento psicológico, ou seja, do reconhecimento do seu lado menos positivo. A projeção, contudo, seria uma importante forma de dar-se conta, mesmo a partir do outro, de suas próprias trevas, sendo mais comum que a projeção da sombra, especificamente, ocorra em pessoas do mesmo sexo (Santos, 1976). Ainda, aquele que ignora completamente sua sombra, e que em sua consciência não passa nem um pequeno lume de que possua um lado mau, projeta na totalidade sua sombra. Neste caso, a sombra do indivíduo se voltará contra ele, pois aquilo que o indivíduo não faz aflorar à consciência, aparece em sua vida como ‘destino’ (Jung, citado em Zweig &