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Reforma Luterana - Resumo Histórico, Resumos de Teologia

Resumo histórico da Reforma de Lutero

Tipologia: Resumos

2021

Compartilhado em 20/07/2021

marcus-de-mendonca-5
marcus-de-mendonca-5 🇧🇷

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1- Introdução
A Alemanha no início do século XVI era um país que respeitava a autoridade papal,
havia muitas peregrinações, missas pelos mortos era popular, a veneração aos santos, as
coleções de relíquias e a vende, ou melhor, mercado de indulgencias se multiplicavam.
Portanto, não se pode dizer que a Alemanha (ou qualquer outro país europeu, no que
se refere a essa questão), estava em 1500 em um estado de revolução incipiente contra
o governo e o poder venerável da igreja romana. WALKER, 2006
Porém, a doutrina de penitencia juntamente com os altos gastos do clero, levou o
papado a criar novos e opressivos impostos, taxas e multas que pesava sobre o clero mais alto
que, por sua vez, passava-se ao clero inferior, até chegar nas nações e no povo. Roma se
transformou num lugar de fraqueza moral com simonia clerical, nepotismo, concubinagem
entre outras imoralidades.
(...) a imaginação da morte, dores purgatórias e o juízo universal no Último Dia
engendravam uma preocupação ansiosa pela salvação pessoal. WALKER, 2006
Segundo CAIRNS (2008), a Europa estava satisfeita com o sistema religioso exterior
e formal, pois permitia desfrutar das coisas materiais da vida. Até os papas renascentistas
gastaram mais tempo em empreitadas culturais do que no cumprimento de seus deveres
religiosos.
Foi nesse ambiente que surgiu Matinho Lutero, que sofria das mesmas crises
espirituais de muitos de sua época. Estava sempre com medo do Deus ameaçador, do Deus
punitivo e destruidor. Mas foi a busca pela solução de suas crises que levaram Lutero até a
Reforma. Segundo TILICH (2007), a Reforma começou a partir da busca de encontrar um Deus
misericordioso e da ansiedade subjacente.
Antes de Lutero, diversas tentativas de reforma haviam ocorrido, por exemplo, na
Inglaterra, John Wycliffe e na Boêmia, John Hus, lutaram por uma reforma, mas foram
enfraquecidos pelo poder Romano. Porém o pensamento desses reformadores não foi
totalmente estimado. Lutero reconheceu o trabalho de ambos, de Wycliffe, a importância da
Bíblia nas mãos do povo, e de Hus os desafios às práticas e funções da igreja que se opunham
às Escrituras.
[Lutero] Não apenas ensinou doutrinas diferentes; outros haviam feito, como
Wicliffe. Mas nenhum dos que protestaram contra o sistema romano havia conseguido
romper com ele. O único homem que realmente conseguiu essa ruptura, e com ela
transformou a face da terra, foi Lutero. TILLICH, 2007
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1- Introdução A Alemanha no início do século XVI era um país que respeitava a autoridade papal, havia muitas peregrinações, missas pelos mortos era popular, a veneração aos santos, as coleções de relíquias e a vende, ou melhor, mercado de indulgencias se multiplicavam. Portanto, não se pode dizer que a Alemanha (ou qualquer outro país europeu, no que se refere a essa questão), estava em 1500 em um estado de revolução incipiente contra o governo e o poder venerável da igreja romana. WALKER, 2006 Porém, a doutrina de penitencia juntamente com os altos gastos do clero, levou o papado a criar novos e opressivos impostos, taxas e multas que pesava sobre o clero mais alto que, por sua vez, passava-se ao clero inferior, até chegar nas nações e no povo. Roma se transformou num lugar de fraqueza moral com simonia clerical, nepotismo, concubinagem entre outras imoralidades. (...) a imaginação da morte, dores purgatórias e o juízo universal no Último Dia engendravam uma preocupação ansiosa pela salvação pessoal. WALKER, 2006 Segundo CAIRNS (2008), a Europa estava satisfeita com o sistema religioso exterior e formal, pois permitia desfrutar das coisas materiais da vida. Até os papas renascentistas gastaram mais tempo em empreitadas culturais do que no cumprimento de seus deveres religiosos. Foi nesse ambiente que surgiu Matinho Lutero, que sofria das mesmas crises espirituais de muitos de sua época. Estava sempre com medo do Deus ameaçador, do Deus punitivo e destruidor. Mas foi a busca pela solução de suas crises que levaram Lutero até a Reforma. Segundo TILICH (2007), a Reforma começou a partir da busca de encontrar um Deus misericordioso e da ansiedade subjacente. Antes de Lutero, diversas tentativas de reforma haviam ocorrido, por exemplo, na Inglaterra, John Wycliffe e na Boêmia, John Hus, lutaram por uma reforma, mas foram enfraquecidos pelo poder Romano. Porém o pensamento desses reformadores não foi totalmente estimado. Lutero reconheceu o trabalho de ambos, de Wycliffe, a importância da Bíblia nas mãos do povo, e de Hus os desafios às práticas e funções da igreja que se opunham às Escrituras. [Lutero] Não apenas ensinou doutrinas diferentes; outros já haviam feito, como Wicliffe. Mas nenhum dos que protestaram contra o sistema romano havia conseguido romper com ele. O único homem que realmente conseguiu essa ruptura, e com ela transformou a face da terra, foi Lutero. TILLICH, 2007

Segundo NICHOLS (2017), Lutero destaca a preocupação central da igreja deve ser teológica. Sem doutrina, dizia ele, não tem igreja. Lutero se mostrava cético quanto ao entendimento teológico básico da igreja desde meados 1510, quando começou a palestrar, em Wittenberg, a respeito dos Salmos, de Romanos, Gálatas e Hebreus. Sua primeira restrição contra a igreja, contudo, manifestou-se com a contemplação dos severos problemas causados pelas indulgencias. Claro, esse erro levou à publicação das 95 teses em Wittenberg. Por meio desse evento, e também com a recuperação da doutrina da justificação pela fé, sua posição corajosa diante da igreja e do império na Dieta de Worms, bem como sua incansável dedicação à edificação de uma igreja alicerçada tão somente na Escritura, Lutero atuou como arquiteto da Reforma. Seu trabalho em Wittenberg agitou as terras alemãs e toda a Europa. Na época de sua morte, o Protestantismo e a nova igreja evangélica estavam firmemente estabelecidos. NICHOLS, 2017 Lutero contou com circunstâncias favoráveis, como o nacionalismo crescente das nações-estados alemães, o humanismo e a invenção da imprensa de Gutenberg. As circunstâncias políticas foram fatores que impediram Lutero de ser condenado imediatamente. A invenção da imprensa fez com que suas obras fossem difundidas de uma maneira que teria sido impossível faze-lo poucas décadas antes. O crescente nacionalismo alemão, de que ele até certo ponto era participante, prestou-se a ser apoio inesperado e muito valioso. OS humanistas, que sonhavam com uma reforma segundo concebida por Erasmo (...). GONZÁLEZ, 2011.

Uma palavra alemã específica nos ajuda a entender o verdadeiro impacto dessa imagem sobre a vida de Lutero: anfechtung. Traduzida como “crise” ou “luta”, no caso de Lutero se encaixaria melhor como intensa luta espiritual e crise. Na verdade, é melhor usar a palavra no plural, anfechtungen, pois, na realidade, é uma série de crises espirituais que marca o início da vida de estudo de Lutero. NICHOLS, 2017 A universidade medieval seguia o método de ensino baseado no estudo e comentário detalhado de textos com atenção particular em Aristóteles, e seus escritos sobre a lógica. Nesse processo o debate não apenas permitia a demonstração de habilidades intelectuais, mas também servia para posição na forma de teses. (...) oponentes também apresentavam evidencias alternativas para defender suas posições. Cada professor deveria participar de debates públicos para demonstrar como eram conduzidos, e tanto o corpo docente quanto os estudantes participavam de debates semanais sobre tópicos seletos. LINDBERG, 2017 Os debates serviam para educar os alunos no pensamento logico. Essa era a forma de obter a graduação no exame final. Segundo LINDBERG, o que temos hoje no doutorado é um reflexo pálido dos exercícios acadêmicos das universidades medievais. Lutero estruturou as 95 teses nos moldes dos debates da época. Lutero após receber o mestrado em Artes, permaneceu em Erfurt, se especializando na área seguindo o caminho que seus pais queriam. Em junho de 1505, Lutero foi visitar seus pais em Mansfield, porém, na sua volta a Erfurt, foi pego por uma tempestade violenta, como se Deus tivesse atirando os trovões para julgar sua alma. Lutero clamou por Santa Ana, a padroeira dos mineradores. Nesse momento o jovem Martinho fez um juramento que mudaria sua vida: “Ajudai-me Santa Ana, e eu me tornarei monge” (NICHOLS, 2017) Duas semanas depois, Lutero fez uma festa com seus colegas entregando-os os livros de Direito e sua boina de Mestre, parando assim, seus estudos de doutorado. Lutero seguiu para o monastério, trocou a boina pela túnica de monge. O pai de Lutero não quis dá a benção por esta decisão. Como se recorda Lutero: “Quando me tornei monge, meu pai quase ficou louco. Estava muito aflito e recusava-se a me dar sua permissão”. NICHOLS, 2017 No monastério, o famoso Claustro Negro da ordem agostiniana, como noviço, um período de um ano em experiência, Lutero se lançou no rigor da vida monástica e completou bem esse período. Na mente de Lutero, a vida como monge o ajudaria a resolver suas crises espirituais, mas suas elas só aumentavam. Lutero se sentia não só abandonado pela família, mas também por Deus.

Mais tarde, Lutero refletiu sobre este período, afirmando que como monge por vinte anos, se torturava com orações, jejuns, vigílias no frio, autoflagelação e noites sem dormir numa cela de pedra sem cobertor. Só o frio, afirmava Lutero, já era suficiente para mata-lo. Na verdade, Lutero cumpria seus interesses com tamanho rigor que exclamou: “Se algum monge chegasse ao céu simplesmente por ser um monge, eu deveria tê-lo alcançado. Todos os meus companheiros do monastério me conheciam e podiam testificar isso”. Ele conclui suas lembranças observando: “Se tivesse durado mais um pouco, eu teria me matado de vigílias, orações, leituras e outros labores”. Mas ainda não havia solução para suas crises espirituais. NICHOLS, 2017 Johann von Staupitz, superior de Lutero, e também, admirador do jovem monge pois reconhecia a capacidade intelectual dele. Orientou Lutero a ler os escritos dos místicos, que diziam que bastava amar a Deus, visto que tudo mais era uma consequência do amor. Esse caminho não ajudou Lutero a vencer sua crise. Amar a Deus? Para ele era muito difícil isso. Então Staupitz, ordenou sua ida a Wittemberg. Para a universidade nova, investida pelo por Frederico, o Sábio, que queria contar com um corpo docente brilhante. Inicialmente Lutero dava aulas de Artes, com foco em Aristóteles. Para Staupitz, essa ocupação acadêmica poderia enfraquecer as crises de Lutero. Lutero recebeu o bacharelado em Bíblia, em 1509, e voltou para Erfurt como professor. Foi nesse período que Staupitz resolve enviar Lutero a Roma. Na Terra Santa, pensava Staupitz, faria bem à alma de Lutero, trazendo paz com Deus. Lutero esperava se deparar com um paraíso espiritual, mas não foi isso que aconteceu. Porém, essa impressão rapidamente se dissipou. Ele continua: “Ninguém consegue imaginar a desonestidade, a horrível pecaminosidade e a devassidão desenfreada de Roma”. NICHOLS, 2017 Após seu retorno, Lutero em conversa com Staupitz, que não entendia porque Lutero não compreendia o amor de Deus por ele, Lutero disse: “Não posso amar a Deus; eu o odeio”. Staupitz não tinha outra solução, enviou Lutero para o doutorado em Teologia, na tentativa de que os estudos dos pais da igreja e da tradição medieval o faria melhor. Lutero leu o livro “Quatro Livros das sentenças” de Pedro Lombardo. Era uma leitura obrigatória para os doutorandos, e tratava-se de uma sistemática da doutrina, um livro-texto de teologia desde 1200. Até 1509, dedicou-se aos estudos dos teólogos nominalistas, como Occan. Segundo WALKER (2006), Lutero deve a eles sua habilidade dialética. Lutero através da leitura de Pedro Lombardo ele foi levado a Agostinho e depois a Paulo. Nesse momento Lutero começou a enxergar diferenças entre o que lia de Paulo e

3- A Reforma Luterana: De 1517 à 1522 Em setembro de 1517, Lutero escreveu 97 teses intitulada de Disputa Contra a Teologia Escolástica, um ataque radical sobre o escolasticismo medieval. Ele condenou os primeiros escolásticos por ensinarem que pecadores justificados cooperam em sua salvação mediante a realização de obras meritórias dentro do estado de graça. Para Lutero esse pensamento era blasfêmia e heresia (pelagiana) (WALKER, 2006). Em outubro de 1517, Lutero posta as suas 95 teses, o no prefacio do documento, Lutero explica seus motivos: “Por amor à verdade e pelo desejo de traze-la a luz, as seguintes proposições serão discutidas em Wittenberg, sob supervisão do reverendo Matinho Lutero...[que] pede que aqueles que não puderem estar presentes para debater conosco oralmente, façam- no mais tarde, por carta” NICHOLS, 2017 Escrita em latim, e planejadas para o debate acadêmico. O texto foi naturalmente traduzido para o alemão e distribuído por toda a Alemanha. Segundo WALKER (2006), os agentes primários dessa distribuição foram as irmandades humanistas. Uma cópia foi endereçada ao Bispo Alberto de Mainz, que enviou para o Papa Leão X. O papa descartou o documento alegando que era palavras de um alemão embriagado, e quando estivesse sóbrio pensaria diferente (NICHOLS, 2017). Se Lutero afixou ou não as 95 teses na porta da igreja do castelo é tema controverso entre os historiadores, embora seja bastante possível que realmente tenha feito isso, segundo WALKER (2006). As 95 teses foi um ataque a fonte lucrativa de renda eclesiástica, as vendas de indulgencias. Em especial, as vendidas por Tetzel no bispado de Mainz. Tetzel era um monge dominicano, mandado e autorizado pelo papa ao Bispo Alberto, através de um acordo para arrecadação, cujo necessidade do pagamento de dívidas da construção da Capela Sistina. Alberto ambicioso para se tornar um arcebispo, pediu autorização ao papa para conceder amis um bispado. Mas para costear esse empreendimento, Alberto teria que contribuir também com as dívidas de Roma. (...) o papa autorizou Alberto a proclamar uma grande venda de indulgências em seus territórios, em troca de que a metade do produto fosse enviada ao erário papal. Parte do que sucedia era que Leão X sonhava com o término da Basílica de São Pedro, (...) cujas obras marchavam lentamente por falta de fundos. Assim, a grande Basílica que hoje é o orgulho da igreja romana foi uma das causas indiretas da Reforma protestante. GONZÁLEZ, 2011

O sistema de penitencia ajudou muito no empreendimento de Tetzel. A penitencia envolvia quatro passos: contrição, confissão, satisfação e absolvição. Tetzel juntou os três primeiros em um só, bastava pagar (ou comprar) uma ficha de indulgencia que o pecador teria plena absolvição de seus pecados. Eram vendidas também indulgencias para diminuir penas dos parentes mortos que “estavam” sofrendo no purgatório. Tetzel era habilidoso com a fala e criou um jingle de fácil decoração que dizia: “quando a moeda na caixa ressoa, uma alma ao céu voa”. Deve-se destacar que, de acordo com a mentalidade da época, isso não significa que um pecador comprasse o perdão. A doação em dinheiro era uma consequência do perdão, não, uma condição para isso. Contudo, até a época de Martinho Lutero, esse conceito fora distorcido e interpretado de maneira equivocada. As pessoas pareciam acreditar que as indulgencias eram um modo rápido e conveniente de comprar o perdão dos pecados. MCGRATH, 2005 Lutero criticou duramente esse sistema de indulgencias e seus vendedores, os chamou de “inimigos de cristo e do papa”. As próprias teses não negavam o direito do papa de conceder indulgências. Até então Lutero não tinha conhecimento de que o papa sabia de tudo aquilo. Mais tarde ele escreveu: “Certamente, eu imaginava que, nesse aspecto, eu contaria com a proteção do papa, em cuja confiabilidade eu me apoiava fortemente, pois, em seus decretos, ele teria condenado a imoderação dos pregadores de indulgencias. ” NICHOLS, 2017 Leão X jamais apoiou Lutero, e o monge nunca teve o seu debate conforme ele desejava. Para o papa e muitos outros, se tratava de uma briga entre os monges das ordens agostiniana e dominicana. As intenções de Lutero não era romper com Roma, e assim, corrigi- la levando ao caminho dos verdadeiros ensinos das Escrituras. Porém, ao desenvolver sua teologia e sentir a oposição de Roma, o monge percebeu a impossibilidade de não rompimento com a igreja romana. Os conflitos espirituais de Lutero estavam chegando ao fim, em 1518, ele passou a refletir sobre a justiça de Deus. Quando ele percebeu essa justiça através de Paulo, justiça requerida por Deus, não algo que merecemos, mas algo que Cristo realizou por nós, tudo mudou. Lutero afirmou: “Ali comecei a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive por um dom de Deus, ou seja, pela fé. Este é o significado: a justiça passiva com que o Deus misericordioso nos justifica pela fé (...). Aqui eu senti que nasci totalmente de novo e entrei pelas portas abertas no paraíso. ” NICHOLS, 2017

A estratégia de Eck era condenar Lutero alinhando suas ideias aos condenados Wycliffe e Hus, somente por associação. Lutero manteve sua postura com a doutrina da autoridade das Escrituras, alegando está acima das autoridades eclesiásticas, dos concílios e do próprio papa. Durante uma pausa para almoço, Lutero foi na biblioteca buscar mais informações sobre Hus e o Concilio de Constança. Lutero percebeu que os artigos de Hus eram claramente cristãos e que a igreja universal não pode condenar. Lutero voltou ao debate com essas afirmações, causando um grande alvoroço, segundo REEVES E CHESTER (2017). Após o debate, Eck foi a fundo para condenar Lutero, mesmo sem ter obtido provas diretas, mas avaliou que Lutero estava fora de conformidade com a igreja. O impacto desse debate foi além dos limites alemãs. Em 1520, jovens da Universidade de Montaigu, em Paris, receberam a incumbência de avaliar o debate entre Lutero e Eck. Nesse momento um jovem estudante chamado João Calvino foi apresentado as ideias de Lutero. Nesse período Lutero publicou três panfletos em alemão para o povo. O primeiro, “Apelo à Nobreza Germânica”, onde Lutero defende que os príncipes deveriam reformar a Igreja, que todos os crentes eram sacerdotes espirituais de Deus e que podiam interpretas as Escrituras. O outro panfleto foi “O Cativeiro Babilônico” que desafiava o sistema sacramental de Roma. Lutero só validava a ceia e o batismo, e afirmou que a igreja romana tinha aprisionado o evangelho em um complexo sistema de sacerdotes e sacramentos (MCGRATH, 2005). Por fim, o terceiro panfleto, “Sobre a Liberdade do Homem Cristão” atingindo diretamente a teologia Romana, afirmando o sacerdócio de todos os crentes como resultado da fé em Jesus. Com esses três panfletos Lutero atacara a hierarquia, o sacramento e a teologia da Igreja Romana e ainda invocava uma reforma nacional (CAIRNS, 2008). Neste mesmo ano, Eck conseguiu a bula papal que declarava oficialmente Lutero inimigo da igreja. A “Exsurge, Domine” (“Levanta, ó Senhor”), clamava pela imediata detenção de Lutero, o “selvagem javali na vinha de Deus” conforme o papa Leão X o chamava. Lutero tinha sessenta dias para se retratar, seus livros seriam queimados e ele junto com seus seguidores seriam levados a Roma. A essa altura, Lutero já via o papa como Anticristo, escreveu Sobre a “Detestável Bula do Anticristo” e queimou publicamente a bula papal. Assim, o papa excomungou o monge e conclamou sua imediata entrega a Roma. Mais uma vez, Frederico, o sábio, interveio e evitou que Lutero fosse a Roma. Fez com que se apresentasse na Dieta de Worms, congresso Imperial, em abril de 1521. Esse foi o primeiro encontro do imperador Carlos V com os príncipes alemãs. Lutero se preparou para um

debate, mas tratava-se novamente de uma inquisição. Foram feitas as seguintes perguntas, somente: “Esses são seus escritos? ” e “Tu te retratarás? ”. Lutero queria saber o que incomodava o imperador, o que seus escritos tinham de errado perante as Escrituras, assim, pediu um dia para pensar no assunto. No dia seguinte, Lutero novamente, pediu um debate, e foi negado. Então ele falou: “Como vossa serena majestade e vossos senhorios buscam uma resposta simples, eu a darei da seguinte forma, sem rodeios: A não ser que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão bem clara, pois não confio no papa ou em concílios isoladamente, já que é sabido que frequentemente eles têm errado e se contradizem, estou atado às Escrituras que tenho citado, e minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Não posso me retratar de nada, nem farei isso, já que não é seguro nem certo ir contra a consciência. Não posso fazer de outro modo: aqui eu me firmo. Que Deus me ajude, Amém! ” NICHOLS, 2017 Com essas palavras foi selada a sua condenação e os nobres alemães agiram rápido e retiraram Lutero em segurança o levando para o castelo de Frederico, em Wartburg. Ali Lutero permaneceu com outra identidade e isolado. Permaneceu até março de 1522, e nesse período Lutero produziu muitos escritos, traduziu o Novo Testamento do grego para o alemão e preparou sermões. Segundo GONZÁLEZ (2011), ao queimar a bula papal, Lutero rompia com a igreja romana, e em Worms, rompia com o Império.

“Estes homens ousam (...) onde está o desafio de que um homem não pode servir a Deus no casamento? O que seria isso se não argumentar que o casamento é perfídia, impiedade e apostasia universal? Isso significa, ó Papa, tu servo de Satanás, que Abraão e todos os patriarcas, Zacarias e Isabel não serviam a Deus? ” NICHOLS, 2017 Lutero começou a incentivar casamentos entre padres e freiras. Ajudou em uma ocasião, a fuga de doze freiras de um convento em Grimma. As freiras fugiram dentro de barris de peixes, do mercador Leonard Koppe, amigo de Lutero. No meio dessas doze freiras estava Katherina von Bora, no qual Lutero tentou armar casamentos para ela, mas sem êxito. Segundo NICHOLS (2017), estava obvio para os observadores que talvez ela e o reformador devessem casar-se. Lutero relutou mas cedeu, casou com Katherina em 13 de junho de 1525. Em seu convite de casamento, Lutero escreveu a um amigo as seguintes palavras: “Os rumores sobre meu casamento estão corretos. Não posso negar a meu pai a esperança de descendentes, e tive de confirmar meu ensino em uma época em que tantos são tão tímidos. ” NICHOLS, 2017 Essa união entre Lutero e Katherina, se tornou cada vez mais forte ao passar dos anos, em que o reformador se dizia dependente dela, considerava sua igual e a envolvia em muitas discussões teológicas, no qual colegas e alunos observavam e participavam. Lutero transformou seu lar numa casa pastoral, para ele o seu lar era como uma escola perfeita para o caráter (NICHOLS, 2017). Frederico, o Sábio, deu de presente de casamento, o “Claustro Negro”, o monastério no qual Lutero viveu como monge, e se tornou a primeira casa pastoral da era moderna. Após seu casamento, Lutero escreveu uma obra teológica “O cativeiro da vontade”, uma resposta a crítica de Erasmo quanto as posições de Lutero em relação ao pecado original, a vontade e soberania de Deus. Lutero também se engajou em outros projetos, como a tradução da Bíblia para o alemão. Formou uma equipe para traduzir o Antigo Testamento, além de fazer revisões no seu Novo Testamento. Para Lutero, intérpretes e tradutores não deveriam trabalhar sozinhos (LUTERO, 2017). A primeira publicação da Bíblia completa em alemão aconteceu em 1534. Esse Bíblia em língua alemã reflete o compromisso de restauração da centralidade de Bíblia. Um grande legado deixado por Lutero. Mais de quinhentas xilogravuras feitas por Lucas Cranach, o Velho e o Novo, como também por outros, ilustravam a primeira edição completa da Bíblia. Essas ilustrações, típicas da arte da Renascença, retratavam roupas e ambientes de século XVI para mostrar as personagens e os acontecimentos bíblicos. Não eram poucas que

mostravam o papa e outros oficiais e práticas da igreja romana como vilões. NICHOLS, 2017 Sobre a tradução da Bíblia para a língua alemã Lutero falou em uma de suas conversas a mesa, o seguinte: Enquanto a igreja romanista dominou, a Bíblia jamais foi dada às pessoas de maneira que pudessem lê-la de modo claro, compreensível, seguro e simples tal como presentemente são capazes de fazê-la na tradução em alemão, que, graças a Deus, preparamos aqui em Wittenberg. LUTERO, 2017 Preocupado com a falta de preparo do clero e dos leigos, como também pensando no futuro, ao observar os ensinos bíblicos para crianças, Lutero produziu, em 1529, o Catecismo maior e o Catecismo menor, o primeiro para o clero e o outro para crianças. Lutero passou a fazer um trabalho de editor, juntou notas de seus alunos, tanto de aulas, palestras ou pregações e produziu seus comentários dos livros de Romanos e Gálatas. Essas obras impactaram muitos, em especial, John Bunyan e John Wesley. O primeiro disse que depois da Bíblia, era seu livro favorito, o comentário sobre os Gálatas, um texto próprio para consciência ferida. Wesley foi impactado só em ouvir o prefacio da obra sobre Romanos, segundo ele, sentiu seu coração aquecido ao ouvir aquelas palavras. No círculo íntimo de Lutero temos Karlstadt, foi colega e aliado do reformador. Porém Lutero não gostou de sua postura quebrando estatuas e vitrais das igrejas e se separaram. EM 1525, Karlstadt se refugiou na casa de Lutero, que o acolheu. Johannes Bugenhagen, juntou-se a Lutero em 1520, quando leu o “O cativeiro babilônico da igreja”, e desempenhou um papel chave nas traduções do Antigo Testamento. George Spalatin, foi colega de Lutero em Erfurt, e se tornou secretário pessoal de Frederico, o Sábio. Justos Jonas foi seu companheiro na composição de hinos. Por fim, Filipe Melâncton, erudito das línguas, escreveu uma gramatica grega aos 20 anos. Publicou uma teologia sistemática que enfatizava as novas descobertas teológicas de Lutero. Melâncton também teve a tarefe de redigir a versão final da Confissão de Augsburgo, texto que Lutero aprovou na integra. Essa obra, juntamente com os catecismos maior e menor, e os Artigos de Smalcald, que Lutero escreveu em 1537, formam p Livro da Concórdia, de

  1. Este livro é a confissão doutrinaria da igreja luterana. Em 1526, houve a Dieta de Speier, em que os príncipes alemães conseguiram estabelecer que o governante de cada estado estaria livre para seguir a fé que sentisse ser correta. Nesse momento, Lutero começou a desenvolver uma organização litúrgica eclesiástica própria para seus seguidores. Porem em 1529, uma segunda Dieta em Speier, revogou a decisão anterior

5- Conclusão O legado de Lutero inclui a igreja que leva seu nome, mas também aqueles que se chamam protestantes. Muitas doutrinas e práticas dos protestantes remontam as raízes a Lutero. Através do escrito de Lutero muitos tem encontrado auxilio para entender melhor as Escrituras. Segundo NICHOLS (2017), em última estancia, o legado de Lutero foi levar a todos a direção de Cristo. Esse incentivo as escrituras, levou Lutero a preparar a tradução da Bíblia para o Alemão, que se tornou um incentivo a educação do povo. As pessoas teriam que se alfabetizar para ler a Bíblia, um grande estimulo educacional. Essas traduções de Lutero incentivaram outras nações a traduzirem as Escrituras para a língua do seu próprio povo. Sobre Lutero e o movimento Luterano, que posteriormente foi conduzido e desenvolvido por Melâncton e seus sucessores, TILLICH (2007) afirma que a grandeza de Lutero não deve ser comparada com o luteranismo, pois este último tem estado associado, historicamente, à ortodoxia protestante e a movimentos políticos. No aspecto político e nacionalista, Lutero teve um papel muito importante, segundo CAIRNS (2008), a Alemanha encontrou todas as forças de oposição a Roma no reformador, e foi uma declaração de independência espiritual. Essa independência evitaria o escoamento das riquezas alemães para Roma. A Reforma Luterana, que originou vários movimentos reformistas, encontrou resposta imediata e disparou a maior de todas as revoluções na história da igreja cristã, segundo WALKER (2006). As ideias de Lutero formam as bases do movimento reformado. O sacerdócio de todos os crentes, as Escrituras como autoridade suprema e a salvação somente pela fé em Cristo foram os grandes legados deixados por Lutero, que fez muito mais do que poderia ter imaginado (CAIRNS, 2008). A Reforma Luterana, segundo resume FERREIRA (2013), trouxe uma nova Teologia, em que Cristo é o centro das Escrituras, que é a Palavra de Deus, verdadeira e dotada de autoridade quanto o próprio Deus. A salvação é somente pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, onde as pessoas em nada contribuem para sua salvação, e assim Deus é a causa eficiente da salvação. O Espirito Santo atua por intermédio do Evangelho. O batismo de crianças é para produzir nelas a fé e levá-las a salvação. A Ceia do Senhor envolve a presença real de Cristo com o pão e o vinho, embora os elementos permaneçam pão e vinho (consubstanciação).

Bibliografias CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. 3˚ Ed, São Paulo, Vida Nova, 2008. FERREIRA, Franklin. A Igreja Cristã na História: das origens aos dias atuais. São Paulo, Vida Nova, 2013. GONZÁLEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. 2˚Ed. rev., São Paulo, Vida Nova, 2011. LINDBERG, Carter. História da Reforma. Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2017. LUTERO, Matinho. Conversas à Mesa de Lutero. Brasília, DF, Ed. Monergismo, 2017. MAIA, Hermisten. Fundamentos da Teologia Reformada. São Paulo, Mundo Cristão, 2007. MCGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma Introdução a Teologia Cristã. São Paulo, SHEDD Publicações, 2005. NICHOLS, Stephen J. Além das 95 Teses: A Vida o Pensamento e o Legado de Martinho Lutero. São José dos Campos, SP, Fiel, 2017. REEVES, Michael e CHESTER, Tim; Por que a Reforma ainda é importante? São José dos Campos, SP, Fiel, 2017 TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. 2˚ Ed., São Paulo, ASTE, 2007. WALKER, W.; NORRIS, E Richard A.; LOTZ, David W.; HANDY, Robert T. História da Igreja Cristã. 3˚ Ed., São Paulo, ASTE, 2006.