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As recomendações da secção de neonatologia da sociedade portuguesa de pediatria sobre as curvas de avaliação de crescimento adequadas para crianças nascidas pré-termo. Discutem-se as curvas de fenton 2013, ehrenkranz 1999 e oms 2006, e os autores discutem os pontos fortes e fracos de cada uma. Além disso, discutem-se os valores de referência e os critérios adequados para avaliação do crescimento pós-natal.
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0873-9781/13/44-2/ Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria
Resumo
Em 2013, a Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria, face à existência de várias curvas de avaliação de crescimento para crianças nascidas pré-termo e à falta de homogeneidade de critérios na sua escolha, nomeou um grupo de peritos que procedeu à revisão crítica das curvas dispo- níveis e recomenda as que considera mais adequadas para utilização na prática clínica em fases específicas da vida: ao nascimento (Fenton 2013), durante o internamento na unidade de Neonatologia (Fenton 2013 e Ehrenkranz 1999) e a longo prazo (OMS 2006). As decisões foram tomadas com base na classificação sistemática do nível de evidência e do grau de recomendação.
A presente recomendação: é válida enquanto não forem publicados os resultados do estudo do consórcio multicêntrico INTERGROWTH-21st, recentemente incumbido da constru- ção de valores de referência, mais próximos do padrão, de crianças nascidas pré-termo; tem o propósito de auxiliar os clínicos na decisão clínica, mas não ser o único instrumento de avaliação do crescimento das crianças nascidas pré-termo; pode não proporcionar elementos suficientes para orientação do crescimento de todas estas crianças.
Palavras-chave: antropometria, criança, curvas de cresci- mento, pré-termo, recém-nascido
Acta Pediatr Port 2013;44(2):94-
Abstract
In 2013, the Neonatal Section of the Portuguese Society of Paediatrics convened a panel of experts for comprehensive review of the current growth curves for children born preterm and for providing guideline recommendations for their use in specific periods of life: at birth (Fenton 2013), during the
stay in the neonatal unit (Fenton 2013 and Ehrenkranz 1999), and at long-term (WHO 2006). The decisions were based on systematic grading of the quality of evidence and strength of recommendation.
The present guideline recommendation: is valid while growth curves more close to standard for preterm infants, from the international consortium INTERGROWTH-21st study, are not released; is intended to assist clinicians by providing a framework for clinical decision-making, but not to be a sole tool for assessment of growth of children born preterm; may not provide sufficient data to manage the growth of all chil- dren born preterm.
Key words: anthropometry, child, growth curves, neonate, preterm
Acta Pediatr Port 2013;44(2):94-
Introdução
O crescimento é um indicador imprescindível para avaliação da saúde global em pediatria, especialmente em crianças nas- cidas pré-termo^1.
A antropometria, embora tenha muitas limitações de fiabili- dade 2 , é o método mais usado para avaliar o crescimento, por ser simples, económico, não invasivo e praticável à cabeceira do doente^3.
Não sendo adequado usar em crianças nascidas pré-termo valores de referência construídos para as nascidas de termo^4 , existem divulgados valores próprios para pré-termos para serem usados em diferentes idades e contextos: ao nascer, para avaliar o crescimento intra-uterino e após o nascimento, para monitorizar o crescimento durante o internamento e após alta4,5.
As medidas antropométricas mais usadas na avaliação do crescimento de crianças nascidas pré-termo são o peso, o comprimento e o perímetro cefálico6,7.
Recebido: 22.07. Aceite: 30.07.
A literatura recente tem mostrado que não há consenso em relação aos valores de referência para avaliar o crescimento de crianças nascidas pré-termo1. Recentemente, foi constituído o consórcio internacional multicêntrico INTERGROWTH-21st (http://www.intergrowth21.org.uk) incumbido da construção de valores de referência mais próximos do padrão, a partir de coortes seleccionadas dessa população 8,9. Entretanto, é neces- sário continuar a escolher os valores mais adequados para apoiar a prática clínica^9.
Medições e modo de as expressar
Para interpretação das medições efectuadas é necessário comparar os resultados obtidos com valores de referência representativos da população a que o indivíduo pertence^10. Em Portugal, foram publicados valores de referência regionais de antropometria neonatal^11 , mas estes apenas são adequados para avaliar a população local representada pela amostra analisada. Grande parte dos países não dispõe de valores de referência da sua população. Nestes, está recomendado usar valores de referência internacionais construídos com grande solidez epidemiológica e metodológica^10.
Os valores da antropometria podem ser expressos em curvas de percentis ou, quando as medidas têm uma distribuição Normal, em médias e desvios padrão (DP) 12. Em qualquer circunstância, são estabelecidos limiares de diagnóstico ou valores de corte (cut off) que reflectem o melhor equilíbrio possível entre a sensibilidade e a especificidade, de modo a distinguir o que não é “normal”^10. A mediana corresponde ao percentil 50 e, por aproximação, -1DP corresponderá ao per- centil 5, +1DP ao percentil 95, -2DP ao percentil 3 e +2DP ao percentil 97 13. Em certas circunstâncias em que a distribuição não é Normal, há métodos que permitem a transformação em médias e DP ou z-scores, o que permite quantificar o desvio de determinado valor de forma mais precisa, nomeadamente quando se situa <percentil 3 ou > percentil 974,13.
Valores de referência versus valores padrão
Enquanto os valores padrão pretendem representar o cres- cimento ideal, os valores de referência descrevem como as crianças efectivamente crescem 7,9,14.
No recém-nascido pré-termo, os valores padrão comparam o crescimento pós-natal com o de fetos saudáveis com idêntica idade de gestação. Este tipo de valores é geralmente obtido a partir do registo da antropometria ao nascer em várias idades de gestação^6. A grande limitação destes valores reside no fato de não poderem ser usados nos primeiros dias pós-natais em que ocorre a perda fisiológica de peso6,15; outras limitações relacionam-se com a imprecisão na datação da gestação e da inclusão de uma importante proporção de pré-termos com restrição de crescimento intra-uterino, não podendo em rigor representar um padrão7,16. Nesta perspectiva, há autores que propõem em alternativa curvas longitudinais do peso fetal estimado^17 , embora a validade destas, por sua vez, esteja limi- tada pela fiabilidade das medições ultrassonográficas^18.
Há autores, porém, que consideram mais realista usar valores de referência em vez de valores padrão6,19, por reconhecerem que é difícil substituir em meio extra-uterino o ambiente endócrino e metabólico que em meio intra-uterino promove o crescimento fetal, incluindo o elevado fluxo e composição de nutrientes pelo cordão associado à secreção de uma série de hormonas maternas e placentares^20. Sendo os valores de refe- rência construídos a partir do registo longitudinal da antropo- metria pós-natal, naturalmente afastam-se do crescimento ideal por estar fortemente influenciado pelas limitações da assistên- cia nutricional contemporâneas à construção das curvas e pelo impacto da patologia^21. Assim, ao optar-se por valores de refe- rência é preciso ter em conta que estes também representam o acúmulo da restrição de crescimento extrauterino^21.
Objectivo
A presente recomendação nacional pretende indicar os crité- rios mais adequados de avaliação do crescimento e uniformi- zar a utilização de curvas de peso, comprimento e perímetro cefálico para crianças nascidas pré-termo. Esta uniformização, não só entre os profissionais de unidades de neonatologia, mas também entre os profissionais que acompanham estas crianças após a alta hospitalar, facilitará a comunicação e a partilha de informação entre os mesmos e a realização de estudos multi- cêntricos em que seja necessário usar a antropometria.
Relativamente ao crescimento pós-natal, é preciso decidir se a preferência recai em valores padrão (como deve ser o crescimento ideal) ou em valores de referência (como ocorre o crescimento na realidade).
A elaboração da presente recomendação norteou-se por: análise crítica das vantagens e desvantagens das curvas mais actuais, anotando os respectivos pontos fortes e fracos; escolha de curvas com especificidade para determinadas idades (natais e pós-natais) e contextos (internamento e após alta); e opção pelo mínimo de curvas e valores de referência necessários.
I. Curvas padrão: do nascimento às 50 semanas pós-concepcionais
Muitos clínicos preferem curvas padrão em detrimento das curvas de referência, uma vez que estas são influenciadas pelas limitações da assistência nutricional contemporâneas à sua construção^9 e sendo reconhecida a dificuldade em conseguir-se um crescimento satisfatório apesar de suporte nutricional considerado adequado^22.
As curvas para avaliar o crescimento intra-uterino baseadas em registos de somatometria natal4,5^ não devem ser confundidas com curvas de crescimento intra-uterino baseadas em medições ultrassonográficas destinadas a monitorizar o crescimento fetal^1.
Foram muito recentemente publicadas as curvas de Fenton & Kim^23 , adiante designadas por curvas de Fenton 2013, procu- rando aproximar-se do padrão. Combinam numa meta-análise registos de somatometria ao nascer com curvas longitudinais de crescimento de uma coorte de recém-nascidos de termo saudáveis seguidos desde o nascimento.
Pontos fracos:
III. Curvas padrão para longo prazo
O crescimento pós-natal ideal de crianças nascidas pré-termo não está definido, podendo o estudo de coorte INTER- GROWTH-21st, já iniciado, ajudar a resolver este problema. Entretanto, pode não ser ideal ter como referência o cres- cimento de outros prematuros, pois este pode reflectir um importante acúmulo de restrição de crescimento intra e extra- uterino, nomeadamente por limitações da assistência nutri- cional pós-natal que têm vindo a melhorar com o tempo 23,33.
Estas curvas padrão^25 , construídas entre 1997 e 2003 pelo Multicenter Growth Reference Study da OMS, incidem em duas amostras populacionais: uma em estudo longitudinal de 882 crianças dos 0 aos 24 meses e outra em estudo transversal de 8.440 crianças, provenientes de comunidades de vários continentes (Brasil, EUA, Gana, Índia, Noruega e Oman). Os dados da componente longitudinal foram obtidos pelo segui- mento de recém-nascidos de termo, nas melhores condições para permitir expressar o seu potencial genético (aleitamento materno até aos 6 meses, correta diversificação alimentar, cuidados de saúde adequados), vindo a traduzir pela primeira vez o crescimento mais próximo do ideal. Para a componente transversal, foram selecionadas crianças com os mesmos cri- térios de inclusão, aceitando-se uma duração do aleitamento superior a 3 meses. O padrão de crescimento registado destes dados da OMS é notavelmente consistente entre diferentes países e grupos étnicos, o que permite a sua utilização em todas as crianças, independentemente da região do globo. São
específicas para o género e estratificadas em percentis 3 a 97.
Estas curvas proporcionam assim um padrão para crianças nas- cidas de termo, para peso, estatura, rácio peso/ estatura, índice de massa corporal e perímetro cefálico do nascimento aos 5 anos de idade. Foram adoptadas pelo Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil da Direcção Geral de Saúde (DGS) e futuramente serão incluídas no Boletim de Saúde Infantil e Juvenil. Estão disponíveis online quer na página do CDC (www.cdc.gov/growthcharts/ who_charts.htm), quer na página da DGS www.dgs.pt/?cr=22610.
Pontos fortes:
Ao serem usadas as curvas de Fenton 2013^23 até às 50 semanas pós-concepcionais, estas curvas estão em perfeita continuidade.
Pontos fracos:
Recomendação
Enquanto não forem divulgados os resultados do estudo do consórcio INTERGROWTH-21st, a Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda as curvas indicadas na Tabela, para avaliar o crescimento de crianças nascidas pré-termo. Considerando a utilização destas curvas um procedimento, adaptou-se uma classificação^35 para indicar os graus de recomendação e níveis de evidência de cada curva.
Quadro. Curvas para avaliação do crescimento de crianças nascidas pré-termo. Tipo de curva Utilidade Grau de recomendaçãoNível de evidência * Referência
I. Curva padrão (comparação com o crescimento do feto da mesma id. gestacional)
- Fenton 2013
Ao nascimento: Avaliação do crescimento intra-uterino, classificação em leve, adequado, e grande para a idade gestacional Durante o internamento: Monitorização do crescimento, sobretudo das >2-3 semanas pós-natais às 50 semanas pós-concepcionais Na alta: Diagnóstico de restrição de crescimento extra-uterino
Grau de recomendação I Nível de evidência A
Fenton TR, Kim JH. BMC Pediatr 2013;13:59†
II. Curva referência (comparação com o crescimento de pré-termos da mesma idade gestacional)
- Ehrenkranz 1999
Durante o internamento: Monitorização do crescimento, sobretudo nas primeiras 2- semanas pós-natais Curvas específicas para adequados e leves para a idade gestacional e para morbilidade major
Grau de recomendação I Nível de evidência B
Ehrenkranz RA, et al. Pediatrics 1999;104:280-
III. Curva padrão (comparação com ocrescimento de crianças de termo saudáveis)
- OMS 2006
A longo prazo (0 aos 60 meses): Monitorização do crescimento, incluindo o índice de massa corporal
Grau de recomendação I Nível de evidência A
WHO. Acta Paediatr 2006; 95(Suppl 450):76-85 ‡
Esta recomendação tem o propósito de auxiliar os clínicos na decisão clínica, mas não ser o único instrumento de avaliação do crescimento das crianças nascidas pré-termo, podendo não proporcionar elementos suficientes para orientação do crescimento de todas estas crianças.
Utilização electrónica das curvas
Com o objectivo de facilitar e optimizar a utilização dos valores de Fenton 2013^23 , foram disponibilizados pelos autores deste estudo os dados originais para que um coautor (SF) deste docu- mento desenvolvesse um programa de interface electrónico, de utilização amigável e conveniente para o utilizador, usando programação VBA em Excel 2010. Além das curvas de Fenton 201323 , neste programa foram incluídos: os dados do estudo transversal das curvas OMS 2006^25 , incluindo crianças até aos 5 anos, em continuidade com o estudo longitudinal dessas mesmas curvas incorporado nas curvas de Fenton 2013^23 ; e as curvas OMS 2007^36 , dos 5 aos 19 anos, exceptuando o peso cujas curvas estão disponíveis apenas até aos 10 anos.
Mediante a introdução dos parâmetros antropométricos, sexo, idade de gestação e idade pós-natal (conforme o caso), obtêm- se automaticamente os percentis do peso, comprimento / altura, perímetro cefálico e índice de massa corporal, com aproximação de uma casa decimal.
Esta aplicação é de acesso gracioso, disponível na página da Secção de Neonatologia (www.lusoneonatologia.com).
Recomendação aprovada pela Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria, na II Reunião de Consensos em Neonatologia, em Leiria, 3 de Maio de 2013.
Grupo de peritos nomeado pela Secção de Neonatologia:
Agradecimento
Os autores agradecem a cortesia da Dr. Tanis R. Fenton, coautora das curvas de Fenton 2013, em fornecer dados origi- nais do seu estudo para o desenvolvimento do programa de interface electrónico.
Referências