




























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Bibliografia. 1. Arte-educação 2. Desenho - Estudo e ensino 3. Movimento. 4. Corpo humano 5. Laban, Rudolf, 1879-1958 I. Machado, Regina.
Tipologia: Exercícios
1 / 188
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Dissertação apresentada à Área de Concentração: Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Artes, sob a orientação da Profa. Dra. Regina Stela Barcelos Machado São Paulo 2005
Katia Salvany Felinto Álvares Rudolf Laban nas artes visuais: Fatores do movimento e o ensino do desenho. Dissertação apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Artes. Área de Concentração: Artes Plásticas. Aprovado em: Banca Examinadora
Dedico esse trabalho ao André Ianni, pela parceria no amor, na vida e nos projetos e ao Gabrielzinho, por toda alegria diária de descobrir e reinventar o mundo.
ALVARES, Katia Salvany Felinto. Rudolf Laban nas artes visuais: Fatores do movimento e o ensino do desenho. 2005, 187 f. Dissertação (Mestrado em Artes) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Minha estratégia enquanto arte-educadora e pesquisadora foi a de relacionar, investigar e transpor os estudos dos Fatores do Movimento de Rudolf Laban para o ensino-aprendizagem do desenho para adultos, tendo como objetivo o exercício da expressão criadora e a aprendizagem da sintaxe da linguagem visual. Rudolf Laban (1879 - 1958) criou um sistema de anotação do movimento (Labanotação), assim como organizou um rico instrumental didático para a teorização e exploração das possibilidades expressivas do movimento (Eucinética) e suas possíveis organizações espaciais (Corêutica), sendo também responsável pela renovação da dança moderna conhecida como expressionista (1920-30). Os resultados alcançados apontam para uma mudança na atitude do aprendiz de desenho, de receptor para construtor e co-autor de seu conhecimento, propiciando uma melhor performance tanto de suas decisões compositivas, quanto no manuseio técnico expressivo dos instrumentos gráficos. PALAVRAS – CHAVE Arte-Educação, Corpo, Rudolf Laban (1879-1958) – Fatores do Movimento, Ensino – Desenho, Criação, Sensibilidade, Expressão.
ALVARES, Katia Salvany Felinto. Rudolf Laban in the visual arts: Motion factors and the teaching of drawing. 2005, 187 f. Dissertation (Master of Arts) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. My approach as an art-educator and researcher has included relating, investigating and rendering Rudolf Laban´s Motion Factors into the process of teaching and learning how to draw for adults, with a view to exercising student´s creative expression and learning visual language syntax. Rudolf Laban (1879 – 1958) created a system of movement notation (Labanotation), and organized a rich set of educational tools aimed at theorizing and exploring the expressive potential of movement (Eukinetics) and the possibilities of its organization in space (Coreutics). He also helped to develop modern Expressionist dance (1920 – 30). The results suggest a shift in the art student’s approach to drawing, from a passive receiver to one of playing an active role in building his or her own knowledge, as well as an improvement in their performance regarding both their compositional choices and the technical and expressive use of graphic tools. KEY WORDS Art-education, Body, Rudolf Laban (1879 – 1958) – Motion Factors, Teaching – drawing, Creation, Sensibility, Expression.
“Desenhar não é só pegar um lápis e executar rabisco, existe todo um fluxo de movimento que se estende por todas as articulações do corpo”. Rudolf Laban (1990:16)
1. INTRODUÇÃO Seja qual for o desenho que uma pessoa execute, estará a mesma organizando corporal e espacialmente uma seqüência de combinações, dentre as várias possíveis, de movimentos que serão integrantes no processo de dar visibilidade, por meio do registro gráfico, a um pensamento configurado. A mão que “segura” o lápis não opera sozinha, pois cada riscar orquestra os vários conjuntos de movimentos das articulações, dos músculos, dos fluídos etc., envolvendo todo o corpo em relação consigo e com o ambiente. Esse corpo, entendido como resultado de constantes trocas seletivas com o ambiente, é explicado em uma nova área científica conhecida como Ciências Cognitivas^1 que constrói, segundo o depoimento da Prof. Dra. Helena KATZ^2 , o “conceito de co-evolução, indispensável para compreender como as informações encarnam em nós. Sim, porque a hipótese de que a co-evolução regula nossa permanência nesse mundo abre caminho para essa segunda condição prévia: a de concordar que nosso corpo não passa de uma forma circunstancial que as (^1) “Trata-se de uma confluência de saberes (biologia, filosofia, antropologia, matemática, sociologia, psicologia, neurofisiologia, filosofia, da mente, teoria da evolução darwiniana, cosmologia, geologia, arqueologia, paleontologia, etologia, etc.) que se unem em uma mesma preocupação básica: contribuir para explicar como o nosso corpo aprende a conhecer o mundo ao seu redor”. KATZ, Helena. Entre a razão e a carne_._ In: GESTO _ Revista do Centro Coreográfico do Rio, Prefeitura do Rio de Janeiro, RIOARTE Secretaria das Culturas, V.1, dezembro 2002, pp. 31. (^2) Helena KATZ é professora do Mestrado em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, coordenadora do CEC/ Centro de Estudos do Corpo da PUC-SP e crítica de dança.
muitas informações espalhadas pela vida tomam ao longo do tempo. Circunstancial e em transformação, uma vez que esse processo de contaminação entre corpo e ambiente não estanca” (KATZ, 2002:32). Seguindo esta concepção-chave do corpo em trocas constantes com o meio, norteio o meu trabalho enquanto artista, arte-educadora e pesquisadora do movimento, e pergunto-me: Como promover uma situação de ensino–aprendizagem onde um adulto, aprendiz de desenho possa ter subsídios para compreender, experienciar e gerenciar sua pesquisa gestual, com vistas a uma maior eficácia 3 dos seus projetos gráficos e a um processo de criação e pesquisa liberto de críticas depreciativas e bloqueadoras? O homem se movimenta, e a partir destes deslocamentos no espaço, que são anteriores a qualquer tentativa de conceitualização, é que o mesmo cria seus contornos de identidade conectados à imagem do corpo físico, que se re-veste e, muitas vezes, confunde-se com o corpo sensível - carregado de emoções. Essa identidade avizinha-se da identidade sócio-cultural e encontramos uma pessoa que procura atualizar as suas percepções das paisagens culturais de classe, gênero e raça - através e - no corpo. Ao explorar o espaço, por meio do conjunto das capacidades sensíveis de nossos sentidos, em um regime complexo de simultaneidade, estamos na verdade vivenciando os limites de nossas possibilidades perceptivas, que se contraem e se expandem na medida em que variadas percepções do espaço, muitas vezes (^3) Eficácia no sentido de coerência com o seu projeto poético e gráfico.
de acessos e trocas de informações, onde co-habitam, interagem e se interpenetram diferentes realidades. Nesta pesquisa, o movimento não é retratado apenas como o resultado físico de uma ação-reação muscular, mas principalmente é pensamento e fator fundamental de aperfeiçoamento humano, e uma vez feita esta consideração, procurei investigar as relações e as possíveis transposições da Teoria dos Fatores do Movimento do dançarino, coreógrafo e revolucionário da dança moderna, Rudolf Von Laban (1879 - 1958), para o ensino-aprendizagem do desenho, tendo como objetivos: a ampliação das capacidades perceptivas, decodificação e construção de imagens visuais e o auto-gerenciamento dos processos de pesquisa gestual – gráfica.
Segundo BRUNER (1997), a composição de “si-mesmo”, dentro de uma perspectiva sócio-histórico-cultural, dá-se no diálogo entre diferentes constelações de “si-mesmos” participantes de um mesmo cenário cultural. “O si-mesmo, então como qualquer outro aspecto da natureza humana, se posiciona tanto como um guardião da permanência quanto como um barômetro que responde ao clima cultural local” 5. Isso me faz refletir sobre as conseqüências e reflexos da cultura e da história, no processo de individuação^6 e, principalmente, na construção de conhecimento. Conhecimento que também acontece através e no corpo, pois é por meio deste que, segundo PONTY (1996:130) o “eu” percebe e manifesta-se no mundo, em um “vaivém da existência que ora se deixa ser corporal e ora se dirige aos atos pessoais”. “Enquanto tenho um corpo e através dele ajo no mundo, para mim o espaço e o tempo não são uma soma de pontos justapostos, nem tão pouco uma infinidade de relações das quais minha consciência operaria a síntese em que ela implicaria meu corpo; não estou no espaço e no tempo, não penso o espaço e o tempo; eu sou no espaço e no tempo, meu corpo aplica-se a eles e os abarca. A amplitude dessa apreensão mede a amplitude de minha existência; mas, de qualquer maneira, ela nunca pode (^5) BRUNER, Jerome (1997). Atos de Significação. Porto Alegre: Artes Médicas, p.96. (^6) Uso o termo individuação não no sentido de único, indivisível, e sim tendo em mente uma possível singularidade em relação a maneira como cada pessoa processa e atualiza seus diálogos e rearranjos de informações consigo e com o meio (familiar, social, ambiente, cultural), mesmo ciente que seus atos e pensamentos, são de certa forma resultantes dessas constelações de “ si- mesmos” como explica BRUNER.
Neste livro, Laban relata sua infância, juventude e início da carreira profissional, apresentando parte dos processos, transformações e concepções artísticas junto aos eventos que marcaram sua trajetória, fundamentais na construção de sua visão revolucionária sobre a dança. Nomes de familiares, amigos, instituições, lugares geográficos e fatos históricos raramente são citados, salvo as referências fornecidas pela tradutora, e colaboradora durante anos, Lisa Ullmann. Por outro lado, um rico universo de seu imaginário manifesta-se nessa narrativa - revestida de tons idealistas, que aos poucos apresenta as difíceis escolhas e caminhos que o levam à maturidade. Um leitor desavisado, ou não conhecedor de suas pesquisas sobre o corpo em movimento e suas contribuições inovadoras para uma dança moderna, poderá talvez não se maravilhar diante dos depoimentos repletos de fantasias e emoções ali encontrados. Todavia fica claro, ao longo da narrativa, segundo BRUNER (1997), como a modelagem, distribuição e construção do “si-mesmo”, operam nas práticas da família dentro de um contexto cultural, ilustrados na importância que as relações entre os pais, a avó e o tio “ovelha-negra” exerceram sobre Laban, assim como os papéis fundamentais de suas brincadeiras junto à natureza e os jogos de teatro na infância. Foram suas narrativas que lançaram, ou melhor, sensibilizaram-me a tal ponto que lancei um novo olhar sobre suas Teorias e Filosofia do Movimento. Por meio de suas recordações, Laban possibilitou-me olhar com clareza, humildade e sem qualquer sentimentalismo minha trajetória e, perceber que o (^10) LABAN, Rudolf (1935/1975). A life for dance: reminiscenses .[Translated and annotated by Lisa Ullmann]. London: Macdonald & Evans.
tema desta dissertação de mestrado há muito tempo encontrara terreno fértil nesta pesquisadora. Nas entrelinhas de cada frase do relato que se segue, o alvo: conhecimento encarnado e expresso no corpo em movimento, apresenta esta pessoa que questiona, atualiza e reinventa sua existência, ao procurar reavaliar e organizar suas relações criadoras com o mundo. Vivi ao longo de minha infância e até o final da adolescência, nos “quatro cantos” do Brasil onde existem bases aéreas. Conseqüentemente, estudei em várias escolas com propostas pedagógicas diversas, fato que de mim exigiu uma atualização constante das possibilidades de criar novas relações com o outro e com o mundo. Não me cabe julgar nem comparar o desempenho dessas escolas neste trabalho, mas é importante apontar as marcas que elas, as pessoas e os lugares imprimiram no trajeto do desenvolvimento do meu olhar de pesquisadora. Sou natural do Rio Grande do Sul, gaúcha de nascimento, mas cearense de coração, pois vivi meus primeiros seis anos em Fortaleza, perto da praia, das jangadas e do vento forte da Praia de Aquirás. Em Aquirás, os sons das batidas ritmadas dos bilros, nas mãos hábeis das rendeiras a cantarolar cantigas de mar, juntam-se à memória da chegada dos pescadores, do vermelho-alaranjado do pôr do Sol em contraste com o azul acinzentado das dunas, das divertidas tardes escorregando em folha de coqueiro com as crianças locais, após a busca emocionante do delicioso cipó-mel.
Desse período, a dança-do-boi^12 marcou-me profundamente tanto pelo brilho e colorido dos trajes quanto pelo drama dançado. Em meados dos anos setenta, nova mudança, e a arquitetura inovadora e o planejamento urbano peculiar de Brasília, causou-me um forte estranhamento: era uma cidade que não tinha dobras, curvas, nem cantinhos, havia uma horizontalidade que se unia aos céus, gerando um sentimento melancólico de devassidão... por onde andava a Caapora 13 daquele lugar tão sem árvores? Felizmente, meus pais decidiram morar no Rio de Janeiro e a presença conhecida do mar ajudou, em parte, a adaptação a um novo e agitado estilo de vida. Mas ao chegar na “cidade maravilhosa” senti-me um verdadeiro “bicho-do-mato” perto das crianças cariocas, cheias de trejeitos ao falar e movimentar-se. Vale lembrar que, a essa altura eu já desenvolvera vocabulários, tanto corporais quanto verbais, impregnados de regionalismos amazonenses e nordestinos. Mas foi justamente na cidade do Rio de Janeiro onde mais senti o impacto da mídia, principalmente da televisão e da moda ao tentar elaborar, a partir da observação, um plano de sobrevivência que pudesse me possibilitar uma inserção nesse novo cenário. Que importância havia, naquele novo contexto, saber lendas indígenas, danças folclóricas, desenhar e nomear bichos, rios e plantas, se eu não sabia qual a última moda lançada pelas novelas? Ou como me portar na rua, na escola, na praia? (^12) Dança-do-boi é uma festa típica do folclore amazonense que narra a história de uma jovem, grávida, esposa de um fiel capataz, que deseja comer língua de boi. O capataz mata o melhor boi da fazenda, para desagrado de seu patrão que manda os índios o caçarem. O jovem procura um pagé que ressuscita o boi e tudo termina em uma grande festa. (^13) Caapora é uma entidade que protege a floresta e os animais. Temida pelos caçadores e por aqueles que entram na floresta, a Caapora possui vasta cabeleira e olhos vermelhos, seus pés são virados para trás pelos calcanhares e, apesar da deformidade alcança grande velocidade.
O corpo, agora, não mais se desnudava – inocente, para banhar-se no mar, no rio ou sob o sol. Existia nesse novo contexto uma “vigilância” não dita sobre o quanto e quais as partes do próprio corpo ou do corpo do outro poderiam ou não ser exibidas. A inocência fora perdida e com ela toda a espontaneidade dos gestos. Cedo percebi a importância desses novos ritmos e procurei de certa forma, mesclar, controlar e adaptar minha gestualidade à local, para garantir um lugar tanto no grupo da escola quanto no da praia, ainda que me custasse um estranhamento, nos primeiros meses, do próprio corpo. Freqüentei uma escola pública na praia de Copacabana, que permanecia em constante greve. Aparentemente, não havia muito envolvimento dos professores com o ofício de ensinar e são quase inexistentes as memórias das aulas, salvo a proximidade da escola com o mar, onde eu permanecia a maior parte do tempo. Avançando um pouco nesse relato, chego em São José dos Campos/São Paulo, onde durante as aulas de desenho, numa escola tradicional, percebi que as oportunidades para a exploração da expressão e criatividade eram raras. Foi por essa época que surgiu em mim a angustiante impressão de que o tempo investido na escola era demasiado prolongado frente às possibilidades de experiências vivas que a vida fora da escola parecia oferecer. E quando a chuva trazia o cheiro distante de terra molhada ou o sol brilhava no céu azul, procurava encontrar um motivo para permanecer sentada e “presa” a cadeira escolar. A maior parte do dia era composta por uma seqüência de aulas enfadonhas e intermináveis. Jamais o corpo todo, os pés, as costas, os cotovelos, ombros, pescoço etc. foram convidados a participar das atividades, a não ser como sustentadores de uma