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Paris: Tequi, 2008. 94p. A presente resenha contempla três obras recentes de Cristologia que têm em comum a interdisciplinaridade própria das questões atuais de ...
Tipologia: Exercícios
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Teocomunicação Porto Alegre v. 38 n. 161 p. 413-417 set./dez. 2008
A presente resenha contempla três obras recentes de Cristologia que têm em comum a interdisciplinaridade própria das questões atuais de Cristologia. O primeiro, Rabí Jesús de Nazaret , é um livro de divulgação sobre o mundo da Palestina do século I, a partir das mais recentes descobertas arqueológicas. Nesse contexto, seguindo os métodos histórico-críticos, a figura de Jesus é recolocada em seu próprio ambiente cultural e histórico. O A., Francisco Varo, um filólogo e exegeta espanhol, originário de Córdova, na Andaluzia, com estudos na Universidade Hebraica de Jerusalém, doutorado em Filologia Bíblica Trilíngue pela Pontifícia Universidade de Salamanca, é professor ordinário de Sagrada Escritura, na Universidade de Navarra. Escreveu, dentre outros livros relacionados à Sagrada Escritura, Los Cantos del Siervo en la exégesis hispano-hebrea (Córdoba, 1993), e é membro de uma equipe de tradutores da Sagrada Escritura editada pela Universidade de Navarra. O livro em questão não pretende ser uma biografia de Jesus, nem mesmo uma Cristologia, no sentido clássico do termo, pois não trata dos aspectos próprios da Teologia sobre a figura de Jesus no plano da Salvação, nem da explicitação dialógica da proclamação da fé “Jesus é o Senhor”. Faz parte da coleção “Estudos e Ensaios” da BAC (Biblioteca de Autores Cristianos), na seção de História e não na de Teologia, talvez seguindo a própria intenção e indicação do A. Mais bem-colocada no âmbito da chamada “terceira onda” na busca do Jesus histórico, a obra repassa inúmeras fontes literárias e arqueológicas antigas para
reconstituir o ambiente multicultural e religioso da Palestina do século I e inserir aí a própria figura de Jesus, a quem chama de o Rabi de Nazaré. Causa interesse a riqueza de detalhes, em base às recentes descobertas arqueológicas, do ambiente judaico-palestinense do século I, com sua influência helênica. A intenção do livro não é uma revisão da questão do Jesus histórico, desde o debate sempre atual sobre a existência ou não de Jesus, levando em consideração as próprias fontes cristãs primitivas. É verdade que o A. não deixa de apresentar os temas centrais da interpretação cristã sobre a vida e a morte de Jesus, especialmente nos últimos capítulos da obra, mas sempre de uma maneira indireta, a modo de uma apresentação da hermenêutica das comunidades de fé, ainda que notoriamente benévola para com elas. Sem esgotar a temática, apresenta uma visão de conjunto do ambiente político, social, econômico, cultural e religioso no qual surge a figura de Jesus como um Rabino, com uma mensagem universalista que o faz ser considerado um Mestre para uma multidão de discípulos e também um perigoso agitador pelas autoridades romanas e judaicas. O livro serve como uma divulgação para aqueles que desejam inteirar-se dos resultados das pesquisas históricas sobre Jesus, uma leitura cativante e fluida, com ótimas referências para aqueles que desejam se aprofundar mais no tema. O segundo livro, Le Christ philosophe , tem por autor Frédéric LENOIR, historiador e pesquisador associado à Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales e é diretor da revista Le Monde des religions. É A. também de ensaios e romances históricos. A presente obra pretende ser uma apresentação da figura de Jesus Cristo, de sua autêntica mensagem e de sua real influência na História da humanidade, especialmente no Ocidente. Por esse motivo, pode ser classificado como uma Cristologia Filosófica. Tem a pretensão de seguir a intuição de Erasmo de Roterdã que, no século XVI, reutiliza uma expressão dos Padres Alexandrinos do século II: a “Filosofia de Cristo”. Erasmo aspirava a um projeto de pedagogia humanista que tornasse possível o acesso ao essencial do Cristianismo, sem que fosse necessário o recurso a argumentos teológicos. Nesse sentido, faz uma apresentação crítica do Cristianismo como uma deturpação histórica da mensagem original de Jesus. Mas, também reconhece que o Cristianismo não está somente marcado pela perversão e nem se reduz a ela. Apesar das fogueiras da Inquisição, das conversões forçadas, das cruzadas, do escândalo sexual dos papas da Renascença ou dos padres pedófilos de hoje, a história do Cristianismo
a mensagem do Evangelho, admirarem e degustarem sua sabedoria, são eles mais sensíveis a essa subversão. Nesse momento surge a figura de Kierkegaard, o filósofo dinamarquês, que escandaliza as Igrejas cristãs, ao afirmar: O Cristianismo foi abolido por sua própria propagação! Seguindo essa afirmação, Jacques Ellud, intelectual atípico, jurista, historiador, teólogo, sociólogo, saído do Protestantismo, explicará que o Cristianismo histórico transformou-se numa religião, numa moral e num poder que se enriqueceu, enquanto a novidade profunda da mensagem de Cristo foi esquecida e mesmo transformada em seu exato contrário. Essa foi a razão pela qual o A. quis escrever este livro. O A. se coloca junto a Voltaire e Kierkegaard na dura crítica contra a religião cristã: tudo o que há nela não tem nada a ver com a mensagem evangélica! Reconhece que, ao longo da história da Igreja, ela desempenhou um papel muito importante de transmissão dessa mensagem e, a partir dela, prestou grandes serviços aos pobres e desfavorecidos, mas que frequentemente evitou confrontar suas práticas com a mensagem que anunciava, pois isso ameaçaria sua própria existência, seu desenvolvimento e seu domínio. A Inquisição somente deixou de existir no momento em que a Igreja não mais possuía os meios para dominar a sociedade, graças à separação entre Igreja e Estado. O A. considera não haver sentido em afirmar uma Filosofia cristã; porque, ligada à fé, a Filosofia torna-se uma servidora da Teologia, perdendo assim seu estatuto de Filosofia. No entanto, a mensagem de Jesus pode ser lida em vários níveis: sobretudo sua dimensão religiosa. Mas ele também transmitiu um ensinamento ético de caráter universal: a não-violência, a igual dignidade entre todos os seres humanos, justiça e partilha, o primado do indivíduo sobre o grupo e a importância da liberdade de escolha, a separação do político e do religioso, o amor ao próximo indo até ao perdão e amor aos inimigos. Tudo isso fundamentado na revelação de um Deus-amor e numa perspectiva transcendente. Essa mensagem ética é uma verdadeira sabedoria, no sentido de como a entendiam os filósofos gregos. Sobre esses ensinamentos se apoia o projeto racional de uma moral laica e dos direitos do homem dos filósofos iluministas, emancipando as sociedades europeias da influência das Igrejas, surgindo uma ética cristã sem Deus e mesmo anticlerical, ‘desclericalizada’. Em suma, com intenção de apresentar a mensagem mais universal de Cristo, uma sabedoria que ultrapassa largamente o círculo dos fiéis e o catecismo das Igrejas, pareceu oportuno ao A. apresentar Cristo sob o título de filósofo.
Resenha de Cristologia 417
O terceiro livro, Le Christ et la science expérimentale moderne , cujo autor, Max Thürkauf, foi professor de química e física na Universidade de Basileia, doutor em Filosofia e pesquisador, no âmbito da produção de energia nuclear do governo francês. Morto em 1993, dedicou os últimos anos de sua vida à problemática do moderno ateísmo e materialismo cientificista frente ao dado da fé cristã. O livro – na verdade um conjunto de três artigos independentes – é leitura quase obrigatória para quem se interessa pelo diálogo entre fé e razão. No primeiro artigo, que dá nome ao livro, o A. repassa o que ele chama de drama das ciências experimentais modernas e a questão religiosa como um problema de interpretação de textos. Causa interesse a crítica feita aos cientistas que, por uma mentalidade tecnocrática, estariam impossibilitando um autêntico desenvolvimento humano. Torna-se mais interessante ainda, nessa discussão, a relação entre fé e ciências, ou fé e razão, o surgimento de um terceiro dado pelo qual o A. demonstra um interesse apaixonado: o Amor. Na lembrança de Pascal, procura encontrar o caminho para o seguimento de Cristo, identificando, na falta da “lógica do coração”, uma das necessidades atuais. O segundo artigo trata do tema Evolução, em sua relação entre a ciência e a fé. Aqui o A. faz também duras críticas a cientistas e teólogos que, sem perceber, transpõem a temática do evolucionismo para o campo da Filosofia, mantendo a argumentação própria das ciências experimentais, problema em que também a Teologia teria incorrido. O terceiro artigo trata da responsabilidade moral dos cientistas diante do mistério da vida humana. Mais do que nos outros dois ensaios, neste aparece claramente a intenção de aportar uma luz à discussão ética atual na relação com o mundo da técnica e da ciência. O tema em comum aos três ensaios é o papel das ciências no mundo atual e, ao mesmo tempo, constitui um incentivo às gerações mais jovens a aventurar-se no caminho da fé. Assumindo uma posição notoriamente apologética, no melhor sentido de compreensão deste termo, não cai nos perigos e defasagens da antiga apologética, mas afronta, num diálogo franco e sincero com as ciências modernas, as temáticas e problemas atuais.
Anderson Batista da Silva Mestrando em Teologia – PUCRS Érico J. Hammes Orientador – PUCRS