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Uma peça de teatro divide-se em atos e cenas. Os atos de uma peça são como os capítulos de um livro: grande divisões, grandes células que articulam o enredo.
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
Isabel De Lorenzo
Vida
William Shakespeare é um dos maiores dramaturgos do mun- do e o mais famoso autor inglês de todos os tempos. Viveu na In- glaterra no século XVI, e até hoje muito pouca certeza se tem sobre os acontecimentos de sua vida, pois são escassos os documentos e arquivos do período que mencionam seu nome. Sabe-se que nasceu em 23 de abril de 1564 na cidade de Stratford-on-Avon, filho de John Shakespeare, um artesão bem sucedido, e de Mary Arden. Freqüentou escola durante algum tempo, até que a ruína financeira do pai o obrigou a interromper os estudos e começar a trabalhar, por volta dos doze anos de idade. Em 1582 casou-se com Ann Hat- haway, com quem teve três filhos: em 1583 nasce a filha Susanna, em 1585 nascem os gêmeos Judith e Hamnet. Nenhum documento indica seu paradeiro nos anos sucessivos, mas há conjecturas de que tenha sido aprendiz de açougueiro, foragido da lei, ou ainda, com maior probabilidade, mestre-escola. Mas é certo que, em 1592, tendo deixado a cidade natal, encontrava-se em Londres, tra- balhando já como ator e dramaturgo. Na capital inglesa, Shakespeare atuou, escreveu e dirigiu pe- ças teatrais para as maiores companhias da época, como a “Lord Chamberlain's Men” e a “The King's Men”, à qual se associou. Es- ta companhia veio a se tornar, graças à sua participação, o mais famoso dos grupos teatrais de Londres. Shakespeare obteve grande
reconhecimento e fama como dramaturgo, e alcançou também certa prosperidade econômica, podendo, assim, a julgar pelos arquivos dos elencos das peças, deixar de trabalhar como ator. Sabe-se que em 1597 comprou uma grande casa para viver com sua família. Afastou-se do teatro por volta de 1613 e morreu aos cin- qüenta e dois anos de idade, em 23 de abril de 1616, poucos dias após firmar seu testamento, sem que haja qualquer registro da cau- sa de sua morte.
Obras
Shakespeare publicou em vida dois poemas narrativos — Vênus e Adônis e O rapto de Lucrécia — e um conjunto de cento e cinqüenta e quatro Sonetos , ainda hoje considerados dos mais belos de toda a poesia universal. Porém, jamais publicou qualquer de suas peças. Somente em 1623, sete anos após sua morte, sua obra completa foi editada pela primeira vez, graças ao trabalho de dois amigos seus que compilaram trinta e sete peças, além dos dois poe- mas narrativos e dos sonetos. Desde essa primeira edição, mantém-se o costume de divi- dir a obra teatral de Shakespeare em três categorias: comédia, tra- gédia e drama histórico. Comédia e tragédia eram categorias ou gêneros cujas origens remontavam ao teatro grego e cujas caracte- rísticas se mantiveram de certa maneira fixas até aquela época. Já o drama histórico foi um gênero em que Shakespeare introduziu mai- ores inovações. Entre as mais conhecidas comédias de Shakespeare contam-se A comédia dos erros , O mercador de Veneza , A tempes- tade , Sonho de uma noite de verão , Muito barulho por nada. Entre os dramas históricos incluem-se Henrique IV , Henrique V , Ricardo III. Algumas das mais importantes tragédias são Antônio e Cleópa- tra , Júlio César , Otelo , Macbeth , Hamlet , Rei Lear , Romeu e Julie- ta. De um modo geral, podemos distinguir esses gêneros da
Uma peça de teatro divide-se em atos e cenas. Os atos de uma peça são como os capítulos de um livro: grande divisões, grandes células que articulam o enredo. Cada ato é composto por uma seqüência de cenas. As cenas são divisões menores, em geral marcadas pela entrada ou saída de uma personagem, isto é, temos uma nova cena toda vez que uma personagem entra no palco ou sai dele. O fato de ter sido composto originariamente para ser ence- nado, em vez de lido, introduz diversas especificidades no texto dramático. Por exemplo, existem elementos sonoros e elementos visuais, que certamente não passavam despercebidos ao público presente a uma encenação, mas que podem não ser compreendidos por um leitor desatento. Dentre esses elementos sonoros contam-se os jogos de palavras, as assonâncias, as rimas, os trocadilhos — elementos nos quais a linguagem shakespeariana é rica mas que, com muita freqüência, se perdem já com a própria tradução. Os elementos visuais — cenários, figurinos, iluminação —, que estão diante dos olhos do público presente à encenação, são apenas suge- ridos para quem lê. Ainda que não estejam indicados no texto, es- ses elementos cênicos podem e devem ser imaginados a cada mo- mento pelo leitor, adicionando ao ato da leitura o exercício e o pra- zer de participar da criação e direção do espetáculo em sua mente.
2 ROMEU E JULIETA
Temas
Romeu e Julieta é uma das primeiras tragédias de Shakes- peare, composta e encenada quando ele tinha trinta anos, por volta de 1595. Assim, é obra de um autor relativamente jovem, que tem como tema principal o amor jovem, o amor apaixonado, o amor “romântico”. Romeu e Julieta é considerada uma das maiores tra- gédias de amor já escritas. Não obstante, além do tema amoroso,
outros temas se desenvolvem na obra, inclusive de natureza políti- ca, e representam-se situações que envolvem ódio, ira, rancor, in- quietações religiosas e morais, espirituosidade, humor, etc.
Fontes literárias
. A história de Romeu e Julieta não era nova no tempo de Shakespeare. Era comum, naquela época, os autores fazerem uso de narrativas conhecidas. Ao valer-se de uma história existente, o que importava (e importa ainda hoje), o que dava a medida da ori- ginalidade do autor, era o modo como ele a recontava, as novida- des que lhe acrescentava, os novos tons de que a revestia. Para compor a sua versão da história de Romeu e Julieta, Shakespeare muito provavelmente utilizou como fonte de inspiração o poema A trágica história de Romeu e Julieta, de Arthur Brooke, de 1562, baseado por sua vez em diversos textos italianos, dos quais o mais antigo, dentre os que nomeiam Romeu e Julieta, é o de Luigi da Porto, de 1530. Há, porém, histórias muito mais antigas, que nar- ram episódios semelhantes. O destino trágico de um jovem casal de amantes nascidos de famílias inimigas aparece tanto em novelas medievais quanto em narrativas mitológicas que remontam à Gré- cia antiga, como a história de Píramo e Tisbe, que integra o livro das Metamorfoses de Ovídio, poeta latino do século I a.C.
Espaço e tempo
Na tragédia de Shakespeare, a ação, ou seja, a história, desenvolve-se em tempo bastante curto, quatro ou cinco dias. Tudo se passa na cidade de Verona, na Itália, com exceção de uma pe- quena parte do 5.º ato, passada na vizinha cidade de Mântua. A ação transcorre no século XVI, tempo de riqueza e esplendor das cidades italianas, que naquela época eram cidades-estados, inde- pendentes e rivais entre si. Mas, apesar de a ação se passar em Ve-
desfecho da história. Porém, devemos lembrar que, no seu tempo, a história de Romeu e Julieta já era bastante conhecida, assim como é hoje, mesmo por alguém que não tenha lido ou assistido à peça. Todo mundo sabe que se trata da tragédia dos jovens amantes nas- cidos de famílias inimigas. Assim, quando o Prólogo anuncia sem fazer suspense o assunto e o final da peça que está por começar, o que ocorre em verdade é que nos agarramos ao espetáculo, queren- do segui-lo de perto e ver como tudo aquilo se encaminhará.
Política
Após a saída do coro, tem início o primeiro ato. Na cena inaugural, vemos dois criados da família Capuleto procurando con- fusão pelas ruas de Verona. Para tanto, resolvem insultar os criados de Montéquio, arquiinimigo de seu patrão. E assim tem início uma briga que põe em alerta toda a cidade e que, apesar de instantes depois ser energicamente abafada pelo Príncipe, ainda assim conti- nuará se desenvolvendo sob outras formas ao longo de toda a peça. Depois dos criados, vêm à cena os jovens Benvólio, parente dos Montéquio, e Tebaldo, parente dos Capuleto. Somente quando a briga já está acontecendo é que entram em cena os chefes das duas casas rivais. E, por fim, intervém o Príncipe, autoridade máxima do lugar, que representa ali a neutralidade. Devemos observar que essa seqüência inicial de entradas de personagens corresponde a uma hierarquia, isto é, a uma ordem que representa simetricamente a estrutura social da peça, tendo o Príncipe ao meio e em cima, os chefes logo abaixo e a seu lado, noutro degrau os parentes e, ainda mais abaixo, os criados. Devemos notar também que os protagonis- tas Romeu e Julieta só irão aparecer mais tarde, como a significar que se situam fora, além do âmbito da inimizade de suas famílias. As entradas das personagens, portanto, obedecem à hierar- quia social que se pode representar assim:
Príncipe Capuleto Montéquio Tebaldo Benvólio Criados (Sansão e Gregório) Criados (Abrão e outro)
O tema da luta entre as duas facções e do ódio que elas nutrem entre si é um dos argumentos principais da peça. É possível mesmo que Shakespeare estivesse reportando-se à história de seu país e às disputas sangrentas entre as casas Lancaster e York — que só tiveram fim quando subiu ao poder a dinastia Tudor, da qual fazia parte a rainha Elizabeth I —, querendo com isso demonstrar que o ódio irresponsável de nobres rebeldes é capaz de tudo destru- ir. O sentido último da história é que onde não há paz, onde não há ordem civil, não sobrevivem as coisas boas e belas, como a vida e o amor de dois jovens.
Tragédia/drama
A morte de Romeu e Julieta é o preço da intolerância de suas famílias. O desfecho inexoravelmente sinistro é o que caracte- riza uma tragédia. Nesse tipo de peça, como dissemos, a reação que se espera do público é a comoção. E, de fato, muitas cenas de Ro- meu e Julieta comovem. Por outro lado, não são poucas as passa- gens que nos fazem rir, sorrir ou mesmo gargalhar; é notável o tan- to de humor que por vezes emerge da tragédia shakespeariana. Por esse motivo, Shakespeare é considerado um dramaturgo inovador, uma vez que no teatro grego, que é seu modelo, os gêneros trágico e cômico eram necessariamente muito bem delimitados entre si. Shakespeare foi o primeiro autor a inserir elementos cômicos em suas tragédias, bem como elementos trágicos em suas comédias. Disso decorre o fato de os críticos posteriores apontarem-no como o criador de um novo gênero — o assim chamado drama , que pas- sou a dominar o teatro que se produziu a partir de então.
seja apenas uma questão de entretenimento, de diversão, mas quase uma necessidade — o que nos faz entender por que é uma arte que os homens cultivam há mais de 2.500 anos.
Nota sobre esta e outras adaptações
Esta adaptação foi feita com base no texto original inglês editado por T. J. B. Spencer (Penguin Books, 1967) e nas traduções para o português de Onestaldo de Pennafort (Rio de Janeiro, Minis- tério da Educação e Saúde, 1940), Carlos Alberto Nunes (São Pau- lo, Melhoramentos, 1969) e Décio Pignatari (São Paulo, Compa- nhia das Letras, 1990). Há diversas (pelo menos seis) adaptações cinematográficas da peça, além de muitos outros filmes com enredo derivado dela. Mas não só no cinema a história de Romeu e Julieta continuou vi- vendo depois de Shakespeare. Ela foi recontada de outras formas, em outras artes: na música (a “sinfonia dramática” de Berlioz, a ópera de Gounod, a “fantasia” orquestral de Tchaikóvski, o ballet de Prokófiev, todos intitulados Romeu e Julieta ), assim como na literatura popular (“romances de cordel” de cantadores nordesti- nos). Ela foi e é também, explícita ou implicitamente, um dos mo- delos mais freqüentes de outras histórias de amor — histórias que envolvem ódio entre grupos e morte dos amantes —, como o admi- rável romance (ou novela) Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, ou a peça de teatro musical West Side Story, de Leonard Bernstein (adaptada ao cinema por Elia Kazan).
W ILLIAM SHAKESPEARE
1 Desditoso : de má sorte, infeliz.
(Entra o coro) CORO- Na bela cidade de Verona vai transcorrer o nosso drama: duas famílias, igualmente distintas, reativam uma antiga ini- mizade, manchando de sangue as ruas do lugar. É que nesses dois berços rivais nasceu um par de amantes desditosos^1 , que só na sepultura vão pôr fim ao ódio mútuo de seus pais. A terrível história desse amor condenado é o que vocês verão neste palco: se prestarem bastante atenção, com nosso esfor- ço procuraremos suprir o que parecer insuficiente. (Sai o coro)
R OMEU E J ULIETA
Cena 1 VERONA. UMA PRAÇA PÚBLICA
(Entram Sansão e Gregório, armados de espadas e escudos) SANSÃO Não devemos levar desaforo para casa, Gregório. GREGÓRIO É claro que não devemos. SANSÃO Quando fico zangado, saco logo a espada. GREGÓRIO Se quiser continuar vivo, é melhor tomar cuidado e não se zangar com qualquer coisa. SANSÃO Quando alguém me irrita, revido na hora. GREGÓRIO É melhor não se irritar com qualquer coisa. SANSÃO É só darem motivo... É fácil: até um cachorro da casa dos Montéquio me deixa irritado. GREGÓRIO Quem fácil se irrita, rápido se põe em movimento. Mas ser corajoso é agüentar firme! Se você se irrita, é sinal de que vai fugir... SANSÃO Pois saiba que, diante de um cão daquela casa, não arre- do o pé. Vou me encostar firme na parede se passar por mim qualquer moço ou moça dos Montéquio. GREGÓRIO Isso mostra que você não passa de um escravo fraco: os fracos é que encostam na parede! SANSÃO É mesmo... Talvez seja por isso que as mulheres sempre caminham encostadas na parede. Sendo as mulheres a parte mais fraca, vou tirar da frente os homens e prensá-las contra a parede. GREGÓRIO Escute, Sansão, a luta é entre nossos patrões e nós, seus homens. SANSÃO Tanto faz. Vão ver como eu também posso ser cruel: depois de me bater com os homens, vou pegar as moças.