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Este trabalho de dissertação de mestrado investigou as entrevistas iniciais realizadas com as famílias que buscavam atendimento para um dos filhos, na clínica psicológica, no período de julho de 1997 a junho de 2001. O autor apresenta sua prática clínica com consultas familiares em instituições e consultório, exemplificando-a com vinhetas de vários casos. O foco é nas entrevistas iniciais realizadas com as famílias, visto que, com o desenvolvimento do trabalho e do amadurecimento profissional, o autor observou que nestas entrevistas é possível realizar um atendimento clínico, fornecendo experiências mutativas para a criança e familiares.
Tipologia: Notas de estudo
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O PORCO-ESPINHO, O MENINO DO FURACÃO E OUTRAS HISTÓRIAS: QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO PSICANALÍTICA.
MARCELO LÁBAKI AGOSTINHO O PORCO-ESPINHO, O MENINO DO FURACÃO E OUTRAS HISTÓRIAS: QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO PSICANALÍTICA.
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O PORCO-ESPINHO, O MENINO DO FURACÃO E OUTRAS HISTÓRIAS: QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO PSICANALÍTICA. MARCELO LÁBAKI AGOSTINHO
(Nome e assinatura)
(Nome e assinatura)
(Nome e assinatura) Dissertação defendida e aprovada em: ___ / ___ / _
Aos meus pais Affonso Celso ( in memoriam ) e Emily Obrigado por tudo que me ensinaram e pelo incentivo constante.
iii À eterna família do Hospital-Dia da Mooca, Jorge Fouad Maalouf; Eliane S. Rodrigues; Maria do Carmo B. Sartorelli; Márcia Ramos; Neusa de Jesus Duque; Glória de Jesus Fernandes; Maricy D. A. M. Fenga; Márcia Inocêncio Moreno; Mira Wajntal e Elizabeth Coqueiro. Aos colegas do consultório, Francisco e Flávio, por partilharem minhas inquietações clínicas e pessoais. À Grace Lagnado e à Mônica Seincman, pelo apoio e incentivo. Ao Roberto Fernandes, pois, sem você, a vida não teria graça. À Dona Cida, pelo carinho e atenção, mesmo que à distância. À Cláudia Amaral Mello Suannes, pois melhor amiga não há. À vovó Alice, nonagenária, sábia e que me mostrou o valor da perseverança. À tia Sumaya, por acreditar na minha competência. Aos meus irmãos, Saulo e Carla, e aos meus cunhados, Irany e Márcio. Vocês são a melhor família que alguém poderia querer. Aos meus quatro adoráveis sobrinhos, Victor, Lucas, Gabriel e Caio. Obrigado por existirem. À Val, pelo apoio doméstico e pelas esfihas maravilhosas.
iv Porém quando Rashid contou à Srta. Onita sobre a falta de concentração de Haroun, ela falou firmemente, com toda a segurança: “Eram onze horas quando a mãe dele foi embora. Agora vem esse problema dos onze minutos. O motivo vem da pense-color-gia ”. Rahsid e Haroun demoraram um pouco para perceber que ela queria dizer psicologia. A Srta Onita continuou: “Devido a uma tristeza pense-colór-gica, o rapazinho aqui está cismado com o seu número onze e não consegue chegar ao doze”. Haroun e o Mar de Histórias Salman Rushdie
vi Resumo AGOSTINHO, Marcelo Lábaki. O porco-espinho, o menino do furacão e outras histórias: quadros de uma exposição psicanalítica. São Paulo, 2003. 99p. Dissertação (Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Este trabalho de Dissertação de Mestrado objetivou investigar as entrevistas iniciais realizadas com as famílias que buscavam atendimento para um dos filhos, no período de julho de 1997 a junho de 2001, na Clínica Psicológica Dr Durval Marcondes, do Departamento de Psicologia Clínica do IPUSP e em consultório particular. Fundamenta-se na leitura da obra de D. W. Winnicott, que traz importantes contribuições para a psicanálise contemporânea. Realiza uma crítica aos modelos de triagens existentes nas Clínicas-Escola e em outras instituições, destacando o caráter de exclusão dessa prática. Discute, também, aspectos da dinâmica e função da família do ponto de vista de D.W. Winnicott. A metodologia que embasou o trabalho utiliza-se do método psicanalítico para fundamentar a pesquisa de práticas clínicas diferenciadas e inovadoras. Recorre, ainda, às idéias de Walter Benjamim sobre o valor da narrativa como forma de partilhar experiências inter-humanas. Há o relato de cinco casos que ilustram a prática de consultas psicoterapêuticas com famílias. Na discussão dos casos não se pretende esgotar as compreensões destes, mas apontar possíveis sentidos. Discute-se, também, o modelo de intervenções usadas nesse trabalho, que se baseiam na idéia de o analista ser capaz de sustentar sua prática clínica (dar holding ). Destaca-se, enfim, o valor deste trabalho para os pacientes e para as instituições públicas. Palavras-chave : Consultas terapêuticas; consultas psicoterapêuticas com famílias; psicanálise; entrevista psicodiagnóstica; família; relações familiares.
vii
Agostinho, Marcelo Lábaki. The porcupine, the boy in the hurricane and other stories: pictures at a psychoanalytic exhibit. São Paulo, 2003. 99p. Master's Dissertation. Institute of Psychology, University of São Paulo. This master's dissertation aims at investigating the initial interviews carried out with the families that, between July, 1997, and June, 2001, sought help for one of their children at the Dr. Durval Marcondes Psychological Clinic, of the Department of Clinical Psychology at the University of São Paulo's Institute of Psychology, and at a private office. The dissertation is based on the writings of D. W. Winnicott, who has contributed much to contemporary psychoanalysis. A criticism is presented in regard to the screening models currently used in school-clinics and other institutions, especially the character of exclusion of this practice. Aspects of the dynamics and function of the family are also discussed from Winnicott's point of view, with the psychoanalytic method being used as the basis for studying innovative alternative clinical practices. Reference is also made to Walter Benjamin's ideas regarding the importance of narration as a way of sharing inter-human experiences. Five clinical cases are described to demonstrate the practice of therapeutic consultation work with families, although the discussion of these cases merely brings up possible meanings, and makes no pretense at providing any type of full understanding. Also discussed is the model of intervention used in this work, which is based on the idea of the analyst as someone able to give holding in his or her clinical practice. Finally, the value of this work for patients and for public institutions is also highlighted. Key words : Therapeutic sessions with families; psychoanalysis; psychodiagnostic interviews; family; family relations.
Este trabalho aborda a prática clínica que desenvolvi com famílias desde a minha graduação em Psicologia em 1987. Atenho-me, aqui, aos pacientes atendidos no período de julho de 1997 a junho de 2001, na Clínica Psicológica Dr. Durval B. Marcondes, do Departamento de Psicologia Clínica do IPUSP e no meu consultório. Além disso, foco as entrevistas iniciais realizadas com as famílias que buscavam atendimento para um dos filhos. Com o desenvolvimento do meu trabalho e do meu amadurecimento profissional, observei que nestas entrevistas, mais do que apenas colher dados e ouvir as queixas dos pais, é possível realizar um atendimento clínico, na tentativa de fornecer experiências mutativas 1 para a criança e familiares. Assim, chamo esse procedimento de consultas psicoterapêuticas com famílias. No meu encontro quase que diário com famílias em consultas psicoterapêuticas, deparo-me com sofrimentos, dúvidas dos pais em relação a como educar filhos, angústias das crianças em razão dos sintomas e, durante as consultas, ações inesperadas e surpreendentes, que apontam para uma esperança de transformação. Apesar de nas consultas destacarem-se aspectos do sofrimento pessoal de cada indivíduo e família, também vislumbro questões de um contexto social mais amplo que, por sua vez, influencia e determina o tipo de sofrimento com o qual nos deparamos na clínica psicanalítica moderna. Como aponta MELLO (2002): Estamos longe e perto da família. Não conhecemos ou temos dificuldades em conhecer o que se passa em nossa própria família. Muitas vezes, um observador (^1) SAFRA (1995) define momentos mutativos da seguinte forma: “O paciente sente que o analista lhe dá holding e ele (o paciente) busca expor nessa nova relação uma necessidade que não pode ser satisfeita ao longo de seu desenvolvimento, na esperança de que o analista o compreenda satisfazendo assim, de forma simbólica, o que busca para completar a evolução de sua personalidade. É o encontro dessa necessidade com o objeto procurado que chamo aqui de ‘momentos mutativos’.” (p. 35).
desapaixonado pode oferecer, mais do que nós, um quadro compreensivo de sua dinâmica, pois o volume de afeto circulando no interior da família nos cega para o conhecimento e o reconhecimento das relações que ali se dão. Mas estamos dentro dela, e nesse sentido a conhecemos melhor que ninguém. Ali nascemos e crescemos: a língua familiar modelou nossa imagem primeira do mundo e os instrumentos que usamos para conhecê-lo. Ainda assim, os laços de família nos confundem e não desvendam facilmente o seu mistério. A familiaridade embaralha e mistifica o entendimento e as fortes correntes afetivas obscurecem o olhar. É mais fácil apreender os mecanismos macro-sociais, estudar as estruturas que representam a forma de sua transmissão na sociedade, que possuir uma representação clara do que ocorre em nossa própria família. Para tanto, temos que contar com a psicanálise e sua penetração nos meandros do inconsciente. (p. 15-16). Assim, valendo-me da minha experiência como psicanalista, que julgo valiosa para a compreensão das famílias, no capítulo 1 – “Posso ter a Palavra” apresento a minha prática clínica com consultas familiares em instituições e consultório, exemplificando-a com vinhetas de vários casos. Realizo uma crítica aos modelos de triagem existentes nas Clínicas-Escola e em outras instituições de um modo geral, chamando a atenção para o caráter de exclusão dessa prática. Aponto, ainda, para novas configurações familiares que aparecem nos atendimentos, embasando-me na análise dos censos demográficos realizada por E. BERQUÓ (1988). Também discorro sobre aspectos da dinâmica e função da família do ponto de vista de D.W. WINNICOTT (2001). No capítulo 2 – “Quadros – narrativas – de uma exposição” apresento a metodologia que embasou o meu trabalho. Destaco o valor do método psicanalítico para a pesquisa de práticas clínicas diferenciadas e inovadoras, utilizando-me da
“ — Posso ter a palavra?” Dessa forma peculiar e inusitada, João^1 , de oito anos, interrompeu sua mãe, durante uma consulta familiar, antes que ela começasse a contar por que estavam ali. — “Meu pai me agarrou no supermercado e houve uma discussão entre ele e minha mãe. Eu parecia um brinquedo, sendo puxado pelos meus pais. Depois, meu tio foi para cima do meu pai, para brigarem.” A mãe, Ruth, retoma a palavra e tenta explicar melhor. Segundo ela, o seu ex- marido, chamado Pedro, mora com outra mulher, mas não contou para o filho. Uma vez, ela e João, inesperadamente se encontraram com Pedro no estacionamento do supermercado e ele puxou o filho. Ruth, instintivamente, reagiu, puxando-o também. Fala que ficou com medo do ex-marido ter um acesso de raiva e amassar o carro, como já fizera durante outra briga. Nesse fragmento de uma das muitas consultas iniciais que realizei com famílias, vejo, claramente, uma criança manifestar a sua própria opinião pelo fato de estar num consultório, conversando com um psicólogo que, até então, era um total desconhecido para ele e sua família (nesse caso, ele e sua mãe). Acho interessante como ele se posicionou ao pedir a palavra, pois parece que queria contar a sua versão dos fatos, francamente e sem “enrol ação”. A mãe, provavelmente, iria relatar uma história toda detalhada, talvez até defendida e racionalizada, e ele, mais do que depressa, já escancara tudo que vive, indo direto ao ponto: “ sou um boneco, um joguete entre meus pais, que ficam brigando e não sabem o que fazer de mim.” Também é interessante observar como ele usa um jargão típico do poder judiciário, pois os pais brigam judicialmente pela sua guarda. Ele me pede a palavra, como se eu (^1) Todos os nomes usados nesse trabalho são fictícios.
oferecidas pelo Departamento de Psicologia Clínica, que se dividiam em dois grupos: avaliação e terapias, além de algumas pesquisas desenvolvidas nos cursos de Pós- Graduação. A triagem é um procedimento adotado em Clínicas-Escola, tendo em vista o fato de os casos serem majoritariamente atendidos por alunos de quarto e quinto anos do curso de Psicologia, como parte do estágio prático curricular. Há o entendimento de que nem todo caso seria adequado para um aluno iniciante na área psicológica, havendo, portanto, uma definição informal dos casos em “simples” e “complexos”, sendo esses últimos considerados inadequados para um aluno atender. Porém, há autores que, ao problematizarem certas concepções vigentes sobre o modelo de atendimento em Clínicas-Escola, fazem reservas em relação a esta prática. Entre esses autores encontramos MONACHESI (1998) que propõe que a equipe profissional possa discutir qual o objetivo da instituição, para, a partir da definição dos limites de sua atuação e do perfil da clientela que se propõe atender, possa “estabelecer claramente os parâmetros de um setor de triagem”. Do seu ponto de vista, Um processo de triagem que se apóie seguramente sobre indicadores bem definidos pode fornecer apenas aqueles elementos que serão úteis ao psicoterapeuta. Uma conseqüência subjacente será o desmantelamento da rede de procedimentos burocráticos (a fila de espera e sua administração), que acoberta as falhas da organização do serviço. Uma vez traçado o perfil da instituição, podem ser estabelecidos critérios de exclusão de parte da demanda com relativa facilidade, atendendo-se à necessidade de determinar se o paciente se beneficia do atendimento, sem, contudo, submeter-se ao alongado processo diagnóstico. (p. 202-203)
Para essa tarefa destaca a importância de um profissional “seguro, experiente, cuja formação envolva aspectos de desenvolvimento pessoal que, somados à formação, o habilitem a confiar plenamente em suas percepções, podendo assim prescindir, até certo ponto, de outros instrumentos” (1998, p 203). Para essa autora, “um setor de triagem, assim organizado, dará conta de significativa parcela da demanda” (p. 202). SALINAS & SANTOS (2002) falam da triagem como um processo de inclusão e exclusão da clientela, sendo os excluídos casos considerados contra- indicados para o tratamento oferecido na Clínica Psicológica, de acordo com critérios definidos pelos supervisores de estágio (casos de psicose, deficiência mental, dependência química, transtornos de personalidade e presença de ideação suicida). Descrevem o Atendimento Imediato de Triagem da Clínica Psicológica do Centro de Psicologia Aplicada, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, criado por eles para dar conta da fila de espera. Para esses autores, A triagem deve ser entendida e praticada como algo mais do que um momento de conclusão e fechamento. Freqüentemente reduzida a uma coleção de informações reunidas pelo profissional – na verdade, pouco mais que um amontoado de relatos supostamente relevantes – , a triagem deve ser mais do que a mera coleta de dados sistematizados para subsidiar a construção de um encaminhamento. Entendida como um processo, é um espaço privilegiado para reflexão, no sentido de permitir avaliar com o paciente as reais possibilidades de atendimento no serviço naquele momento, bem como discutir alternativas de acolhimento nos demais serviços públicos e particulares da cidade. Nesse sentido, a triagem figura como um elo a mais na rede dos atendimentos