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Análise da Relação Política entre Línguas: Língua Portuguesa no Brasil, Notas de estudo de Linguística

Uma pesquisa sobre o funcionamento da língua portuguesa no brasil, abordando a distribuição política das línguas e o imaginário de língua única no país. O estudo posiciona a questão da relação entre línguas como política, observando-a sob uma perspectiva histórica-social e enunciativa da linguagem. A autoria busca compreender o funcionamento da língua portuguesa na relação com seus falantes e o modo como esses são tomados pelas línguas e suas divisões, distinguindo-se linguisticamente.

O que você vai aprender

  • Como as línguas diferentes se relacionam no Brasil?
  • Como a distribuição política das línguas afeta a língua portuguesa no Brasil?
  • O que é o imaginário de língua única no Brasil?
  • Qual é a posição política da língua portuguesa no Brasil?
  • Como a história política-social e ideológica da língua portuguesa no Brasil pode ser entendida?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

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RELAÇÃO ENTRE LÍNGUAS: diferentes modos de dizer o português
brasileiro
ADRIANA DA SILVA
SÃO CARLOS
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Baixe Análise da Relação Política entre Línguas: Língua Portuguesa no Brasil e outras Notas de estudo em PDF para Linguística, somente na Docsity!

RELAÇÃO ENTRE LÍNGUAS: diferentes modos de dizer o português

brasileiro

ADRIANA DA SILVA

SÃO CARLOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

RELAÇÃO ENTRE LÍNGUAS: diferentes modos de dizer o português

brasileiro

A DRIANA DA S ILVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Linguística. Linha de pesquisa: Linguagem e discurso Orientadora: Dra. Soeli Maria Schereiber da Silva

SÃO CARLOS

Dedico este trabalho a meus pais, Maria Aparecida e Roberto in memória pelo apoio, incentivo e carinho que deram a mim ao longo destes anos; A meu marido, Monteiro e ao meu filho Enzo pela compreensão e por todos os momentos em que estive ausente em prol deste trabalho.

O “mesmo” abriga, no entanto um “outro”, um “diferente” histórico que o constitui ainda que na aparência do ‘mesmo’: o português brasileiro e o português português se recobrem como se fossem a mesma língua, mas não são. (Eni Orlandi, Língua brasileira e outras histórias )

RESUMO

Nosso trabalho intitulado Relação ente Línguas: diferentes modos de dizer o português brasileiro tem como arcabouço teórico a Semântica do Acontecimento desenvolvida por Guimarães (2005b), a qual estabelece uma relação com a Análise do Discurso de filiação francesa, de modo específico, e, em geral, com as teorias do sujeito. Embasados nessa filiação teórica para constituir nosso corpus, destacamos entrevistas realizadas pelos alunos do curso de graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos, datadas do ano de 2009, durante a disciplina de Políticas Linguísticas, ministrada pela Profª. Drª. Soeli Maria Schereiber da Silva, com o intuito de desenvolver reflexões sobre a língua portuguesa, em um determinado espaço de enunciação. Nesta pesquisa, propomo-nos a estudar como se dá o funcionamento da língua portuguesa, a partir de uma análise enunciativa da linguagem, abrindo uma reflexão sobre a distribuição política das línguas, assim com o imaginário de língua una no Brasil. Nessa perspectiva, nossa questão foi observarmos como os falantes enunciam sobre sua língua ao estabelecerem uma relação com a história de colonização que no acontecimento de linguagem, significa a partir do recorte de memorável e como a divisão que se estabelece entre o português do Brasil e do português de Portugal no espaço de enunciação brasileiro se faz presente por meio dos falantes ao predicarem a língua a qual afirmam seu pertencimento. A respeito das nossas análises, buscamos através das entrevistas fazer um estudo enunciativo da linguagem em que os falantes são sujeitos afetados pelo simbólico que se localizam em um tempo e um espaço. Nesse sentido, os sujeitos são constituídos no Acontecimento enunciativo, pois é nesse que analisamos suas posições, os lugares de que falam e o modo como falam, de que modo falam e como os seus dizeres os significam. Desse modo, esse trabalho objetiva-se, por tratar da relação entre línguas como relação político-histórica e social da linguagem em que observarmos como os falantes enunciam sobre sua língua após mais de meio século da definição do nome Língua portuguesa pelo congresso nacional e como esses falantes são tomados pelas suas divisões, distinguindo-se assim linguisticamente. Palavras-chave : enunciação; sujeito; história e lusofonia

LISTA DE FIGURAS

  • Figura 01- Quadro de Registros Língua
  • Figura 02- Quadro de Registros Língua......................................................................
  • Figura 03- Quadro de Registros Língua......................................................................
  • Figura 04- Diagrama de DSD- Divisões da Língua....................................................
  • Figura 05 – Diagrama de DSD Cena I........................................................................
  • Figura 06 – Diagrama de DSD Cena II......................................................................
  • Figura 07 – Diagrama de DSDCena III......................................................................
  • INTRODUÇÃO SUMÁRIO
  • CAPÍTULO I - A LÍNGUA ENQUANTO OBJETO DE UMA CIÊNCIA..................
  • 1.1 ARBITRARIEDADE DO SÍGNO
  • 1.2 UMA SINCRONIA
  • 1.3 LANGUE X PAROLE
  • 1.4 UM ESTUDO HISTÓRICO E ENUNCIATIVO DA LINGUAGEM
  • CAPÍTULO II-LÍNGUA, ENUNCIAÇÃO E HISTÓRIA
  • ENTIDOS E MEMÓRIA 2.1 PROCESSO DE COLONIZAÇÃO LINGUÍSTICA NO BRASIL, EFEITOS,
  • 2.2 O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO E LUSOFONIA
  • 2.3 O PROCESSO DE NOMEAÇÃO DO IDIOMA NO BRASIL......................................
  • CAPÍTULO III - POR UMA SEMÂNTICA DO ACONTECIMENTO
  • 3.1 SEMÂNTICA DO ACONTECIMENTO
  • 3.2 ESPAÇO DE ENUNCIAÇÃO E AS DIVISÕES DA LÍNGUA POTUGUESA
  • 3.3 DIVERSIDADES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
  • CAPÍTULO IV ANÁLISES: LÍNGUA BRASILEIRA X LÍNGUA PORTUGUESA
  • 4.1 OS RECORTES
  • 4.2 ANÁLISE CENA I
  • 4.3 ANÁLISE CENA II
  • 4.4 ANÁLISE CENA III
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • REFERÊNCIAS.................................................................................................................
  • ANEXOS.............................................................................................................................

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metodológico da textualidade tal como defende Guimarães (2006) que nos auxiliará na investigação e na análise dos dados já coletados. Esse trabalho se posiciona como um estudo sobre relação entre línguas, e tomamos esta como sendo política; sendo assim, observamos essa questão sob uma perspectiva histórica-social e enunciativa da linguagem em que buscamos compreender o funcionamento da língua portuguesa na relação com seus falantes e o modo como esses são tomados pelas línguas e suas divisões, distinguindo -se assim linguisticamente. Nesse sentido, Guimarães afirma que a “língua que falamos está regulada por uma regulação com a língua do Estado enquanto uma língua, a língua (una) do Estado: gramatizada, normatizada” (GUIMARAES 2005b, p.21). Tomamos essa descrição de Guimarães para refletirmos sobre como se configura para nós, a relação entre línguas. Uma língua não é homogênea, a língua se caracteriza pela heterogeneidade que a constitui. O imaginário de língua una, deslegitima tal diversidade da língua, e é sob essa perspectiva que consideraremos a língua portuguesa. Logo, essa configuração hierárquica que cruza um imaginário de língua una, com vista a desconsiderar a diversidade da língua portuguesa, para nós se instala como uma relação entre línguas sendo política, ou seja, hierárquica e desigual. No entanto, para este trabalho nos aproximamos para discutir essa questão do conceito de político de Guimarães (2005), sendo este para o autor considerado uma contradição de uma normatividade que estabelece uma divisão desigual do real e a afirmação do pertencimento dos que não estão incluídos. Desse modo, cabe salientar que nos interessou observar como se dá o funcionamento da língua portuguesa na relação com seus falantes sob uma perspectiva enunciativa da linguagem. Portanto, buscamos por meio das análises das entrevistas compreender a relação do falante com sua língua, pois acreditamos, assim como Guimarães (2005b), que só há línguas porque há falantes e só há falantes porque há línguas, e entendemos falantes como pessoas determinadas pelas línguas que falam, ou seja, como uma categoria linguística e enunciativa, citando Guimarães, podemos então afirmar que, falantes “são sujeitos da língua enquanto constituídos por este espaço de línguas e falantes que chamo espaço de enunciação” (GUIMARÃES, 2005b, p. 18), que para esse este estudo é caracterizado como espaço de enunciação brasileiro. Lembrando que tomamos tal qual Guimarães (2005b), o espaço de enunciação como, espaços de funcionamento de línguas, que se dividem, redividem, se misturam, desfazem, transformam por uma disputa incessante. E é com base

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nesta problemática e por mio deste arcabouço teórico que este estudo, se constitui através dos capítulos a seguir. No primeiro capítulo, intitulado A língua enquanto objeto de uma ciência , retomamos a teoria lingüística de Fernand Saussure (2006) e a leitura de alguns teóricos a partir dos conceitos estabelecidos no Curso Geral de Lingüística, tais como Benveniste (1995) Normand (2009) e em especial o semanticista Eduardo Guimarães (2005a) em sua obra Os limites do sentido, com vista a mobilizarem conceitos que fundaram a linguística como ciência e a limitação que se estabeleceu pela dicotomia langue/parole, e consequentemente o corte epistemológico que se deu com a exclusão do sujeito do objeto (mundo) e da história. No segundo capítulo, que tem como título Língua , Enunciação e História, fizemos um percurso histórico e enunciativo, conforme nos apresentam os autores Dias (1996), Mariani (2004) e Orlandi (2009) ao postularem questões desde a constituição da nossa língua até as discussões mais recentes em torno do idioma falado no Brasil. Desse modo, discutimos o processo de historicização da nossa língua e também os efeitos políticos ideológicos constituintes de uma memória na institucionalização de uma língua nacional. No terceiro capítulo, sob o título Por uma semântica do acontecimento , dissertamos sobre o modo pelo qual uma semântica de base enunciativa, mais especificamente a Semântica do Acontecimento, tal qual Guimarães (2005b) propõe um modo de tratamento enunciativo do sentido. Assim, o nosso trabalho, no que tange à sua inscrição teórica, visa em específico, a enunciação enquanto acontecimento, assim, analisamos cenas enunciativas e tomamos como suporte e princípio norteador os elementos teóricos e epistemológicos da Semântica do Acontecimento proposta e desenvolvida por Guimarães(2005b).Uma Semântica de base enunciativa onde o sujeito se constitui numa relação social e histórica que se faz na língua e pela língua. Finalmente, no quarto capítulo, findamos o nosso trabalho, com as Análises das entrevistas: língua portuguesa x língua brasileira , por meio do arcabouço teórico, no qual nos inscrevemos, a partir de Guimarães (2005b:2007a), com base na Semântica do Acontecimento, ao mobilizar conceitos como o de espaço de enunciação, falante, memorável e outros. E no que concerne à metodologia do nosso trabalho, para a observação de nossas análises tomamos o autor já citado para fazer uma descrição

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CAPÍTULO I - A LÍNGUA ENQUANTO OBJETO DE UMA CIÊNCIA

Neste capítulo, retomaremos a teoria linguística de Fernand Saussure (2006) e a leitura de alguns teóricos a partir dos conceitos estabelecidos no Curso Geral de Linguistica, tais como Benveniste (1995), Nomand (2009) e em especial o semanticista Eduardo Guimarães (2005a) em sua obra Os limites do sentido. Esse aparato teórico nos interessa na medida em que a leitura da obra saussuriana é fonte bibliográfica para a nossa formação enquanto lingüistas e principalmente porque nessa retomada da obra do autor a partir desses teóricos, podemos refletir sobre questões específicas no campo da ciência da linguagem, ao mobilizarmos conceitos que fundaram a linguística como ciência e estabelecendo assim uma relação a partir da dicotomia langue/parole na compreensão de um estudo de natureza semântica. Guimarães (2005a) trabalha a partir dos elementos considerados exteriores a língua por Saussure (2006), como o sujeito, o objeto (mundo) e a história. O autor ao estabelecer uma teoria semântica na qual nos inscrevemos para a constituição da nossa pesquisa, considera crucial a noção de sentido, ou significação da linguagem. Ainda de acordo com o autor, “Muitos são os modos pelos quais se procura estudar o que se chama de significação ou sentido da linguagem”, este posicionamento sempre nos remete a refletir sobre o que é o sentido e a significação. Para ele, a semântica tem procurado sempre lidar com três exclusões saussurianas: o sujeito, a história e o objeto, ou seja, “[...] as semânticas linguísticas têm considerado a noção de sentido, ou significação, sempre como uma relação envolvendo algum dos elementos desta tripla exclusão” (GUIMARÃES, 2005a, p. 11). A significação para a semântica deve ser vista a partir do que se definiu como o exterior de Saussure, ou seja, Guimarães (2005a) propõe um estudo histórico e enunciativo da linguagem que envolva não só os elementos do interior linguístico estabelecido pela teoria saussuriana, mas também a inclusão dos elementos que ele considerou como exterior ao estudo da língua. Muitos estudos que circundam em torno das questões e reflexões gestadas no interior da ciência da linguagem retomam a postulação teórica de Saussure. Os autores Benveniste (1995), Ducrot (1987) o fazem ao tratar o elemento subjetivo da linguagem.

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O mestre genebrino assim como é nomeado, em virtude de sua origem que tem como berço a cidade de Genebra na Suíça, ao estabelecer sua teoria linguística, estimulou pesquisas em vários campos epistemológicos, que até nos dias de hoje, promovem enorme inquietação ao se deparar com os limites impostos por ela. Antes da teoria linguística de Saussure, havia muitas tentativas de se tomar como objeto de pesquisa a língua, porém a metodologia seguia outros campos epistemológicos, como, por exemplo, a psicologia, a sociologia e, sobretudo, a filosofia. Saussure ao atribuir a língua como um sistema, exclui a fala desse campo, a língua se opõe à fala, sendo a primeira sistêmica e objetiva e a segunda variável de acordo com cada falante e por isso, subjetiva. Assim, a teoria saussuriana produziu um efeito de desconstrução na crença de outras teorias das ciências humanas nascentes, no final do século XIX, como por exemplo, da filosofia que tinha o sujeito como um ser psicológico livre e consciente. Embora já circulassem vários temas em pesquisas abordados por Saussure na metade do século XIX, O CLG (1916) constitui o que se pode chamar de corte epistemológico, houve dessa forma, uma ruptura com a linguística comparatista da sua época, propondo assim uma abordagem não histórica, descritiva e sistêmica da língua. Assim, a linguística constitui-se enquanto uma ciência:

Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Esse todo por si, é o sistema de signos, que tem como principal característica sua autonomia e sua ordem própria, condições necessárias para aceder ao estatuto de objeto da linguística. (SAUSSURE, 2006, p.17)

A partir do momento em que Saussure define a língua como objeto, ele traça os procedimentos metodológicos de descrição linguística, como: compreender a língua enquanto um sistema de signos linguísticos, que possui suas próprias leis, não podendo, portanto, considerarem-se elementos externos à língua e estabelece assim a sua teoria que tem como base o signo linguístico, a semiologia do grego semeion , signo. Para Saussure, a semiologia consiste na ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social,

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1.1 ARBITRARIEDADE DO SÍGNO

Saussure ao considerar que o laço que une o significante e significado é arbitrário pontua:

A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a idéia de que o significado depende da livre escolha de quem fala; [...] queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (SAUSSURE, 2006, p. 83)

Por esse excerto, podemos depreender que essa arbitrariedade do signo estabelece uma contradição entre a imutabilidade e a mutabilidade dos signos. Para a Semiologia, os signos são de um modo geral imutáveis, Saussure exclui tudo o que é instável da língua: “Um dado estado da língua é sempre o produto de fatores históricos e são esses fatores que explicam porque o signo é imutável, vale dizer, porque resiste a toda substituição.” (SAUSSURE, 2006, p. 86) É porque ele resiste ao tempo que ele é imutável. Enquanto o tempo, a história, a complexidade e a arbitrariedade conferem ao sistema a continuidade da língua, essas mesmas questões levam o signo a se modificar. Ao mesmo tempo em que a história faz com que a língua permaneça estática, o tempo faz a língua se modificar, mas essa mudança é pequena, mínima, o que não caracteriza a mudança do sistema. Os deslocamentos dos signos (tanto do significado quanto do significante) não afetam o todo do sistema. “O signo está em condições de alterar-se, porque se continua. O que domina, em toda alteração, é a persistência da matéria velha; a infidelidade ao passado é apenas relativa”. (SAUSSURE, 2006, p.89) Apesar de haver postulado que o signo linguístico é, em sua origem, arbitrário, Saussure não deixa de reconhecer a possibilidade de existência de certos graus de motivação entre significante e significado. Em coerência com seu ponto de vista dicotômico, propõe a existência de um “arbitrário absoluto” e de um “arbitrário relativo”. Como exemplo de arbitrário absoluto, temos o par goiaba / goiabeira, em que goiaba, enquanto palavra primitiva serviria como exemplo de arbitrário absoluto (signo imotivado). Por sua vez, goiabeira, forma derivada de goiaba , seria um caso de arbitrário

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relativo, ou seja, o signo seria motivado, devido à relação sintagmática goiaba onde temos o morfema lexical + eira o morfema sufixal, e à relação paradigmática estabelecida a partir da associação da origem da palavra uma vez que é conhecida a significação dos elementos formadores. Para Normand (2009), a maior ou menor habilidade ou originalidade nos limites das regras de cada língua irá depender das particularidades individuais do sujeito inserido na história, parte estudada no campo da fala e que Saussure exclui, de sua teoria linguística. Segundo a autora os leitores do CGL sempre apontaram para a importância da arbitrariedade do signo, contudo o sentido que poderia ser uma propriedade tão valiosa quanto, era deixado ás margens.

1.2 UMA SINCRONIA

A definição do termo signo é estritamente ligada à dicotomia saussuriana sincronia/diacronia:

É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução. (SAUSSURE, 2006, p. 96)

Apesar de Saussure ressaltar a importância dos dois estudos, o sincrônico e o diacrônico, percebemos que ao formular sua teoria, ele destaca a sincronia no funcionamento do sistema, pois é esta que define as relações internas de um determinado sistema. É a sincronia o estudo das relações entre os signos linguísticos. Por outro lado, a diacronia, desfavorece o estudo da semiologia, uma vez que coloca em jogo, a garantia de estabilidade do sistema na constituição da lingüística enquanto uma ciência. Para Normand, (2009), o fato de Saussure se empenhar em separar radicalmente sincronia/diacronia, decorre de sua tentativa de afastar as condições exteriores de sua teoria, ela se elabora no seio de uma lingüística histórica em seu apogeu, no momento em que os neogramáticos afirmam que a língua se define somente por sua história. “O