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A Presença da Televisão no Cotidiano Social: História e Impacto na Sociedade Brasileira, Notas de estudo de Relações Públicas

Este texto apresenta aspectos históricos sobre as relações entre as transmissões televisivas e nossa vida social, abordando os múltiplos significados alcançados pela influência da televisão na formação da nossa identidade cultural e capacidade comunicativa. O artigo reflete sobre as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais no brasil e o papel da televisão nessas mudanças. A história da televisão no país é discutida, desde sua primeira transmissão em 1950 até a consolidação na década de 60 e a mudança radical na relação entre a televisão e os receptores na década de 80.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Wanderlei
Wanderlei 🇧🇷

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Sobre a Televisão
– reflexões históricas
Cenários da
Comunicação
Carlos Bauer
Mestre e Doutor em História da Economia - USP; Professor de
Comunicação Social na UNIABC e UNINOVE
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Sobre a Televisão

– reflexões históricas

Cenários da Comunicação

Carlos Bauer Mestre e Doutor em História da Economia - USP; Professor de Comunicação Social na UNIABC e UNINOVE

‘Ser, dizia, Berkeley, é ser percebido’. Para alguns de nossos filósofos (e de nossos escritores), ser é ser percebido na televisão, isto é definitivamente, ser percebido pelos jornalistas, ser, como se diz, bem-visto pelos jornalistas (o que implica muitos compromissos e comprometimentos) – e é bem verdade que, não podendo se fiar muito em sua obra para existir com continuidade, eles não têm outro recurso senão aparecer tão freqüentemente quanto possível no vídeo, escrever, portanto, a intervalos regulares, etão breves quanto possível, obras que, como observa Gilles Deleuze, têm por função principal assegurar-lhes convites na televisão. Foi assim que a tela de televisão se tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica. (Pierre Bourdieu)

Apresentamos, neste breve artigo, alguns aspectos históricos sobre as relações das transmissões televisivas e nosso cotidiano social. Trata-se de uma excelente oportunidade de refletirmos sobre os múltiplos significados alcançados pela inegável influência da televisão na formação de nossa identidade cultural e capacidade comunicativa, o que vem dando repercussão a estes temas tanto nos ambientes acadêmicos, quanto, principalmente, nos meios de comunicação de massa. Ainda mais quando temos a oportunidade de concordar com diferentes teóricos da comunicação, quando dizem, invariavelmente, que a comunicação expressa relações e trocas simbólicas ao nível pessoal, grupal e da sociedade como um todo. No que diz respeito às áreas acadêmicas que gravitam em torno da Comunicação Social – cursos de Publicidade e Propaganda, Rádio e TV, Cinema, Relações Públicas – esta Cenários daComunicação temática é considerada de extrema importância. Afinal, são

medida em que as cidades não estavam em condições de receber milhares de novos habitantes. Profundas transformações culturais aconteceram e continuam acontecendo desde então em nosso país. A chamada classe média ampliou-se e empobreceu - médicos, advogados, dentistas, jornalistas, artistas, arquitetos, engenheiros e professores incorporaram-se à massa dos trabalhadores assalariados, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife. Criaram-se redes escolares e de saúde pública, infra-estrutura moderna de comunicação e serviços, uma atividade bancária e financeira ativa; a vida política dinamizou-se e uma impressionante série de novos hábitos culturais se estabeleceram. Com o surgimento de produtos de material plástico, refrigeradores, aparelhos elétricos e enlatados, tem início o consumo de massa. O rádio, que experimenta uma audiência crescente a partir dos anos 40, e a televisão, inaugurada em 1950, estimularam a formação de uma nova mentalidade. Principalmente, por meio da televisão, a propaganda começa a se transformar na alma do negócio. Assim, num cenário de profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais que se operavam no Brasil, a primeira transmissão televisiva ocorreu no dia 18 de setembro de 1950, com a inauguração da emissora PRF-3, Tupi (que alguns pesquisadores preferem chamar de Canal 3 de São Paulo), que ironicamente representou um dos últimos remanescentes do império de comunicação erguido por Assis Chateaubriand, amplamente dominante no setor nas décadas de 40 e 50. A televisão causou um formidável impacto ao levar Cenários daComunicação novelas, histórias, noticiários, filmes, jornadas esportivas,

debates políticos, teatro e música ao vivo para dentro das casas de milhões de telespectadores. Podemos dizer que se operou uma revolução no comportamento cotidiano do brasileiro, principalmente o das grandes cidades, pois, no início, só nelas é que havia transmissão. Marcou época, nos primórdios da televisão brasileira, a apresentação do Sítio do Pica-pau Amarelo , inspirado na obra homônima do renomado e polêmico Monteiro Lobato. Esse programa foi extremamente popular, reeditando o sucesso dos livros do escritor entre 1930 e 1940. No momento exato de sua implantação, a televisão iria atingir um público recém-chegado dos ambientes rurais e formá-lo dentro dos padrões urbano-industriais modernos. Tratava-se de uma socialização profundamente nova, em termos de Brasil, e que mudou radicalmente a imagem que o país tinha de si mesmo. Numa perspectiva histórica, podemos dizer que a década de 60 marcou a consolidação da televisão no país como um meio de comunicação destinado a atingir os mais diversos segmentos da população brasileira. Segundo os apontamentos e observações feitas pelo professor Ciro Marcondes Filho (1994), da ECA-USP, essa fase vai prolongar- se até a década de 1970, em que especialmente a Rede Globo de Televisão assume a liderança absoluta e inquestionável da audiência. Principal beneficiária da introdução de um sofisticado sistema de produção e distribuição, da ampliação dos meios de reprodução de seus sinais pelo país inteiro e de uma filosofia nitidamente empresarial, caracterizada pela introdução de princípios de rentabilidade e eficiência até então desconhecidos, pode-se dizer que, conforme nos explica Marcondes Filho, a linguagem da televisão nasce aqui e, agora sim, a televisão amadurece: deixa de ser um meio de

Cenários da Comunicação

desdobramentos da chamada Guerra Fria. É interessante notar que, no Brasil, nesse momento, as forças políticas oposicionistas voltavam-se contra o monopólio da televisão, levantando reivindicações democráticas como a concessão de canais de comunicação a outras entidades sociais, grupos de pressão ou associações de classe. Em plena vigência da ditadura militar, tratava-se de identificar que a bandeira de democratização dos usos da comunicação, por si só, provocaria um equilíbrio democrático na sociedade. A partir da década de 80, assistimos a uma mudança extraordinária na relação que a televisão passou a ter com os receptores e à transformação do próprio sentido da televisão para a sociedade em geral. Nessa fase – chamada de segunda por Ciro Marcondes Filho – desapareceram os juízos que haviam sido feitos a partir da implantação da televisão, ao mesmo tempo em que esta, como meio de comunicação, impunha-se de forma plena e absoluta. Em sua nova fase, a televisão se coloca na posição de domínio total do mercado de informações, modificando a relação com seu público, assim como a maneira de produzir seus programas. A nova época é marcada pela fragmentação, dispersão e atomização do controle do sistema televisivo. Esse fenômeno aconteceu inicialmente na Europa e na América do Norte, pela utilização dos novos sistemas eletrônicos e de sua aplicação na televisão, e chega ao Brasil tardiamente no fim dos anos 80. Agora temos, na verdade, a utilização de sofisticados sistemas eletrônicos que possibilitam a existência de múltiplos emissores de comunicação, de múltiplas mensagens e o fim daquilo que servia de base á época anterior – o monopólio em torno de um único transmissor.

Cenários da Comunicação

O que marca, entretanto, excepcionalmente esta segunda fase da televisão é o fato de mudar-se totalmente o sentido de seu uso. Na opinião do professor Ciro Marcondes Filho (1994:32), isso quer dizer que:

na primeira fase, a televisão era caracterizada como um meio de comunicação que permitia que as pessoas vissem o mundo através da tela. Usava-se a metáfora da ‘janela’: a televisão era uma janela aberta para o mundo. Através desse tipo de janela eletrônica, eu poderia ver as coisas que estavam acontecendo ma minha cidade, no meu país, no mundo ou no universo porque ela permitia-me chegar lá, ela atravessa muros, prédios, cidades, continentes e mostrava-me o outro lado. Por isso ela era 'transparente'. A televisão era um meio de eu chegar em outros lugares e vê-los. Ela era precisa e pontual em termos de fatos que estavam acontecendo no mundo, mais rápida que o jornal e mais completa que o rádio. A diferença, nesta segunda fase – e isso é uma mudança radical – e é que a transparência da televisão desaparece. Ela torna-se opaca.

E o que significa isso? O próprio Marcondes Filho (id.ib.) nos responde:

significa que aquela janela que possibilitava ver os mundos lá fora, de repente, é como que Cenários daComunicação encoberta e, a partir disso, surge em seu lugar

aparelhos receptores instalados no mundo), de acordo com dados publicados pela revista Mercado Global, da Superintendência Comercial da Rede Globo. Hoje, existem, ao todo, 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) no país e 2624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). Isso sem contar as dezenas de operadoras de canais por assinatura. Recentemente, verificou-se uma impressionante disseminação de transmissão de sinais televisivos por cabo ou por meio de satélites sofisticadíssimos. Trata-se do fenômeno das TVs pagas e por assinatura, que ampliou, como nunca antes imaginado, o acesso do telespectador a todo e qualquer tipo de tema ou assunto desejado. Tudo indica que, em breve, tanto as empresas televisivas convencionais (TV aberta) quanto as por assinatura estarão trabalhando diretamente com os mais sofisticados provedores da Internet, tornando, assim, a influência da televisão no meio social bem maior do que já é. Evidentemente, a televisão exerce poderosa influência em todo o processo de nossa formação cultural. Reflete, recria e difunde o que se tornará socialmente importante, seja os acontecimentos rotineiros (processo de informação), seja o processo de formação do imaginário. A TV é a grande contadora de histórias, principalmente por meio das telenovelas, que preenchem o cotidiano das pessoas, na maioria dos casos, de forma mais rica, densa e emocionante do que a própria vida. Sobre está temática, Ciro Marcondes Filho (1994:08) observa que

assistir à televisão é um hábito ligado a fatos muito antigos na história das sociedades Cenários daComunicação humanas. Tem a ver com a experiência do

homem de olhar objetos, cenas, a natureza e buscar por meio disso algum tipo de resposta, satisfação, distração, conhecimento. Hoje, é a televisão que funciona em primeiro lugar para dar estas respostas ao homem que diante dela se senta. Mas outrora eram outros os meios que possibilitavam esse tipo de informação.

Por isso, falar de televisão remete a que se fale antes de outra coisa, bem mais antiga que ela, que é a própria imagem, a forma de o homem representar as coisas que deseja por intermédio de símbolos, sinais, traços, marcas e toda uma série de elementos visuais. Desde que aprendeu a caminhar, o homem baseia-se na visão para assegurar-se de seu meio ambiente e decidir a direção a tomar. Os outros sentidos informam-lhe sobre o ambiente, ao redor, mas é a visão, de qualquer maneira, o sentido mais preciso para sua orientação, como nos esclarece Marcondes Filho (1994:08):

as imagens, quando construções mentais, fazem uma espécie de contraponto À prática de vida. São uns tipos de porta para outra dimensão, a dos sonhos, dos desejos, das fantasias. É uma dimensão que não está diretamente presente na vida das pessoas mas tem a ver com suas idéias e aspirações. É tão ou mais importante que a dimensão do dia-a-dia, já que enquanto essa vivência concreta do trabalho, do contato com outras pessoas, do lazer, das férias, da escola está marcada pelo agir regular, repetitivo, continuado, portanto mecânico de vida, a

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influenciar os desígnios de uma sociedade, algo que está longe de se esgotar. Segundo o ponto de vista de Bucci (1998:21),

a televisão é muito mais do que um aglomerado de produtos descartáveis destinados ao entretenimento da massa. No Brasil, ela consiste num sistema complexo que fornece o código pelo qual os brasileiros se reconhecem brasileiros. Ela domina o espaço público (ou a esfera pública) de tal forma que, sem ela, ou sem a representação que ela propõe do país, torna-se quase impraticável a comunicação – e quase impossível o entendimento nacional.

Tais questionamentos apresentam-se a todos nós, principalmente quando temos, diante de nossos próprios olhos, um veículo que constitui um verdadeiro estúdio cinematográfico, que produz telenovelas, telejornais, esporte, humor, discussões políticas, enfim, uma série de programas especialmente programados para a televisão que, tenham ou não acontecido de fato, influenciam a opinião pública. Isso posto, podemos dizer que a televisão transmite a si mesma, transmite seus estúdios, seus operadores de imagens, deixa que o telespectador veja o que é um estúdio, um cenário, um conjunto de técnicos que está lá para produzir mundos espetaculares. A própria realidade transforma-se num espetáculo e a sua presença traz, a cada dia, mudanças sem precedentes e sem exemplos na história da cultura. Importante dizer que estas transformações trazem a prática da descontinuidade que domina nossa inteligência, dando a impressão de que os acontecimentos surgem sem passado e sem futuro.

Cenários da Comunicação

Na televisão atual se produz o espetáculo, não existe verdade. Este componente ético, fundamental para a construção de qualquer experiência social, desapareceu. A televisão significa, cada vez mais, uma fábrica de narrativas ficcionais. A ficção está tão presente na realidade dos telespectadores, de forma absoluta e imperiosa, que em sua compreensão de mundo não existe mais a diferenciação clássica entre ficção e realidade, mas a dualidade entre dois planos das fantasias forjadas pelo próprio veículo de comunicação e pelos ‘acontecimentos’ à sua disposição; uma televisão, que olha para si mesma, que fala o tempo todo de si mesma, que apresenta e representa a si mesma como se fosse o próprio universo. Utilizando-se da expressão de Pierre Bourdieu (1997), trata-se de uma televisão narcísica. Na contemporaneidade, desaparece o conceito de transparência televisiva e a televisão caracteriza- se, cada vez mais, como uma indústria de fantasias. Preocupante, não? Diante de tudo isso, devemos pensar a televisão como um dos instrumentos mais importantes para a crítica da cultura no Brasil de hoje, atentando para a necessidade de uma avaliação crítica e rigorosa dos múltiplos significados e possibilidades de sua influência. Acompanhados do raciocínio crítico de um Bourdieu, esperamos que nossas reflexões sobre a televisão possam contribuir para prover de ferramentas ou armas todos aqueles que, como profissionais da imagem, lutam para que aquilo que poderia ter-se tornado um extraordinário instrumento de democracia direta não se converta em instrumento de opressão simbólica. Cenários daComunicação

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