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Este artigo apresenta um estudo que investiga a relação entre a representação de notação musical não tradicional e sua utilização durante o processo de ensino e aprendizagem do sistema simbólico musical, a partir da percepção de 23 estudantes de licenciatura em música. O documento discute os resultados obtidos, que mostram a importância da utilização de desenhos familiares à criança como ferramenta de apoio pedagógico na aprendizagem de conceitos musicais.
Tipologia: Exercícios
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Resumo : Este estudo teve como finalidade compreender, a partir da per- cepção de licenciados acerca de uma aula de música gravada em vídeo, a relação existente entre a representação da notação musical não tradicional e sua utilização durante os processos de ensino e aprendizagem do sistema simbólico musical. Os estudantes do curso de Música-Licenciatura escre- veram individualmente suas observações enquanto viam o vídeo, objetivando capturar suas reações imediatas. Para a análise dos dados empregou-se o conjunto de técnicas da Análise de Conteúdo, categorizando-se os textos dos estudantes em unidades temáticas. Os dados classificados na categoria denominada de notação musical são apresentados e discutidos neste artigo à luz de conceitos e estudos acerca da notação musical tradicional e não tradicional. Os resultados mostram que uma quantidade significativa de es- tudantes citaram a maneira como a professora utilizou desenhos de guarda- chuvas e corações para representar a notação musical tradicional, auxilian-
1 Professora do Departamento de Música do CEART/UDESC, Florianópolis e da Escola de Música, Arte e Teatro da Universidade de Örebro, Suécia - teresa.mateiro@udesc.br 2 Acadêmica do Curso de Músicado CEART/UDESC, bolsista de iniciação científica PROBIC/UDESC
do a compreensão e assimilação das crianças do conteúdo que estava sen- do abordado. Conclui-se, assim, que a utilização de desenhos familiares à criança pode ser uma ferramenta de apoio pedagógico para a aprendizagem dos conteúdos de percepção musical.
Palavras-chave : processos de aprendizagem, notação musical, sistemas de representação
Abstract : This study, from student music teachers' perception of a videotaped music class, aims to understand the relationship between the representation of nontraditional musical notation and its use during the processes of teaching and learning musical symbolic system. The students of Music Teaching Program individually wrote their comments as they watched the video, aiming to capture their immediate reactions. For data analysis we used a set of techniques of content analysis, categorizing the texts of students in thematic units. Data classified as music notation are presented and discussed in this article in the light of concepts and studies on traditional and nontraditional musical notation. The results show that a significant amount of students cited the way the teacher used drawings of umbrellas and hearts to represent the traditional musical notation, aiding the children to understand and assimilate to the content that was being addressed which concludes that the use of drawings familiar to the child can be a tool to support teaching learning the content of musical perception.
Keywords : processes of learning, music notation, representational systems
Em todas as áreas, ao longo da história da comunicação e desenvolvimento das culturas, os símbolos tem sido considerados uma forma importante de registro. Em se tratando de música, diferentes sistemas de representação gráfica tem sido utilizados para representar os eventos sonoros também como um meio de comunicação. Na literatura específica da área de educação musical encontram-se os termos notação musical
não é considerada música, mas um meio a partir do qual se registra e comunica a música e que é, basicamente, singular e separada dela porque a música - que é um objeto real - é codificada por um outro sistema, a escrita. Comentando a respeito da representação gráfica musical a partir do século XX, França (2010) e Ciszevski (2010) ressaltam que os compositores buscaram diferentes maneiras para registrar os sons, empregando gráficos, desenhos, símbolos e figuras ilustrativas, ou seja, formas não lineares e unidimensionais estabelecidas até então como característica da escrita oficial.Os autores estabelecem um paralelo entre essas formas alternativas de registro e as representações feitas pelas crianças, destacando a aproximação da grafia, o estímulo à imaginação e a ampliação de possibilidades de criação musical. Comparando a notação musical tradicional e a notação alternativa ou analógica, França (2010, p.11) sublinha que "enquanto na notação tradicional o registro das durações requer longo aprendizado (padrões rítmicos, compassos e divisão), na notação analógica ele é quase inequívoco: sons curtos são representados por pontos ou traços horizontais pequenos; sons longos por meio de traços maiores". Essa afirmação é evidenciada quando a autora analisa as representações de durações e alturas por meio da notação analógica, descrevendo o encontro de duas
dimensões que lembram um plano cartesiano, em que há um eixo horizontal para as durações das notas e um vertical para as alturas. Essas formas bidimensionais, segundo França, representam progressos significativos para o compositor da segunda metade do século XX. De acordo com França (2010) anotação analógica é um meio que tem como alicerce a semelhança tanto na escuta e compreensões musicais como na performance e está fundamentada na relação entre as características dos campos auditivo e visual. É, ainda, um meio que promove a criação, performance, escuta, análise e compreensão musicais e, de forma espontânea na musicalização,a notação analógica é uma continuidade da movimentação do espaço quando "pontos, linhas, contornos, emaranhados, arabescos" (p.11) surgem nas representações gráficas das crianças. A notação musical inventada ou espontânea, segundo Ilari (2004), surge na prática da sala de aula como um meio pedagógico de introduzir a criança ao sistema da representação gráfica de eventos sonoros. Professores estimulam crianças a criarem notações e desenhos a partir da música com o objetivo de desenvolver a percepção e a criatividade. Entretanto, esse procedimento de ensino tornou-se objeto de pesquisas na área da psicologia da música, cujos resultados tem contribuído para uma maior compreensão do desenvolvimento cognitivo musical do ser
musical inventada é aquela criada de maneira espontânea por cada indivíduo (Ilari 2004). Este estudo^4 teve como finalidade compreender a relação existente entre a representação da notação musical não tradicional e sua utilização como apoio pedagógico ao ensino do sistema simbólico musical a partir da percepção de 23 licenciados acerca de uma aula de música gravada em vídeo. Portanto, a questão de pesquisa que conduziueste estudo foi: como estudantes do curso de Licenciatura em Música perceberam o processo de ensino e aprendizagem da notação musical na aula observada? Para melhor fundamentar as discussões sobre a notação musical não tradicional, (alternativa ou analógica, inventada ou espontânea) apresenta-se a seguir um referencial teórico complementar referente aos conceitos de representação, relacionando o registro sonoro musical e o desenho infantil.
Os trabalhos teóricos de Piaget tem fundamentado pesquisas na área da teoria cognitiva que, por sua vez, tem sido referencia para outras áreas como, por exemplo, música e artes visuais. Na educação musical, o modelo espiral de desenvolvimento musical proposto por
4 Parte deste trabalho foi apresentado no VIII Simpósio de Cognição e Artes Musi- cais - SIMCAM8 (ver Mateiro; Okada, 2012).
Swanwick e Tillman (1986) tem como um dos princípios de organização a teoria do jogo de Piaget. Nas artes visuais, a teoria de Luquet sobre a evolução do desenho infantil nutriu a teoria dos estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget (Duarte 2011; Pillar, 2012)e tem sido bastante citada nas pesquisas que tratam sobre o desenho infantil. Considerando que o foco deste estudo é a discussão sobre a notação musical não tradicional (figuras, desenhos) como possível ferramenta pedagógica nos procedimentos de ensino e aprendizagem, serão utilizados também nesta seção autores da área das artes visuais que, apoiados em conceitos de Luquet e Piaget, como o sistema de representação, vem refletindo sobre o desenho infantil. Segundo Pillar (2012), um sistemaé um grupo organizado de dados em que a conexão entre eles é o que estabelece como este é composto. Tais dados modificam-se estruturalmente, embora mantenham seu funcionamento. Segundo a autora, a compreensão e a organização são a base de um sistema e é preciso analisar o elemento a ser representado, enfatizando as ligações entre todos eles, elegendo elementos e coordenações que estão inseridos na representação. Assim como a constituição de um sistema, a interpretação deste são obras de reorganização da realidade em que apenas alguns deles, bem como suas relações e propriedades estão inclusos.
suficientemente o objeto representado. É a primeira forma de "escrever" a palavra que nomeia o objeto. Assim, "palavra e desenho são equivalentes simbólicos" e, parafraseando a autora, a grafia musical e o desenho são também símbolos equivalentes. Enfatizando a importância do desenho no processo educacional, Fassina (2011) afirma que é possível que o desenho atue como ponte entre processos mentais e de elaboração e significação da escrita, sendo também uma possibilidade de renovação e transformação, como uma alternativa lúdica de aprendizagem. A estruturação do desenho envolve processos muito mais complexos e reflete uma busca de significação na interação homem/mundo Os educadores musicais podem munir-se da disposição que as crianças têm em desenhar desde os momentos primários, pois o ato de registrar é um meio de "materializar e organizar o complexo processo da percepção musical" (FRANÇA, 2010, p.10). Após o período das garatujas musicais surge a representação de instrumentos e das mais variadas fontes sonoras, seguida de esquemas, onomatopéias e notações alternativas. A autora tem tido a oportunidade de ver como o tipo de notação que o professor adotaestá diretamente relacionado ao desenvolvimento musical do aluno e frisa que as grafias alternativas, além de estimularem a imaginação, ampliam a criatividade musical.
Na educação musical diversas pesquisas utilizando diferentes sistemas de notação tem contribuído para os estudos do processo cognitivo musical. Como trabalhos de referência internacional, citam-se os trabalhos de Bamberger (1990) e Frey-Streiff (1990). A revisão de literatura brasileira para esta pesquisa foi delimitada às que consideraram a notação não tradicional (alternativa ou analógica, inventada ou espontânea) como objeto de estudo. Selecionamos, portanto, os estudos de Ilari (2004), Rodhen (2010), Klava (2001), e Watanabe e Cacione (2007). O aprendizado musical de crianças e adultos foi estudado por Bamberger (1990) a partir das notações de determinados ritmos. Seus trabalhos auxiliam a compreensão de como as crianças entendem, assimilam ritmos simples e como os representam no papel. A autora investigou a produção de notação espontânea de um ritmo simples com crianças na faixa etária de quatro a doze anos e adultos com experiências musicais variadas, com ou sem conhecimento da notação tradicional. Com os resultados, verificou que tanto os adultos quanto as crianças, entre nove e doze anos, tinham grafias semelhantes, porém diferentes das crianças com idade de quatro a cinco anos. Bamberger (1990) concluiu que, ao se fazer representações gráficas de um fenômeno sonoro, expõe-se o chamado "conhecimento
De acordo com Ilari (2004), as notações inventadas e desenhos feitos a partir de determinada música são ferramentas de apoio pedagógico que tendem a estimular o desenvolvimento tanto da percepção quanto da criatividade. Durante o XII Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), realizado na cidade de Florianópolis (SC), a autora realizou uma pesquisa com 43 professores de música de diversas partes do país, sendo oito homens e 35 mulheres, com idades que variavam entre 19 e 55 anos e um tempo de leitura de partitura médio de 17 anos (que variava entre um ano e meio e 48 anos).Foi solicitado que cada participante representasse a canção Parabéns a você - com notações inventadas - numa folha de papel em branco para alguém que não estivesse presente na sala de aula. Os participantes da pesquisa demonstraram dificuldade para representar a canção sem a utilização da grafia tradicional, apresentando notações pouco criativas e bem simplificadas. Tal análise mostrou que, assim como nos trabalhos de Bamberger (citados por Ilari, 2004), não foram verificadas diferenças nos tipos de notações inventadas de acordo com a idade, tempo de educação musical formal e gênero. Ilari (2004), a partir dos resultados dessa análise afirma que é necessário incluir e estimular o conhecimento sobre os diversos sistemas de notação, tanto de crianças quanto de adultos, pois esses sistemas permitem desenvolver o pensamento musical e criativo.
Rhoden (2010), objetivando entender o sentido e o significado das notações musicais das crianças tendo como finalidade trazer novas contribuições e um novo olhar para a área da educação musical, realizou um trabalho na Fundação Municipal de Artes de Montenegro (RS), com um grupo formado por nove crianças, sendo duas meninas e sete meninos com idades de quatro a seis anos de idade. As crianças foram reunidas em duplase trios para criarem uma composição musical e para grafá-la em uma folha de papel. Foram utilizados instrumentos de percussão (coco, clavas, pau-de-chuva, caxixi, tambor, matalofone, xilofone, entre outros), papel desenho no tamanho A4, giz de cera e canetinhas coloridas.No decorrer da atividade, Rodhen percebeu que as crianças sentiam-se aptas e motivadas a representar, cada uma do seu jeito, o que havia sido proposto, tornando essa atividade uma nova prática para as aulas de educação musical. A autora afirma que ao explorar a criatividade das crianças, a representação dos ritmos foi se mostrando mais rica e real para elas, por notarem da forma como entendiam, para posteriormente aprenderem a mesma sequência na escrita musical tradicional. A utilização de grafia não tradicional em sala de aula é uma atividade destacada por Rodhen que enfatiza a importância de incentivar seu uso como um recurso que torna uma aula mais interessante para as crianças.
era permitir à criança a livre representação, utilizando qualquer elemento ao seu alcance para representar satisfatoriamente, para si mesma, o eventosonoro apreciado. Os alunos não tiveram orientações para fazer essas representações. A professora somente se limitou a estimular a representação com frases como: "escreva/desenhe como você acha que é", ou "escreva como você desenharia" e finalmente, "faça da melhor forma que você puder" (WATANABE; CACIONE, 2007, p.9). Após as análises comparativas dos dois tipos de registro, as autoras ressaltaram a importância da aquisição da escrita musical paralela à escrita alfabética, principalmente com a formalização do ensino de música no currículo escolar das escolas brasileiras. Segundo elas, essa aquisição concomitante propiciará uma nova afinidade com a cultura musical.
Participaram deste estudo 23 estudantes do curso de Música- Licenciatura de uma universidade brasileira^5 , matriculados no 4º semestre e com idade média entre 20 a 24 anos, durante o período da coleta de dados. Além das disciplinas específicas de música, os estudantes haviam cursado durante quatro semestres duas disciplinas de educação musical,
5 Estudantes suecos e canadenses também participaram deste projeto de pesquisa, tendo sido expostos aos mesmos procedimentos metodológicos. Alguns resulta- dos tem sido apresentados em congressos (ver, por exemplo Russell; Mateiro; Westvall, 2009 e Mateiro; Westvall, 2012) e outros poderão ser encontrados em Mateiro; Westvall (no prelo).
sendo uma delas a de Didática da Música - disciplina em que foi realizada esta pesquisa. O estágio supervisionado, momento em que os estudantes vão para as escolas, aconteceria no semestre posterior, ou seja, esses estudantes ainda não tinham vivenciado a sala de aula atuando como professores. É importante ressaltar que a participação dos estudantes foi voluntária^6 e, portanto, não avaliativa para a disciplina em questão. O anonimato foi preservado, utilizando-se nomes fictícios e mantendo-se as relações de gênero, isto é, nomes masculinos para alunos e nomes femininos para alunas. O objeto de estudo desta pesquisa foi uma aula de música gravada em vídeo, de aproximadamente 30 minutos. Trata-se do estudo de caso realizado por Russell (2000; 2005) com uma turma do 1º ano do ensino fundamental em uma escola canadense. Os estudantes assistiram ao vídeo apenas uma vez, como uma aula em tempo real, e individualmente escreveram suas observações. Foram estimulados a escrever de forma descritiva e reflexiva, pois não se tratava de avaliar o trabalho da professora.
6 Foram observadas as determinações da Resolução nº 196 de 1996 CNS/MS que fixa as Diretrizes e Normas Regulamentadoras sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Todos os participantes deste estudo assinaram o Termo de Consenti- mento Livre e Esclarecido.
A maioria dos estudantes destacou a importância da abordagem pedagógica da professora na aprendizagem de conceitos musicais a partir da prática e por meio de formas diferenciadas, tornando a aula musical e atrativa às crianças. Nas palavras de Marcos: "o método da professora me parece muito eficaz e de ótima assimilação das crianças, abordando o mesmo tópico de diversas maneiras, estabelecendo uma dinâmica muito coesa: trabalho com o quadro, com palitos, com expressão corporal". Na análise realizada por Russell (2000, p.83), a autora destaca que "os conceitos incluíram a diferenciação entre notas agudas e graves, e agrupamentos de durações diferentes. Elas [as crianças] expressaram sua compreensão desses conceitos através do canto, da vocalização, do bater palmas, do movimento, da dança e da notação". A variedade, a conexão entre as atividades e as diversas maneiras de como o mesmo conteúdo foi apresentado às crianças são elementos destacados pela autora. Referente ao processo de ensino e aprendizagem da notação musical, 15 licenciandos do total de 23, destacaram a importância da utilização de notações alternativas ou analógicas.Jefferson achou "excelente o exemplo dos guarda-chuvas como forma didática das alturas e duração de notas" e Joana ponderou que "com crianças dessa faixa etária" considera "muito legal a idéia da notação alternativa como a utilizada pela professora
quando ela desenhou os guarda- chuvas". Abaixo encontra-se o primeiro compasso da canção Rain, rain, go away (Fig.1) e sua transcrição (Fig.2) tal como foi desenhado no quadro pela professora canadense.
Figura 1: Primeiro compasso da canção Rain, rain, go away
Figura 2: Representação de figuras rítmicas Fonte: Video - Estudo de caso (Russell, 2005) Transcrição nossa