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Reflexões sobre Resiliência e Moradia de Rua: Análise de Casos em SP, Notas de aula de Ética

Reflexões sobre o artigo ‘resilience and homelessness: a study on homeless – adults and child – in the city of são paulo’ por aparecida magali de souza alvarez. O texto discute a temática da resiliência e do morar na rua em relação ao modelo neoliberal vigente no brasil e ao processo de exclusão social resultante. O artigo analisa a vida dos moradores de rua a partir do interjogo entre os conceitos de identidade, insegurança ontológica, desconfiança existencial e ponto fixo como alavanca para a resiliência: as interações amorosas como fundamento da existência e afirmação do eu.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Bossa_nova 🇧🇷

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– 59 –
Rev. Bras. Cres. e Desenv. Hum., S. Paulo, 9(1), 1999
Refere-se ao Art. de mesmo nome, 9(1), 57-62, 1999
REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO: “A RESILIÊNCIA E O
MORAR NA RUA: ESTUDO COM MORADORES DE RUA
CRIANÇA E ADULTOS – NA CIDADE DE SÃO PAULO”, DE
APARECIDA MAGALI DE SOUZA ALVAREZ (1999)
REFLECTIONS ON THE ARTICLE: “RESILIENCE AND
HOMELESSNESS: A STUDY ON HOMELESS – ADULTS AND
CHILD – IN THE CITY OF SÃO PAULO”, BY
APARECIDA MAGALI DE SOUZA ALVAREZ ( 1999)
Sueli Damergian *
* Profa. Dra. do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP.
DAMERGIAN, S. Reflexões sobre o trabalho: “A resiliência e o morar na rua: estudo com
moradores de rua - criança e adultos - na cidade de São Paulo”, de Aparecida Magali de Souza
Alvarez (1999). Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., 9(1), 1999.
Resumo: Este artigo busca estabelecer um diálogo com o trabalho: “A resiliência e o morar na rua:
estudo com moradores de rua- criança e adultos - na cidade de São Paulo”, através de reflexões
suscitadas a partir do mesmo. A temática da resiliência e do morar na rua é relacionada ao modelo
neoliberal vigente em nosso país e ao processo de exclusão social dele resultante. Algumas concep-
ções sobre resiliência são discutidas para mostrar que ainda não existe consenso sobre o assunto. A
vida dos moradores de rua é analisada a partir do interjogo entre os conceitos de identidade, insegu-
rança ontológica, desconfirrnaçao existencial e ponto fixo enquanto alavanca para a resiliência: as
interações amorosas como fundamento da existência e afirmação do eu.
Palavras-chave: exclusão social; interação amorosa; ponto fixo; identidade.
“Há alguém que revisite esse tempo de uma
lentidão insidiosa durante o qual se transformou
num daqueles que, embora vistos, embora ouvi-
dos, não são olhados, não são escutados e que,
aliás, se calam? Um daqueles que ninguém “con-
sidera”, nem reconhece, a não ser como fantas-
mas folclóricos, que não têm direito à carne das
palavras, mas a siglas, a espectros de palavras: P.
Mistas (rendaminirna); SMI Cards (salário
minimo) ou, então ... nada” (FORRESTER, 1997).
É dos que apenas aparecem em números,
estatísticas frias, siglas, como diz acima Viviane
Forrester, que não se presentificam na materiali-
dade da dor da existência humana, que tão bem
trata o trabalho que aqui comentamos. E com que
sincronicidade! Emerge no momento mais crítico
deste fim de século, em que uma grande parte da
população mundial e da população brasileira pre-
cisa mobilizar intensamente aspectos de sua
pulsão de vida que lhes permita sobreviver, reu-
nidos que estão sob a sigla dos excluídos.
Segundo O Mapa da Exclusão publicado
pela Folha de São Paulo (1998) o Brasil possui:
63% de excluídos (63,6 milhões de pessoas), dos
quais 23% (24 milhões de pessoas) são despos-
suídos; 24% são miseráveis (25 milhões de pes-
soas) e 15% são pobres (15 milhões de pessoas).
Não são todos moradores de rua. Muitos pos-
suem um teto, à semelhança de casa e apenas
isso, como os flagelados da seca no Nordeste.
Teimam em existir. À revelia do FMI, do capital
especulativo, dos nossos narcisicos governantes
- os maus pais sociais. Nunca a vaidade, a vora-
cidade e a onipotência arrogante foram tão lon-
ge no seu trabalho de violentar a ética, os senti-
mentos, o humano.
Esses maus pais sociais representam a face
tanática da sociedade, o “anti-ponto fixo” ou o
ponto do nada, em que o povo não pode se apoiar,
em contra-posição ao barraco do Hélio, porto se-
guro, reduto de Eros para aqueles que buscam um
caminho que dê significado à vida.
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REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO: “A RESILIÊNCIA E O

MORAR NA RUA: ESTUDO COM MORADORES DE RUA

CRIANÇA E ADULTOS – NA CIDADE DE SÃO PAULO”, DE

APARECIDA MAGALI DE SOUZA ALVAREZ (1999)

REFLECTIONS ON THE ARTICLE: “RESILIENCE AND

HOMELESSNESS: A STUDY ON HOMELESS – ADULTS AND

CHILD – IN THE CITY OF SÃO PAULO”, BY

APARECIDA MAGALI DE SOUZA ALVAREZ ( 1999)

Sueli Damergian *

  • Profa. Dra. do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP.

DAMERGIAN, S. Reflexões sobre o trabalho: “A resiliência e o morar na rua: estudo com moradores de rua - criança e adultos - na cidade de São Paulo”, de Aparecida Magali de Souza Alvarez (1999). Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., 9(1), 1999.

Resumo: Este artigo busca estabelecer um diálogo com o trabalho: “A resiliência e o morar na rua: estudo com moradores de rua- criança e adultos - na cidade de São Paulo”, através de reflexões suscitadas a partir do mesmo. A temática da resiliência e do morar na rua é relacionada ao modelo neoliberal vigente em nosso país e ao processo de exclusão social dele resultante. Algumas concep- ções sobre resiliência são discutidas para mostrar que ainda não existe consenso sobre o assunto. A vida dos moradores de rua é analisada a partir do interjogo entre os conceitos de identidade, insegu- rança ontológica, desconfirrnaçao existencial e ponto fixo enquanto alavanca para a resiliência: as interações amorosas como fundamento da existência e afirmação do eu.

Palavras-chave: exclusão social; interação amorosa; ponto fixo; identidade.

“Há alguém que revisite esse tempo de uma lentidão insidiosa durante o qual se transformou num daqueles que, embora vistos, embora ouvi- dos, não são olhados, não são escutados e que, aliás, se calam? Um daqueles que ninguém “con- sidera”, nem reconhece, a não ser como fantas- mas folclóricos, que não têm direito à carne das palavras, mas a siglas, a espectros de palavras: P. Mistas (rendaminirna); SMI Cards (salário minimo) ou, então ... nada” (FORRESTER, 1997). É dos que apenas aparecem em números, estatísticas frias, siglas, como diz acima Viviane Forrester, que não se presentificam na materiali- dade da dor da existência humana, que tão bem trata o trabalho que aqui comentamos. E com que sincronicidade! Emerge no momento mais crítico deste fim de século, em que uma grande parte da população mundial e da população brasileira pre- cisa mobilizar intensamente aspectos de sua pulsão de vida que lhes permita sobreviver, reu- nidos que estão sob a sigla dos excluídos.

Segundo O Mapa da Exclusão publicado pela Folha de São Paulo (1998) o Brasil possui: 63% de excluídos (63,6 milhões de pessoas), dos quais 23% (24 milhões de pessoas) são despos- suídos; 24% são miseráveis (25 milhões de pes- soas) e 15% são pobres (15 milhões de pessoas). Não são todos moradores de rua. Muitos pos- suem um teto, à semelhança de casa e apenas isso, como os flagelados da seca no Nordeste. Teimam em existir. À revelia do FMI, do capital especulativo, dos nossos narcisicos governantes

  • os maus pais sociais. Nunca a vaidade, a vora- cidade e a onipotência arrogante foram tão lon- ge no seu trabalho de violentar a ética, os senti- mentos, o humano. Esses maus pais sociais representam a face tanática da sociedade, o “anti-ponto fixo” ou o ponto do nada, em que o povo não pode se apoiar, em contra-posição ao barraco do Hélio, porto se- guro, reduto de Eros para aqueles que buscam um caminho que dê significado à vida.

A leitura deste trabalho nos leva obrigato- riamente a um paralelo entre os moradores de rua e a capacidade de resiliência de alguns deles e as perdas causadas a várias gerações de brasileiros pelo modelo neoliberal vigente em nosso país: ido- sos / aposentados / doentes que teimam em so- breviver, talvez para tristeza dos que nos gover- nam; adultos sem presente implorando para trabalhar à porta das fábricas e lutando para não se entregarem ao nada; jovens e crianças sem es- cola, sem presente, sem futuro. Quem sabe, pró- ximos candidatos as estatísticas sobre os mora- dores de rua. É obrigatório, portanto, destacar a impor- tância do trabalho de Magali apontando-nos para um problema que deve mobilizar as ações de Saú- de Pública (ela existe?...) enquanto responsável pelo bem estar físico e mental dos cidadãos. Se os recursos são precários ou inexistem, há um que não depende de datações orçamentarias: o amor, as forças de vida, o desejo enquanto expressão da vontade, a solidariedade, a ética, a empatia. São valores que Magali nos mostra no cotidiano de seus moradores de rua em constante luta contra a indiferença, o ódio, as drogas, o álcool, a violên- cia e que comentaremos a seguir.

DO CONCEITO: RESILIÊNCIA

É um conceito chave no trabalho e parece não estar ainda firmemente estabelecido entre seus autores. Algumas conceituações apresentadas mostram que falta consenso entre eles. Assim, Broffenbrenner se refere à resiliên- cia como uma qualidade que passava de uma ge- ração à outra e estava associada à esperança quan- to ao futuro possuída por pessoas submetidas ao sofrimento (pág. 23). Rutter fala em resiliência como um con- junto de processos sociais e intra-psiquicos que ocorrem no tempo, dadas certas combinações be- néficas de atributos da criança, familia, ambiente social e cultural. Resiliência, nesse sentido, en- volve todos os processos psico-sociais que subja- zem ao desenvolvimento saudável (pág 24). Grotberg define a resiliência como a capa- cidade humana para fazer frente às adversidades da vida, superá-las e delas sair fortalecido ou trans- formado. Grotberg diz que a maioria das crianças não é resiliente e a maioria dos pais não as aju- dam a adquirir resiliência (pág. 38). Enquanto Grotberg fala da necessidade de adquirir resiliência, Rutter (pág. 24) afirma que a resiliência não pode ser vista como um atributo nascido com a criança ou adquirido em seu de- senvolvimento. A autora optou por Grotberg em

seu trabalho e através dele mostra que se a resi- liência não é adquirida, é estimulada. Entretanto, há questões a resolver. Ela já existia ou não? É evidente que diz respeito à força de vida e se apoia no ponto fixo mas é necessário pesquisá-lo e cla- rifica-lo mais profundamente.

DA OPÇÃO TEÓRICA

A autora se apoia no pensamento de Morin, o que nos leva a enfatizar a importância de abrir o diálogo com o universo, que permite pensar com reticências, como costumamos dizer e não com pontos finais, abrindo mão das certezas e toman- do-nos disponíveis para as verdades e imprevis- tos que a vida e o conhecimento constantemente nos trazem. O jogo do claro/escuro, que é a complexidademostradapor Morin, é a única fomma de se chegar ao humano, já que é impos- sível apreendê-lo em sua totalidade. É preciso destacar a coragem da autora para enfrentar o es- curo, o desconhecido, sem simplificar, sem tentar enquadrar o humano em fórmulas reacionistas que esvaziam-no de sua essência, de seus afetos, de seus desejos. O caminho seguido permite-nos ir em busca do ser humano total, da união entre a razão e emo- ção, de metáfora e metonímia. Permite-nos a supe- ração da razão fechada, que é também racionaliza- ção (perversão da razão) e não racionalidade. O modelo do complexos, que permite a compreensão da vida, nada mais é que a síntese de opostos que caracteriza o humano, segundo Kierkegaard: finito/infinito; temporal/eterno; ne- cessidade/liberdade (1964). Alguns moradores de rua declaram que eles não são apenas necessida- de, fome. Têm desejo, dignidade, exprimem o de- sejo de ser, a liberdade para existir, sem os cons- trangimentos a que são submetidos.

DA PESQUISADORA E DO MÉTODO

Tratamos aqui de aspectos indissociáveis em sua coerência quanto à construção do traba- lho. Aliás, teoria, método, problema, enquanto escolhas, repetem a alma da pesquisadora. De certa forma, também é uma resiliente: emergiu ple- na, enriquecida através de seu trabalho realizado em condições bastante inóspitas de insegurança, perigos, dores. Quando fala de seu esquecimento que quase a levou a ser atropelada, aparece a sua capacidade de entrar no mundo do outro, uma entrega quase psicótica mas, fundamentalmente, uma revèrie, como diria Bion. Colocou-se como a mãe capaz de acolher as dores e sofrimentos,

E o problema da identidade em seu duplo aspecto, psíquico e social, através do desejo de reconhecimento e necessidade do reconhecimen- to do desejo. É Neilton afirmando: “eu não posso me identificar para você, que eu não tenho docu- mento mas um dia eu vou mostrar pro senhor quem eu sou”. É a necessidade do outro, do olhar que confirma ou nega a existência. O olhar que perpassa o corpo nômade de- vassa sua identidade exposta na rua. Giddens (1997) cita Goffman e sua teoria da indiferença civil: contrato implícito de reconhecimento mú- tuo que é feito pelos participantes nos cenários públicos da vida social. Segundo Goffman, quan- do duas pessoas se encontram na rua, demons- tram pelo olhar que são dignas de respeito, que não se sentem ameaçadas. Esses rituais efetuados em cenários pú- blicos, para Goffman, são mais do que formas de proteger a auto-estima de cada um e dos ou- tros, além de serem usados para atacar ou mi- nar a auto-estima. Eles dizem respeito aos as- pectos mais básicos da insegurança ontológica pois se referem a substância básica da intera- ção de todos os dias, efetuada através do con- trole dos gestos corporais do rosto, do olhar e do uso da linguagem. Os moradores de rua são perpassados e controlados por esses olhares. Em seus relatos há uma queixa em relação aos cidadãos da “cidade organizada”: sua aparência decadente é vista como repugnante; ao invés de respeitados são temidos como bandidos; simplesmente não existem, são eliminados em seus olhares, sempre desviados. Como diz a pesquisadora, “às vezes os “animais” (cachorros, geralmente) são o único ‘calor huma- no’ de que usufruem, nutrindo suas essências de humanidade”. Comprometer a segurança ontológica é comprometer a saúde mental, a noção de ser, de existir para o outro em sua completude. É o que se faz com o morador de rua. Como esquecer a operação de “limpeza étnica e social” ocorrida re- centemente em Corumbá, quando pessoas foram transformadas em objeto, lixo a ser despejado em outro Estado? Há ainda o problema da vergonha, que re- mete diretamente para a auto-identidade, porque é pública, exposta. E Neilton, afirmando: “...nem diga (à mãe) que eu tô sofrendo, ou que me viu, nem nada!” E José: “Eu disse: eu estou viajando para fora...” e era mentira, estava em São Paulo mes- mo (morando na rua). A vergonha provoca sentimentos de desadequação ou humilhação. Ela se liga à con- fiança, podendo destruí-la ou ameaçá-la. Como

se vê, viver na rua implica no desmoronar de to- dos os alicerces antológicos. No entanto, o amor transformou quatro pessoas. O amor de D. Silvia; do japonês que doa o cobertor novo; de Cara Queimada que oferece seu cobertor a Fernanda; de Hélio; de Gino; Neilton; Magali. Os modelos saudáveis, a vida, se sobrepuseram à morte. Daí a força incrível des- sas pessoas, sua capacidade de resiliência Suas identidades, massacradas, emergem; sua fome é de amor e reconhecimento. A sociedade não é só filicida. Há pais, fi- lhos e irmãos amorosos. Apesar do Grande Pai e do Grande Irmão. Quando o empregador de Neilton diz que ele merecera o almoço ao quebrar um bloco de concreto, sua resposta é: “Eu não me chamo co- mida, senhor, eu me chamo trabalho e honestida- de e quero saber quanto é que estou ganhando, quanto é que vou ganhar”. É a voz do humano que não se resume ao concreto, à comida. Sua fome é de algo maior, simbólica, especificamente humano: sua identi- dade, o respeito, o reconhecimento, o lugar na ordem simbólica e, fundamentalmente o afeto. Deixemos as palavras finais com Hobs- bawn (1995): “Sabemos que por trás da opaca nuvem de nossa ignorância e da incerteza de resultados de- talhados, as forças históricas que moldaram o sé- culo continuam a operar. Vivemos num mundo conquistado, desenraizada e transformado pelo titânico processo econômico e técno-científico do desenvolvimento do capitalismo que dominou os dois ou três últimos séculos. Sabemos, ou pelo menos é razoável supor que ele não pode prosse- guir ad infinitum. O futuro não pode ser uma con- tinuação do passado e há sinais, tanto externa- mente quanto internamente, de que chegamos a um ponto de crise histórica. As forças geradas pela economia técno-científica são agora suficiente- mente grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações materiais da vida humana. As próprias estruturas das sociedades humanas, in- cluindo mesmo algumas das fundações sociais da economia capitalista estão na iminência de se- rem destruídas pela erosão que herdamos do pas- sado humano. Nosso mundo corre o risco de ex- plosão e implosão. Tem de mudar. Não sabemos para onde estamos indo... Contudo, uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo pro- longamento do passado ou do presente. Se tentar- mos construir o 3° milénio nessa base, vamos fra- cassar. E o preço do fracasso, ou seja, as alternativas para uma mudança da sociedade é a escuridão.”

Abstract: This article intends to establish a dialogue with the article “Resilience and homelessness: a study on homeless - adults and child - in the city of São Paulo” by means of reflections deriving from it. The article relates the themes of resilience and homelessness to the current neo-liberal model in Brazil and to the process of social exclusion resulting from it. Some conceptions of resilience are discussed so as to demonstrate that there is no consensus about the issue. The life of the homeless is analysed based on the interplay between the concepts of identity, ontological insecurity, existential non-confirmation and fixed point as a lever to resilience: love interactions as the basis for existence and affirmation of the self.

Key-words: social exclusion; love interaction; fixed point; identity.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVAREZ, A. M. d. S. A resiliência e o morar na rua: estudo com moradores de rua – criança e adultos – na cidade de São Paulo. São Paulo,

  1. [Dissertação de Mestrado - Faculdade de Saúde Pública da USP]. ENRIQUEZ, E. Da horda ao Estado. Rio de Ja- neiro, Jorge Zahar Editor, 1990. FORRESTER, V. O horror econômico. São Pau- lo. Editora da UNESP, 1997.

GIDDENS, A. Modernidade e identidade pessoal. Oeiras, Portugal, Celta Editora, 1997. HOBSBAWN, E. Era dos extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. KIERKEGAARD, S. Temor e terror. São Paulo, Livraria Exposição do Livro, 1964. MILNER, M. O papel da ilusão na forrnação sim- bólica. In: KLEIN, M.; HEIMANN, P.; MONEY-KYRLE, R. E. (orgs.). Novas tendên- cias na Psicanálise. Rio de Janeiro, Zahar Edi- tores, 1969.