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Este TCC explora a atuação de assistentes sociais em saúde mental, como CAPS e alas psiquiátricas, focando nos referenciais teóricos para usuários com ideação suicida ou tentativas. A pesquisa investiga saberes e habilidades, buscando intervenções eficazes considerando desigualdades sociais e exclusão. Aborda a importância da escuta sensível e articulação em rede para garantir direitos e quebrar estigmas. A análise revela a complexidade da prática e a necessidade de aprimoramento. O objetivo é contribuir para a reflexão e teorização a partir das experiências dos profissionais, promovendo melhor intervenção e auxiliando em novos estudos na área.
Tipologia: Resumos
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A pesquisa investiga os referenciais teóricos que orientam o trabalho dos assistentes sociais em instituições de saúde mental, como CAPS e alas psiquiátricas, no atendimento a usuários com ideação suicida ou tentativa de suicídio. O estudo aborda o suicídio sob as perspectivas teóricas marxista e psicanalítica, utilizando uma metodologia bibliográfico- documental focada nos conhecimentos, habilidades e experiências dos assistentes sociais na área.
A área da saúde sempre representou um campo de atuação significativo para o serviço social. Inicialmente, os assistentes sociais atuavam como "porta de entrada e saída" dos hospitais, ocupando uma posição de subordinação em relação aos médicos e à direção. A partir da década de 1990, com a institucionalização do SUS (Lei nº 8.080/90), houve um aumento na contratação de assistentes sociais na saúde mental, impulsionado pela criação de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos.
Essa expansão trouxe desafios para a consolidação do espaço profissional do assistente social. Embora os princípios ético-políticos da profissão estivessem alinhados com os movimentos de Reforma Psiquiátrica e Sanitária, conferindo um novo estatuto ao serviço social, a grade curricular dos cursos de graduação frequentemente carecia de conteúdos específicos sobre saúde mental.
O Movimento da Reconceituação, embora tenha conferido um status acadêmico ao serviço social e o aproximado da teoria social crítica, negligenciou a temática da saúde mental. Autores como Foucault e Goffman, que abordavam a saúde mental em relação à estrutura da sociedade, foram deixados de lado. Coutinho (1991) argumenta que a mudança promovida pelo serviço social, embora necessária, se limitou a uma visão generalista, sem a devida ligação com o referencial teórico da profissão.
Junqueira (1980) destaca que o método histórico dialético, embora efetivo na análise da realidade, não instrumentaliza o "fazer profissional", apontando para a desfragmentação dos currículos de serviço social. No campo da saúde mental, isso resultou em um "recalcamento" das dimensões de subjetividade, sexualidade e emotividade, conforme apontado por Vasconcellos (2002). As práticas em saúde mental se desenvolveram com pouco suporte teórico, baseadas no senso comum ou em experiências pessoais, impactando a qualidade da intervenção e a credibilidade profissional.
A falta de debate sobre saúde mental no processo de Reconceituação levou os assistentes sociais a buscarem arcabouço teórico em outras áreas, muitas vezes com abordagens psicologizantes que não condiziam com o projeto ético-político da profissão. A categoria da subjetividade foi negligenciada, temendo-se a psicologização das relações sociais. A ausência de pesquisas e produção de conhecimento nessa área limita a intervenção profissional.
Santos (2013) enfatiza a necessidade de debate, reflexão e construção de instrumentais para o "fazer profissional". Nicácio (2006) alerta para a "depreciação da prática" quando não há reflexão sobre os processos de trabalho, tornando o fazer empobrecido conceitual e teoricamente. O teoricismo, um saber distante da prática, criou lacunas nos saberes dos profissionais.
Um levantamento da produção do serviço social revelou a escassez de artigos sobre o suicídio, indicando a necessidade de investir em áreas pouco exploradas pela profissão. A ampla contratação de assistentes sociais na saúde mental oferece oportunidades de atuação em projetos de prevenção do suicídio, identificação de pessoas em vulnerabilidade social e encaminhamento para a rede socioassistencial.
A pesquisa busca investigar os saberes do assistente social no campo da saúde mental, considerando que a ausência de fundamentos profissionais consistentes na questão do suicídio pode impactar negativamente as ações profissionais. Botega e Werlang (2004) alertam para o risco de profissionais de saúde adotarem uma visão moralista e condenatória em relação aos usuários com ideação suicida.
É fundamental ampliar os debates sobre saúde mental e suicídio dentro do serviço social, compreendendo o suicídio como uma expressão da questão social, determinada pelas desigualdades sociais e transformações societárias. Segundo a OMS, 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo, e o Brasil é o oitavo país em número absoluto de casos. A pesquisa busca propor alternativas e construções que auxiliem o assistente social a efetuar as mediações entre as diferentes dimensões da profissão.
Os critérios de seleção dos participantes foram: ser assistente social, trabalhar ou ter trabalhado em serviço de saúde mental, e ter interesse e disponibilidade para participar da pesquisa.
A revisão bibliográfica abordou o tema do suicídio, com foco nas ciências sociais e humanas e no serviço social, priorizando teses, dissertações, artigos e livros de assistentes sociais ou livros da área de saúde mental com capítulos escritos por assistentes sociais.
O número de entrevistas dependeu da disponibilidade e interesse dos profissionais, visando identificar e caracterizar os saberes, práticas, instrumentais e bibliografia envolvidos na ação profissional dos assistentes sociais no atendimento a pessoas com ideação suicida ou que tentaram suicídio, dentro dos limites do cronograma de pesquisa. As entrevistas foram realizadas no local de trabalho do assistente social ou em outro local de sua preferência.
A pesquisa também questionou os balizadores utilizados no atendimento a usuários com ideação suicida ou que tentaram suicídio, com o objetivo de reflexão e teorização a partir das experiências vividas e analisadas pelo pesquisador, em conjunto com o profissional de serviço social na área de saúde mental, com base na bibliografia estudada.
Referenciais Teóricos sobre o Suicídio
Neste trabalho, o suicídio é compreendido como um fenômeno multidimensional, influenciado por processos psicológicos, biológicos e sociais. O referencial teórico é o método marxista histórico dialético, que auxilia na análise do caráter histórico e processual dos fenômenos e de suas interconexões.
Marx (2008), em "Sobre o Suicídio", define o suicídio como um sintoma da desorganização social e das lutas de classes, associando-o à melancolia ligada aos maus tratos e à injustiça. Ele enfatiza a importância de analisar as vítimas do suicídio dentro do contexto social em que estão inseridas.
Em contraposição à visão do suicídio como um "assunto maldito", Marx (2006) apresenta uma perspectiva diferente. A psicanálise, utilizada por psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, também contribui para a compreensão da construção do ser humano e da subjetividade.
O suicídio pode ser visto como consequência de uma melancolia ou um distúrbio narcísico grave, representando a atualização da pulsão de morte através de uma passagem ao ato. Werlang e Botega (2004) mencionam a suspeita de um desejo inconsciente de não morrer em pessoas que tentam suicídio. A existência de uma tentativa de suicídio aumenta a probabilidade de que um suicídio venha a ocorrer.
Cassorla (2004) descreve estágios do suicídio, desde a verbalização do pensamento até a tentativa deliberada. O suicídio é um fenômeno multidimensional, influenciado pela história do sujeito e pelos cuidados que ele recebe.
Dados de Clark e Fawcet, resumidos por Werlang e Botega (2004), indicam que aproximadamente 60% das pessoas que morrem por suicídio nunca haviam tentado antes, e 50% a 60% nunca consultaram um profissional de saúde mental. Dois terços dos que cometem suicídio comunicaram claramente essa intenção na semana anterior a parentes ou amigos. Metade dos que morrem por suicídio foram a uma consulta médica nos seis meses anteriores à morte, e 80% foram a um médico no mês anterior.
É importante que profissionais de saúde estejam conscientes dos diferentes perfis clínicos e aptos a questionar ativamente sobre sintomas mentais associados ao risco de suicídio. É necessário ampliar a atenção não só para os usuários com ideação suicida ou que tentaram suicídio, mas também para seus familiares, que também podem estar em um grupo de risco.
Estrutura do Trabalho
Inicialmente, foram realizadas leituras sobre o suicídio e sua relação com a prática profissional do assistente social. Em seguida, foi construído o projeto do trabalho, com questões para as entrevistas com profissionais de serviços de saúde mental que atendem a demanda de suicídio em Santa Maria.
As entrevistas focaram no estudo da prática profissional do assistente social com usuários que tentaram suicídio ou verbalizam o desejo de morte, visando entender os instrumentais e saberes utilizados por esses profissionais. Os dados colhidos nas transcrições das entrevistas serviram como subsídio na construção do trabalho, em conjunto com a bibliografia da área.
Posteriormente, foi fundamentada a importância e a ideia do suicídio, com dados epidemiológicos que demonstram que o suicídio é uma questão de saúde pública. Também foram abordadas as construções históricas da ideia do desejo de morte na sociedade e a forma como o suicídio foi moldado ao longo da história.
A análise das ciências sociais sobre o suicídio foi conectada ao serviço social e às expressões da questão social. Marx foi abordado para compreender o suicídio através de casos, analisando a sociedade capitalista, a luta de classes e os diferentes tipos de opressão. A psicanálise foi apresentada como um saber utilizado para o entendimento e o manejo do suicida.
Após a abordagem do suicídio e seus impactos, foram trabalhadas as possíveis interações do suicídio com as expressões da questão social, particularmente no Brasil. Buscou-se construir a ligação do suicídio com o serviço social e as expressões da questão social, com a finalidade de entender o papel do assistente social dentro dessa demanda emergente na sociedade capitalista.
Por fim, o trabalho é direcionado a entender o papel do assistente social no atendimento às pessoas que tentaram o suicídio ou têm o desejo de morte, buscando identificar, a partir da pesquisa e da bibliografia da área, os
habitantes, dependendo da confiabilidade dos registros de tentativas de suicídio.
Autores como Botega et al. (2004) e Cassorla (1984) indicam que as taxas de suicídio são maiores entre o sexo masculino, segundo dados da OMS. Estudos internacionais destacam o sexo feminino entre os aspectos sociodemográficos e clínicos associados à ideação e tentativas de suicídio. Idosos tendem a usar métodos como a intoxicação por medicamentos, devido ao fácil acesso a eles. Botega (2014) afirma que, no Brasil, a maioria dos suicídios ocorre dentro de casa (51%), seguido por hospitais (26%). Cassorla (1984) mostra que a falta de apoio social pode levar à repetição do ato suicida, com 13% dos que tentaram suicídio tendo êxito entre 1 e 12 anos após a primeira tentativa, e 5% em até 5 anos.
A divulgação de dados epidemiológicos na mídia é delicada, pois pode levar a novas tentativas de suicídio. A OMS interveio na forma de veiculação, condenando o sensacionalismo e a banalização, e criou um manual para orientar o debate sobre o suicídio e a mídia. A OMS recomenda que as estatísticas sejam interpretadas cuidadosamente, usando fontes confiáveis, evitando generalizações e expressões como "epidemia de suicídio". Os meios de comunicação podem ser fatores de risco devido ao sensacionalismo. O suicídio de Robin Williams aumentou em 10% o número de suicídios, reforçando teses sobre o impacto da exposição de suicídios de personalidades. A mídia pode contribuir para a prevenção do suicídio, fomentando políticas públicas e influenciando a opinião pública.
É importante entender que não existe um grupo de risco específico, pois qualquer indivíduo pode ter sofrimento psíquico que evolua para pensamentos suicidas. A busca por dados epidemiológicos visa entender esses atos e criar políticas de prevenção, não catalogar grupos de pessoas. Transtornos de humor (20%), esquizofrenia (19,9%) e transtornos de personalidade (15,2%) são os três primeiros colocados nas tentativas de suicídio (Botega et al., 2004). O Manual de Prevenção do Suicídio (2000) complementa que a maioria das pessoas que comete suicídio tem um transtorno mental diagnosticável. Bertolote & Fleischmann (2002) apontam que a situação se agrava quando mais de um sofrimento está associado, como depressão e uso de álcool.
A disposição genética para algumas doenças também é relevante. Um estudo de 2010 mostrou que crianças com ambos os pais esquizofrênicos têm 27% mais chances de desenvolver esse sofrimento psíquico, e 25% para transtorno bipolar. A porcentagem diminui para 7% quando apenas um pai tem o sofrimento.
O suicídio é um fenômeno complexo, influenciado por elementos ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos, biológicos e psicológicos, sendo considerado um fenômeno biopsicossocial. Inicialmente, os casos de suicídio não eram condenados na Bíblia, mas a partir do século VI, a Igreja o considerou um pecado mortal. Na Idade Média, a opinião social sobre o suicídio dependia da classe social do suicida. O suicídio passou por
inúmeras áreas, desde a filosofia e a literatura até a medicina e a psicologia (MINAYO, 2005). No início do século XVII, a medicina inseriu-se no debate, associando o suicídio a doenças somáticas como depressão e melancolia. No século XIX, a temática ganhou laicização, sendo vista como um fato social, embora as religiões continuassem a moralizar o ato (MINAYO, 2005). No século XX, o suicídio passou a ser visto como doença mental, sendo estudado pela psicologia e psiquiatria. O debate atual foca na criação de dados epidemiológicos exatos para políticas públicas de valorização da vida e prevenção do suicídio. A forma como o homem vê o mundo influencia suas ações, concentrando a ideia do suicídio no contexto histórico em que é aplicada.
Inúmeros autores das ciências humanas e sociais discutiram o suicídio sob diferentes perspectivas. Sêneca o define como "um ato de heroísmo", Goethe (1749-1832) como "um ato próprio da natureza humana", Kant (1724-1804) como "a destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da sua natureza animal", Rousseau (1712-1778) como "uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros", Nietzsche (1844-1900) como "admitir a morte no tempo certo e com liberdade", Sartre (1905-1980) como "uma fuga ou um fracasso", Shopenhauer (1788-1860) como "positivação máxima da vontade humana" (SILVA, 1992 apud SHIKIDA, 2006).
Émile Durkheim é um dos principais autores que se dedicou ao tema, cuja contribuição é uma referência para os estudos sociais. Durkheim (2000) define o suicídio como um fenômeno social, reflexo da necessidade do indivíduo em corresponder às normas e expectativas da sociedade. A relação entre indivíduo e normas leva ao suicídio, sendo fenômenos individuais que respondem a causas sociais, as "correntes suicidógenas". O autor apresenta três tipos de suicídio: egoísta, altruísta e anômico. O suicídio egoísta está ligado aos desejos individuais não realizados e ao rompimento das relações sociais.
Suicídio Altruísta e Anômico
O suicídio altruísta é caracterizado pela morte em prol de uma causa considerada nobre, visando a honra pessoal. Indivíduos com fortes laços sociais podem sacrificar suas vidas quando não conseguem atender às normas estabelecidas pelo grupo. Exemplos incluem os soldados camicases japoneses na Segunda Guerra Mundial e atos terroristas praticados por fanáticos religiosos e extremistas políticos.
O suicídio anômico decorre de anomalias sociais, perturbações na ordem social causadas pela ausência ou ruptura de regras que mantêm o equilíbrio. As crises cíclicas do capital, como a Grande Depressão de 1929,
Suicídio e a Questão Social
A questão social é a base da profissão de assistente social, sendo o objeto ou matéria-prima do seu trabalho. As expressões da questão social são frutos das desigualdades sociais da sociedade capitalista, incluindo desigualdades econômicas e de poder. Os assistentes sociais trabalham com a questão social em diversas áreas, como trabalho, família, habitação, saúde e assistência social.
José Paulo Netto destaca que a questão social é apresentada de forma diferente conforme a época e a apresentação do capital. A forma como o capital se expressa influencia a maneira como a questão social se manifesta.
Para entender a ligação do suicídio com o trabalho do assistente social, é necessário compreender como as expressões da questão social estão ligadas ao suicídio. O assistente social atua no espaço sócio-ocupacional da saúde mental, trabalhando com as expressões da questão social que se manifestam a partir da exclusão da pessoa com transtorno mental do sistema produtivo e do convívio social.
A acumulação flexível, baseada no Toyotismo, traz flexibilidade e desregulamentação dos processos de trabalho. Essa flexibilização permite maior controle sobre o trabalho, gerando pressão e repressão aos trabalhadores, levando ao adoecimento e, em alguns casos, ao suicídio. Os trabalhadores precisam ser polivalentes e altamente qualificados. O capital incentiva a participação dos trabalhadores nos processos de produção, colocando-os como colaboradores e associados, buscando reverter a queda da taxa de lucro e explorar a força de trabalho.
A flexibilidade e a precariedade do regime de trabalho no Brasil intensificam o desemprego como expressão da questão social. A rotatividade dificulta a leitura da realidade do desemprego. A partir dos anos 1990, o Brasil enfrenta a super exploração da força de trabalho, com baixos salários, alto ritmo de produção e jornadas de trabalho prolongadas.
Flexibilização do Trabalho e Adoecimento
Psíquico
Antunes (2015) argumenta que a flexibilização do trabalho leva à terceirização, resultando em altos índices de acidentes, óbitos e adoecimento psíquico, incluindo suicídio no local de trabalho. Ele também aponta que esse processo contribui para a ruptura da organização e solidariedade entre os trabalhadores, o que agrava o adoecimento. Segundo o autor, os índices de suicídio eram menores antes dos anos 1980.
A quebra dos laços de solidariedade dificulta as estratégias coletivas de defesa, aumentando o adoecimento psíquico e o suicídio no trabalho (Antunes, 2015). O suicídio é visto como um reflexo da precarização do trabalho, com consequências como terceirização, desemprego, pressão por resultados, insegurança, competição e perda de solidariedade. Esses sofrimentos psíquicos são respostas às más condições de trabalho e ao controle dos empregadores sobre a vida dos trabalhadores.
A alienação no sistema capitalista leva ao adoecimento, pois o trabalhador não se reconhece no processo de trabalho e se vê apenas como um produtor para sobreviver. Cassorla (2017) sugere que a burguesia, em busca da acumulação capitalista, suprime o potencial dos trabalhadores, comparando isso ao ato do suicida que mata suas próprias potencialidades.
Bisneto (2007) enfatiza a importância da saúde mental e do trabalho do assistente social, defendendo que a aplicação dos saberes do serviço social no campo da loucura deve ser o foco principal. Ele argumenta que a saúde mental deve ser analisada sob a ótica social, permitindo que o serviço social contribua efetivamente. A saúde mental contemporânea necessita do serviço social para ser integral.
A monopolização da ordem econômica contribui para o adoecimento psíquico através da alienação do trabalho, das relações sociais e da perda de vínculos. Trabalhadores com empregos estáveis enfrentam sobrecarga e manipulação econômica devido aos interesses da ordem globalizadora, monopolista, financista e neoliberal (Bisneto, 2007).
Além da depressão, outras manifestações de sofrimento psíquico incluem estresse, síndrome de burnout, consumo de drogas lícitas e ilícitas, e transtornos de humor. A questão social é um gatilho para pensamentos suicidas, frequentemente ligados a problemas financeiros. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007) aponta que a maioria dos suicidas passou por eventos estressantes nos três meses anteriores, como problemas financeiros e no trabalho. Crises financeiras, problemas familiares, desemprego e uso de drogas podem levar a ideações e tentativas de suicídio. Estudos de Jungeilges e Kirchgassner (2002) e Huang (1996) mostram uma relação estatisticamente significativa entre taxas de suicídio e desigualdade social/crescimento econômico.
abuso, bullying, exploração ou qualquer violação de direitos, que são as principais causas de tentativas de suicídio na adolescência. A inclusão dos assistentes sociais nas equipes multiprofissionais permite um acolhimento mais abrangente dos casos de suicídio, ampliando as possibilidades de cuidado.
O assistente social deve intervir junto aos demais profissionais, combatendo estigmas, preconceitos e desinformação sobre o suicídio. É seu dever atentar-se a práticas inadequadas e promover debates sobre o fazer profissional e os direitos dos usuários.
A pesquisa com profissionais de serviço social que atuam em saúde mental e atendem demandas de suicídio busca identificar os saberes envolvidos nessas ações, analisar criticamente a prática profissional e criar instrumentos para auxiliar outros trabalhadores. A análise das entrevistas e da bibliografia visa refletir sobre a prática profissional e construir ferramentas para uma melhor atuação do assistente social.
Embora existam muitos materiais sobre as causas do suicídio, há poucos sobre o manejo profissional, que é hegemonicamente focado na psiquiatria. A discussão do capítulo "Avaliação e Manejo do paciente" do livro Comportamento Suicida, de Blanca Guevara Werlang e Neury José Botega, visa abordar os manejos de forma ampla e multiprofissional.
Suicídio: Uma Análise Abrangente Segundo
Botega e Werlang (2004)
Botega e Werlang (2004) enfatizam que o suicídio é um comportamento complexo, não um diagnóstico em si, e cada caso exige uma análise individualizada, acolhimento e escuta atenta. Os autores destacam a necessidade de desconstruir ideias equivocadas comuns entre profissionais, como a crença de que falar sobre suicídio aumenta o risco, que tentativas são meras manipulações, ou que tentativas falhas indicam falta de intenção real.
Os técnicos que lidam com a demanda suicida devem estar atentos a diversas manifestações do desejo de não viver. Isso inclui identificar indivíduos cansados da vida, pessoas que veem a morte como algo atraente, ou aqueles que usam a autoagressão como ferramenta para resolver problemas.
O desenvolvimento da tentativa de suicídio, segundo Botega e Werlang (2004), começa com a imaginação ou contemplação da ideia, um flerte com a morte. O plano de suicídio pode culminar no ato final, sendo um sinal de alta intencionalidade, juntamente com a comunicação prévia da intenção, mensagens de despedida, planejamento detalhado e precauções para evitar a descoberta.
Além da compreensão psicológica, Botega e Werlang (2004) ressaltam a importância de entender os aspectos históricos do usuário. O assistente social desempenha um papel crucial nesse processo, utilizando seus instrumentos para trabalhar a história de vida e identificar fatores predisponentes não imediatos. É fundamental identificar os desejos de vida do usuário que se sobrepõem aos de morte, uma ação estratégica para o cuidado e a prevenção.
Botega e Werlang (2004) propõem a entrevista como principal ferramenta no primeiro contato com o sujeito, vista aqui como um acolhimento inicial, dentro da lógica da clínica ampliada e do manejo do assistente social. Os autores sugerem perguntas que auxiliam no entendimento, acolhimento, escuta e manejo do usuário com pensamentos de morte, muitas das quais já fazem parte do cotidiano do assistente social.
O desejo de morte pode ser desencadeado por situações como desemprego, violência familiar ou violação de direitos sociais. É crucial que o assistente social esteja atualizado sobre os fatores de risco sociodemográficos e como eles influenciam o usuário, como religião, estado civil e questões econômicas e de trabalho. A identificação das redes de proteção, dentro e fora do território do usuário, é essencial para o enfrentamento da demanda. O assistente social pode auxiliar o usuário a vislumbrar as possibilidades existentes, mostrando que o suicídio não é a única opção. Botega e Werlang (2004) enfatizam que o suicídio é motivado pela percepção de diminuição ou falta de opções.
A rede de apoio social, composta por amigos e parentes, é um importante suporte para o usuário. A organização da estrutura familiar é um fator relevante, pois a desorganização desse suporte pode intensificar os pensamentos de morte.
Saberes e Práticas do Serviço Social no
Contexto do Suicídio
O saber-fazer profissional do assistente social, tanto na formação acadêmica quanto na experiência cotidiana, é fundamental para efetivar e validar práticas que atendam às demandas dos usuários com ideação suicida. A prática profissional na saúde mental se insere na relação capital x trabalho, por meio das políticas sociais, configurando-se nas expressões da questão social que permeiam o usuário na busca pela efetivação de seus direitos e a quebra de estigma.
A Prática do Serviço Social e o Suicídio: Uma
Análise Bibliográfica e Teórica
A produção de conhecimento sobre a prática do serviço social é limitada, especialmente no que tange à escrita sobre o "fazer" profissional. Um levantamento bibliográfico revelou escassez de artigos sobre suicídio escritos por assistentes sociais. Essa lacuna leva os profissionais a buscar subsídios em outras áreas, como psicologia e psicanálise.
Referenciais teóricos da psicologia e psicanálise são frequentemente utilizados por assistentes sociais, embora nem sempre seja claro se são aplicados como teorias ou saberes construídos a partir da experiência. A grade curricular de algumas faculdades de serviço social inclui disciplinas de psicologia social e do desenvolvimento, que podem influenciar a prática profissional. Em alguns países, como os Estados Unidos, a psicanálise ainda é presente no serviço social.
Nesta pesquisa, os assistentes sociais utilizam referenciais teóricos da psicanálise para entender processos de adoecimento e subjetividade humana, sem a intenção de psicologizar os usuários ou usar a psicanálise como base do seu fazer profissional. A percepção de que falar diminui o sofrimento é valorizada, qualificando a escuta sensível durante o acolhimento. O foco não é o sintoma em si, mas a identificação da causa do sofrimento para garantir que seja sanada dentro das possibilidades do trabalho do assistente social nas políticas sociais e na garantia de direitos.
O conceito de contratransferência é mencionado como importante para a escuta tolerante do usuário. Termos como "histeria" e "fantasia", da psicanálise, também aparecem nos relatos dos profissionais.
O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) aponta quatro eixos de ação do assistente social: atendimento direto aos usuários, mobilização, participação e controle social, investigação, planejamento e gestão, e assessoria, qualificação e formação profissional.
Conceitos como acolhimento, escuta qualificada e vínculo podem ser considerados estranhos por alguns profissionais pioneiros do serviço social, que os veem como provenientes da psicologia social. É necessário debater a intencionalidade e potencialidade da clínica ampliada no serviço social, alinhada ao projeto ético-político da área, para potencializar a identidade profissional do assistente social na saúde.
A escuta e a fala no acolhimento são instrumentos importantes para os assistentes sociais que lidam com a demanda do suicídio, buscando entender a realidade de forma totalitária ou focando na questão socioeconômica. O acolhimento é fundamental para entender o contexto de vida do usuário.
A subjetividade, entendida como a construção das experiências particulares do sujeito, é um ponto importante. Cada pessoa é única em seu modo de pensar, viver, agir e falar, e a subjetividade é constituída pelo consciente e inconsciente. A psicanálise é vista como um saber que trabalha no campo do inconsciente para entender a subjetividade, o desejo e o sofrimento.
A crítica à psicologização no serviço social não deve impedir o entendimento e o trabalho com a dimensão subjetiva em conexão com as expressões da questão social. A psicologia sistêmica e do desenvolvimento também são relevantes para entender os processos de vida e a construção do sujeito. O sofrimento humano, tanto dos usuários quanto dos profissionais, impõe demandas no campo da subjetividade, exigindo investimentos teóricos, metodológicos, técnicos, operativos e ético-políticos.
Os estudos sobre suicídio de Neury Botega são referências importantes, apresentando o tema de diversas maneiras e em diferentes núcleos de saberes, com uma lógica multiprofissional e interdisciplinar. Os autores constroem um protocolo de atendimento em situações de suicídio, presente nos fluxos de atendimento de alguns serviços.
A efetivação da prática multiprofissional, preconizada pelo SUS e pelo CFESS, é essencial. As entrevistas apontam para a necessidade de dialogar com a equipe e com outros saberes para trabalhar o sofrimento do usuário. No entanto, muitos profissionais enfrentam dificuldades nessa prática devido aos corporativismos.
O trabalho multiprofissional e em rede é uma ferramenta de manejo, ligando as práticas profissionais dos diferentes núcleos de saberes à demanda multifatorial. O trabalho em equipe também é importante no processo de entendimento da ideação suicida.
Em algumas situações, o profissional de serviço social não trabalha as possibilidades dentro do próprio núcleo, não produzindo ou compartilhando saberes com a equipe. É importante que o serviço social auxilie no processo de recuperação, prevenção ou promoção do processo de adoecimento dos usuários.
A criatividade é fundamental nos processos de trabalho do assistente social na saúde mental, que apresenta variadas expressões da questão social. É necessário ter uma gama de instrumentais para além do encaminhamento, identificando o que o serviço social pode fazer para a demanda.
O assistente social, com sua formação generalista, pode acionar diversas políticas para atender uma demanda relacionada ao suicídio, bem como
A formação profissional é um tema central, com reflexões sobre como ela influencia as práticas cotidianas. Assistentes sociais relatam pouca ou nenhuma formação específica em saúde mental, com foco na previdência social durante a graduação. Essa lacuna não se restringe à formação em serviço social, estendendo-se à residência multiprofissional em saúde.
Após o movimento de Reconceituação, a sistematização e reflexão sobre os processos de trabalho em saúde foram negligenciadas, especialmente em saúde mental, com receio de retornar a práticas conservadoras. Temas como subjetividade, sexualidade e religião foram marginalizados na formação.
A construção de saberes a partir das demandas da prática profissional surge como uma necessidade, impulsionada pela expectativa de que assistentes sociais possuam o mesmo nível de conhecimento em saúde mental que outros profissionais. A experiência prática se torna fundamental, especialmente na ausência de referencial teórico prévio.
A falta de referencial teórico e senso crítico pode prejudicar a prática profissional, levando a julgamentos e dificultando a garantia de direitos e a emancipação social. A construção de saber a partir da prática pode ser válida, preenchendo lacunas na formação profissional e auxiliando na resolução de problemas cotidianos.
A formação é vista como inadequada para lidar com situações de ideação suicida, sendo a experiência prática a principal fonte de aprendizado.
A importância de uma formação generalista é destacada, preparando para diferentes realidades e expressões da questão social. A formação é entendida como um processo contínuo, com necessidade de educação continuada.
A busca por referenciais teóricos ocorre através de especializações, pós- graduações, livros e artigos, visando um melhor atendimento na área da saúde mental. O diálogo com colegas e a inserção em equipes de saúde multiprofissional são essenciais.
Compreender termos da área da saúde e processos de trabalho não abordados na formação é crucial para o trabalho em equipe e em rede. A equipe é vista como fundamental para lidar com situações de suicídio.
As condições de trabalho, embora não sejam o foco principal, emergem como um tema relevante. A precarização dos processos de trabalho é um problema histórico no Brasil.
Os profissionais entrevistados são servidores públicos, com carga horária superior à recomendada. A falta de investimento em políticas de saúde mental e o avanço de ideias neoliberais precarizam as condições de trabalho, como a falta de recursos para visitas domiciliares e atividades em grupo, além da dificuldade na articulação da rede.
A alta demanda e o enxugamento dos serviços dificultam o atendimento adequado e a implementação de práticas preconizadas pelo SUS, como a educação permanente e a articulação com fóruns de direito. A falta de sensibilidade dos gestores contribui para o adoecimento dos profissionais.
O adoecimento dos profissionais está ligado às condições de trabalho. A fragilidade das políticas públicas impacta a estrutura de trabalho dos assistentes sociais, impedindo a efetivação de suas práticas e levando ao adoecimento e à desesperança.
O estudo teve como objetivo identificar os saberes utilizados por assistentes sociais no atendimento ao suicídio, através de entrevistas. A pesquisa, de caráter qualitativo, buscou responder questões sobre a intervenção na área e estudar o saber, as habilidades e a experiência dos profissionais.
O referencial teórico foi abordado, apresentando as principais bibliografias que auxiliaram na construção do trabalho. O segundo capítulo abordou os fundamentos do suicídio, com dados epidemiológicos que demonstram a magnitude do problema.
O suicídio foi debatido dentro dos saberes das ciências humanas e sociais, desde Durkheim até estudos econômicos e sociais de Marx, ressaltando a necessidade de um estudo multidisciplinar. A psicanálise foi utilizada para entender o manejo e o entendimento do suicídio no campo psi, sem psicologizar o sujeito, com base nos estudos de Freud sobre melancolia e pulsões de morte e vida.
Os nexos do suicídio com a questão social foram explorados, considerando que o desejo de morte é impulsionado por expressões da questão social, como desemprego e violência. A demanda do suicídio está ligada à prática dos profissionais de serviço social na saúde mental.
O terceiro capítulo apresentou formas de manejo profissional para usuários com ideação ou tentativa de suicídio, analisando a bibliografia e os resultados da pesquisa com profissionais de serviço social em diferentes serviços de saúde mental.
Os saberes que orientam as práticas dos profissionais foram explorados, buscando entender os referenciais teóricos e saberes envolvidos no atendimento ao suicídio, incluindo saberes construídos na prática, referenciais teóricos dentro e fora da área, como a psicanálise e a lógica da clínica ampliada.
Buscou-se compreender como o assistente social maneja a demanda do suicídio, quais habilidades e procedimentos utiliza, como acolhe, escuta e