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Uma análise da literatura brasileira e, especificamente, dos romances de jorge amado, com ênfase na década de 1930 e na cidade de salvador. O autor discute a representação da região do sertão e da luta pela sobrevivência dos sertanejos, além da migração para escapar da seca. O texto também aborda a importância de jorge amado na literatura mundial e sua influência na construção de uma bahia como um microcosmo do brasil.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Anne Micheline Souza Gama Universidade Federal De Campina Grande - UFCG; Universidade de São Paulo – USP/ annegama@yahoo.com.br Resumo: Atualmente no fazer historiográfico situa-se uma nova proposta teórico-metodológica, a saber, as articulações do saber histórico com diversas linguagens. Dentre essas articulações denominadas “leituras cruzadas”, a literatura tem suscitado grande interesse no trabalho do historiador. Temos desenvolvido pesquisas em torno de obras de Jorge Amado, especificamente aos romances da década de 1930 e em torno da Cidade de Salvador a qual o mesmo dedicou grande parte da sua ficção. Todavia, a trajetória do escritor é riquíssima, sobretudo na sua primeira fase que vai do País do Carnaval (1931) até a trilogia Subterrâneos da Liberdade (1954), fase esta norteada por forte denúncia social.. Neste artigo temos por fonte o romance Seara Vermelha (1946), obra amadiana na qual é narrada a saga de uma família camponesa expulsa do latifúndio no início da década de 1930. Partimos do aporte teórico da História Cultural - Chartier (1990) e Pesavento (2006) - apresentando as representações literárias do espaço histórico e geograficamente conhecido como Sertão. O romance é perpassado por representações verossimilhantes de vivências de alguns nordestinos moradores da região semiárida que amiúde, recorrem ao êxodo rural em busca de melhores condições de sobrevivência no Sudeste. Esse artigo é um primeiro ensaio para estudos da região semiárida a partir de representações literárias. Palavras-chave: Jorge Amado; Sertão; Representações. Introdução O vento arrastou as nuvens, a chuva cessou e sob o céu novamente limpo crianças começaram a brincar. As aves de criação saíram dos seus refúgios e voltaram a ciscar no capim molhado. Um cheiro de terra, poderoso, invadia tudo, entrava pelas casas, subia pelo ar. Pingos de água brilhavam sobre folhas verdes das árvores e dos mandiocais. E uma silenciosa tranquilidade se estendeu sobre a fazenda – as árvores, os animais e os homens. (AMADO, 2009, p.13) Petricor é a palavra para designar o aroma da chuva ao cair no solo seco. Palavra diferente, sofisticada, pouco conhecida e pronunciada. Mas, certamente muitos viventes se saboreiam com esse aroma. Muitos desses são os sertanejos que padecem À espera de chuva em meio a seca e aridez que assolam corpos e mentes. A representação em prosa do Petricor da citação acima é o inicio do romance Seara Vermelha (1946) de autoria de Jorge Amado. Obra na qual é narrada a saga de uma família camponesa expulsa do latifúndio no início da década de 1930, traçando
histórias de pessoas comuns, gentes simples como Jucundina, Jerônimo, Jão Zefa, Tonho, Noca, Ernesto, Neném, Agostinho e Gertrudes, entre outros personagens^1 que percorrem os tortuosos caminhos da penumbra: sob o sol escaldante do sertão pairam a fome, a seca das cacimbas e das plantações, a morte das criações e dos próprios seres humanos. Assim, Jorge Amado dar visibilidade a uma região brasileira tão negligenciada: o Sertão. Igualmente alarga os horizontes da problemática da Seca e o consequente êxodo rural: “O romance ultrapassada as fronteiras baianas e se volta para questões de maior amplitude no quadro político e social do Nordeste.” (DUARTE, 1996, p.167). Mais um romance amadiano com forte denúncia social e com caráter de testemunho histórico por assim dizer, que desnuda os vários poderes que dominam uma região e sua população. Uma crítica aos problemas de diversas naturezas – políticos, econômicos, sociais, entre outros – vivenciados no Brasil. Jorge Amado e suas nuances regionalistas Jorge Amado, ao lado de escritores como Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, estaria inserido na chamada “Geração de 1930”, ou Segunda Geração Modernista, que pode ser considerada uma ruptura com a Semana de Arte Moderna de 1922 e da literatura modernista da Geração anterior. A necessidade de superar os primeiros modernistas em tempos de tensões ideológicas e beligerantes: em nível mundial vivenciávamos a Segunda Guerra; e nacionalmente, o recrudescimento do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937 e 1945).^2 Um contexto pessimista que transpassou a Literatura dos anos 30 que, além disso, cresce a necessidade de um maior envolvimento social. Nesse ínterim, a região Nordeste, que surti como um novo cenário em nossa literatura, região outrora negligenciada.^3 Os romancistas da década de 1930 seguiram uma linhagem narrativa pautada no realismo social, numa espécie de recusa ao estatuto ficcional e uma preocupação do escritor com a verossimilhança dos relatos com bases numa realidade possível. Sem dúvida, Jorge amado foi um dos mais populares escritores brasileiros na forma de escrita sobre o seu povo. Igualmente um dos escritores de mais notoriedade e receptividade de sua produção no cenário internacional.^4 Popularidade que nem sempre foi bem quista nos meios (^1) Conforme Paulo Tavares em compilação O Baiano Jorge Amado e sua obra (1980), o romance Seara Vermelha “envolve 164 personagens, dentre as quais 58 anonimas” (TAVARES, 1980, p.80) (^2) Geração de 1930. Extraído de < http://portugues.uol.com.br/literatura/geracao-1930.html>. Consulta em: 01/09/2017. (^3) Vale salientar que a chamada Geração de 1930 ficou conhecida também por Regionalista, retratando não apenas o nordeste, mas é exemplo a obra de Érico Veríssimo e ambientação dos pampas gaúchos. (^4) Marly Tooge afirma que podemos considerar Jorge Amado como um grande bestseller mundial, “cuja vendagem concorreu com a de Garcia Marquez, o mais famoso autor do boom^4 da literatura latino-americana”, possuindo ao final
ficção resultam da soma de figura que se impuseram ao autor, que fazem parte de sua experiência vital.” (AMADO, 1982, pp. 71-72). Jorge Amado, filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria, com apenas dez meses, viu seu pai ser ferido numa tocaia dentro de sua própria fazenda, cena que escritor inicia o livro O menino grapiúna : “De tanto ouvir minha mãe contar a cena se tornou viva e real como se eu houvesse guardado memória do acontecido: a égua tombando morta, meu pai lavado de sangue, erguendo-me do chão” (AMADO, 1982, pg. 11). Uma metáfora de renascido do sangue, Amado vai tecendo novas histórias, a começar uma para si mesmo. Apesar de um homem oriundo da elite cacaueira escreveu sobre o povo, a grande massa dos cidadãos mais simples e explorada. Como afirma Cardoso O conteúdo social presente em seus textos traduz-se em enredos que se desenvolvem a partir de personagens que atuam na sociedade, mas não uma sociedade como resultado de uma fotografia ou de uma reprodução e sim a sociedade como estudo e como problema. Por meio dos personagens e de suas relações sociais e econômicas, ele mergulha no âmago do contexto social, resultando numa apreensão de revolta derivada dos elementos negativos que se encontravam na essência desse contexto. (CARDOSO, 2006, p. 153) Vale ressaltar que Jorge Amado não se restringiu ao Recôncavo baiano e à cidade de Salvador como cenário de seus romances. É um Brasil multicor. E assim é apontado pela jornalista Alice Raillard em entrevista feita com Jorge Amado: “Há uma coloração diferente em sua obra. Para mim, há dois livros que têm uma coloração especial. Mar Morto e Seara Vermelha ” (RAILLARD, 1990, p. 162). E Amado afirma ser uma verdade, sobretudo no tocante ao território de Seara Vermelha que é o Sertão: “É o único caso em que eu uso o território do sertão da Bahia como a terra do meu livro. Não é nem a cidade da Bahia; nem são as terras do cacau. É um livro de grande intenção política, começando pelo título, tirado de um verso de Castro Alves.”^8 (RAILLARD, 1990, p. 163). Mais um cenário é pintado através da escrita de Jorge Amado em tom rubescente do sol escaldante do sertão e do suor derramado na luta pela sobrevivência. Representações literárias do Sertão: a Seara Vermelha amadiana Utilizamos como enfoque a História Cultural, precisamente os conceitos de práticas e representações de Chartier: tomamos o livro Seara Vermelha enquanto uma prática cultural na qual (^8) A referência são aos versos verso do poeta dos escravos, Castro Alves: “Cai, orvalho do sangre do escravo/ Cai, orvalho na face do algoz./ Cresce, cresce, seara vermelha,/ Cresce, cresce, vingança feroz”. Disponível em <http://www.vermelho.org.br/noticia/142271- 1 >. Acesso: 01/09/
são apresentadas representações do Sertão, a luta pela sobrevivência dos sertanejos e a consequente migração para fugir da seca que assola além das turbulentas relações sociais. O grande desafio do historiador cultural é decifrar/ler os “códigos de um outro tempo” e seus respectivos filtros, intentando alcançar “sensibilidades” de um passado que só se torna possível acessar através de registros, de fontes e a “fonte é a representação do passado, meio para o historiador chegar às representações construídas pelos homens pelo passado” (PESAVENTO, 2006, p. 42), o que no leva a entender que o que sabemos sobre a realidade do passado vem ao historiador enquanto representação: “A história Cultural se torna, assim, uma representação que resgata representações, que se incubem de construir uma representação sobre o já representado.” (PESAVENTO, 2006, p.43). Nesse contexto, sobre o uso da literatura na História Cultural, Pesavento afirma que a mesma é uma fonte especial ao resgatar representações, podendo fornecer algo a mais que outras fontes como “os valores que guiavam seus passos, quais os preconceitos, medos e sonhos. Ela dá a ver sensibilidades, perfis, valores. Ela representa o real, ela é fonte privilegiada para a leitura do imaginário.” (PESAVENTO, 2006, p. 82). Ou ainda utilizando-se do argumento da expectativa do “vir-a-ser”, segundo Nicolau Sevcenko, a literatura pode falar ao historiador sobre a história que não ocorreu como os planos que não vingaram ou testemunho dos homens vencidos podendo-se, portanto, pensar numa história dos desejos não consumados, dos possíveis não realizados, das ideias não consumidas (SEVCENKO, 2003, pp. 30-31). Desse modo, concebemos a obra Seara Vermelha como representações de um mundo vivido e experenciado por Jorge Amado transformado em escrita perpassada forte crítica diante da realidade e anseio por dias melhores. Em resumo Jorge Amado narra a saga – vida e morte – dos retirantes nordestinos representados pela família de Jerônimo e Juncundina. Narra detalhadamente como esta família tinha que trabalhar como meeiros numa fazenda sendo subjugados a trabalhar incansavelmente para os donos da terra. Com a venda da fazenda, os então colonos são dispensados e a família que protagoniza o romance decide ir para São Paulo, na busca de melhores condições de vida. Um caminho árduo, compassado pela sede, fome e fim inevitável a morte. Um texto que se constrói por etapas: Inicia com o Prólogo – “A Seara” onde há rápidos momentos de felicidade com a chuva e um casamento, mas logo a tristeza da família de Jerônimo sendo expulsa da terra e peregrinando nos “Caminhos da fome” que é o título do “Livro Primeiro” e daí prossegue-se
E o mal previsto por Zefa começava a se concretizar. Veio uma notícia através do correio em volumosa carta que Artur começa a ler e Felícia se alarma com as feições do esposo: “ – Vendeu a fazenda... – Vendeu? – E diz que é pra despachar todos os colonos. Liquidar as contas de todo, até de Bastião, e mandar embora antes do novo dono chegar” (AMADO, 2009, p. 47). Vidas sofridas se tornariam mais castigadas ao não terem mais um lugar no mundo, a saída era tentar a sorte noutro lugar, e aos montes “descem em busca de São Paulo” nos “caminhos da fome” desbravando a caatinga e a diversidade da fauna e da flora: Agreste e inóspita estende-se a caatinga. Os arbustos ralos elevam-se por léguas e léguas no sertão seco e bravio, como um deserto de espinhos. Cobras e lagartos arrastam-se por entre as pedras, sob o sol escaldante do meio-dia. São lagartos enormes, parecem sobrados do principio do mundo, (...) como esculturas primitivas. São as cobras mais venenosas, a cascavel e a jararacuçu, a jararaca e a coral. Silvam ao bulir dos galhos, ao saltar dos lagartos, ao calor do sol. Os espinhos se cruzam na caatinga, é o intransponível deserto, o coração inviolável do Nordeste, a seca, o espinho e o veneno, a carência de tudo, do mais rudimentar caminho, de qualquer árvore de boa sombra e de sugosa fruta. Apenas as umburanas se levantam (...) No mais são palmatórias, as favelas, os mandacarus, os columbis, as quixabas, os croás, os xiquexiques, as coroas-de-padre, em meio a cuja rispidez surge, como uma visão de toda beleza, a flor de uma orquídea. Um emaranhado de espinhos, impossível de transpor. Por léguas e léguas, através de todo Nordeste, o deserto da caatinga. Impossível de varar, sem estradas, sem caminhos, sem picadas, sem comida e sem água, sem sombra e sem regatos. A caatinga nordestina. (AMADO, 2009, p. 53). Assim é representada a caatinga nordestina, um espaço a desbravar e abrir caminhos em busca de sonhos e movidos pela esperança. Os colonos espalhados na caatinga tinha como rumo o sul, principalmente a almejada São Paulo, ora acreditando nas histórias de trabalhadores que conseguiram algum sucesso e desconsiderando outras histórias dos que foram, mas retornaram ainda mais pobres. Corações em desespero, “rostos de indefinida cor” vão-se em milhares pela caatinga “na viagem de espantos. Durante meses atravessam a caatinga. Os cadáveres vão ficando pelos caminhos improvisados (...) Água só lá embaixo, onde termina a miséria da caatinga e começa a miséria do rio São Francisco”. (AMADO, 2009, p. 55). Com poucos provimentos, a comida fracionada, não podim agregar ninguém de fora, estavam incapazes de ter qualquer piedade. O coração secava como o Sertão. Sob o sol escaldante, com pouca água e sem comida suficiente, a morte tornara-se algo comum e inevitável. Ao ver o sofrimento de Noca, neta de Jerônimo e Jucundina, a família esperava desejosa que o mesmo “fechasse os olhos e deixasse de sofrer” (AMADO, 2009, p. 80). Com poucos dias falece a criança, mais uma alma que se perde na viagem. “Só tiveram o resto da noite para chorar e rezar por ela. Velaram o pequeno cadáver numa
sentinela entremeada de conversas tristes (...) de terras tomadas, de lutas com coronéis poderosos, de crianças morrendo, de doenças e remédios do mato” (AMADO, 2009, p. 85). E nessas desventuras no caminho da desesperança, “rasgando a caatinga”, muita coisa ia se perdendo em meio a tanto sofrimento. Ia se perdendo também toda noção do tempo da viagem. “Estavam magros e rotos, quando partiram pareciam camponeses pobres, agora se assemelhavam a bandidos ou mendigos, os cabelos caindo pelas orelhas, as barbas enormes” (AMADO, 2009, pp. 88-89). Em Juazeiro embarcarem num navio pelo rio São Francisco rumo à Pirapora. Lá acomodarem-se numa fazenda de café, todavia da família só restaram quatro: Jerônimo, Jucundina, João Pedro e o menino Tonho. Alguns pereceram, outros se desviaram do grupo. A jornada ainda não acabara. "As estradas da esperança", segundo livro do romance, há deslocamento narrativo para os três filhos adultos de Jerônimo e Jucundina que haviam partido da fazenda nordestina, antes da dolorosa jornada dos pais: José, João e Juvêncio. O primogênito João, apelidado Jão, abandonara o campo inserir-se na Força Policial do Estado, e a posteriori, vemos o mesmo na tropa enviada ao sertão com a empreitada de acabar com o acampamento do beato Estêvão, que em meio a fartura de miséria, apresentava-se como salvação em meio à falta de qualquer esperança. No seu discurso usando da cólera de Deus, vinham pelo sertão “o número aumentando sempre, sertanejos que deixaram o trabalho, como ele recomendava, para se penitenciarem, doentes de todas as doenças também que chegavam em busca de saúde que o beato distribuía com sua bênção” (AMADO, 2009, p. 240). Clara representação da luta de classes, embate entre a miséria e a riqueza, que marca a ideologia da escrita amadiana. Ironicamente o segundo filho do casal, o José afamado Zé Trevoada, abandonara o lar paterno por não ver futuro na lida da terra e se fizera cangaceiro no bando de Lucas Arvoredo, justo o grupo que agiu em defesa do beato Estêvão quando este se viu encurralado pela força policial. A força pública cercou o acampamento dos fanáticos penitentes. “A noite era escura, sem lua, mas os olhos de Zé Trovoada sabiam enxergar no negrume da noite. Via as pernas do soldado marchando. Não sabia que era seu irmão, Jão (...) Zé trovoada levanta o fuzil, no clarão do tiro Jão viu seu rosto. Era seu irmão José” (AMADO, 2009, p. 267). João foi mortalmente atingido, mas “no momento mesmo de morrer Jão compreendeu que José era o falado Zé Trovoada (...) Zé trovoada gritava seus gritos de guerra, Jão morrera sorrindo” (AMADO, 2009, p. 268). Foram decapitados o beato e o Lucas Arvoredo, Zé trovoada escapara pela caatinga. Vemos na história dos dois irmãos referências históricas como a comparação de Zé trovoada ao Virgulino Ferreira Lampião (2009, p.269) e o
Eis que por fim, sob pressão dos acontecimentos nacionais e internacionais veio a anistia e o partido alcançara a legalidade. Agora Juvêncio era homem livre e voltara à militância. “Tonho, ingressara no Partido Comunista para lutar contra o sofrimento e a fome” (AMADO, 2009, p. 337). E alguns meses depois, o camarada Vitor, então Secretário Nacional de Organização do Partido veio ao encontro de Juvêncio e relata sua estada pelo interior de São Paulo. Veio entusiasmado com os camponeses “conscientes e capazes” e se dirigiu à Juvêncio “ – E um deles é teu sobrinho... O menino vai longe... Tome cuidado, senão ele lhe passa a perna...”. Mais um comunista na família, mais um líder. E Juvêncio certo dia partiu para a caatinga pelo mesmo caminho seguido pela família. “Os brotos de dor e de revolta cresciam naquela será vermelha de sangue e fome, era chegado o tempo da colheita” (AMADO, 2009, p. 340). A colheita era a esperança de um futuro melhor para os sertanejos. Conclusões Constatamos que a literatura serve como fonte e Jorge Amado, através de Seara Vermelha , traz representações do semiárido nordestino que compeliu o exodo de muitos retirantes para o Sudeste. O enredo da obra que versa sobre a saga de uma família de onze retirantes, expulsos das terras onde moravam, seguem rumo a São Paulo numa viagem de muita dor, atravessando a caatinga assolados por inúmeras aflições como a fome e morte. E tristemente dos onze retirantes, apenas quatro conseguiram chegar ao destino almejado. Mesmo tomando a distância temporal, atualmente a seca ainda é uma realidade que assola muitos brasileiros, de mesmo modo à migração para Sudeste é uma saída para melhorar de vida. De fato um nó na garganta dos leitores que esperam um final feliz como os clássicos contos de fada. Não obstante, a realidade cruel aqui representada só nos deixa uma esperança de que o futuro poderá ser melhor. Referências: AMADO, Jorge. Seara vermelha. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. _____________. O menino Grapiúna. Rio de Janeiro: Record, 1982. CARDOSO, João Batista. Literatura do cacau : ficção, ideologia e realidade em Adonias Filho, Euclides Neto, James Amado e Jorge Amado. Ilhéus: Editus, 2006. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
DUARTE, Eduardo de Assis. Jorge Amado: romance em tempo de utopia. Rio de Janeiro: Record,
GAMA, Anne Micheline Souza. Capitães de Salvador : As representações do urbano e das relações sociais na obra Capitães da Areia de Jorge Amado. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Campina Grande. Campina Grande, p. 137, 2015. Geração de 1930. Disponível em http://portugues.uol.com.br/literatura/geracao-1930.html Acesso em: 01/09/ PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. (História & Reflexões). RAILLARD, Alice. Conversando com Jorge Amado. Rio de Janeiro: Record, 1990. Seara Vermelha , romance de luta e transbordante esperança. Disponível em http://www.vermelho.org.br/noticia/142271-1. Acesso: 01/09/ SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: tensões sociais e criação cultural na primeira república_._ São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SOUZA, Paulo de. Seara Vermelha : Estética e ideologia em Jorge Amado. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2008. TAVARES, Paulo. O Baiano Jorge Amado e sua obra. Rio de Janeiro: Record, 1980. TOOGE, Marly D’Amaro Blasgues. Traduzindo o Brazil: o país mestiço de Amado. Dissertação. São Paulo: 2009.