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Construção de Identidade Linguística: Análise de Textos e Formas de Ser, Slides de Tradução

Uma análise sociodiscursiva da construção de identidade linguística, utilizando um abordagem logocêntrica. Os autores examinam textos dos evangelhos, autobiografias e entrevistas com janita salomé, observando as formas linguísticas do verbo 'ser' na construção de identidade. A análise aborda a interacção social entre as condições sociais e a produção/interpretação de textos, além da questão da identidade pessoal e a interrelação com as histórias de outras pessoas.

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

jacare84
jacare84 🇧🇷

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Cadernos WGT Ser e estar propostas de estudo (Maio de 2011)
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Quem dizes tu que eu sou? aspectos linguísticos da (construção) de identidade
Camile Tanto & Maria Antónia Coutinho
Abstract: In this paper we are assuming a sociodiscursive interacionist framework (Bronckart,
1997) as a „logocentric‟ approach: this means that language activity is seen as fundamental in
the personal conscience development, concerning both early child stages and long life
development. From this point of view, and following Ricœur (1985, 1990), we will assume that
personal identity is permanently reconfigured through discursive and textual production. This is
the main issue we will be dealing with. By the analysis of three sets of texts (the gospels,
autobiographical statements and interviews with Janita Salomé), we will aim at describing the
linguistic forms of the verb ser (to be) in the construction of personal identity and at observing
non linguist policies engaged in the validation (or non-validation) of those mechanisms.
Introdução
O quadro teórico e epistemológico do
Interacionismo Sociodiscursivo (ISD)
situa-se na continuidade dos princípios
interacionistas sociais, perspectivados em
contributos fundadores de Vigotsky e de
Voloshinov, mas também de Saussure,
como mostram investigações recentes
(Bronckart, Bulea & Bota, 2010). Ao
contrário de uma perspectiva biologizante,
considera-se neste âmbito que o social
precede a interiorização da língua por parte
dos sujeitos. Partilhando este mesmo
princípio, o ISD assume-se como uma
abordagem logocêntrica: quer isto dizer
que assume o papel fundamental da
actividade de linguagem no
desenvolvimento da consciência, em
termos de constituição da pessoa, e no
desenvolvimento ao longo da vida.
Um aspecto particular desta problemática
tem a ver com a forma como se constitui
e permanentemente se reconstitui a
identidade pessoal, através da produção
discursiva e textual. É neste âmbito que se
situa o presente trabalho. Com recurso a
um recorte de auto e hetero-definições‟
construídas com o verbo ser em três
corpora (textos dos Evangelhos,
testemunhos de Alcoólicos Anónimos e
entrevistas com Janita Salomé), propomo-
nos reflectir quer sobre as formas
linguísticas de construção de identidade,
quer sobre os mecanismos não linguísticos
de reconhecimento e/ou validação dessa
mesma construção. A análise destas duas
vertentes conduzirá, por um lado, a repor
em questão a tradicional e sempre
discutida dicotomia entre sentido literal e
sentido metafórico e, por outro, a
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Quem dizes tu que eu sou? – aspectos linguísticos da (construção) de identidade Camile Tanto & Maria Antónia Coutinho

Abstract: In this paper we are assuming a sociodiscursive interacionist framework (Bronckart,

  1. as a „logocentric‟ approach: this means that language activity is seen as fundamental in the personal conscience development, concerning both early child stages and long life development. From this point of view, and following Ricœur (1985, 1990), we will assume that personal identity is permanently reconfigured through discursive and textual production. This is the main issue we will be dealing with. By the analysis of three sets of texts (the gospels, autobiographical statements and interviews with Janita Salomé), we will aim at describing the linguistic forms of the verb ser (to be) in the construction of personal identity and at observing non linguist policies engaged in the validation (or non-validation) of those mechanisms.

Introdução O quadro teórico e epistemológico do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) situa-se na continuidade dos princípios interacionistas sociais, perspectivados em contributos fundadores – de Vigotsky e de Voloshinov, mas também de Saussure, como mostram investigações recentes (Bronckart, Bulea & Bota, 2010). Ao contrário de uma perspectiva biologizante, considera-se neste âmbito que o social precede a interiorização da língua por parte dos sujeitos. Partilhando este mesmo princípio, o ISD assume-se como uma abordagem logocêntrica: quer isto dizer que assume o papel fundamental da actividade de linguagem no desenvolvimento da consciência, em termos de constituição da pessoa, e no desenvolvimento ao longo da vida.

Um aspecto particular desta problemática tem a ver com a forma como se constitui – e permanentemente se reconstitui – a identidade pessoal, através da produção discursiva e textual. É neste âmbito que se situa o presente trabalho. Com recurso a um recorte de „auto e hetero-definições‟ construídas com o verbo ser em três corpora (textos dos Evangelhos, testemunhos de Alcoólicos Anónimos e entrevistas com Janita Salomé), propomo- nos reflectir quer sobre as formas linguísticas de construção de identidade, quer sobre os mecanismos não linguísticos de reconhecimento e/ou validação dessa mesma construção. A análise destas duas vertentes conduzirá, por um lado, a repor em questão a tradicional e sempre discutida dicotomia entre sentido literal e sentido metafórico e, por outro, a

evidenciar uma dimensão interaccionista social presente nos textos dos Evangelhos.

Actividade de linguagem e identidade pessoal Como atrás se referiu, o quadro teórico e epistemológico do ISD atribui um papel central à actividade de linguagem. Esta noção, que se inscreve na tradição de autores como Humboldt, Bühler e Saussure, evidencia que os textos, enquanto unidades comunicacionais situadas e empíricas, constituem o modo de existência „natural‟ da(s) língua(s) – de que decorrem as estabilizações fixadas por descrições e teorias gramaticais e linguísticas. O primado que assim se atribui às condicionantes sociais e colectivas que determinam a produção /interpretação de textos (orais e escritos) situa-se num movimento inverso, portanto, daquele que concebe, em primeiro lugar, a estruturação gramatical de uma sequência linguística, a ser posteriormente inserida, ou usada, em contexto. Assim enraizada, em primeiro lugar, na interacção social, a actividade de linguagem corresponde também, em sentido forte, à elaboração de algo que não existia antes (enquanto tal): a produção linguística (ou os textos, se preferirmos) não reproduz(em) pensamento nem reflecte(m) conteúdo pré-existente; o

conteúdo só toma forma na forma que o diz (ou escreve). As implicações desta posição epistemológica podem variar: a apropriação que cada pessoa faz dos produtos sociais e culturais que a antecedem – e de que fazem parte as estabilizações a que chamamos habitualmente língua (s) e género (s) de texto – veiculam a ilusão de um real pré- existente. De facto, apenas permitem uma relação quotidiana tranquila com o “real”, dispensando-nos de permanentemente olhar e interpretar o que nos rodeia como se o víssemos e pensássemos pela primeira vez – tranquilidade (ou preguiça) a que a poesia declaradamente se esquiva. Pode considerar-se como uma vertente particular desta construção permanente a questão da identidade pessoal – a ser vista, na continuidade dos contributos de Paul Ricœur (1985, 1990), como identidade narrativa : que se desdobra nas múltiplas histórias que a „mesma‟ pessoa pode contar de si (da sua vida) e se dispersa na interrelação inevitável com as histórias (de vida) de outros. De uma forma mais ampla, e não exclusivamente confinada à vertente narrativa dos textos, assumiremos que, em vez de uma suposta identidade uniforme e estável, pré-estabelecida, a identidade se (re)configura na medida em que a pessoa se diz e, ao dizer-se, selecciona, relaciona,

circularam inicialmente na imprensa escrita, estão disponíveis em linha. Foram recolhidos e transcritos por Mariana Silva, no âmbito da constituição do corpus do projecto Pretexto. São portanto as versões transcritas que serão tidas em conta, na análise.

Análise dos textos - auto-definições No que se refere à estrutura dos excertos seleccionados, e de acordo com o critério de seleção usado, verifica-se em todos os casos uma estrutura predicativa construída com o verbo copulativo ser. Uma leitura exploratória dos três conjuntos de textos em análise sugeriu a possibilidade de distribuir essas estruturas predicativas segundo três ordens de ocorrências: uma, da ordem do (chamado) sentido literal; outra, da ordem do (chamado) sentido metafórico; e uma terceira, que diremos entre o literal e o metafórico. Certas de que as noções de sentido literal e metafórico são muito discutíveis, partiremos neste trabalho da noção mais geral, segundo a qual o sentido literal é

linguisticamente estável, dependendo a sua descodificação apenas do conhecimento do sistema linguístico, enquanto o sentido não-literal depende de um processo de descodificação de conteúdos literais instáveis ou inéditos, em função de determinações co(n)textuais (Kerbrat-Orecchioni, 1986: 97-98).

Veremos posteriormente em que medida o percurso desenvolvido permite rever de alguma forma estas mesmas noções. A análise que se segue está organizada em função dos três eixos referidos – apresentando-se para cada um deles uma tabela, que permite visualizar os excertos em análise (cada um deles identificado, de acordo com as características do género ou através da numeração atribuída, ao constituir-se o corpus ), nos três conjuntos de textos considerados (também eles identificados por abreviatura). Assim, para nos referirmos a um exemplo, referiremos o nº da tabela, a abreviatura do género considerado e a informação relativa ao excerto; por exemplo: 1En (001).

Eixo 1 – Sentido literal Tabela 1 Evangelhos (Ev) AAPortugal (AA) Entrevistas (En) Replicou-lhe a mulher: Eu sei que vem o Messias (que se chama o Cristo); quando ele vier há-de nos anunciar todas as coisas. Disse-lhe Jesus: Eu o sou , eu que falo contigo [ Sou eu , que falo contigo]. (Jo.4:25,26)

Eu chamo-me Maria de Lourdes e sou alcoólica. (50.1)

[o vinho] é um excelente vaso dilatador, um antioxidante. (001)

(…) e perguntou-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. (Jo.18:4-5)

sou um doente alcoólico. (50.10)

…vinho é uma palavra que na sua origem mais remota deriva do sânscrito e quer dizer amado. (003)

No evangelho de João, a primeira referência auto-definitória de Jesus acontece num diálogo com uma mulher samaritana – cf. 1 Ev (Jo.4:25,26). Ao conversar com Jesus, a mulher samaritana afirma conhecer a promessa de que haveria de vir o Messias; Jesus revela-lhe então a sua identidade messiânica ao retomar anaforicamente a fala da interlocutora: “Eu o sou” é parafraseável como [Eu sou esse (que dizes), ie, o Messias (que se chama o Cristo)]. Se a tradução aqui usada aparece como francamente pouco natural, pode constatar-se que o movimento de retoma anafórica está também presente noutras traduções, quer em PB (em linha), quer em PE (em papel)^2. Assim, nestes casos, a tradução

(^2) Para o PB, foram consultadas as seguintes traduções: Almeida Revista e Atualizada e Nova Versão Internacional. Para o PE

“Sou eu, que falo contigo” permite exactamente a mesma paráfrase: [Esse (que dizes), ie, o Messias (que se chama o Cristo), Sou eu]. A retoma anafórica – que, além do mais, vai buscar o antecedente ao discurso alheio – permite dizer que a identidade aqui verbalizada (ou a história que está a ser contada) passa por algo previamente formulado, ou conhecido^3. Nos segmentos seleccionados dos testemunhos – 1AA (50.1) e 1AA

consultou-se a tradução dos Missionários Capuchinhos, editada (em papel) pela Difusora Bíblica (2ªed., 1966). Vale ainda observar que, neste trabalho, a opção pela versão em português brasileiro ficou a dever-se à disponibilidade de dispositivo informático que facilita a constituição do corpus dos textos bíblicos. 3 Note-se que um dos objectivos comuns dos quatro evangelhos é a revelação da identidade de Jesus (cf. Douglas, 1995, Fee e Stuart, 1997) como o messias prometido, aos judeus (em primeiro lugar) e ao mundo. Tal intenção comunicativa deve ser considerada na análise desses textos.

Eixo B – Entre o literal e o metafórico Tabela 2 Evangelhos (Ev) AAPortugal (AA) Entrevistas (En) Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração ; e achareis descanso para as vossas almas. (Mt. 11:29)

Há muito que o álcool é passado. (50.9)

Embriaguez, em sentido figurado, é o gosto pela vida (001)

A Felicidade é o sentimento mais rico que adquiri e mantenho desde que entrei em AA (50.7)

eu sou um indivíduo circunspecto e atento ao que se passa à minha volta. (002)

Tal como nos casos anteriores, em 2Ev (Mt. 11:29) mantém-se a estrutura predicativa, apesar de a auto-definição aparecer numa oração subordinada adjectiva explicativa. Ao contrário do excerto dos evangelhos já comentado, neste caso a auto-definição apresentada não reivindica o carácter messiânico, mas está centrada nas características da pessoa de Jesus, tal como essa pessoa se vê a si própria. Um outro ponto de vista será o da exegese bíblica: ciente de que

as pessoas conheciam os escritos acerca do salvador prometido, Jesus revela-se como tal, neste versículo, ao aludir à passagem de Zacarias 9:9, que menciona a humildade do messias (Champlin, 2002). Apesar disso, poder- se-á verificar que as propriedades predicadas correspondem a uma seleção, ou um recorte, de entre muitas outras possibilidades – tal como acontece no exemplo das entrevistas, em 2En (002).

Eixo C – Sentido metafórico Tabela 3 Evangelhos (Ev) AAPortugal (AA) Entrevistas (En) Eu sou o pão que desceu do céu; (Jo.4:41)

Esta doença é uma morte muito lenta… (50.1)

Embriaguez, em sentido figurado, é o gosto pela vida (001) Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; (Jo.14:6)

Sou daqueles vinhos bem estruturados e que podem envelhecer à vontade. (005) [o disco] É um vinho alentejano , encorpado de aromas diversificados e perfumado, como é característico dos vinhos alentejanos (006)

Nos segmentos agora em análise, que tomámos como metafóricos, ressalta o facto de as propriedades predicadas serem imprevisíveis: na perspectiva da regularidade estritamente linguística (sintáctico-semântica), não é suposto que se atribua a alguém, linguisticamente representado pelo pronome de 1ª pessoa, as propriedades (ser)o pão , ou (ser) o caminho , ou ainda (ser) um vinho/um daqueles vinhos (…). O que se passa, então? No que diz respeito ao segmento 3Ev (Jo.6:35), o leitor contemporâneo precisa de recorrer ao contexto cultural da época a fim recuperar o sentido original da afirmação. Com efeito, o excerto é posterior a um diálogo acerca do episódio do maná do deserto (Êxodo 16), o que permite dizer que Jesus, ao assumir-se como o pão do céu,

reivindica para si as características essenciais do maná^4. O outro excerto dos evangelhos – 3Ev (João14:5,6) – também é uma afirmação decorrente de um diálogo, desta vez um diálogo entre Jesus e Tomé acerca do caminho que leva ao reino de Deus: “Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (João14:5,6). Ao perguntar a Jesus pelo caminho, Tomé referir-se-ia a uma estrada que levasse a um lugar específico; ao responder, Jesus assume-

(^4) A saber: assim como o maná foi dado por Deus, Jesus é providência divina para a humanidade; assim como o maná supriria a necessidade de alimento, Jesus é aquele que dá vida (cf. João 6:33).

De uma forma mais geral, admitiremos ainda que a tradicional e sempre discutida dicotomia entre sentido literal e sentido metafórico possa ser (em parte) esclarecida numa perspectiva de análise descendente, assumindo que “o global determina o local” (Rastier, 2001). Assim, se os sentidos (ditos) metafóricos correspondem a formulações locais e contextualizadas, é o contexto de actividade social em que ocorrem que determina diferentes graus de retoma, estabilização/desaparecimento e validação (literalizante, por assim dizer). Se o trabalho agora apresentado se revelou estimulante e produtivo, muitas questões foram apenas levantadas e sugeridas – importando por isso retomá- las e desenvolvê-las de forma sistemática e criteriosa. Uma das vias

que se abre, nesse sentido, passará pela articulação entre as análises agora propostas e o conceito de figuras de acção (Bulea, 2010; Teixeira & Coutinho, neste mesmo caderno).

A concluir: uma pista (ainda) a explorar No que diz respeito às hetero- definições, limitámo-nos a um levantamento nos evangelhos, apresentado na Tabela 5.

Tabela 5 Tendo Jesus chegado às regiões de Cesaréia de Felipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós , perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. (Mt.16:13-16) E saiu Jesus com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe, e no caminho interrogou os discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou? Responderam-lhe eles: Uns dizem: João, o Batista; outros: Elias; e ainda outros: Algum dos profetas. Então lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: Tu és o Cristo. (Mt.8:27-29) Ao que perguntaram todos: Logo, tu és o Filho de Deus? Respondeu-lhes: Vós dizeis que eu sou. (Lc.22:70) Perguntavam-lhe então: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Exatamente o que venho dizendo que sou. (Jo.8:25)

Sem condições efectivas para desenvolver ainda, no espaço deste trabalho, uma verdadeira análise, limitamo-nos a sublinhar a insistência com que, nas passagens assinaladas, se solicita a formulação, por parte de outros, da identidade própria; ou, por outras palavras, a constatação de uma inequívoca dimensão interaccionista social presente nos textos dos Evangelhos: La conscience individuelle est est un fait socio-idéologique. (…) La conscience prend forme et existence dans les signes crées par un groupe

organisé au cours de ses relations sociales. La conscience individuelle se nourrit de signes, elle y trouve la la matière de son développement, elle reflète leur logique et leurs lois. La logique de la conscience est la logique de la communication idéologique, de l‟interaction sémiotique d‟un groupe social. Si nous privons la conscience de son contenu sémiotique et idéologique, il n‟en reste rien. (Voloshinov, 1929- 1977: 30).