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A Hora de alimentar serpentes não é apenas o título de um dos contos que o compõem o livro de Marina Colasanti, mas a revelação da metáfora que pode ter ...
Tipologia: Slides
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A Hora de alimentar serpentes não é apenas o título de um dos contos que o compõem o livro de Marina Colasanti, mas a revelação da metáfora que pode ter gerado o livro. A opção que melhor esclarece tal metáfora é
(A) a hora de alimentar serpentes, animal símbolo do pecado, da traição, que se alimenta apenas do que é vivo é, portanto, também a hora da morte. (B) a hora de alimentar serpentes é uma coleção de pequenas e grandes ironias da vida, alteradas com o objetivo de retratar o senso comum. (C) a hora de alimentar serpentes revela a desautomatização do pensamento, adicionando elementos esperados e bastante comuns às histórias que todos já ouvimos. (D) a hora de alimentar serpentes representa a unidade e coerência características do pensamento do homem contemporâneo.
PORTO
E o navio fantasma atracou na terceira margem do rio. COLASANTI, Marina. Hora de alimentar serpentes. São Paulo: Global, 2013.
A TERCEIRA MARGEM DO RIO
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas pessoas sensatas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa. Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arquejada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta. Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez nenhuma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou:
GUIMARÃES ROSA, João. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 79- 80. arqueado: com forma de arco, curvado
bramar: falar colericamente, enfurecer-se encalcar: apertar, comprimir estúrdio: estranho, esquisito grota: cavidade próxima à margem de um rio matula: comida, provisões para viagem popa: parte posterior de uma embarcação rijo: rígido, duro vinhático: espécie de árvore de excelente madeira de cor amarela
O miniconto de Marina Colasanti faz referências explícitas ao conto de Guimarães Rosa. Essa estratégia presente em diversos outros momentos do livro configura um recurso da linguagem conhecido como:
(A) ironia (B) designação (C) verossimilhança (D) intertextualidade
Segundo o Dicionário de símbolos , de Jean Chevalier e Alan Gheerbrant, "o simbolismo do rio e do fluir de suas águas é, ao mesmo tempo, o da possibilidade universal e o da fluidez das formas, o da fertilidade, da morte e da renovação."
A partir dessa simbologia, tendo em vista a leitura de Hora de alimentar serpentes e o fragmento de Guimarães Rosa, é possível afirmar que o rio
(A) é uma metáfora dos desejos do ser humano. (B) seria um elemento que mostra a harmonia da sua vida. (C) pode revelar a necessidade de manutenção de suas raízes. (D) representa o desprezo do ser humano pela vida.
EM ALGUM PONTO
Tinha os mapas. Não seria difícil encontrar o não lugar. Bastava evitar aqueles consignados nas cartas, e todos os outros, tão pequenos e insignificantes que sequer constavam delas. Em algum ponto, entre o que não existe e o que é, utopia o aguardava. Jogou a bússola ao mar, e fez-se ao largo. COLASANTI, Marina. Hora de alimentar serpentes. São Paulo: Global, 2013.
Em relação ao período: Bastava evitar aqueles consignados nas cartas, e todos os outros, tão pequenos e insignificantes que sequer constavam delas. É correto afirmar que o mesmo estabelece com o período anterior uma relação de (A) causa (B) conclusão (C) condição (D) comparação
pontuação. No lugar do primeiro e do segundo pontos, mantendo a relação lógica entre os segmentos frasais, o leitor poderia inserir as seguintes conjunções:
(A) embora; pois (B) porque; porém (C) no entanto; já que (D) mas; por conseguinte
Ao usar a palavra “só”, no início do texto “Na medida” (Tinha só meia sombra.), a autora destaca, com esse procedimento:
(A) A sensação de incompletude do personagem, que se confirma pelo espanto que ele sente. (B) A oposição entre “só” e “apenas”, que acionam valores semânticos distintos. (C) O contraponto de “meia” com “inteira”, que mentalmente o leitor é levado a construir. (D) A contradição entre “meia sombra” e “meio homem”, produzindo um paradoxo.
POR AQUELA
Apaixonou-se por aquela mulher. Por aquela, como nunca pelas outras. Juntou então suas lembranças, deixou todo o resto para trás, e mudou-se para dentro dela.
COLASANTI, Marina. Hora de alimentar serpentes. São Paulo: Global, 2013.
A paixão por “aquela” mulher e seu efeito na vida do personagem funciona como um divisor de águas, delimitando campos diferentes da experiência. Considerando a seleção vocabular praticada no trecho, é correto afirmar que
(A) ao usar “outras” para se referir às experiências amorosas anteriores, o narrador delimita o que está sendo vivido e o que ainda será vivido pelo personagem. (B) o vocábulo “resto” se reporta ao que não ficou registrado para o personagem como “lembrança” e que, portanto, será deixado para trás. (C) a palavra “nunca” indica que a paixão é totalmente nova na vida do personagem, delimitando um tempo de presença e um tempo de ausência. (D) o verbo “mudou-se” destaca uma ação voluntária de movimentação geográfica e afetiva do personagem do seu interior (espaço dentro) para “aquela mulher” (espaço fora).
AGONIA DE UM FILÓSOFO
Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo... O Inconsciente me assombra e eu nele rolo Com a eólica fúria do harmatã inquieto!
Assisto agora à morte de um inseto...! Ah! todos os fenômenos do solo Parecem realizar de pólo a pólo O ideal de Anaximandro de Mileto!
No hierático areópago* heterogêneo Das ideias, percorro como um gênio Desde a alma de Haeckel à alma cenobial!...
Rasgo dos mundos o velário espesso; E em tudo, igual a Goethe, reconheço O império da substância universal!
Augusto dos Anjos
Harmatã – Vento frio e extremamente seco que se forma sobre o Saara, e sopra na direção oeste ou sul para a costa africana. Hierático – relativo às coisas sagradas ou religiosas.2.pertencente aos sacerdotes ou que tem as formas de uma tradição litúrgica. Cenobial – Relativo a cenóbio (colônia de organismos unicelulares - algas ou bactérias -, de forma constante, com número definido de indivíduos, que constitui um todo funcional.)
DA MESMA MATÉRIA
Somos feitos da mesma matéria que as estrelas, pensou denso, repetindo a frase que havia lido no jornal. Estava à janela. Abaixo, a fila de carros fluía compacta e lenta, luzes vermelhas atrás de luzes vermelhas em ligeiro tremor, sem intervalos. Pedestres iam se juntando na calçada à espera do sinal verde, quando então atravessariam todos juntos e apressados, infiltrando-se e esquivando-se do grupo que vinha com pressa do outro lado. Na calçada um novo grupo à espera logo se formaria. E as luzes vermelhas ali, desfilando como se intermináveis. Olhou para o alto. Nenhum cintilar se via. Nuvens e a luminosidade da cidade toldavam as estrelas. Mas ele as sabia lá, claras e palpitantes, tantas, e tão distantes que o olhar mergulharia naquele sem-fim indo de uma a outra, de uma a outra, buscando as mais distantes sem jamais poder alcançá-las. Entre elas, tempo e silêncio eram uma única coisa em suspensão. Onde, pensou doído, onde foi que nos separamos?
COLASANTI, Marina. Hora de alimentar serpentes. São Paulo: Global, 2013.
Entre o poema de Augusto dos Anjos, autor do pré-modernismo brasileiro, e o conto de Marina Colasanti podem ser observados elementos de aproximação e de afastamento envolvendo linguagem e temática. Tal relação está corretamente apresentada em:
(A) Os textos se aproximam pelo nível de linguagem, bastante formal em ambos, e se afastam pela temática. (B) O texto de Augusto dos Anjos apresenta linguagem rebuscada, enquanto o de Colasanti se aproxima de um uso mais padrão; em ambos a temática é a mesma: o questionamento sobre a unidade entre os seres.