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PSICOLOGIA DAS MASSAS, Notas de estudo de Psicologia

E-mail: joana.goi@hotmail.com. RESUMO. O presente estudo pretende analisar a aproximação do texto Psicologia das massas e análise do eu, de Freud (1921), ...

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Reginaldo85
Reginaldo85 🇧🇷

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Evento: XXVIII Seminário de Iniciação Científica
PSICOLOGIA DAS MASSAS: AQUI E AGORA1
GROUP PSYCHOLOGY: HERE AND NOW
Joana Patias Goi2
1 Pesquisa realizada a partir da disciplina Psicologia das massas e análise do eu: 100 anos, do Programa de Pós-
Graduação em Psicanálise: Cnica e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
2 Aluna especial da disciplina. Bacharela em Psicologia pela UNIJUÍ (2021). E-mail: joana.goi@hotmail.com
RESUMO
O presente estudo pretende analisar a aproximação do texto Psicologia das massas e análise do
eu, de Freud (1921), e o atual contexto político social brasileiro, com a intenção de verificar os
contornos de um presente que se apresentou de forma semelhante cerca de um século.
Para isso, aprofundou-se o estudo sobre o texto base, juntamente com comentadores para,
afinal, traçar os pontos em comum com a política atual.
Palavras-chave: Psicologia das massas. Fascismo. Psicanálise e cultura. Política.
INTRODUÇÃO
O texto de Freud de 1921, Psicologia das massas e análise do eu precede um dos
momentos mais críticos da história da humanidade, que ocorreu em anos não tão distantes um
século nos separa da publicação do texto e algumas mudanças sociais nos separam da época,
mas que, ainda assim, pode ser sentida como estranhamente próxima. O texto foi elogiado por
antecipar o que estaria por vir, como faz Adorno (1951, p. 166): “Não é exagero dizer que
Freud, apesar de pouco interessado na fase política do problema, claramente previu a origem e
a natureza dos movimentos fascistas da massa em categorias puramente psicológicas.”.
Essa aproximação social da psicanálise, querendo ou não, coincide com a política e,
coincide também com o zeitgeist, o espírito de nossa época ou da época de publicação dos
textos. A questão política, portanto, na psicologia das profundezas, como designa Freud ao se
referir à psicanálise, acaba se tornando também um fator de estudo, tanto de maneira
interdisciplinar, na troca com outros conhecimentos, quanto como fenômeno individual que
não se apresenta como tão profundo, como pode parecer inicialmente.
É no início de seu texto que Freud (1921, p. 14) aponta aquilo que ficará evidenciado
para a psicanálise: “[...] a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social, num
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Evento: XXVIII Seminário de Iniciação Científica PSICOLOGIA DAS MASSAS: AQUI E AGORA^1 GROUP PSYCHOLOGY: HERE AND NOW

Joana Patias Goi^2

(^1) Pesquisa realizada a partir da disciplina Psicologia das massas e análise do eu: 100 anos, do Programa de Pós- Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 2 Aluna especial da disciplina. Bacharela em Psicologia pela UNIJUÍ (2021). E-mail: joana.goi@hotmail.com

RESUMO O presente estudo pretende analisar a aproximação do texto Psicologia das massas e análise do eu , de Freud (1921), e o atual contexto político social brasileiro, com a intenção de verificar os contornos de um presente que já se apresentou de forma semelhante há cerca de um século. Para isso, aprofundou-se o estudo sobre o texto base, juntamente com comentadores para, afinal, traçar os pontos em comum com a política atual.

Palavras-chave : Psicologia das massas. Fascismo. Psicanálise e cultura. Política.

INTRODUÇÃO O texto de Freud de 1921, Psicologia das massas e análise do eu precede um dos momentos mais críticos da história da humanidade, que ocorreu em anos não tão distantes – um século nos separa da publicação do texto e algumas mudanças sociais nos separam da época, mas que, ainda assim, pode ser sentida como estranhamente próxima. O texto foi elogiado por antecipar o que estaria por vir, como faz Adorno (1951, p. 166): “Não é exagero dizer que Freud, apesar de pouco interessado na fase política do problema, claramente previu a origem e a natureza dos movimentos fascistas da massa em categorias puramente psicológicas.”. Essa aproximação social da psicanálise, querendo ou não, coincide com a política e, coincide também com o zeitgeist , o espírito de nossa época – ou da época de publicação dos textos. A questão política, portanto, na psicologia das profundezas, como designa Freud ao se referir à psicanálise, acaba se tornando também um fator de estudo, tanto de maneira interdisciplinar, na troca com outros conhecimentos, quanto como fenômeno individual – que não se apresenta como tão profundo, como pode parecer inicialmente. É no início de seu texto que Freud (1921, p. 14) aponta aquilo que ficará evidenciado para a psicanálise: “[...] a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social, num

sentido ampliado, mas inteiramente justificado”. Isso se coloca frente a esse ímpeto de fazer do estudo da mente um estudo também da cultura, dos traços inconscientes presentes no social e, principalmente neste caso, nos povos, nas instituições, nas massas.

METODOLOGIA Para a construção deste estudo, foi utilizada a pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa e exploratória. A partir de análises bibliográficas foi feita uma correlação das considerações sobre o conceito e descrição das massas com o fascismo e o período atual, realizando um estudo que visa ampliar o conhecimento sobre o cenário contemporâneo. Além disso, foram consideradas as discussões vivenciadas na disciplina “Psicologia das massas e análise do eu: 100 anos” do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura, associado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O referencial teórico que norteou o estudo foi a psicanálise freudiana e comentadores, tendo em vista conceitos que, nesta linha de pensamento, sustentam o assunto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O fato de o discurso que opera em nosso tecido social atravessar a clínica não é uma novidade aos ambientados com a psicanálise. Os estudos sobre a cultura se consolidaram como possível linha de transmissão desde os textos sociais de Freud. Isso fez com que fosse possível o olhar para a cultura e suas manifestações de uma forma analítica. O detalhado estudo do texto Psicologia das massas e análise do eu (FREUD, 1921) expõe uma série de questões que se ratificam e outras que ficam como questionamento para seu autor. Ele se constitui como um dos textos com maior número de citações que Freud escreveu, utilizando-se de diversos autores para comentar o tão intrigante fenômeno de massa. É com citações de Le Bon, Mc Dougall, Gabriel Tarde, Trotter e outros, que Freud dialoga e expõe algo que vem a se tornar não um texto fechado, com um sentido em evidência, mas sim um momento de discorrer sobre o assunto, evidenciando alguns pontos dos autores, descartando outros e colocando sua teorização própria em campo. O diálogo travado entre as ideias de Le Bon apresentam-se introduzindo o assunto e levantando o ritmo e o direcionamento que o texto irá tomar. Um dos principais motivos pela escolha deste autor se dá pelo fato de que, além de ter se tornado um texto conhecido, Le Bon

Agregando ao debate, Freud (1921, p. 37) cita McDougall, que possui estudos semelhantes sobre a concepção de massa, o qual descreve-a:

Totalmente excitável, impulsiva, apaixonada, instável, inconsequente, indecisa e no entanto inclinada a ações extremas, suscetível apenas às paixões mais grosseiras e sentimentos mais singelos, extraordinariamente sugestionável, ligeira nas considerações, veemente nos juízos, receptiva somente para as conclusões e os argumentos mais simples e imperfeitos, fácil de dirigir e intimidar, sem consciência de si, sem autoestima, e senso de responsabilidade, mas disposta a deixar-se arrastar pela consciência de sua força e cometer malefícios que poderíamos esperar somente de um poder absoluto e irresponsável. Ambos os autores conservam uma visão crítica sobre esse tipo de organização. McDougall, no entanto, propõe uma diferenciação entre grupo ( group ) e massa ou multidão ( crowd ). Ele determina pontos essenciais nessa diferenciação, mas a diferença decisiva que estabelece entre group e crowd aparenta encontrar-se no fato de que ele não reconhece, nessa última forma de coletividade, a existência de um sistema mental. Freud, apesar de passar por autores que trabalham com muita dedicação à mente grupal, não concorda com a totalidade da teorização. Muito desse retorno a outros estudos faz com que encontrem-se ideias misóginas, higienistas e etnocentristas, que Freud ignoraria, porém sem criticá-las. Seu foco foge à questão política. O que se coloca como central no texto de Freud é o conceito de identificação, que acontece como fenômeno dentro da massa, pois a constitui, juntamente com os demais fatores. A identificação é organizada libidinalmente a partir do processo de constituição do sujeito:

[...] primeiro, a identificação é a mais primordial forma de ligação afetiva a um objeto; segundo, por via regressiva ela se torna o substituto para uma ligação objetal libidinosa, como que através da introjeção do objeto no Eu; terceiro, ela pode surgir a qualquer nova percepção de algo em comum com uma pessoa que não é objeto dos instintos sexuais (FREUD, 1921, p.65). É dado, portanto, que essa ligação com os integrantes e com o líder se coloca de forma identificatória, ligante de ordem libidinal, muito semelhante como a homossexualidade masculina se apresenta no âmbito teórico. É Trotter que se aproxima mais da questão política do assunto, quando se direciona a pensar o instinto gregário natural. Freud discorda dele em vários pontos e acrescenta que o homem “[...] é antes um animal de horda” em vez de um animal gregário e aponta para seu texto Totem e Tabu (1913), outra de suas produções que se debruçam sobre a sociedade e sua

constituição. Nesse sentido, Freud fala da importância do líder como remontagem do mito originário e na justiça social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito intriga o fato de que, o fenômeno de massa, conforme o texto explora seu conceito, se apresenta vívido em nossa cultura, em nosso país, 100 anos depois. Não é à toa que o exército e a igreja se ligam ao texto original, tanto quanto ao discurso atual. A regressividade da ordem, na busca de um ideal de eu encarnado que colocaria em ordem as pulsões que movem o mundo – restringindo-as. O pai tirânico, aquele que não precisa ser coerente, mas simples em suas imagens e ideias, que leva a massa e a constitui fundamentalmente de forma fascista, juntamente com o corpo da massa, irracional e masoquista. A massa, como formação inconsciente é uma das mais importantes constatações para pensá-la, trazendo a evidencia de um arcaico presente na modernidade. É a partir disso que é possível desenvolver e entender que a massa se enlaça sob um fundo silencioso da pulsão de morte, que promove tensão, mas também que a acolhe. A questão que se coloca, no fim, é: a política estaria fadada a criar líderes autoritários, direcionada sempre à regressão simbólica na busca de um pai? O que sabe-se é que quanto mais desamparados estamos, mais precisamos da alienação que o movimento da massa nos coloca. O texto de Freud não faz esclarecimentos, pelo contrário, coloca enigmas. Persiste o enigma: “poderia a psicanálise nos ajudar a pensar (e propor, em uma reflexão ativa) uma formação coletiva oposta àquela da massa?” (RIVERA, 2017).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, T. (2006). A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista. Margem esquerda 7 , 164-189. São Paulo: Boitempo.

FREUD, S. (1921). Psicologia das massas e análise do eu. In: Obras Completas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 15 v.

RIVERA, T. (2017). A subversão do sujeito como gesto político. Psicanalistas pela democracia. Disponível em: https://psicanalisedemocracia.com.br/2017/04/a-subversao-do- sujeito-como-gesto-politico-por-tania-rivera/. Acesso em: 31 jul. 2021.