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Resumo de OLIVEIRA, Clara Maria Cavalcante Brum de; TROTTA, Wellington. Estudos preliminares para uma filosofia do direito. Rio de Janeiro, 2006., Resumos de Filosofia do Direito

Síntese do item Origem e Surgimento da Filosofia na Grécia Antiga

Tipologia: Resumos

2020

Compartilhado em 19/04/2020

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adriana-mello-8 🇧🇷

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FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITO
Referência texto: OLIVEIRA, Clara Maria Cavalcante Brum de; TROTTA, Wellington. Estudos preliminares para
uma filosofia do direito. Rio de Janeiro, 2006.
Origem e Surgimento da Filosofia na Grécia Antiga
Como nos lembra o saudoso professor José Américo M. Pessanha, buscar as razões que conduziram
o homem grego a fazer filosofia permanece ainda como um problema aberto. O que teria fundamentado esse
novo saber? Por que na Grécia em torno do séc. VII ou VI a.C. surgiu uma nova mentalidade diante do real?
Quais os fatores que se entrecruzaram e propiciaram esse fenômeno em uma cultura tão antiga? Sabe-se que
na Grécia do séc. VI a C., Pitágoras de Samos denominou-se Filo-sophos (amante do saber) e não de
sophos” (sábio).4 O que a tradição afirma é que a Filosofia foi um fenômeno específico do povo grego e
teve continuidade com os povos dominados por ele. A Filosofia começa quando algo desperta a nossa
admiração nos espantando e exigindo uma explicação sobre a origem do mundo, dos povos e dos fenômenos
da natureza sem recorrer aos mitos.
A palavra mito do grego mythos deriva de dois verbos, a saber: mytheyo que significa contar,
narrar, falar alguma coisa para outros e do verbo mytheo que significa conversar, contar, anunciar, nomear,
designar. Para o pensamento grego, mito significa um discurso ou narrativa que é considerada verdadeira
para seus ouvintes; uma relação de confiabilidade que repousa sobre a pessoa do narrador, ou melhor,
uma crença na autoridade do narrador. O narrador é chamado de poeta-rapsodo. Os gregos acreditavam que
ele fora escolhido pelos deuses e que se tornara o transmissor de suas mensagens. A palavra proferida pelo
poeta-rapsodo, o mito, ganhava uma aura de divindade, portanto inquestionável e incontestável.
Nesse sentido, a narrativa sobre a origem do mundo é denominada como uma genealogia que pode
ser cosmologia ou teogonia. Será cosmologia quando trata do nascimento e da organização do mundo, pois
gonia vem do verbo gennao e do substantivo genos assumindo, portanto, a ideia de geração, nascimento a
partir da concepção sexual e do parto. Cosmo quer dizer mundo ordenado, organizado. Teogonia é composta
de gonia e theos que significa em grego: seres divinos, coisas divinas, deuses. Será teogonia quando a
narrativa tratar da origem dos deuses. A Filosofia é vista como uma cosmologia, ou seja, uma explicação
racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações das coisas. Nesse sentido, as
narrativas míticas foram reformuladas ou transformadas numa explicação que não admite fabulações,
contradições, mas sim um raciocínio lógico, racional e coerente. A autoridade dessa nova explicação não
decorre de uma pessoa física, como no caso dos poetas-rapsodos, mas decorre do poder da razão. O seu
surgimento marca uma indagação que não aceita respostas mitológicas ou mágicas, respostas fazedoras de
mitos.
Não podemos negar que a mitologia grega está intrinsecamente ligada à história da civilização
grega, por isso o relato mítico não resulta necessariamente da invenção individual, mas da transmissão de
uma cultura por várias gerações e da memória de um povo, o que ressalta a sua dignidade e importância.
Essa mitologia e seus mitos sobrevivem enquanto se mantiveram vivos na vida cotidiana. Memória,
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FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITO

Referência texto: OLIVEIRA, Clara Maria Cavalcante Brum de; TROTTA, Wellington. Estudos preliminares para uma filosofia do direito. Rio de Janeiro, 2006.

Origem e Surgimento da Filosofia na Grécia Antiga Como nos lembra o saudoso professor José Américo M. Pessanha, buscar as razões que conduziram o homem grego a fazer filosofia permanece ainda como um problema aberto. O que teria fundamentado esse novo saber? Por que na Grécia em torno do séc. VII ou VI a.C. surgiu uma nova mentalidade diante do real? Quais os fatores que se entrecruzaram e propiciaram esse fenômeno em uma cultura tão antiga? Sabe-se que na Grécia do séc. VI a C., Pitágoras de Samos denominou-se “ Filo - sophos ” (amante do saber) e não de “ sophos ” (sábio).4 O que a tradição afirma é que a Filosofia foi um fenômeno específico do povo grego e teve continuidade com os povos dominados por ele. A Filosofia começa quando algo desperta a nossa admiração nos espantando e exigindo uma explicação sobre a origem do mundo, dos povos e dos fenômenos da natureza sem recorrer aos mitos. A palavra mito do grego mythos deriva de dois verbos, a saber: mytheyo que significa contar, narrar, falar alguma coisa para outros e do verbo mytheo que significa conversar, contar, anunciar, nomear, designar. Para o pensamento grego, mito significa um discurso ou narrativa que é considerada verdadeira para seus ouvintes; há uma relação de confiabilidade que repousa sobre a pessoa do narrador, ou melhor, uma crença na autoridade do narrador. O narrador é chamado de poeta-rapsodo. Os gregos acreditavam que ele fora escolhido pelos deuses e que se tornara o transmissor de suas mensagens. A palavra proferida pelo poeta-rapsodo, o mito, ganhava uma aura de divindade, portanto inquestionável e incontestável. Nesse sentido, a narrativa sobre a origem do mundo é denominada como uma genealogia que pode ser cosmologia ou teogonia. Será cosmologia quando trata do nascimento e da organização do mundo, pois gonia vem do verbo gennao e do substantivo genos assumindo, portanto, a ideia de geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmo quer dizer mundo ordenado, organizado. Teogonia é composta de gonia e theos que significa em grego: seres divinos, coisas divinas, deuses. Será teogonia quando a narrativa tratar da origem dos deuses. A Filosofia é vista como uma cosmologia , ou seja, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações das coisas. Nesse sentido, as narrativas míticas foram reformuladas ou transformadas numa explicação que não admite fabulações, contradições, mas sim um raciocínio lógico, racional e coerente. A autoridade dessa nova explicação não decorre de uma pessoa física, como no caso dos poetas-rapsodos, mas decorre do poder da razão. O seu surgimento marca uma indagação que não aceita respostas mitológicas ou mágicas, respostas fazedoras de mitos. Não podemos negar que a mitologia grega está intrinsecamente ligada à história da civilização grega, por isso o relato mítico não resulta necessariamente da invenção individual, mas da transmissão de uma cultura por várias gerações e da memória de um povo, o que ressalta a sua dignidade e importância. Essa mitologia e seus mitos sobrevivem enquanto se mantiveram vivos na vida cotidiana. Memória,

oralidade e tradição são os componentes indispensáveis à sua sobrevivência. A explicação filosófica, que é apenas uma explicação de homens que buscavam saber, se desenvolveu paulatinamente e permaneceu por muito tempo concomitante às explicações mitológicas que povoavam o imaginário do mundo antigo. A Filosofia é, portanto, um fenômeno cultural grego. Surgiu no momento de estabilização da sociedade grega, com o desenvolvimento da atividade comercial, com a consolidação das cidades-estados ( pólis ); um progressivo enriquecimento do comércio e invenção da moeda; expansão marítima que propiciou o surgimento de uma classe mercantil politicamente forte; a invenção do calendário; a própria invenção da política e da ética. Não há consenso sobre a origem da Filosofia na Grécia antiga, porque muitos estudiosos entendem que os povos do oriente já sistematizavam doutrinas filosóficas antes dos filósofos gregos. Todavia o que se observa frequentemente é que não se configurou nesses povos o que ocorreu na Grécia: o processo de laicização do saber.

2 - A pólis grega e a consciência jurídica Antes do advento da Pólis, a Grécia já apresentava uma vida social intensa. Um dos poetas mais importantes, Homero, autor dos famosos poemas que narram as guerras troianas (1260 a 1250 a.C.), as aventuras de Aquiles e Ulisses (nome grego, Odisseu), nos desvela em suas narrativas o entrecruzamento de história, ficção, lenda, mitos e deuses, que segundo pesquisadores exprimem traços da cultura dórica. Os dórios oriundos do norte, séculos após as guerras troianas, construíram uma sociedade marcadamente aristocrática que paulatinamente se transformou no que denominamos civilização grega. Este poeta foi considerado o pai da cultura grega por ter sido a sua obra fundamental para a manutenção das tradições. Além de Homero, o pensamento de Hesíodo foi igualmente importante, porquanto marca uma nova fase da cultura grega. Em sua obra denominada Teogonia descreve a criação do mundo, dos deuses e a organização do Olimpo. Em Os trabalhos e Os Dias narra o mito das cinco idades da humanidade. Por ocasião do séc. VIII a.C., com a invenção da moeda cunhada, a região vivenciou um renascimento das relações comerciais que resultou na ruína das antigas linhagens tribais e no surgimento de pequenas cidades de agricultores e artesãos. Lentamente se formou uma nova organização social e política que segundo ensina Jean-Pierre Vernant destacou a supremacia da razão, do discurso. Assim, a palavra, o discurso e a razão ganharam grande relevo nessa nova organização social. O discurso tornou-se condição fundamental para a participação nos assuntos públicos. O que se configurou nesta etapa e a revolução política que ensejou o desenvolvimento do pensamento humano. Assim, as discussões políticas, a elaboração das leis, deixaram de ser privilégio da aristocracia grega. Pólis do plural póleis é uma palavra grega que expressa a ideia de cidades-estados autogovernadas do mundo grego. Cada pólis tinha suas próprias leis de cidadania, cunhagem de moedas, costumes, festivais, ritos e etc. Como nos ensina Jaeger, a pólis configurou um novo momento para os gregos, uma nova forma de convivência humana: “A polis é o centro principal a partir do qual se organiza historicamente o período