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SABEDORIA DO EVANGELHO. Página 3 de 153. CURA DO SERVO DO CENTURIÃO. Mat. 8:5-13. 5. Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, che- gou-se a ele um centurião e, ...
Tipologia: Notas de estudo
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CARLOS TORRES PASTORINO
Diplomado em Filosofia e Teologia pelo Colégio Internacional S. A. M. Zacarias, em Roma – Professor Catedrático no Colégio Militar do Rio de Janeiro e Docente no Colégio Pedro II do R. de Janeiro
3..º Volume
Publicação da revista mensa1.
SABEDORIA
RIO DE JANEIRO, 1964
C. TORRES PASTORINO
Figura “JESUS O CRISTO”
C. TORRES PASTORINO
Cada legião constava de dez coortes de 600 homens, e cada coorte tinha três manípulos de 200 ho- mens. O manípulo constituía-se de duas cent˙rias , à frente de cada uma se achava um centuri„o. Por conseguinte, o centurião era o mais subalterno dos oficiais.
Sendo Cafarnaum importante entroncamento de estradas, naturalmente requeria a presença de uma centúria para garantir a ordem política e vigiar os movimentos das caravanas.
As narrativas de Mateus e Lucas divergem. Diz-nos o primeiro que o servo estava apenas paralítico, enquanto o segundo, sem precisar a enfermidade, anota que se achava "em perigo de vida".
Mateus usa o termo paÌs , que pode ser filho ou servo (geralmente jovem), enquanto Lucas esclarece tratar-se de "servo" ( doulos ).
Em Mateus o centurião vai pessoalmente a Jesus; em Lucas ele se serve de uma embaixada de anciãos judeus.
Dadas as características da história, parece-nos que os pormenores de Lucas contribuem para atestar maior fidelidade, acrescendo que, pelo movimento psicológico da humildade do centurião, há também mais lógica no andamento narrativo de Lucas.
O centurião, filiado à religião oficial romana, cujo Sumo Pontífice era o próprio Imperador Augusto, apreciava no entanto o mosaísmo - o que vem provar, de imediato, sua evolução espiritual, já que compreendera que o Espírito está acima de qualquer divisão de religiões humanas - e por isso havia feito construir uma sinagoga para a cidade de Cafarnaum. Isso grangeara-lhe a simpatia dos judeus, sobretudo dos mais idosos que, nesse gesto deviam ter visto a realização de velhas aspirações sempre insatisfeitas.
No momento de aflição, os anciãos judeus prontificam-se a atender ao desejo manifestado pelo centu- rião, de recorrer aos préstimos do novo taumaturgo, cuja fama crescia cada vez mais. Não desejando apresentar-se pessoalmente (ignorava como o novo profeta, julgado talvez rigoroso ortodoxo, reagiria diante de um pagão romano), solicita a interferência dos anciãos, que teriam oportunidade de explicar ao jovem galileu a simpatia do centurião pelos judeus, como um penhor de garantia para obter o favor impetrado. Eles sabem interceder com insistência, servindo de testemunhas do mérito do romano.
Jesus acede ao pedido, encaminhando-se para a residência do centurião, acompanhado pela pequena multidão de discípulos e anciãos. Quando o romano se certifica de que foi atendido - talvez por vê-lo aproximar-se numa esquina próxima ("já estava a pequena distância") - envia outros emissários para fazê-lo deter-se: sendo pagão em longo contato com judeus, sabia que nenhum israelita podia entrar em sua casa, nem mesmo falar com ele, sem incidir nas impurezas legais, que requeriam vários ritos cerimoniais de limpeza posterior. Daí dirigir-se a Jesus por intermediários: "ele mesmo não se julgava digno de vir a ti".
Cônscio, entretanto, do poder taumatúrgico do Nazareno, o centurião expressa-Lhe, ainda por emissá- rios (em Mateus, pessoalmente), o conhecimento iniciático profundo da GNOSE e das doutrinas de Alexandria, numa frase que - ele o sabia - seria compreendida por Jesus: "fala somente ao Verbo (ao Lagos) e meu servo ficará curado".
As traduções vulgares (porque os tradutores, de modo geral, desconhecem essas doutrinas ou não aceitam sua veracidade) estão falseadas neste ponto, exceção feita da do Prof. Humberto Rohden (cfr. "Novo Testamento". 4.ª edição, pag. 11 e 119). Traduzem, pois, como acusativo (objeto direto): dize uma palavra; mas em grego está em dativo (objeto indireto): eipË lÛgoi. Note-se que a Vulgata repro- duziu bem o original, conservando o dativo: dic Verbo , isto é, "dize AO Verbo" o nosso desejo, e se- remos satisfeitos: o servo ficará curado.
Com essas palavras, demonstrava o centurião o conhecimento que possuía dos segredos da Vida Espi- ritual, difundida, àquela época, entre os gnósticos. E para confirmá-lo, traz o exemplo de sua própria pessoa, sujeita à autoridade superior (e portanto obrigada a obedecer), mas ao mesmo tempo com auto- ridade sobre seus subordinados (e portanto sendo imediatamente obedecido). Ora - depreende-se de seu raciocínio - sendo Jesus sujeito à Divindade, tinha poder, todavia, por sua evolução elevadíssima,
SABEDORIA DO EVANGELHO
sobre o Logos, a quem já se unira permanentemente no contato com o Eu Interno ou Consciência Cósmica. Bastava-lhe, então, expressar seu desejo para vê-lo satisfeito.
Jesus admira-se profundamente, pois nem entre seus compatriotas jamais encontrara um conhecimento ( pistis , fé) tão exato e vasto. Dentre seus apóstolos, com efeito, só João, o Evangelista, revelaria mais tarde ter adquirido esses conhecimentos gnósticos, sobretudo quando escreve o prólogo de seu Evan- gelho. Mas este, ele o escreve cerca de cinquenta anos depois deste episódio. Nessa época nada nos diz que já o conhecesse. Nem pode saber-se se o aprendeu do próprio Jesus (o que é bem provável) ou se mais tarde e encontrou pela meditação ou em livros publicados pelos alexandrinos.
Desse fato aproveita-se Jesus para afirmar que não é a raça e a religião que influem na conquista do "reino dos céus", mas o conhecimento da Verdade adquirido pela elevação pessoal de cada um. E di-lo com palavras acessíveis a todos: " muitos virão do oriente e do ocidente para sentar-se com Abraão, Isaac e Jacó no reino dos céus". Não apenas alguns privilegiados de outras religiões, mas MUITOS. Enquanto isso, os filhos do reino (os israelitas), embora convictos de que são os únicos que possuem a verdadeira religião, ficarão de fora, sem conseguir a herança de um reino de que se dizem filhos.
Recordemos que a expressão "filhos" significava, entre os israelitas, os participantes da qualidade ex- pressa pelo genitivo que lhe está ao lado: "filho da paz" (Luc. 10:6), " pacÌficos "; filhos da perdição" (João, 17:12), perdidos; "filhos da geena" (Mat. 23:15), condenados; "filhos do trovão" (Marc. 3:17), zangados ; "filhos deste século e filhos da luz" (Luc. l6:8), mundanos e iluminados ou materialistas e espiritualistas. Esse modo de expressar-se é também muito encontrado no Talmud.
Figura “JESUS E O CENTURIÃO”
SABEDORIA DO EVANGELHO
de perfeiÁ„o, que È alegria; o terceiro, JAC”, significa "o que vence", no sentido de "o que suplanta os advers·rios"; representa, pois, o EspÌrito, que suplantar· todos os obst·culos e vencer· na linha evolutiva.
Observemos, ent„o, que isso constitui a Trindade, a qual, apesar da trina, È una, pois constitui uma ˙nica individualidade. Assim o Ser Absoluto, sem perder sua unidade, tambÈm se manifesta sob trÌpli- ce aspecto: o ESPÕRITO, (o Amor); o PAI, Verbo ou Logos (o Amante), e o FILHO (O Amado). Assim tambÈm a individualidade ˙nica de cada um pode ser considerada sob trÍs aspectos: a Centelha Divi- na (o Eu Verdadeiro, partÌcula do Cristo cÛsmico, que È o Amor; sua Mente Criadora pela Palavra ou Som (Pai, Logos, Verbo que È a palavra que ama) e o EspÌrito individualizado, que È o resultado da criaÁ„o dos dois primeiros, que s„o o PAI-M√E (Centelha Divina-Mente), e que constitui o Filho, o Amado.
C. TORRES PASTORINO
Luc. 7:11-
A vila de Naim (ainda hoje existente, quase em ruínas, com o mesmo nome), fica a sudeste de Nazaré, a sete horas de Cafarnaum, perto do djebel Dahl. Esse local é quase o mesmo de Sunem, onde Eliseu ressuscitou o filho de sua hospedeira (cfr. 2.º Reis, 4:8, 17-37). Loisy atribui ao fato o sentido alegóri- co: Jerusalém, ameaçada de perder seu filho único Israel, reencontra-o por obra de Jesus.
Aqui, pela primeira vez Lucas atribui a Jesus o epíteto de Senhor (cfr. ainda 7:19; 10:1; 11:39; 12:42; 13:15; 17:6; 18:6 e 19:8).
Era costume no Oriente carregar o cadáver numa padiola, coberto com um lençol. Jesus toca o esquife, fazendo deter-se o féretro. Com simples ordem, desperta o jovem e, num gesto de suprema bondade "entrega-o à mãe".
Há muitas discussões exegéticas a respeito da "ressurreição", ou seja, de fazer reviver o "cadáver".
Nada vemos de extraordinário nesse fato, conseguido em certas circunstâncias até por meios mecâni- cos pela medicina hodierna. Desde que a alma se não tenha desprendido do corpo (ou seja, desde que não tenha sido rompido o "cordão prateado") há possibilidade de fazer que o espírito retome o coman- do do grupo celular que constitui o corpo.
Para a criatura evoluída, com clara e segura visão dos diversos planos físico, etérico, astral, etc.) não é difícil VER que o "espírito" ainda está ligado ao soma. Portanto, se o corpo está em condições hígidas e seus órgãos com funcionamento razoável, ele pode conseguir que a psiquê retome a direção do con- junto de células que ainda não está descontrolado, despertando o corpo, embora este já esteja "cadave- rizado" em estado letárgico ou cataléptico.
Compreendemos bem que o corpo é constituído de um conjunto de Órgãos e tecidos, formados por grupos de células especializadas, que permanecem todas reunidas pela unidade de sua "alma-grupo", que é a psiquê (ou ·nima ) humana. Enquanto, pois, a alma-grupo mantém sob seu domínio o grupo celular somático, há possibilidade de fazer reviver o cadáver. Caso, todavia, tenha havido o rompi- mento do "cordão de prata", cada grupo de células especializadas assume sua própria função biológica independente, transformando-se as células em "vermes" uni ou pluri-celulares. Dizemos, então, o cor- po "entrou em putrefação". Já nesse estágio supomos impossível uma ressurreição. Entretanto, não
C. TORRES PASTORINO
Mat. 12:46-
Marc.: 3:20-21 e 31-
Luc. 8:19-
Aqui são-nos apresentados os familiares de Jesus, numa cena curta e objetivas. Jesus achava-se em casa, e a multidão o comprimia de tal forma que ninguém podia chegar até ele (cfr. Marc. 2:1-2; vol. 2.º pág. 81). E quando se apresentam Sua Mãe e Seus irmãos e querem falar-Lhe.
Em Mateus, o vers. 47 parece apócrifo, pois falta nos códices aleph e B, em quatro manuscritos, nas versões siríacas (sinaítica e curetoniana) e na saídica. Por isso não é aceito por Hort, Soden, Tischen- dorf, Lagrange e Pirot. Com efeito é redundante, com um pormenor desnecessário, podendo passar-se do 46 ao 48.
SABEDORIA DO EVANGELHO
Em Marcos, que apesar de mais sucinto é o que traz mais minúcias, a cena é descrita em dois lances. No primeiro dá-nos ciência de que seus parentes ( hoi par'autou ) vieram a saber, em Nazaré (que dista- va de Cafarnaum cerca de 30 km) do que se passava com Jesus. As notícias chegam sempre aumenta- das, mormente após caminharem trinta quilômetros! Tão exageradas, que seus "parentes" o julgaram "fora de si" e foram depressa "para segurá-lo", a fim de impedir que Seu entusiasmo e Sua exaltação mística Lhe prejudicassem a saúde. A expressão "fora de si" é usada por Paulo (2 Cor. 5:13) para ex- primir exatamente o êxtase místico, e não (como traduziu a Vulgata) a loucura.
Entre a notícia recebida e a chegada a Cafarnaum, Jesus tem tempo de discutir com os escribas de Je- rusalém.
Quando seus "parentes" chegam, é que ficamos sabendo de quem se tratava: "sua mãe, seus irmãos e suas irmãs".
A expressão "suas irmãs" está nos códices A, D, E, F, H, M, S, U, V, Gama, e na maior parte das anti- gas versões latinas; é aceita por Soden e Merck; Vogel e Nestle a colocam entre colchetes. Não apare- ce nos códices Aleph , E, C, G, K, Delta , Pi, 1, 13, 33 e 69 e na Vulgata, sendo recusada por Westcott- Hort, Souter, Swete, Lagrange e Pirot.
A pergunta, aparentemente desrespeitosa para com Sua mãe, vem demonstrar que Jesus. Em Sua mis- são, não está preso pelos laços sanguíneos, tão frágeis que só vigoram numa dada encarnação. A famí- lia espiritual é muito mais sólida, pois os vínculos são espirituais (sintônicos) e não materiais (sangue e células perecíveis). Jesus não pode subordinar-se às exigências do parentesco terreno, mesmo em se tratando de Sua mãe. Com o olhar benévolo sobre os que O rodeavam, Jesus lança Sua doutrina nítida: o ideal é superior aos laços de sangue; a família espiritual é mais importante que a natural e sobreleva a ela. Nem se diga que há mais obrigação de cuidar dos "próximos" consanguíneos, mais do que dos estranhos, já que aqueles constituem uma "obrigação" (e por isso os romanos os designavam com a palavra "necessários"), e os outros "apenas" amizade. Não vale isso: pois se os parentes consanguíneos realmente amam o idealista e querem sua presença e assistência constante, por que também não se tor- nam seus discípulos espirituais e o acompanham por toda parte como os demais adeptos?
Para o que se dedica ao ministério espiritual contam apenas, como "parentes" aqueles que lhes bebem os ensinos e dele se aproveitam para evoluir. Se os consanguíneos quiserem, podem agregar-se aos discípulos (como o fizeram os irmãos de Jesus Tiago e Judas Tadeu, que até se tornaram Seus emissá- rios (apóstolos).
Quanto aos quatro irmãos de Jesus (Tiago, Judas Tadeu, Simão e José) e às duas irmãs (Maria e Salo- mé), já apresentamos o problema do parentesco no vol. 2.º, pág- 111-112.
A liÁ„o de Jesus (individualidade) quanto ao modo de serem tratados os parentes consanguÌneos, vale hoje e sempre. N„o È o fato, repitamos, de haver um laÁo de parentesco, que pode desviar o curso evolutivo de um espÌrito. O parentesco espiritual de fraternidade REAL com todas as criaturas (por- que filhos do mesmo PAI celestial), È muito mais forte; e Jesus ensina (categoricamente: "a ninguÈm na Terra chameis vosso Pai, porque sÛ um È vosso Pai: aquele que est· nos cÈus" (Mat. 23:9), ou seja, no imo do coraÁ„o: a Centelha Divina, o Cristo Interno.
Os parentes - inclusive pai, m„e, irm„os e irm„s - s„o acidentes tempor·rios que se desfazem ao ter- minar essa encarnaÁ„o, renovando-se a cada novo nascimento (salvo exceÁıes em que se verifica uma repetiÁ„o que, por vezes, dura duas ou trÍs vidas).
Mas os sintonicamente afins, esses seguem em grupos homogÍneos que, mesmo sem parentesco fÌsico algum, se reencontram seguidamente durante milÍnios.
SABEDORIA DO EVANGELHO
Mat. 11:2-
Luc.: 7: 19-
C. TORRES PASTORINO que gritam aos companheiros:
zaram a vontade de Deus quanto a eles, não tendo sido mergulhados por ele.
João estava na prisão de Maquérus (veja vol. 2). Daí acompanhava com grande interesse todo o desen- volvimento do ministério de Jesus, sobre o qual é constantemente informado por seus discípulos, que o visitam com frequência. O que mais lhe contam são os prodígios operados pelo novo taumaturgo de Nazaré. João jamais perdeu de vista sua tarefa de precursor e todos os seus atos destinam-se a "prepa- rar o caminho diante dele" (vol. 1).
Que Jesus era o Messias, não havia dúvida para João, que O reconhecera desde o ventre materno (Luc. 1.41. vol. 1); era consciente de ser ele o precursor (Mat. 3:1-6; vol. 1); declarou mesmo que não era digno de desatar-lhe as correias das sandálias (Mat. 3: 11-12; vol 1); declarou até peremptoriamente ser o precursor predito (João, 1:19-28; vol. 1); não queria ,mergulhar Jesus, porque se julgava indigno (Mat. 3:13-15; vol. 1); durante o ato do mergulho viu o sinal do Espírito (Mat. 3:16-17; vol 1); desi- gnou Jesus como o “cordeiro que resgata o carma do mundo" (João 1: 29-33) e taxativamente declara "eu vi e testifiquei que Ele é o escolhido de Deus" (João, 1:34; vol. 1); além de tudo isso, influi nos discípulos que sigam Jesus, declarando-o "o messias" (João, 1:35-37; vol. 1); e quando seus discípulos se queixam de que Jesus está atraindo multidões, João lhes dá a entender que Jesus é o Messias e acrescenta "é necessário que ele cresça e que EU diminua" (João 3:25-30; vol. 2).
No entanto, apesar de tudo isso, os discípulos de João não viam Jesus com bons olhos e, por ciúmes, "escandalizavam-se dele". Observe-se que o verbo grego skandalÌzÙ en significa literalmente "tropeçar em". Assim o substantivo sk·ndalon era, na armadilha, a peça-chave (o alçapão ou trava), que a fazia detonar. Então, escandalizar era tropeçar na trava, ficando preso na armadilha.
Mas, dizíamos, os discípulos de João tinham ciúmes do êxito crescente de Jesus (coisa tão comum en- tre espiritualistas!), especialmente quando viram seu próprio mestre na prisão. Observamos que eles criticaram Jesus na questão do jejum (Mat. 9:14) unindo-se aos piores inimigos de Jesus; vimos que eles foram queixar-se de Jesus ao próprio João, quando então o Batista se limita a recordar-lhes o que lhes havia afirmado a respeito de Jesus (vol. 2).
Na prisão, João percebia que seu fim estava próximo e preocupava-se, em primeiro lugar, em conse- guir mais uma oportunidade de exercer oficialmente sua tarefa de precursor; mas além disso, queria aproximar de Jesus seus discípulos, a fim de que estes não prosseguissem, após seu desencarne, no culto de um precursor, ao invés de seguir o verdadeiro Mestre. Para isso, era indispensável uma defini- ção pública de Jesus. E João resolve provocá-la, mas com delicadeza, deixando-lhe o caminho aberto para que Jesus respondesse como julgasse mais oportuno.
C. TORRES PASTORINO
tamente conseguem o reino dos céus"; e, na segunda parte, que Jesus colocou aqui João como "marco divisório a encerrar o Antigo Testamento ("toda a Lei e os Profetas até João", como diz Agostinho: videtur Joannes interjectus quidam limes Testamentorum duorum , Patrol. Lat. vol. 38, col. 1328).
E finalmente a grande revelação, irrecusável sob qualquer aspecto: "se quereis aceitar isso (se fordes capazes de compreendê-lo) ele mesmo é Elias, o que devia vir ... quem tem ouvidos, ouça (quem pu- der, compreenda!).
A tradução do vers. 14 não coincide com as comuns. Mas o grego é bem claro: kai ( e ) ei ( se ) thÈlete ( quereis ) decs·sthai (aceitar, inf. pres. ) autÛs (ele mesmo) estin (é) HÍlÌas (Elias) ho mÈllÙn (part. presente de mellô, destinado", "o que estava destinado") Èrchesthai (inf. pres.: a vir).
A Vulgata traduziu: " et si vultis recipere, ipse est Elias qui venturus est ", em que o particípio futuro na conjunção perifrástica dá o sentido de obrigaÁ„o ou destino do presente do particípio mÈllÙn ; acontece que o latim ligou num só tempo de verbo ( venturus est ) o sentido dos dois verbos gregos ( ho mÈllÙn Èrchesthai ). Com essa tradução, porém, o sentido preciso do original ficou algo "arranhado". Se a tra- dução fora literal, deveríamos ler, na Vulgata (embora com um latim menos ortodoxo): "i pse est Elias debens venire ", o que corresponde exatamente à nossa tradução: "ele mesmo é Elias que devia (estava destinado) a vir". Levados pela tradução da Vulgata, os tradutores colocam o futuro do presente (que dever· vir), quando a ação é nitidamente construída no futuro do pretérito.
A previsão do regresso de Elias à Terra (cfr. Mat. 3:23-24) "eis que vos envio Elias, o profeta, antes que chegue o dia de YHWH grande e terrível: ele reconduzirá o coração dos pais para os filhos e dos filhos para os pais" ... é confirmada no Eclesiástico (48:10) ao elogiar Elias "tu, que foste designado para os tempos futuros como apaziguador da cólera, antes que ela se inflame, conduzindo o coração do pai para o filho".
Alguns pensam tratar-se "do último dia do juízo final", mas Jesus mesmo dá a interpretação autêntica, quando diz: "eu vos declaro que Elias já veio mas não foi reconhecido" ... "e os discípulos entenderam que Ele lhes falava de João Batista" (Mat. 17:12-13).
Então, não pode restar a mínima dúvida de que Jesus confirma, autoritária e inapelavelmente, que João Batista é a reencarnação de Elias. Embora sejam duas personalidades diferentes, o Espírito (ou indivi- dualidade) é o mesmo. Gregório Magno compreendeu bem o mecanismo quando, ao comentar o passo em que João nega ser Elias (João, 1:21) escreveu: "em outro passo o Senhor, interrogado pelos discí- pulos sobre a vinda de Elias, respondeu: Elias já veio (Mat. 17:12) e, se quereis aceitá-lo, é João que é Elias (Mat.11:14). João, interrogado, diz o contrário: eu não sou Elias ... É que João era Elias pelo Es- pírito (individualidade) que o animava, mas não era Elias em pessoa (na personalidade). O que o Se- nhor diz do Espírito de Elias, João o nega da pessoa" (Greg. Magno, Hom. 7 in Evang., Patrol. Lat. vol. 76, col. 1100).
Jesus não precisava entrar em pormenores sobre a reencarnação, pois era essa uma crença aceita nor- malmente entre os israelitas dessa época, sobretudo pelos fariseus, só sendo recusada pelos saduceus.
Em Lucas há dois versículos próprios a ele, distinguindo amassa e os publicanos, que aceitaram o mer- gulho de João, e os fariseus e doutores da lei, que não aceitaram a oportunidade da mudança de vida, que Deus lhes oferecia por intermédio de João.
E Jesus prossegue propondo uma parábola, na qual ilustra a contradição de Seus contemporâneos ("desta geração"), que não aceitam a austeridade da pregação de João nem a bondade alegre dos ensi- nos de Jesus. Ao verem a penitência e abstinência do Batista, ,disseram que "estava obsidiado", que "tinha espírito desencarnado"; e ao observarem a leveza de atitudes do Nazareno, taxaram-no de co- milão e beberão.
Cabe notar en passant que a obsessão é sempre atribuída em o Novo Testamento a um daÌmon (espí- rito desencarnado), em hebraico dibbuck , e jamais ao di·bolos (cfr. vol. 1).
SABEDORIA DO EVANGELHO
Definida a posição de dúvidas e hesitações da humanidade daquela época, (da qual pouco difere a atual) o Mestre conclui com um aforismo: a sabedoria é justificada por seus filhos, ou seja, por seus resultados. Com efeito, o que é produzido pelo sábio é que lhe justifica a sabedoria.
H· fatos que trazem liÁıes preciosas. Aqui temos um.
O intelecto (Jo„o) no "c·rcere" da carne, ouve as teorias a respeito da individualidade (Jesus) mas, como È de seu feitio raciocinador, quer provas. N„o se contenta em ouvir afirmativas de outrem: exige confirmaÁ„o do prÛprio. E o meio mais r·pido È pedir ‡ prÛpria individualidade que se defina, que apareÁa, que se declare de origem divina.
Evidentemente, de nada adiantaria mais uma assertiva, embora proveniente da prÛpria individualida- de: o intelecto continuaria na d˙vida. Inteligentemente a individualidade n„o responde com palavras, mas com fatos. O intelecto manda dois de seus discÌpulos, (faculdades de percepÁ„o e de observaÁ„o) para apurar. E a resposta consiste em fatos: "veja, diz a individualidade, como se te modificam as coisas: a cegueira intelectual se abriu para a luz; os ouvidos da compreens„o, antes surdos, est„o atentos ‡ voz interior; os passos incertos na caminhada evolutiva se tornaram firmes; os resgates c·rmicos que enfeavam a personalidade v„o sendo limpos; a morte da indiferenÁa ‡s coisas espiritu- ais se torna vida entusi·stica e, apesar de toda a pobreza dos veÌculos fÌsicos e do "espÌrito" È a ele que se dirige a Ûtima notÌcia do "reino" ... mas, coitado daquele que, apesar de todas as evidÍncias, n„o crÍ e tropeÁa no conhecimento da individualidade ... feliz, porÈm, aquele que compreende e acei- ta".
O intelecto recebe as liÁıes e os testemunhos, que lhe comprovam a realidade dos fatos, e retira-se para meditaÁ„o.
Entretanto, alÈm da liÁ„o extraÌda dos fatos, temos outra, surgida com a Palavra: o Verbo de Deus que se manifesta dentro de nÛs (Jo. 1:14).
Em primeiro lugar, com as perguntas insistentes, temos avisos repetidos do que procura o EspÌrito: nem coisas f˙teis (uma cana sacudida pelo vento), nem luxo (homem vestido de roupa, finas) nem mesmo um profeta (mÈdiuns e videntes), mas algo maior que isso: o EspÌrito quer descobrir o caminho para encontrar seu ˙nico Mestre, o Cristo Interno. Para isso, est· sempre alerta, a fim de entrar em contato com o "mensageiro" (pequeno mestre) que vem mostrar o caminho e aplain·-lo, para facilitar a busca e o Encontro. A tarefa desse "precursor" e mestre humano (intelecto = ,Jo„o) È "aplainar as veredas", abaixar os outeiros e elevar os vales e levar o coraÁ„o dos pais aos filhos e vice-versa (ou seja, harmonizar a mente com todos os veÌculos que a carregam na jornada evolutiva). O intelecto, portanto, PREPARA o caminho da personalidade, para que ela possa encontrar o Cristo Interno. En- t„o, o intelecto iluminado È o precursor do Cristo Interno, seja esse intelecto o da prÛpria criatura, seja o de criaturas outras que se disponham a ìservirî ‡ humanidade. E esses precursores tem vindo v·rias vezes ‡ Terra, sendo alguns reconhecidos como avatares de lÌdima estirpe.
Ocorre, entretanto, que muitos dos discÌpulos desses precursores do Cristo Interno tomam a si, tam- bÈm, a tarefa de indicar a senda, quer falando, quer escrevendo, quer sobretudo exemplificando.
E aqui temos o exemplo que Jesus d·, de Jo„o, o intelecto que preparou realmente o caminho para o Cristo, e que, por isso, foi destacado como "o maior" dentre os que vivem ainda na personalidade. N„o obstante, aquele que tiver dado o Mergulho em profundidade na ConsciÍncia CÛsmica, dentro de si mesmo, esse ser·, em sua individualidade, como "filho do homem", maior que qualquer das maiores personalidades. E por isso Jo„o È apresentado como "o mergulhador" (o Batista), "o que mergulha", isto È, "o que prepara, atravÈs" do mergulho que ele ensina, o caminho para o Encontro com o Cristo Interno".
Jesus, a individualidade, n„o podia deixar de elogiar esse intelecto iluminado, a fim de chamar nossa atenÁ„o a respeito de como processar a aproximaÁ„o da meta gloriosa. E o evangelista, que aprende- ra o mergulho de Jo„o e por isso encontrara Jesus (a individualidade), comenta que os humildes (povo e publicanos) haviam correspondido ao ensino de Jo„o e haviam mergulhado, descobrindo o
SABEDORIA DO EVANGELHO
Luc. 7:36-
Trata-se aqui de um episódio particular a Lucas, que não deve ser confundido com outra cena seme- lhante, ocorrido mais tarde (em abril do ano seguinte) na casa de Simão, ex-leproso, em Betânia (cfr. Mat. 26:6-13, Marc. 14:3-9 e João, 12:1-8), quando Maria de Betânia, irmã de Marta, executou o mesmo gesto. Não é possível identificar-se Maria de Betânia com a "pecadora" deste passo. Nem pode confundir-se com Maria de Mágdala (Luc. 8:2), pois aí é ela apresentada como nova personagem em cena. E o fato de ter sido libertada de sete obsessores não significa que fosse "pecadora".
O fariseu, também chamado Simão (nome comuníssimo entre os israelitas da época), convida Jesus para um jantar em sua casa. Jesus costuma aceitar esses convites (cfr. Mat. 11:37 e 14:1).
C. TORRES PASTORINO
Figura “A PECADORA E JESUS”
A expressão "mulher pecadora na cidade" é usada por Amós (7:17) para designar as meretrizes. Mas o argumento é fraco para atribuir esse procedimento a esta criatura em particular. Dizem os comentado- res que, se fora meretriz, não na teriam deixado entrar na casa de Simão; mas isso dependeria do nível social em que ela agisse. Todavia, a desenvoltura de seu modo de proceder e de seu gesto, sem aca- nhamento nem peias sociais, e mais ainda a intensidade de seu amor, parecem revelar uma criatura ardorosa e livre de preconceitos, coisas típicas dessas pessoas. Inclusive o fato viria confirmar a afir- mativa categórica de Jesus: "Em verdade vos digo que as meretrizes e os cobradores de impostos con- seguirão o reino dos céus antes de vós" fariseus e doutores da lei (Mat. 21:31).
Anota o evangelista que ela trazia um vaso de alabastro com perfume. Eram realmente acondicionados em vasilhames desse material os perfumes caros (cfr. Mat. 26:7 e Marc. 14:3).
Recordemos que o sistema de mesa nessa época, era em forma de U, ficando os convivas reclinados (ou deitados) em divãs, em redor do U, apoiados no braço esquerdo, tendo a mão direita livre para co- mer. Pelo centro andavam os empregados a servir a refeição. Dessa forma, os pés dos convivas fica- vam "por trás", voltados para as paredes. Nesse espaço entrou a "pecadora", prostrou-se ao chão a cho- rar, agarrada aos pés de Jesus. Como os visse molhados por suas lágrimas, os enxugava carinhosa- mente com seus cabelos, ao mesmo tempo que os beijava ( katephÌlei ) com ardor. A seguir ungiu-os com o perfume que trouxera.
A cena era patética, além de profundamente romântica, e chocou o fariseu puritano, que tirou logo suas deduções desfavoráveis à sensibilidade mediúnica de Jesus. Talvez ele se recordasse de que os antigos profetas percebiam o grau de moralidade das pessoas pela simples aproximação (cfr. 1 Reis. 14:6; 2.º Reis 1:3; 5:24, etc). Mas Jesus prova-lhe que o julgamento foi precipitado e propõe-lhe a parábola dos dois devedores insolváveis, a quem o credor perdoa, a um 500, a outro 50.