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Paulo freire publicou em 1969 a obra 'extensão ou comunicação?' no instituto de capacitación e investigación en reforma agrária, em santiago de chile. Nesse livro, freire questiona se a melhor metodologia para ação transformadora por meio do ensino é estender seu conhecimento ou se basear na comunicação para modificar cenários que precisam de mudanças. A obra aborda a importância da comunicação na educação, desafianto a compreensão ingênua de que a educação se baseia em transferir conhecimento para os educandos.
Tipologia: Esquemas
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As relações do homem-mundo mostram-se relações de construções e aprendizagem. Assim, o espaço agrário pode ser visto como mais um ambiente passível da comunicação educadora como tantos outros espaços não tradicionais. Dentro desse viés Paulo Freire publicou, em 1969, pelo Instituto de Capacitación e Investigación en Reforma Agrária, em Santiago de Chile, sua obra Extensão ou comunicação?. O livro questiona, já em seu título, qual seria a melhor metodologia a ser aplicada pelo indivíduo responsável por uma ação transformadora por meio do ensino: estender seu conhecimento ou basear-se na comunicação para modificar os cenários que precisam de mudanças? Para responder a essa pergunta inicial, o autor usa o primeiro capítulo para apresentar reflexões iniciais que permitem uma abordagem mais ampla do tema.
O estudo da semântica, que oferece princípios importantes para o pensamento questionador, abre as discussões acerca desse termo impresso na capa do trabalho, “extensão”. Esse termo usual no diálogo agrário leva a refletir sobre o papel do educador, que é visto, com base na palavra, como aquele responsável por uma transmissão de conteúdos de uma imaginária linha vertical que passa do detentor do conhecimento, na parte de cima, para os que não o possuem, na
(^1) Graduando em Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília (UCB), bolsista de Iniciação Científica pela FAP-DF, integrante do grupo de pesquisa Acessibilidade, Cidadania e Cultura Midiática: Desafios para a Educomunicação, financiado pela FAP-DF na Universidade Católica de Brasília (UCB). (^2) P.
parte de baixo. Nessa estrutura estão explícitos equívocos que provocam fatalidades culturais, sociais e intelectuais, por exemplo, pois se perdem valores e saberes dos indivíduos, os quais são equivocadamente vistos como ignorantes. Percebe-se, então, que o educador não deve se achar em uma posição de saber absoluto, responsável apenas por transmitir seu conhecimento a outras pessoas que nada poderiam oferecer, pois estes últimos possuem saberes diferentes que, em uma comunicação, podem somar-se para um objetivo transformador e dinâmico, como o da reforma agrária. Após a análise semântica dos termos comunicação e extensão, compreende-se que o primeiro, diferentemente do segundo, não deseja domesticar indivíduos, mas alcançar bens maiores até do que aqueles propostos por uma reforma no campo, como a libertação do homem.
Freire usa a expressão “educar e educar-se” 2 para explicar que a metodologia comunicativa refuta qualquer “extensão educativa”, que por si só já se contradiz, como ele esclarece na pesquisa semântica. No âmbito da comunicação, educador e educando dialogam ativamente em um processo no qual ambos são receptores e emissores do ensino, fazendo com que ambos eduquem-se e percebam que nenhum dos dois tudo sabe ou nada sabe. Esse ideal combate o pensamento equivocado de que a
educação se baseia em transferir a consciência de mundo para aqueles que depositarão esse saber, como debate o autor:
Daí que se torne indispensável à superação da compreensão ingênua do conhecimento humano, na qual muitas vezes nos conservamos. Ingenuidade que se reflete nas situações educativas em que o conhecimento do mundo é tomado como algo que deve ser transferido e depositado nos educandos. Este é um modo estático, verbalizado, de entender o conhecimento, que desconhece a confrontação com o mundo como a fonte verdadeira do conhecimento, nas suas fases e nos seus níveis diferentes, não só entre os homens, mas também entre os seres vivos em geral. 3
Essa técnica equivocada de ensino acaba por tomar o caminho contrário do proposto, ou seja, o aprendizado não acontece quando seres humanos são transformados em objetos. Quando sujeitos recebem conteúdos que não dialogam com sua vivência de mundo não é possível compreender ou utilizar esse ensinamento, tornando esse processo falho.
Para contribuir com os camponeses a fim de que uma forma crítica de atuar seja implantada em seu trabalho, a educação não deve, então, deteriorar todos os seus conhecimentos e substituí-los por novos conceitos, como está implícito no conceito da extensão. Faz-se necessário compreender os âmbitos culturais, linguísticos e sociais do camponês antes de qualquer mudança para alcançar a problematização crítica necessária a qualquer desenvolvimento.
É esse raciocínio questionador que leva o indivíduo a ser transformador, um sujeito constantemente ativo em sua relação com seu ambiente, diferenciando-se do animal irracional que está no mundo, mas não está com o mundo. Essa diferença faz-se sutil somente no nível gramatical, pois o autor pontua a importância de
nos enxergarmos não como seres que precisam se adaptar aos contextos, mas como seres responsáveis por tomadas de decisões, “da transformação do contorno”^4. A fim de se alcançar as mudanças necessárias, o termo “extensão” já foi deixado para trás, sendo substituído pela comunicação. Aprofundando-nos nessa palavra, encontramos bases mais sólidas e eficazes para prosseguirmos com a temática da obra de Freire, pois o diálogo se mostra uma potente ferramenta de mutações que permite humanizar o mundo sem que aconteçam dominações ou invasões, típicas de cenários arcaicos não dialógicos.
Ao pensarmos nesse domínio podemos nos lembrar mais facilmente de grandes situações, mas ele também acontece de forma mais sutil, como quando, por exemplo, o agrônomo educador impõe suas técnicas estáticas “mecanicamente aos camponeses, invadindo indiscutivelmente sua cultura, sua visão de mundo”^5 , em busca de resultados instantâneos que acabam freando possíveis evoluções a longo prazo.
Quando apresentados às possibilidades dialógicas, os indivíduos responsáveis pelo aprendizado dos camponeses relatam dificuldades comunicativas, como a apatia em torno da intenção do diálogo, mas não observam seu contexto. Aceitando essa condição não se percebe todo o cenário histórico de submissão, diminuição e rebaixamento intelectual e social sofrido pelos trabalhadores do campo, que foram reféns de um sistema cujas únicas vozes ouvidas eram aquelas dos grandes latifundiários.
A história vertical do campo, essencialmente antidialógica, contribui para o silêncio dos camponeses e para o consequente atraso agrário, no qual a mobilidade social não se faz presente e a troca de experiências entre funcionários e donos também não acontece. Reconhecendo esse sistema, pode-se então quebrar essa estrutura obsoleta e iniciar o processo de comunicação primordial para as mudanças agrárias, no qual o camponês conheça a importância do seu saber e da sua fala. Para isso, o autor defende uma problematização que envolva o próprio silêncio
3 P.28 4 P. 5 P.