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PSICOSOCIODRAMA DA INVEJA: ATIRE A PRIMEIRA ..., Notas de aula de Conflito

Descritores: inveja, olho gordo, psicodrama, autoestima, narcisismo... SUMMARY ... inveja tende a ceder lugar à gratidão. Se a inveja estraga a fruição do ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Michelle87
Michelle87 🇧🇷

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Rosa Cukier
Psicóloga Psicoterapeuta
Psicodramatista Didata
Professora-supervisora pela SOPSP e
Instituto de Psicodrama Jacob Levy Moreno-SP
PSICOSOCIODRAMA DA INVEJA:
ATIRE A PRIMEIRA PEDRA SE VOCÊ PUDER!
SUMÁRIO
A inveja é um fenômeno humano universal e atemporal. Faz parte da estrutura do psiquismo
humano e atua sobre a cultura humana e a organização social. Ela é um dos maiores tabus da
humanidade, talvez apenas equivalente à sexualidade no sec.XIX.
Proibida pela Bíblia, como pecado capital, é um sentimento que tem que ser mantido
escondido, o que torna o seu estudo difícil e indireto. Iminência parda de trás de ideologias
que pregam a igualdade, a inveja tem, historicamente, motivado crimes, políticas e
revoluções.
Pois bem, diferentes todos nós somos, temos que aprender a lidar com estas diferenças. Será
que isto é possível? Como se aprende a lidar com as diferenças? Como se convive melhor com
a injustiça primordial da existência humana? O que fazer quando eu sinto inveja? Como lidar
com a inveja alheia? Será que eu provoquei a inveja alheia? Quem me inveja pode me fazer
mal, o famoso “olho gordo”? Estas são as questões que me motivam a pesquisar este tema.
Por isso também proponho o Psicosociodrama[1], a Inveja, na esperança de não calarmos
sobre temas vergonhosos, mas, pelo contrário, percorrermos, respeitosamente irmanados,
este árido caminho.
Descritores: inveja, olho gordo, psicodrama, autoestima, narcisismo...
SUMMARY
Envy is a human universal and timeless phenomenon. It belongs to the structure of the human
psyche and acts on human culture and social organization. It is one of the biggest taboos of
humanity, perhaps only equivalent to sexuality in the nineteenth century.
Prohibited by the Bible, as a deadly sin, it must be kept hidden, which makes its study
indirect and difficult. Envy lies usually behind ideologies that preach equality, and has
historically motivated crimes, policies and revolutions.
Well, we are all different; we must learn to deal with these differences. Is it possible? How to
live better with the crucial injustice of human existence? What to do when we feel envious?
How to deal with the envy of others? And about the "evil eye", is it dangerous? These are the
questions that persuade me to research this topic. That’s why I also propose the
Psychosociodrama of Envy, hoping that we do not remain silent over shameful themes, but,
instead, learn together to deal with such hard issues.
Keywords: envy, evil eye, psychodrama, self esteem, narcissism.
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Rosa Cukier Psicóloga Psicoterapeuta Psicodramatista Didata Professora-supervisora pela SOPSP e Instituto de Psicodrama Jacob Levy Moreno-SP

PSICOSOCIODRAMA DA INVEJA:

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA SE VOCÊ PUDER!

SUMÁRIO

A inveja é um fenômeno humano universal e atemporal. Faz parte da estrutura do psiquismo humano e atua sobre a cultura humana e a organização social. Ela é um dos maiores tabus da humanidade, talvez apenas equivalente à sexualidade no sec.XIX. Proibida pela Bíblia, como pecado capital, é um sentimento que tem que ser mantido escondido, o que torna o seu estudo difícil e indireto. Iminência parda de trás de ideologias que pregam a igualdade, a inveja tem, historicamente, motivado crimes, políticas e revoluções. Pois bem, diferentes todos nós somos, temos que aprender a lidar com estas diferenças. Será que isto é possível? Como se aprende a lidar com as diferenças? Como se convive melhor com a injustiça primordial da existência humana? O que fazer quando eu sinto inveja? Como lidar com a inveja alheia? Será que eu provoquei a inveja alheia? Quem me inveja pode me fazer mal, o famoso “olho gordo”? Estas são as questões que me motivam a pesquisar este tema. Por isso também proponho o Psicosociodrama[1], a Inveja, na esperança de não calarmos sobre temas vergonhosos, mas, pelo contrário, percorrermos, respeitosamente irmanados, este árido caminho. Descritores : inveja, olho gordo, psicodrama, autoestima, narcisismo... SUMMARY Envy is a human universal and timeless phenomenon. It belongs to the structure of the human psyche and acts on human culture and social organization. It is one of the biggest taboos of humanity, perhaps only equivalent to sexuality in the nineteenth century. Prohibited by the Bible, as a deadly sin, it must be kept hidden, which makes its study indirect and difficult. Envy lies usually behind ideologies that preach equality, and has historically motivated crimes, policies and revolutions. Well, we are all different; we must learn to deal with these differences. Is it possible? How to live better with the crucial injustice of human existence? What to do when we feel envious? How to deal with the envy of others? And about the "evil eye", is it dangerous? These are the questions that persuade me to research this topic. That’s why I also propose the Psychosociodrama of Envy, hoping that we do not remain silent over shameful themes, but, instead, learn together to deal with such hard issues. Keywords: envy, evil eye, psychodrama, self – esteem, narcissism.

Introdução Eu nunca soube lidar com a experiência emocional da[2] inveja. Nem a minha própria, horrivelmente amargada no interior de meus pensamentos, e nem a dos outros, sabiamente negada e exteriorizada com toques de ressentimento e rejeição. De todas as vivências humanas, percebi consultando uma vasta literatura ao longo dos últimos anos, que a Inveja é a menos estudada e da qual menos se escreveu, sobretudo na psicologia. Só a sexualidade humana foi tão reprimida em outras épocas. Dizem alguns autores, que não há dignidade neste sentimento. Até a raiva e o ódio extremos podem ser explicados por uma razão nobre qualquer, mas a Inveja sempre representa um sentimento obscuro, sem justificativa legal, mesquinho e isolado, fútil, escondido como convém aos bandidos, ladrões e assassinos, escórias da raça humana. E, no entanto, atire a primeira pedra se você nunca a sentiu! Se nunca desejou mal a alguém por algum atributo que nele você admirava. Se jamais evitou situações que te confrontariam com aqueles que exibem qualidades que você não tem, ou nunca tomou partidos apenas para não favorecer aqueles que possuíam aspectos que você cobiçava etc. “Praticamente tudo o que trás felicidade estimula a inveja” diz Aristóteles [i]. E talvez você também nunca tenha pensado que sem a Inveja, e a consequente capacidade de sempre estarmos nos comparando e nos vigiando mutuamente, talvez não tivéssemos o desenvolvimento dos sistemas sociais a que todos pertencemos. Considere também como ela, a inveja, jaz soberana, como eminência parda, por detrás das políticas sociais e econômicas e de quase todos os movimentos revolucionários da história da humanidade. Segundo Helmut Schoeck (1987) [ii] há crimes por inveja, políticas baseadas na inveja, instituições elaboradas para regular a inveja, e inúmeros motivos para se evitar ser invejado pelos outros. Calcadas num sentimento de injustiça pelas diferenças (sejam elas quais forem: financeiras, estéticas, filosóficas) e na ideia de que todos deveriam ser igualmente contemplados, muitas políticas de expropriação foram conduzidas. Desde o sec. XVIII, com o emblemático lema da revolução francesa “igualdade, fraternidade e liberdade” até as revoluções socialistas (sec. XIX e XX) apregoa-se esta filosofia da igualdade, um ópio para o sentimento de inveja, que ganha força demagógica nesta, aparentemente justa, indignação. A Inveja, segundo de La Mora (1987) [iii] é o maior tabu humano não falado, todos a sentem, mas poucos admitem o que torna o seu estudo difícil e indireto. Curiosamente, entretanto, quando honrosamente revestida desta carcaça ideológica da igualdade, ela se torna o baluarte da justiça humana. Este mesmo autor conclui seu brilhante livro “Inveja Igualitária”, argumentando pela saudável necessidade da diferença, e pelo absurdo de se imaginar que a igualdade possa ser conquistada pela coerção ou demagogia. Ainda a título de curiosidade e já me aproximando da psicologia e do psicodrama, sabemos que a Inveja é um sentimento apreendido no cluster um e exteriorizado maciçamente no

A inveja em geral se refere a uma relação dual[3], aonde o sujeito sente falta de algo que o outro tem e o desejo de que ele não o tenha. Já o ciúme tem a ver com as relações triangulares e basicamente consiste no medo de perder uma relação para outra pessoa. A inveja prefere destruir enquanto o ciúme visa controlar. Em ambos os sentimentos existe uma falta. No ciúme a falta se refere ao medo de perder algo ou alguém que você já possui para outrem. Na inveja a falta se refere a algo que você não possui, mas que outra pessoa tem. Ambos os sentimentos são exteriorizados de forma muito semelhante: são parcialmente negados, mas aparecem indiretamente através do medo de perder, raiva, traição, insegurança, inferioridade, vingança, paranóia, etc. Foster (1972: 167) [v]sugere que a inveja provoca o ciúme como contra-reação, como se fossem complementares. Se alguém, por exemplo, sente que sua esposa bonita está sendo invejada, começa a temer perdê-la, sentindo ciúmes. O mesmo ocorre para qualquer objeto ou atributo que é desejado: quem tem não quer perder, e quem não tem quer obter, ou, pelo menos, não quer que o outro tenha. Inveja Boa & Inveja Ruim Talvez para minimizar o impacto deste sentimento tão vergonhoso, ou para dialeticamente evitar as falsas polaridades entre bom e mau, alguns autores argumentam que a inveja possui, pelo menos, um fator positivo, pois costuma ser um combustível ou motivação extra para conquistar sucesso ou atributos que levem à felicidade. Para a psicologia analítica de Carl Gustav Jung [vi] qualquer que seja o traço de caráter ou atitude que existe na mente consciente e dominante, seu oposto reina igualmente no inconsciente. O conteúdo reprimido no inconsciente precisa se tornar consciente para produzir uma tensão de opostos, e com isto flexibilizar e enriquecer a personalidade. Byington (2002: 21-22) [vii] fala do potencial criativo da Inveja, que seria apenas uma das funções estruturantes da Psique, podendo atuar de forma criativa e propiciar o desenvolvimento saudável da personalidade ou, pelo contrário, tornar-se fixada e passar a atuar na Sombra[4]·, de forma inadequada, repetitiva e destrutiva. Num artigo a respeito da obra de Gonzalo Fernandez de La Mora (1987) “Inveja igualitária” o autor Eduardo O. C. Chaves (1991) [viii] mostra que frente à possibilidade de que os outros possam ser mais felizes do que nós, é possível assumir uma de três atitudes: a) Emulação- Desejar ser como os outros, agir como eles, possuir as coisas que possuem. Esta atitude é positiva, pois propulsiona o progresso, o desenvolvimento humano e estimula a competição. b) Resignação- Aceitar nossa (real ou suposta) inferioridade. Esta atitude é negativa, pois ao se conformar o sujeito deixa de dar uma contribuição para o progresso e o desenvolvimento humano, levando à estagnação. Todavia não promove a involução.

c) Inveja- Desejar que os outros percam aquilo que têm e que gostaríamos que fosse nosso. Esta postura é somente negativa, pois leva à involução. O invejoso deseja o infortúnio e a miséria daqueles que inveja, quer que aqueles que lhe são melhores se vejam reduzidos ao seu nível. Resumidamente eu penso que seja possível usar a inveja como um catalisador de energias na direção dos objetos invejados, mais ou menos como um plano de vida ou ambição. Esta seria a inveja boa, a emulação, que não faz mal a ninguém, nem quem a experimenta, nem aquele que é alvo dela. O foco, entretanto, do meu trabalho hoje não é esta inveja benigna, e sim a outra, a que faz sofrer e sofre pelo impacto de observar atributos alheios que apontam para a própria inferioridade e culmina numa impotência pessoal e no desejo de destruir o outro. Meu foco é a chamada “Inveja verde”, termo cunhado por Shakespeare em Otelo[ix], referindo-se ao ciúme, provavelmente em alusão à bílis hepática, secreção digestiva viscosa verde - amarelada produzida pelo fígado e tão amarga como este sentimento. Origens da Inveja Os freudianos, liderados por Freud e Melanie Klein associam a inveja com a pulsão de morte, cujas origens seriam inatas. Em 1920[x] com a publicação de “Além do princípio do prazer”, Freud postula que o funcionamento do aparelho psíquico se baseia na oposição entre duas pulsões básicas: a de vida e a de morte. A pulsão de morte seria onipresente, apresentar-se-ia geralmente fusionada com a pulsão de vida e se manifestaria de várias formas tais como: a compulsão à repetição, a reação terapêutica negativa, a agressividade, a inveja, o narcisismo destrutivo, etc. Para Melanie Klein (1974) [xi], as origens da inveja são inatas e derivam da agressão constitucional. Uma carga excessiva de inveja precoce representa uma forma particularmente maligna e desastrosa de agressão inata. P rimariamente a criança sentiria inveja do seio e, posteriormente, e por deslocamento, passaria a englobar a equação seio-pênis, símbolos de vida. Com a maior integração do ego e o surgimento da culpa e do desejo de reparação, a inveja tende a ceder lugar à gratidão. Se a inveja estraga a fruição do objeto pelo desejo de destruí-lo, a gratidão é ao contrário “... o fundamento da apreciação do que há de bom nos outros e em si mesmo” (Cintra e Figueiredo, 2004, p. 133) [xii]. Os neo-freudianos como Karen Horney[xiii], Winnicott[xiv], Dave Hiles [xv], de forma geral, enfatizam menos a importância das forças biológicas sobre a personalidade, e destacam o impacto das forças sociais e psicológicas. Eles também minimizam a importância da sexualidade infantil e do complexo de Édipo, sugerindo que o desenvolvimento da personalidade é determinado primordialmente por forças psicossociais, e não psicossexuais. A inveja para eles, não é uma agressão gratuita para tudo o que é bom, mas a resposta frágil da criança diante da privação, da crença de que aquilo que precisa está sendo refreado por um outro que não quer lhe dar. A raiva resultante seria um esforço para induzir a mãe a realizar seus desejos, não para destruí-la.

  1. O atributo que o outro possui é de um domínio relevante para nós.
  2. Nossas perspectivas pessoais de obter este atributo são muito escassas. Uma vez que estas quatro condições forem atendidas, o episódio de inveja resultará, evoluirá e produzirão várias outras emoções (paranóia, ressentimento, vergonha), esvanecendo a sensação inicial de inveja. Por exemplo, se o foco da comparação apontar para uma inferioridade de habilidades podemos sentir vergonha por esta inferioridade e começar a censurar moralmente a pessoa em questão, atribuindo-lhe desonestidade. Isso desvia o foco da nossa reconhecida inferioridade, e nos justifica para agir de forma hostil contra a pessoa invejada. “O mérito inveja os resultados”, segundo sugestão de Montaldi, citado por Smith (2004). Algumas pessoas que permanecem conscientes de sua inveja decidem trabalhar arduamente para compensar a desvantagem, torná-la menor. Esta, provavelmente, é a saída mais honrosa para lidar com este sentimento. Alternativamente, outras pessoas ficam atoladas no sentimento de inferioridade que a inveja produz e podem desenvolver um quadro depressivo. É muito razoável pensar que invejas mal resolvida estejam na base de outros quadros psicopatológicos. Outra configuração que a inveja pode tomar é apelar para calúnias, fofocas, ou sabotagem indireta, para diminuir as qualidades da pessoa invejada. Gaiarsa [xx] (1978) explora brilhantemente este território e afirma que o mexerico, a intriga, a fofoca é um meio de controle social, na maioria das vezes, provocado pela inveja. Chama de “Peste Emocional”, esta forma sub-reptícia das pessoas invejosas atuarem, uma vez que não podem admitir sua verdadeira motivação. Avi Berman (2007: 17-32) [xxi], um psicólogo clínico contemporâneo conclui, baseado na observação de crianças, que as pessoas que se beneficiam em situações de inveja, são aquelas que admitem o sentimento, acreditam em sua capacidade e se acham igualmente merecedoras. Já aqueles que sofrem com este sentimento e ficam agressivos e destrutivos são aqueles que não reconhecem a inveja, se sentem incapazes e especialmente merecedores, mais do que seus rivais. Auto-estima, Competitividade, Inveja e Gênero. A competitividade, a auto-estima e a Inveja aparecem correlacionadas em quase todos os textos que li para escrever este artigo. Se pensarmos na inveja como uma emoção adaptativa que nos faz competir para sobreviver, ainda assim os teóricos do desenvolvimento emocional humano teriam que nos explicar como se aprende a competir, ou ainda como aprendemos a avaliar nossas reais capacidades para nos compararmos com nossos rivais. Se uma pessoa se avalia errado, compete errado. De nada adianta ter muitos atributos se a sensação interna é de desvalia e aponta para deficiências. Como introjetamos a noção de quais são nossas reais capacidades, nosso autovalor, nossa auto-estima? Mais ainda, cada cultura imbui seus cidadãos de valores que condicionam os critérios para ser ou não ser aceito, ser ou não ser valorizado. Nossa cultura historicamente patriarcal tem mudado visivelmente, mas alguns traços sutis levam muitas gerações para de fato se

instalarem. Carol Gilligan (1982) [xxii] em seu livro “Uma voz Diferente” mostra que ainda hoje, existem formas de competitividade diferentes para homens e mulheres. Homens ainda são criados para uma crescente separação dos outros e para alcançar a autonomia e independência, ao passo que das mulheres se espera, primordialmente, que cuidem das relações, sejam amigáveis e fiéis. Se um homem é competitivo, poderoso e bem-sucedido está indo de acordo com as expectativas que se tem para ele, ao passo que uma mulher poderosa, autônoma e bem- sucedida é frequentemente ameaçada de abandono por suas iguais, como se ela caminhasse em direção contrária e traidora. Também a psicanálise explica esta questão, mostrando que nas fases de individuação- separação da mãe em direção às outras relações e à autonomia, os meninos não experimentam conflitos de gênero. Eles, se tudo corre bem naturalmente, seguem em direção à identificação com o pai e seus papéis sociais. Já as meninas têm que se individuar-separar da mãe, mas ao mesmo tempo, permanecer identificadas com suas funções e papéis sociais o que pressupõe, ao contrário, não diferenciação e intimidade. (Chodorow, 1978, p.109).[xxiii] Competir com a mãe significa separar-se da cumplicidade com ela, lutar para ser diferente dela, melhor que ela, porém parecida é uma tarefa psicológica complexa e carrega uma dor e culpa imensas. (Lerner, 1990) [xxiv]. As mulheres impregnam suas outras relações de gênero com este conflito por isso quando a mulher compete, em geral procura uma fórmula menos individualística, mais indireta. O ganha/perde destas situações é pretendido pelo “todas ganham”, ganharemos juntas como um time, etc. (Navaro, 2007) [xxv]. Estilos de luta encobertos, passivo-agressivos, modéstia e humildade têm sido pré-requisitos para a feminilidade, e aquelas que agiam diferente, se atribuía adjetivos pouco nobres, como masculinizadas, agressivas ou histéricas. (Lerner, 1990). E a inveja com isso? Vocês devem estar se perguntando. Bem, quem não pode dizer abertamente o que quer e lutar abertamente pelo que precisa só pode invejar esta capacidade nos outros. A inveja é o melhor mecanismo de defesa para um ego que se sente tolhido de recursos e admira uma pessoa que os tem. Com ela dá para aliviar a dor da impotência, utilizando atitudes não muito nobres, escondidas, tais como a fofoca, o mal dizer moral, enfim vale qualquer coisa para diminuir o rival. Apesar de a Inveja ser um fenômeno humano universal, e acometer homens e mulheres, ela ainda é mais identificada como um traço da cultura feminina, e não sem razão percebemos que as bruxas perseguidas e mortas na idade média por sua atividade maléfica, eram mulheres. E o Olho Gordo, Existe, Faz Mal? O “mau-olhado ou olho gordo” é a crença de que uma doença é transmitida? geralmente sem intenção? por alguém que está com inveja ou ciúmes. Esta pessoa, normalmente, não é seu inimigo, mas com inveja, pode prejudicar a você, seus filhos, seus animais, ou suas plantações, através de lançar um olhar cobiçoso. As principais vítimas são os bebês e crianças pequenas, porque são muito observadas e elogiadas por estranhos.

que o prazer é proibido em muitas religiões ou ao menos tachado com o dízimo que se encarrega da justiça redistributiva. Numa sociedade capitalista, onde o consumo é estimulado por um marketing agressivo que usa e abusa da comparação entre pessoas, estamos o tempo todo sendo instigados a invejar algo. Invejamos o carro, saborosamente oferecido na televisão por uma pessoa mais bonita ainda que o carro, que veste roupas e acessórios, mais bonitos do que ela e o carro, e além de tudo está sendo fotografada num lugar paradisíaco, muito melhor que o carro, o modelo, as roupas e os acessórios. Ser alvo da inveja alheia confere um status de poder, e um reasseguramento do próprio valor. Predispõe também a receber atos agressivos, diretos ou indiretos, tipo desvalorização moral, fofocas, sabotagem, etc., e uma desconfortável sensação de culpa, por ser a causa involuntária do sofrimento alheio. Assim como o consumidor, alvo da propaganda exemplificada acima, quando somos comparados com pessoas que tem atributos superiores aos nossos, sentimos uma agressão em nossa auto-estima, o que demanda uma ação de retaliação para recuperar nosso valor. Fazer- se invejar pode ser um ato agressivo, pois a inveja é uma emoção social, e afeta não apenas indivíduos isolados, mas grupos. George Foster (1972) sugere que há dois parâmetros para analisar a inveja: do ponto de vista competitivo é útil ser invejado; já do ponto de vista do medo de ser retaliado, é mais seguro passar despercebido e esconder suas qualidades. Lidar com a inveja dos outros é uma tarefa complexa. Os estudos em psicologia social e sociologia sugerem algumas estratégias comumente utilizadas para se relacionar com pessoas invejosas:

  1. Minimizar nossas próprias qualidades;
  2. Valorizar o esforço que tivemos que fazer para conseguir tais qualidades;
  3. Elogiar a pessoa que nos inveja tentando salientar qualidades nela;
  4. Ajudar quem nos inveja, tentando dar a ela algo de bom;
  5. Esconder nossas qualidades sob uma pretensa humildade, modéstia.
  6. Socializar nossos ganhos egóicos, mostrando como nossas qualidades ajudam outras pessoas, etc. Ser invejado enfim, é uma posição existencial ambígua. Ao mesmo tempo em que representa uma forma solitária de reasseguramento, mais-valia, pode acabar gerando um isolamento relacional, uma carência de pares simétricos com quem compartilhar as alegrias. A Inveja na Literatura Psicodramática Só encontrei um texto dedicado à inveja no nosso mundo psicodramático nacional e internacional. Foi o artigo de Rojas-Bermudez[xxxii] (1997) - “De La envidia y de La violencia”. Bermudez estuda a relação entre inveja e violência, concluindo que a violência é

o resultado da falta de recursos do Eu para elaborar a inveja despertada pelo outro. Concebe a inveja como um aspecto natural do ser humano, como a fome e a sede, só que insaciável daí sua tragédia (sic). Ela é desencadeada por um fato social, o encontro com um alguém, cujas virtudes evidenciam nossas limitações. Diz o autor (1997:53): “a inveja é uma resposta emocional que surge em função da existência de carências afetivas prévias e que se estabiliza como paixão”. Elaborá-la depende dos recursos intrapsíquicos, dos valores e das possibilidades intelectuais de cada pessoa para transformar este sofrimento em criatividade e compensar a carência. Se fracassar, tentará primeiro lutar contra essa paixão e posteriormente lançará suas energias contra a fonte de sua paixão, o outro, o invejado, iniciando a violência. Moreno[xxxiii] não estudou diretamente o fenômeno da inveja humana, apenas o mencionou, de quando em vez em sua obra tangenciando, porém, várias questões relevantes ao tema, através do teste sociométrico. Cita, por exemplo, “a inveja do criador” referindo-se à rivalidade existente entre pessoas criativas, sejam elas heróis, cientistas ou revolucionários, rivalidade que poderia ser avaliada inclusive, através das citações que os autores de textos científicos fazem de seus colegas: ... Esse fenômeno foi denominado "inveja do criador". Pessoas como ele, precursores dos que desempenham a função de "relações-públicas" em nossa era iluminada, podem ter aparecido, frequentemente, no curso da história, heróis do povo, agindo concomitantemente como anti- gênios e gênios. ... Existiram freqüentemente gênios rivais em conflito entre si; o fogo foi roubado a cada geração e assim, gradualmente a metodologia científica desenvolveu-se. (se refere ao mito de Prometeu) (1992: v. 1 p. 135). ... Eu usei uma sociometria fria (fria porque está congelada nos livros). (1992: v. 1 p. 135). Parece acreditar inclusive que esta competitividade seja positiva para a ciência, apesar de penosa para as estrelas sociométricas que podem ser rejeitadas pelo seu pioneirismo. Diz: “o fenômeno da inveja ao criador não deixa de ter boas características sociais; ajudou a liberar o método científico” (1992: v.1 p.140). A produção psicodramática revelou profunda hostilidade, sendo reforçada por um dos dois indivíduos-chave e rivais, às vezes, resultando em percepção distorcida do pioneiro e de seu trabalho. “A “reação em cadeia produziu rede social de negação que pode ser denominada antipatia pelo pioneiro, ou” inveja do criador”. (1992: v.1, p. 136-137). Moreno também compreendeu a força sociométrica da inveja, que através do boicote direto ou indireto, pode relegar ao ostracismo gênios criativos. ...elogiar ou condenar, roubar ou desdenhar silenciosamente, citar ocasionalmente ou não citar o trabalho de um gênio é modo dinâmico de definir seu lugar ao sol. (1992: v.1, p. 139).

individual de um indivíduo, pela posição que ele tem no grupo. Ele sente que sua posição no grupo não resulta de seus esforços individuais. É principalmente, o resultado de como os indivíduos, com quem convive, se sentem em relação a ele. Poderá até sentir, ligeiramente, que além de seu átomo social existem tele-estruturas invisíveis influenciando sua posição. O medo de expressar os sentimentos preferenciais que uma pessoa tem pelas outras, é, na verdade o medo dos sentimentos que os outros... nutrem por ele”

. .. Estes procedimentos deveriam ser acolhidos favoravelmente já que ajudam no reconhecimento e na compreensão da estrutura básica do grupo. Porém este não é sempre o caso. Encontram resistência e até hostilidade por parte de algumas pessoas... Outros indivíduos também mostraram medo das revelações que o procedimento sociométrico poderia trazer. O medo é maior em algumas pessoas e menor em outras. Umas podem estar mais ansiosas para arrumar seus relacionamentos de acordo com seus desejos atuais, outras têm medo das conseqüências... Estes e outros fatos revelam um fenômeno fundamental, a forma de resistência interpessoal, resistência contra expressar os sentimentos preferenciais que uns têm pelos outros. Quanto às diferenças sociais e a injustiça em relação à distribuição de bens e qualidades, o conceito moreniano de Efeito Sociodinâmico parece descrever este processo. Segundo ele somos diferentes e esta diferenciação é detectada e parcialmente amenizada pelos procedimentos sociométricos... Seria, entretanto utópico imaginar sociedades absolutamente igualitárias (1992: v.3, p. 195). a - A hipótese do efeito (sociodinâmico afirma que: a - alguns indivíduos de determinado grupo serão persistentemente excluídos de comunicação e de contato social produtivo; b - alguns indivíduos são constantemente negligenciados, muito aquém de suas aspirações, e outros muito favorecidos, de modo desproporcional a suas demandas; c - surgem conflitos e tensões nos grupos à medida que o efeito sociodinâmico aumenta, ou seja, com a crescente polaridade entre os favorecidos e os negligenciados. Com a diminuição do efeito sociodinâmico - redução da polaridade entre os favorecidos e os negligenciados - diminuem os conflitos e as tensões. ... Surgiram, porém, questões quanto à possibilidade de haver sociedade sem efeito sociodinâmico, se tal sociedade já existiu ou existirá no futuro, e se seria superior no presente. Muitas sociedades religiosas tentaram eliminar o caráter diferencial do grupo, através da supressão de percepções e sentimentos de diferenciação em suas mentes, segundo seus sistemas de valores que postulam que todos os homens são irmãos e iguais, filhos de deus. A diferenciação torna-se então pecado mortal e a sociometria, ciência do demônio. Outra possibilidade seria aceitar o efeito sociodinâmico como nosso destino. Minha opinião A inveja é um fenômeno humano universal, atemporal e inevitável. Faz parte da estrutura do psiquismo humano e atua sobre a cultura humana e sobre nossa organização social. A forma, entretanto de lidar com este sentimento varia de acordo com o equilíbrio emocional e a auto-

avaliação que cada um de nós faz de suas qualidades, capacidades e merecimentos diante das circunstâncias da vida. No meu livro Sobrevivência Emocional (Cukier, R.1998), desenvolvi a idéia de que os diferentes aspectos de nossa identidade, ou nos termos da teoria de papéis de Moreno, nossas diferentes possibilidades relacionais, se organizam de acordo com uma espécie de “Sistema de Manutenção da Auto-estima”. Acredito que das primeiras relações de dependência se estrutura o papel central de nossa identidade. O valor que o “EU” adquire nesta primeira avaliação será determinante das manobras compensatórias que ele terá que fazer para manter seu narcisismo em níveis suportáveis. No início da vida extra-uterina a criança não sabe de onde vem o prazer e o desprazer. Experimenta os papéis psicossomáticos [xxxiv],[8]^ como um todo indiscriminado − ela, o mundo, a mãe e o seio, ela a cólica, a cólica e a mãe. Só aos poucos, conforme amadurece o sistema neurológico e através da repetição da experiência, a criança vai associando o prazer com a presença da mãe ou cuidador e o desprazer com sua ausência (isto quando se trata de uma criança normal, com pais normalmente provedores) Ou seja, aquilo que inicialmente era decodificado como prazeroso porque saciava uma necessidade fisiológica de sobrevivência, começa a ganhar certa independência e já não precisa da necessidade fisiológica para ocorrer (Freud, 1905:1119-1200) [9]. A presença da mãe e/ou cuidador (es) começa a gerar prazer, mesmo quando não há nenhuma necessidade para ser satisfeita. É o prazer de ser visto, tocado, cuidado, ouvido por alguém que potencialmente é mais poderoso e que me outorga certo poder se escolhe ficar comigo. O contrário também é verdadeiro, começa a existir a experiência de desprazer cada vez que o cuidador não aparece, ou aparece e não dá toda a atenção que o sujeito espera. Este novo tipo de prazer – desprazer é o que vai constituir aquilo que chamo de “Economia Narcísica[10] ou Sistema de Manutenção da Auto-Estima”, um segundo sistema dentro do psiquismo, acoplado ao que regula o prazer e desprazer corporais, encarregado de determinar, a todo o instante, qual o valor do” eu" para o outro (quanto o outro estima o Eu) e para si mesmo (auto-estima). Sabemos todos por experiência própria que existe uma dor que não é física, mas Psicológica. A auto-estima precisa ser mantida dentro de alguns níveis de valoração, senão produz-se dor ¾ é a dor de não ser amado, a dor de se perceber pouco importante para o outro, a dor de se sentir vulnerável, a dor de se sentir enganado, traído ¾ e também a dor da inveja, sentir que outro possui atributos que você queria para si. Isto é o que Kohut (1984:80-121) chama de Injúria Narcísica ¾ a súbita percepção de que o Eu que se julgava valorizado por outrem e por si mesmo, na realidade pode perder o valor subitamente. Os critérios para o EU se sentir valorizado ou não, movem-se dentro de parâmetros ditados pelo meio familiar e sócio-cultural do qual o sujeito emerge, são critérios relativos e algo flexíveis, pois se modificam com o desenvolvimento, com o momento da vida, etc. Entretanto duas regras, extremamente simples de serem formuladas, coordenam a estrutura central deste sistema valorativo, uma interrelacional e outra intrapsíquica: 1 - Por interrelacional entendo todas as relações que uma pessoa estabelece com outras pessoas, desde as primeiras relações com a mãe e familiares até as complexas relações adultas. Neste sentido, sempre que o EU se sente valorizado por outrem, gratuitamente ou

A interpolação de uma escultura desta relação conflituosa é muito útil para se trabalhar este tema à distância. Tive uma cliente que se queixava do quanto sua cunhada, muita rica, invejava sua disposição para trabalhar e lutar pela vida. Ao jogar o papel da cunhada, pedi que ela me falasse de como a riqueza aparecia em sua forma de ser, se nas roupas, na postura, etc. A cliente imediatamente pôs-se a descrever com detalhes, as marcas de seu vestuário, suas bolsas assinadas, suas compras na Daslu (boutique de moda), etc. Sua postura era majestosa, movia-se como uma rainha. Pedi que ela ainda no papel da cunhada falasse o que acha da minha cliente, e a primeira coisa que foi dita foi: ela é pobretona, veste-se mal, compra na José Paulino (rua de comércio popular). Em seguida pedi para a paciente olhar a distância esta relação e criar uma escultura de barro de duas pessoas que se relacionam assim. Como seria esta escultura? Que postura teria a rica e que postura teria a pobre? Depois lhe pedi que nomeasse a escultura. O nome que a cliente deu foi: a escrava e rainha. A temática da escrava e da rainha foi a tônica de toda a terapia desta cliente, que aos poucos enfrentou seu sentimento de inferioridade na infância. Muitas cenas foram dramatizadas − cenas na escola primária, aonde precisava sempre pedir emprestado o material escolar porque seus pais não podiam comprar; cenas nas refeições familiares, onde não havia carne para todos e os pais não comiam, gerando culpa nos filhos − cenas enfim aonde ela aprendeu a não querer coisas que não poderia ter e odiar pessoas que as tinham. Compreendendo a dor e impotência infantis e aprendendo a não sucumbir a elas nem utilizar as mesmas defesas de outrora, a cliente pode perceber que era adulta, ganhava bem e podia se dar coisas, objetos e confortos de que gostaria. Na última sessão da terapia trouxe uma bolsa, de uma marca famosa, dizendo que tinha sido um presente para si mesma, depois de ter tido coragem de olhar para sua vida. Nunca mencionamos a palavra inveja durante seu processo terapêutico, e sua cunhada desapareceu, aos poucos, de seus conflitos. A técnica do duplo é desaconselhável na temática da inveja. Falar para um cliente que ele sente inveja e quase dar-lhe um tapa na cara, o contrário da idéia de um trabalho sutil. Já o espelho, que favorece um olhar distanciado do conflito, é de grande auxílio terapêutico. No caso relatado acima, muitos insights foram obtidos quando a cliente, olhando á distância a cena que acabara de jogar com a cunhada, era remetida á lembrança de outra cena, num outro contexto, aonde também se sentia escrava. O espelho favorece a percepção da cadeia transferencial. Metáforas, maximizações, concretizações, jogos dramáticos, são todas possibilidades de ação úteis e desejáveis especialmente no psicodrama grupal, onde surge a temática da inveja “ in situ ”, envolvendo todos os participantes do grupo, inclusive o terapeuta e o ego auxiliar. Foram frequentes na minha clínica, situações grupais onde algum cliente se ressentia da atenção que eu, como terapeuta, havia dado para outro cliente. Mesclados neste ciúme revelado, repetidas vezes vi aflorarem, após algum trabalho, sentimentos de inferioridade em relação ao rival, associações com situações da família primária, etc. A loja mágica, onde o cliente compra, simbolicamente, diferentes tipos de características ao mesmo tempo em que vende ou troca traços de caráter ou personalidade costuma ser útil para aclarar o que é cobiçado no outro.

Um aspecto muito importante no trabalho terapêutico com a Inveja é auxiliar o cliente a fazer o luto do ideal de justiça do mundo, a aceitar a realidade injusta da vida. Igualmente importante é aceitar o sentimento de inveja, sem se desqualificar, percebendo que é uma emoção humana, mas que não tem que se tornar uma obsessão, nem conduzir ações de vingança, ódio, etc. O cliente, precisa também legitimar o desejo que está implícito na inveja e empreender ações para obtê-lo. A técnica do role-playing é muito boa para aprender e testar novos papéis, atitudes, aspirações, etc. Finalizando, devo dizer que uma terapia eficiente para a Inveja ajuda o cliente a reduzir sua vergonha, aumentar seu autovalor, contemplar seus próprios desejos e se abrir para a riqueza da vida. Menos força psíquica será utilizada para se comparar com os outros, e mais em compaixão por si mesmo e por todo mundo que luta para ter a melhor vida que pode. [1] Escolhi usar o termo psicosociodrama por acreditar que o tema da inveja seja ao mesmo tempo coletivo e individual. Moreno (1975, p. 383-385) diz que o Psicodrama refere-se a problemas “privados”, mas logo que os indivíduos são tratados como representantes coletivos de papéis da comunidade e de relações de papéis, não levando já em conta os seus papéis privados e suas relações de papéis privados, o psicodrama converte-se num “socio- psicodrama” ou, mais brevemente, num sociodrama. [2] Para Antonio Damásio um sentimento é uma representação mental, é a percepção do estado do corpo, enquanto a emoção é uma reação a um estímulo e o comportamento associados (por exemplo, uma expressão facial). So the feeling is the recognition that an event is taking place, whereas the emotion is the visible effect of it. Assim, o sentimento é o reconhecimento de que um evento está ocorrendo, enquanto a emoção é o efeito visível da mesma. Emotions are bodily things, while feelings are mental things. As emoções são coisas corporais, enquanto os sentimentos são coisas mentais. Emotions are an automatic response. As emoções são uma resposta automática. They don´t require any thinking. Eles não requerem qualquer pensamento. They are the fundamental mechanism for the regulation of life. Eles são o mecanismo fundamental para a regulação da vida. Emotions precede feelings, and are the foundations for feelings. Emoções precedem os sentimentos, e são as bases para sentimentos. Penso que a inveja seja um conjunto de sentimento/emoção, por isso resolvi adotar o termo experiência emocional neste texto, por julgá-lo mais abrangente. [3] Lacan é um dos poucos teóricos que vê a inveja como uma relação triangular. A tríade em questão envolveria o invejoso, o invejado, e um “ Grande outro “ que os observa e julga. Essa teoria ajuda a entender como a inveja e o narcisismo estão relacionados e que se originam na fase de desenvolvimento psíquico que Lacan chama o estádio do espelho. [4] Para Jung, a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, o núcleo do material que foi reprimido da consciência. A Sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a Persona e contrárias aos padrões e ideais sociais. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

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