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Produção de um Vídeo Documentário: Histórias de Profissões em Extinção, Notas de aula de Comunicação

As etapas do processo de produção de um vídeo documentário sobre profissões em extinção, através de entrevistas com três homens que ainda exercem essas profissões: um ourives, um chapeleiro e um amolador de facas. O documentário mostrará o declínio dessas profissões, causado pelos processos de globalização e revolução tecnológica, e explorará outras questões convergentes de suas vidas. O documento também abordará o processo de trabalho de cada um, o início na atividade, auge e decadência da profissão, família, expectativas para o futuro e outros temas.

O que você vai aprender

  • Como as profissões estão sendo afetadas pela globalização e revolução tecnológica?
  • Quais outras questões serão abordadas no documentário além da decadência das profissões?
  • Qual é a temática do vídeo documentário?
  • Quais são as expectativas para o futuro das profissões abordadas no documentário?
  • Quais são as profissões que estão sendo abordadas no documentário?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Bossa_nova
Bossa_nova 🇧🇷

4.6

(228)

447 documentos

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Escola de Comunicação
Graduação em Comunicação Social Jornalismo
PROFISSÕES EM EXTINÇÃO: TRÊS RETRATOS
Rio de Janeiro
2004
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Baixe Produção de um Vídeo Documentário: Histórias de Profissões em Extinção e outras Notas de aula em PDF para Comunicação, somente na Docsity!

Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Comunicação Graduação em Comunicação Social – Jornalismo

PROFISSÕES EM EXTINÇÃO: TRÊS RETRATOS

Rio de Janeiro 2004

Gisele de Araújo Lopes Milla Monteiro

PROFISSÕES EM EXTINÇÃO: TRÊS RETRATOS

Relatório do projeto experimental apresentado à banca da Escola de Comunicação da UFRJ, como trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Orientador: Maurício Lissovsky

Rio de Janeiro 2004

Agradecimentos:

Agradecemos, em primeiro lugar, aos nossos personagens, que nos receberam e contaram suas histórias. Às nossas mães, pela paciência, incentivo e carinho. Ao Alexandre, por estar do nosso lado todo o tempo. Esse projeto também é um pouco seu. Ao Tito, que com sua dedicação, cumpriu muito mais que seu obrigação, e deixou aqui registrado o seu olhar. Ao nosso orientador, Maurício Lissovsky, pela ajuda e disponibilidade. E, por último, à Renata e todos os outros amigos que de alguma forma contribuíram para este trabalho.

Introdução:

Este relatório refere-se ao documentário “Profissões em Extinção: Três Retratos”, projeto final para conclusão do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Ele pretende especificar as etapas do processo de produção do trabalho, desde sua concepção até a conclusão do vídeo. O projeto consiste num vídeo documentário curta-metragem que aborda o tema profissões em extinção a partir de três personagens: um ourives, um chapeleiro e um amolador de facas. O declínio de algumas profissões que hoje caminham para a extinção, conseqüência dos processos de globalização e revolução tecnológica, será mostrado através dos depoimentos desses três homens, que ainda hoje sobrevivem exercendo algumas das profissões que estão desaparecendo. Partindo da decadência de suas profissões - ponto básico em comum entre eles - , procurou-se também explorar outras questões convergentes de suas vidas, traçando então um retrato único, apesar de bastante heterogêneo, desse profissional que de uma hora para a outra teve seu espaço assimilado por máquinas e novas tecnologias. Dentre as várias questões presentes simultaneamente nas vidas das três personagens, o samba acabou por destacar-se: ele se tornou um pano de fundo que atravessa o documentário, trazendo leveza e descontração. Outros pontos abordados igualmente com os três entrevistados foram: o processo de trabalho de cada um, o início na atividade, auge e decadência da profissão, família, expectativas para o futuro, entre outros. O documentário não é um simples registro do fim de algumas profissões, nem sequer pretende ser uma discussão sobre globalização ou revolução tecnológica. A intenção é entender como estas profissões “do passado” conseguem se manter até hoje e como vivem e o que pensam as pessoas que fazem questão de mantê-las. Um olhar mais próximo e individual que humaniza as estatísticas e teses que hoje retratam as mudanças do mundo. Além disso, o curta leva a um contato fascinante com toda a beleza do processo de produção manual, que tem no barulho das máquinas mais um contador de histórias. Os processos de produção das jóias, dos chapéus e o amolar das facas são o fio condutor desta

1. Justificativa:

“Quando você se dispõe a ouvir o mundo, pode se deparar com coisas absolutamente impressionantes” João Moreira Salles^1

1.1 – Definindo o tema:

O registro e a valorização do passado eram características das sociedades tradicionais que tinham nesse passado suas referências e bases de desenvolvimento. Na sociedade em que vivemos, a velocidade e o constante processo de mudança deixam o passado de lado, esvaziando sua relevância no processo de construção da identidade da sociedade. Giddes e Marx as duas sociedades e explicitam suas diferenças:

“nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes.” (Giddens, 1990, pp.37-8)

“é o permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos... Todas as relações fixas e congeladas, com seu cortejo de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as relações recém formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido se desmancha no ar” (Marx e Engels, 1973, p.70)^1 Embora seja contraditório, essas características da sociedade moderna de deixar de lado o passado e as tradições geram um vazio que acabam por trazer à tona uma necessidade de busca de referências, uma vez que a velocidade e continuidade das mudanças resultam em valores efêmeros que não constroem uma identidade social sólida.

(^1) Frase citada pelo cineasta João Moreira Salles durante aula do curso de direção de documentário, na vídeo- Fundição, 2001.

Neste contexto, este trabalho de pesquisa e registro pretende fazer o caminho inverso da tendência atual, na tentativa de resgate e documentação de aspectos “esquecidos” pela sociedade moderna, como são as profissões escolhidas para o vídeo. Este tema surgiu numa aula de jornal laboratório, quando deveria ser produzida uma matéria escrita da editoria Cidade. A princípio, a idéia seria escrever sobre as profissões de rua, que persistiam apesar das grandes lojas e shopping centers. Ao primeiro contato com as “potenciais” personagens, percebeu-se que a história de vida de cada uma e sua trajetória no mundo atual – como sobreviver com profissões antigas num mundo mecanizado – eram muito maiores que o número de linhas disponível. No processo de apuração para a matéria, constatou-se a dimensão estatística a que o tema havia sido reduzido. Dados, números, gráficos, informações sem rosto, sem identidade, que trouxeram a necessidade de uma busca pelo humano e subjetivo que havia por trás dos números. O desafio, então, era encontrar as pessoas que compunham essas estatísticas e ouvir suas histórias sobre o trabalho e a vida ao longo do tempo em que suas profissões partiram do auge à atual decadência. Como o intuito não era apenas registrar o fim de algumas profissões, mas também entender as pessoas que fazem questão de mantê-las, o projeto tomou uma proporção muito maior do que seria possível registrar numa folha de papel. Assim, concluiu-se que para conhecer de fato o tema seria imprescindível deixar que as personagens narrassem a sua própria trajetória, explicando seus pontos de vista, suas paixões, mostrando seus rostos e “abrindo” seus locais de trabalho. Além disso, era fundamental mostrar a beleza do processo de produção manual e o barulho das máquinas que mantém esse processo.

1.2 - Porque um documentário?

Quando foi feita a opção por este tema para o trabalho de conclusão de curso, sabia-se que era um trabalho audiovisual. Se uma matéria jornalística não era capaz de dar conta de tudo o que o tema oferecia, tampouco o era uma monografia. Além disso, o trabalho monográfico certamente desviaria o foco do projeto para teorias sociológicas, casos, números e estatísticas, descaracterizando totalmente a intenção inicial das alunas de encontrar o indivíduo que existe obscuramente entre estas teorias.

Durante o processo de pré-entrevistas para a escolha das personagens, foi uma preocupação discutida e relativizada o fato de, nesses contatos, captar apenas o mínimo indispensável de informações sobre o personagem, para que na hora da gravação já não houvesse um conceito prévio da realidade a ser desvendada. Nos três casos, esse pré-contato aconteceu de forma muito diversa, o que também trouxe resultados e experiências diferentes. Com o ourives, com quem houve um maior contato e cujas histórias eram conhecidas, criou-se grandes expectativas, que na hora da gravação foram, em parte, frustradas. De frente para a câmera, a descontração e a malandragem que ficaram claras na pré-entrevista deram espaço à concentração, e as boas histórias foram deixadas de lado, pois havia naquele profissional um interesse maior em mostrar didaticamente o procedimento. As respostas que não tinham a ver com o processo de produção da jóia eram monossilábicas e o personagem se tornou bem menos que o esperado. Lidar com essa frustração e conduzir a entrevista tornou-se muito mais complicado pois insistiu-se em “arrancar” daquele personagem um outro que já existia no imaginário das diretoras e para elas era mais caro. Dessa forma, o personagem que o ourives queria ser naquele momento não foi adequadamente explorado. Com o chapeleiro, a experiência foi o extremo oposto. O primeiro contato foi rápido e superficial e a impressão era de um homem mal-humorado e de pouca boa vontade. A escolha dele deveu-se exclusivamente a uma inexplicável e instantânea empatia das diretoras com o personagem. Sem um porquê específico, acreditou-se que seria interessante. Antes da gravação, o que se pensava é que cada história teria que ser conquistada com muito esforço e que o jeito mal-humorado seria a própria graça. No entanto, durante a entrevista, Seu Almir mostrou-se cheio de carisma e praticamente falou sozinho tudo o que se pretendia perguntar. O amolador de facas foi, desde o início, o personagem mais desejado. Uma profissão que em poucos anos praticamente pulou do comum para o anonimato, uma atividade que daria ritmo e dinamismo ao vídeo e sobretudo uma lenda no Rio de Janeiro. Ele foi também o mais difícil de se encontrar, e quando conseguimos finalmente achar um, já não havia tempo para pré-entrevistas. Até o dia da gravação, o único contato que se tinha com o amolador havia sido feito por telefone,o que resultava em poucas impressões e expectativas sobre ele. O amolador

foi a decisão pelo tiro no escuro. Conhecer alguém diante da câmera e extrair dela todos os seus potenciais foi um desafio que exigiu mais atenção e sensibilidade no olhar.

3. Relatório de produção:

3.1. Pré-produção

O processo de pré-produção foi dividido em etapas. A primeira consistia em realizar uma pesquisa que identificasse as profissões que seriam abordadas no vídeo. A segunda, referia-se a aspectos mais práticos da produção, como organização das gravações, seleção de equipamentos, elaboração do roteiro de filmagens e definição da equipe.

3.1.1. Pesquisa

Na primeira etapa realizou-se uma pesquisa através de livros, sites e entrevistas com o objetivo de localizar, entre as profissões atualmente em decadência, aquelas que encontram-se, de fato, em processo de extinção. Para classificá-las como tais, adotou-se como critérios: o fato do número de profissionais em atividade ter tido uma substancial queda nos últimos anos, a existência de tecnologia mais avançada que tenha substituído o trabalho direto do profissional, a queda da demanda pelo produto final daquela profissão. A pesquisa resultou em uma lista com 19 profissões diferentes (anexo 1) , que iam desde aquelas que realmente já não existem nos grandes centros, como carpideiras e parteiras, até profissões já não muito comuns, mas ainda encontradas com certa freqüência, sobretudo em determinadas áreas da cidade, como por exemplo sapateiros, ainda comuns nos subúrbios do Rio. Além disso, havia na lista algumas profissões que tiveram seu caráter e seu “lugar” modificados, como é o caso dos ourives. Esses profissionais, que antes trabalhavam em pequenas oficinas esculpindo metais de forma quase que totalmente manual, hoje chamam-se designers, trabalham em grandes lojas com o auxílio de sofisticados equipamentos que diminuíram significativamente sua atuação direta no processo de produção. Da lista de 19 profissões, foram retiradas as mais citadas, entre aquelas que ainda existem, de alguma forma, na cidade do Rio de Janeiro. Este seria, então, o ponto de partida para a busca das personagens do documentário.

3.1.2. Encontrando os personagens:

A escolha foi começar os contatos com os potenciais personagens pelas profissões que de uma maneira ou de outra ainda são facilmente encontradas. Em cada uma destas profissões, como costureiras de vestidos de noiva, contactou-se de dois a três profissionais dos quais escolheu-se apenas um, ou nenhum, eliminando-se assim mais de 10 profissões. A abordagem aos potenciais personagens foi feita de maneira informal, através de visitas a seus locais de trabalho, em geral sob a prerrogativa de interesse por seus “produtos”. Neste contato, era travada uma breve conversa, onde procurava-se identificar algumas características das personagens. Para tanto, traçou-se um “roteiro” prévio desta “conversa” com pontos chave a serem abordados. Entre eles, o tempo de profissão e o modo como ingressou na atividade. Se, em comum acordo, houvesse interesse pelo profissional, ele passava a uma terceira lista. Ao mesmo tempo em que aconteciam os primeiros contatos com os potenciais personagens, prosseguia-se uma pesquisa através de sites, antigas matérias de jornal (anexo 2) e, sobretudo de uma rede de contatos de pessoas, em sua maioria amigos e familiares, que conhecessem o cotidiano da cidade e pudessem informar onde encontrar os profissionais procurados, preferencialmente, ainda em atuação no mercado de trabalho. Chegou-se então a 11 profissionais, nem sempre mais de um por profissão, os quais sofreram o mesmo tipo de abordagem informal dos primeiros. A partir deste ponto, a lista foi colocada em ordem de preferência. Para tanto, foram considerados fatores subjetivos, como simpatia, facilidade de expressão e motivação ao falar da profissão e de si mesmo; fatores estéticos tanto do local de atuação de cada profissional como do processo de produção em si; dinamismo da rotina de trabalho; curiosidades sobre a atividade e a vida pessoal, entre outros. Ao final desta etapa, havia uma terceira lista de profissões com apenas um personagem por profissão. O desafio então, era retirar dela apenas três pessoas que contariam suas histórias e mostrariam um pouco do seu trabalho. Isto feito, era necessário um novo contato com os escolhidos para explicar-lhes o trabalho e conseguir autorização para as gravações. Não foi uma fase fácil. Muitos não foram receptivos à idéia e alguns queriam pagamento em troca. A única exceção foi o amolador de

3.1.4. Definindo os equipamentos:

Como a proposta era o uso de luz natural, o equipamento de iluminação era somente o básico necessário para casos de emergência. Um refletor e tripé, utilizados em uma única situação durante um curto espaço de tempo. Levando em conta que o conteúdo das entrevistas era o mais importante, mas que o ruído das máquinas e do ambiente também era necessário para compor o cenário, o microfone direcional pareceu ser o que melhor se adequava. No entanto, em alguns momentos, os ruídos externos se sobrepunham ao áudio das entrevistas, tornando-os quase incompreensíveis em determinados trechos. Por isso, foi inevitável o uso do microfone de lapela, antes separado apenas para casos de emergência, mas que acabou revelando-se a melhor opção. Muitas vezes, a gravação de áudio foi feita em dois canais separados, utilizando-se simultaneamente direcional e lapela. A utilização de apenas uma câmera foi uma decorrência da opção básica de reduzir equipe e equipamentos na busca de um mínimo de interferência. A princípio, seria utilizada uma mini-dv caseira, com baixa qualidade e resolução de cores. No entanto, com a disponibilidade da câmera da ECO, também leve e pequena, foi possível agregar uma melhor qualidade de imagem. A única exceção à regra de utilização de uma única câmera foi durante a seqüência do samba na gravação do ourives. Para capturar o maior número de detalhes possível, e talvez alguns contra-planos, a mini-dv caseira foi operada pelo assistente de produção apenas nesta parte do dia. No entanto, o resultado da baixa qualidade da câmera e do ambiente com pouca iluminação natural deixou muito a desejar. Por causa da burocracia e da indisponibilidade da ilha de edição não-linear da ECO, foi necessário buscar uma alternativa para a edição do trabalho. A alternativa foi encontrada na produtora Tecnopop, que disponibilizou o equipamento necessário para a edição. O documentário foi finalizado num mac G4, Final Cut e salvo em Hd externo.

3.1.5. Roteiro de gravação:

O roteiro de gravação foi pensado em duas etapas. Primeiro, foram feitas as pautas das entrevistas: uma geral e outras três específicas para cada personagem. Além do trabalho, essas pautas abordavam família, diversão e curiosidades. A pauta de perguntas geral abordava temas pertinentes a todos os entrevistados. Essas perguntas eram relativas à atual condição de cada profissão no mercado, ao início da carreira de cada um, às expectativas para o futuro, entre outras. O objetivo era encontrar pontos de consonância entre os personagens que serviriam para ligar uns aos outros durante o processo de montagem. Nas pautas específicas, eram abordados temas sobre as singularidades de cada profissão e cada personagem. Com o chapeleiro, por exemplo, falamos sobre tamanhos de cabeça e tradição da família na profissão. As perguntas foram organizadas para cada personagem numa ordem que facilitasse a fluidez dos pensamentos dos entrevistados para que se encadeasse um processo narrativo. Em geral essa ordem foi determinada pela cronologia, mas a proximidade de temas e também foram considerados. Além disso, tinha-se consciência de que era o acaso, acima de tudo, que ditaria o encadeamento das questões. Levar as questões que deveriam ser abordadas em forma de perguntas e não em simples tópicos também foi uma opção no sentido de facilitar a narrativa das personagens. As perguntas foram pensadas de modo a dar o mínimo possível de brechas a respostas monossilábicas. Esse foi um trabalho demorado e desgastante, e no fim, não totalmente satisfatório. Num segundo momento da construção do roteiro de filmagens, foram definidas as imagens básicas a serem captadas. De acordo com os temas abordados nas perguntas, foi feita uma lista de imagens, posteriormente passada ao operador de câmera. Aqui, definiu-se também a necessidade de planos-detalhe das atividades sendo realizadas e do ambiente de trabalho. Esses detalhes (como mãos trabalhando, olhares atentos, ferramentas) eram importantes para a linguagem íntima que se buscava. Foi decidido também que as entrevistas transcorreriam durante o processo de produção e, posteriormente, em um momento específico de entrevista, seriam abordados temas

O amolador tinha dois trajetos Glória e Flamengo. Optou-se pelo Flamengo por questões estéticas e de segurança. O trajeto exato a ser percorrido era desconhecido pela equipe e este era mais um desafio. O fato de o trajeto ser todo realizado na rua, embora facilitasse a iluminação, trazia uma complicação grande em relação aos equipamentos como vara, microfone direcional, câmeras, tripés, que precisavam ser carregados a cada instante para acompanhar o passo do amolador, que passa a maior parte do tempo andando à procura de clientes. Era uma situação mais complicada, cheia de singularidades que iam surgindo a cada minuto, e rapidamente ficou evidente a necessidade de mais uma pessoa que se dedicasse exclusivamente à produção, o que só poderia ser consertado em outro dia de gravação. Entre os principais problemas, a investida de curiosos, a existência de sombras, ruídos de rua, trânsito. Por causa dessas dificuldades, em alguns momentos foi inevitável a interferência da equipe. O fato de o amolador atender a clientes – pessoas desconhecidas e imprevistas – durante toda a gravação, trouxe a dificuldade para se obter as autorizações de imagens dessas pessoas. Além disso, em alguns casos o amolador ia até a casa de alguns de seus clientes, e o principal problema era conseguir entrar nos edifícios. Do ponto de vista subjetivo, o amolador foi surpreendentemente desenvolto em frente à câmera, o que costuma ser um problema que não pode ser previsto em entrevistas prévias, pois surge exatamente quando o equipamento é ligado. Por outro lado, ele revelou um aspecto novo durante as gravações, a sua religião, e foi complicado contornar a entrevista de forma a obter informações sobre diversos assuntos além daqueles que ele fazia questão de contar, como histórias de curas milagrosas e salvação. Num determinado momento do dia, a direção decidiu que era necessário retomar alguns assuntos sem interferências externas. A solução encontrada foi pedir ao amolador que parasse de atender por um tempo e se dedicasse apenas a responder às perguntas. Essa interferência foi considerada essencial pra uma melhor abordagem de alguns assuntos e fica clara no documentário.

3.2.2 – Dia 2 : Seu Jorge, o ourives

Nos primeiros contatos, foi constatado que o ourives se expressava bem, contava histórias interessantes e mostrava as curiosidades da profissão com carisma. Além disso, tinha uma forte ligação com o samba (é compositor), e foi decidido que valia a pena explorar esse lado. O ourives apresentava características diferentes do amolador, por trabalhar em casa. A primeira dificuldade foi conseguir um horário bom para a entrevista, que seria realizada na casa dele em Vigário Geral, onde funciona a sua oficina, num dia em que ele tivesse encomendas e num horário suficientemente cedo para que fosse possível acompanhar todo o processo de produção da jóia. O dia escolhido para a gravação coincidiu com o feriado de finados, o que trouxe alguns imprevistos. De fato, como o próprio ourives tinha escolhido o dia, ele se preparou para receber a equipe, tentando conduzir a gravação, muitas vezes ignorando perguntas para não se perder na narrativa didática de sua profissão. Além disso, ele programou um churrasco para a ocasião, com o intuito de mostrar não apenas o passo a passo de sua profissão, mas também sua ligação com o samba. Essa postura previamente definida acabou tirando sua espontaneidade, perdendo um pouco do carisma e da leveza com que havia narrado sua profissão por trás da câmera. Em relação à parte técnica, a gravação com o ourives foi relativamente simples. Boa parte da oficina ficava na parte de fora da casa, recebendo muita luz natural. Apenas uma pequena parte ficava no interior de um dos quartos, mas a luz necessária para as funções dele supria as necessidades da gravação. Quanto ao som, optamos pelo microfone de lapela porque priorizamos o conteúdo da entrevista e, além disso, a maioria das máquinas era pequena e o barulho delas era perfeitamente captável por este microfone. Além disso, a oficina era bem apertada, o que impediria a utilização do microfone direcional. Na parte externa, durante o churrasco, optou-se pela utilização do microfone direcional e do lapela, porque além da voz dele os outros sons do ambiente eram importantes para o conjunto. Durante o “churrasco”, consegui-se uma parada para uma pequena entrevista (da mesma forma que foi feito com o amolador), sobre assuntos que ainda não tinham sido