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PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS, Esquemas de Cultura

O reino Protista é constituído por aproximadamente 60.000 espécies conhecidas, das quais. 10.000 são parasitas de diferentes animais, sendo que apenas umas ...

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Susana Segura Muñoz
Ana Paula Morais Fernandes
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PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS
POR PROTOZOÁRIOS
Licenciatura em ciências · USP/ Univesp
Principais doenças infecciosas e parasitárias e
seus condicionantes em populações humanas
6.1 Introdução
6.2 Aspectos gerais dos Protozoários
6.2.1 Principais doenças causadas por protozoários
6.2.1.1 Giardíase
6.2.1.2 Amebíase
6.2.1.3 Tricomoníase
6.2.1.4 Toxoplasmose
6.2.1.5 Leishmaniose
6.2.1.6 Doença de Chagas
6.2.1.7 Malária
6.3 Conclusão
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Susana Segura Muñoz Ana Paula Morais Fernandes

PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS

POR PROTOZOÁRIOS

Licenciatura em ciências · USP/ Univesp

Principais doenças infecciosas e parasitárias e

seus condicionantes em populações humanas

6.1 Introdução 6.2 Aspectos gerais dos Protozoários 6.2.1 Principais doenças causadas por protozoários 6.2.1.1 Giardíase 6.2.1.2 Amebíase 6.2.1.3 Tricomoníase 6.2.1.4 Toxoplasmose 6.2.1.5 Leishmaniose 6.2.1.6 Doença de Chagas 6.2.1.7 Malária 6.3 Conclusão Referência Bibliográficas

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5

6.1 Introdução

O reino Protista é constituído por aproximadamente 60.000 espécies conhecidas, das quais 10.000 são parasitas de diferentes animais, sendo que apenas umas dezenas de espécies infectam o homem. No reino Protista, encontram-se os protozoários. Alguns protozoários parasitas podem causar diversas doenças que afetam a saúde da população. Nesta aula, estudaremos as principais doenças causadas por protozoários que afetam a saúde humana, entre as quais podemos citar: Giardíase, Amebíase, Tricomoníase, Toxoplasmose, Leishmaniose, Doença de Chagas e Malária.

6.2 Aspectos gerais dos Protozoários

Os Protozoários são seres eucariontes, ou seja, possuem núcleo celular organizado dentro de uma carioteca, sendo a maioria heterótrofos, embora alguns sejam autótrofos, produzem clorofila e com ela fazem a fotossíntese, e assim conseguem produzir seus próprios alimentos. De acordo com a locomoção no meio aquático, os protozoários são classificados como:

- Ciliados, que se locomovem mediante o batimento de cílios; - Flagelados, que se movimentam por meio de flagelos, estruturas mais adaptadas para a natação; - Rizópodos, que se rastejam com movimento ameboide, um tipo de locomoção no qual os microrganismos vão mudando a forma do seu corpo pela emissão de pseudópodes (do grego pseudo , que significa falso, e podo , pé ; portanto, “falsos pés”); - Esporozoários, que não possuem organelas locomotoras nem vacúolos contráteis; esses microrganismos parasitas se disseminam pelo ambiente através da produção de muitos esporos, que são levados pela água e pelo ar, ou são levados através de animais vetores (moscas, mosquitos, carrapatos etc.), que se contaminam com esses protozoários patogênicos, ficam doentes e transmitem essas doenças para outros animais. Na Figura 6.1 , são apresentados esquematicamente os protozoários segundo o tipo de locomoção.

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5

6.2.1 Principais doenças causadas por protozoários

6.2.1.1 Giardíase A giardíase é uma infecção do intestino delgado, causada pela Giardia lamblia , um parasita unicelular. A giardíase ocorre em todo o mundo e é, especialmente, frequente entre as crianças e nos locais onde as condições sanitárias são deficientes. O gênero Giardia inclui flagelados parasitos do intestino delgado. O parasita é trans- mitido de uma pessoa para outra através de cistos eliminados pelas fezes. A giardíase é uma das causas mais comuns de diarreia entre crianças que, em consequência da infecção, muitas vezes apresentam problemas de má nutrição e retardo no desenvolvi- mento. A transmissão é verificada diretamente entre crianças ou parceiros sexuais ou ainda, de forma indireta, através de alimentos ou água contaminados. A Giardia lamblia apresenta-se em duas formas: o trofozoíto e o cisto ( Figura 6.2 ). O trofozoíto tem formato de pera e o cisto é oval e elipsoide. Giardia lamblia é um parasita monóxeno, ou seja, não requer um hospedeiro intermediário ( Figura 6.3 ). A via normal de infecção ocorre pela ingestão de cistos. Após a ingestão do cisto, o desencistamento é iniciado no meio ácido do estô- mago e completado no duodeno e jejuno, onde ocorre a colonização do intestino delgado pelos trofozoítos. Estes se reproduzem por divisão binária longitudinal. O ciclo se completa pelo encis- tamento do parasita e sua eliminação para o meio exterior. Esse processo inicia-se no baixo íleo e no ceco. O encistamento é provocado pela alteração no pH intestinal, estímulo de sais biliares e destacamento do trofozoíto da mucosa. Ao redor do trofozoíto é secretada, pelo parasita, uma membrana cística resistente que tem quitina em sua composição. Os cistos são resistentes e, em condições favoráveis de temperatura e umidade, podem sobreviver por alguns meses no ambiente. Figura 6.2: Giardia lamblia : Trofozoíta e Cisto.

6 Principais doenças causadas por Protozoários Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Os sintomas, que costumam ser ligeiros, incluem náuseas intermitentes, flatulência, queixas abdominais, fezes volumosas e com mau cheiro e diarreia. Se a afecção é grave, é possível que o doente não consiga absorver dos alimentos os nutrientes mais importantes e, como resultado, perde muito peso. Os mecanismos pelos quais a Giardia provoca diarreia e má absorção intestinal não são bem conhecidos, mas acredita-se que haja mudanças na arquitetura da mucosa intestinal. Figura 6.3: Ciclo de vida de Giardia lamblia. / Fonte: Adaptado de CDC.

6 Principais doenças causadas por Protozoários Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Em seguida, o cisto sofre sucessivas divisões nucleares e citoplasmáticas, dando origem a quatro e depois oito trofozoítos, chamados de trofozoítos metacísticos. Esses trofozoítos migram para o intestino grosso, onde se colonizam. Em geral, os trofozoítos ficam aderidos à mucosa do intestino, vivendo como comensal, alimentando-se de detritos e de bactérias. Sob certas circunstâncias, ainda não muito bem conhecidas, podem desprender-se da parede intestinal, na luz do intestino grosso, principalmente no cólon, sofrer a ação da desidratação, eliminar substâncias nutritivas presentes no citoplasma, transformando-se em pré-cistos e, em seguida, secretam uma membrana cística e se transformam em cistos. Os cistos são eliminados nas fezes. Figura. 6.5: Ciclo de vida de E. histolytica. / Fonte: Adaptado de CDC.

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Em situações que não são bem conhecidas, o equilíbrio parasita-hospedeiro pode ser rompido e os trofozoítos invadem a mucosa intestinal, formando úlceras mediante processos de multiplicação ativa. Nessa fase, o paciente apresenta inúmeras evacuações mucossanguinolentas, prostrações e desidratação. As complicações da amebíase intestinal são muito variadas e podem atingir até 4% dos casos, interferindo na morbidade e mortalidade. No interior das úlceras, podem alcançar a circulação porta, atingir outros órgãos como o fígado e, posteriormente, pulmão, rim, cérebro ou pele, causando amebíase extraintestinal. A forma extraintestinal é rara em nosso meio – alguns casos de abcessos amebianos no fígado têm sido descritos na Amazônia. Estima-se que existam cerca de480 milhões de pessoas no mundo infectadas com a E. histolytica , das quais só 10% apresentam formas invasoras, isto é, alterações intestinais ou extraintestinais. A disseminação da amebíase está relacionada a precárias condições de higiene, educação sanitária e alimentação dos povos de regiões subdesenvolvidas ou em desenvolvimento. Adequadas condições de habitação, existência de sistemas de coleta e tratamento de esgotos e abastecimento de água potável impedem a disseminação da doença. Para o tratamento da doença, devem ser usados amebicidas que atuem diretamente na luz intestinal e em outros tecidos. 6.2.1.3 Tricomoníase Trichomonas vaginalis é o agente etiológico da tricomoníase. São organismos polimorfos, elipsoides, ovais ou esféricos. Não possuem forma cística, só a forma trofozoítica ( Figura 6.6 ). A T.vaginalis habita o trato geniturinário do homem e da mulher, onde produz a infecção, não sobrevivendo fora do sistema urogenital. A divisão se dá por divisão binária longitudinal. O parasita é um organismo anaeróbico facultativo, que cresce em pH entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20 °C e 40 °C. A tricomoníase é uma doença venérea, sendo transmitida através da relação sexual e pode sobreviver por mais de uma semana no prepúcio do homem sadio, após a relação sexual com mulher infectada. O homem é o vetor da doença ( Figura 6.7 ). A T. vaginalis tem-se destacado como um dos principais patógenos do trato urogenital humano e está associada a sérias Figura 6.6: Forma trofozoítica de Trichomonas vaginalis.

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 dificuldade para as relações sexuais, desconforto nos genitais externos, dor ao urinar e aumento na frequência miccional. No homem, é comumente assintomática ou apresenta-se como uma uretrite com fluxo leitoso ou purulento e uma leve sensação de purido na uretra. Preconizam-se estratégias de prevenção como: prática de sexo seguro, uso de preservativos, abstinência de contatos sexuais com pessoas infectadas e limitação das complicações com uso de tratamento imediato e eficaz, envolvendo os parceiros sexuais, mesmo assintomáticos. 6.2.1.4 Toxoplasmose Toxoplasma gondii ( Figura 6.8 ) é um esporozoário que infecta grande número de vertebrados de sangue quente, inclusive o homem. O parasita invade as células do hospedeiro, onde se multiplica. Nos adultos, causa infecção crônica assintomática, que pode atingir 15% a 60% ou mais da população. Pode também gerar um quadro agudo febril com linfadenopatia. Nas crianças, produz uma infecção subaguda com encefalopatia e coriorretinite que,nos casos congênitos, é particularmente grave. Os imunodeprimidos com sorologia positiva desenvolvem uma encefalite. Parasita endocelular obrigatório, o T. gondii invade de preferência as células do sistema fagocítico mononuclear, os leucócitos e as células parenquimatosas. Endocitado, ele permanece no vacúolo parasitóforo sem ser digerido e aí se multiplica por um processo de brotamento interno ou endogenia. O ciclo do parasita tem uma fase sexuada na mucosa intestinal dos hospedeiros definitivos e outra assexuada nos hospedeiros intermediários. O ciclo de transmissão inclui gatos ( Figura 6.9 ), onde ocorre a fase sexuada dos toxoplasmas; oocistos por eles eliminados nas fezes podem contaminar também outros animais, como roedores e gado, que se infectam. O consumo de A tricomoníase é a DST não viral mais comum no mundo, com 170 milhões de casos novos ocorrendo anualmente. O controle da tricomoníase é constituído das mesmas medidas preventivas que são tomadas no combate a outras DSTs. Figura 6.8: Toxoplasma gondii , taquizoítas.

6 Principais doenças causadas por Protozoários Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 carne mal cozida de animais infectados também é outra via de infecção. As crianças infectam-se brincando na areia poluída por fezes de gatos. O período de incubação varia de uma semana a meses. A maioria dos casos de infecção adquiridos na infância e idade adulta é assintomática. Alguns casos podem apresentar formas subclínicas, com adenopatias e quadros febris. Pode durar semanas a até vários meses, de forma irregular, com mal-estar, cefaleia, mialgia e anorexia. A toxoplasmose congênita é a forma mais grave da doença. Mulheres grávidas com infecção crônica não contaminam seus filhos no útero, nem abortam por isso. Mas, se contraírem a infecção durante a gestação, o risco é grande, principalmente se for durante o primeiro semestre, causando lesões disseminadas no sistema nervoso e na retina. 6.2.1.5 Leishmaniose As leishmanioses acometem cerca de 1,5 milhão de pessoas por ano. Atualmente, 12 milhões de pessoas apresentam alguma forma da doença e 350 milhões estão expostas a ela em todo o mundo. As previsões para o seu controle, mesmo em longo prazo, são pessimistas. Existe uma forma potencialmente mortal de leishmaniose - a leishmaniose visceral (LV), cuja incidência tem aumentado consideravelmente no Brasil nos últimos anos. Existem também formas cutâneas chamadas de leishmanioses tegumentares (LT); dessas, algumas não têm gravidade, mas outras, embora não letais, podem causar extensas mutilações de lábios, palato, nariz e orelhas. Figura 6.9: Ciclo de vida do T. gondii. / Fonte: Adaptado de CDC.

6 Principais doenças causadas por Protozoários Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 orgânica em decomposição; daí a sua preferência por florestas e sombra. Algumas espécies se alimentam sobre várias espécies de vertebrados, inclusive o homem. Não existe nenhuma que seja exclusivamente antropofílica, isto é, que se alimente apenas sobre o homem. A situação geral no Brasil é séria. Embora as estatísticas não sejam precisas, calcula-se que, nos últimos 15 anos, o número de casos de LTA tenha dobrado. Note-se que, em parte, o número de casos pode ter aumentado graças à melhora dos métodos de diagnóstico e da capacidade dos serviços de saúde de detecção de casos da doença. De qualquer forma, existem cerca de 350 mil casos atualmente no país. A tendência é claramente no sentido do aumento desse número e isso, por duas razões: o controle da leishmaniose tegumentar é praticamente impossível, e seu tratamento complicadíssimo e pouco eficaz. A rigor, as leishmanioses são zoonoses, isto é, doenças infecciosas propagadas entre animais, das quais o homem não é um elo obrigatório, mas eventual. Dessa forma, as leishmanioses têm um ciclo natural que não depende do homem. Mas, ao se intrometer nesse ciclo, o homem pode adquirir a moléstia. Por isso, a doença é particularmente frequente entre trabalhadores Figura 6.10: Ciclo de vida da Leishmania no ser humano e no flebotomíneo. / Fonte: Adaptado de CDC.

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 e habitantes das florestas e mesmo entre invasores esporádicos das florestas, como pescadores, turistas, soldados. É muito frequente, ainda, em agentes de desmatamento e madeireiros, visto que, derrubada a floresta, os flebótomos, privados de seu repasto habitual (animais silvestres que fugiram), vêm alimentar-se no homem. As formas cutâneas da doença prevalecem na Amazônia, mas qualquer reserva florestal de qualquer parte do país pode servir como foco de infecção, como tem ocorrido em capitais do sudeste do país. Combater os flebotomíneos é impossível. Eles são ubíquos e se alimentam sobre animais silvestres, não precisando do homem para se perpetuar. Combater seus reservatórios é, igualmente, impossível porque são várias e abundantes as espécies animais (particularmente roedores) que servem de reservatórios de leishmanias. O tratamento precário da leishmaniose tegumentar também conspira contra o controle da endemia. O tratamento é baseado em antimoniais e diamidinas aromáticas e, nos casos mais graves, na anfotericina. Todavia, essas drogas são extremamente tóxicas e mal toleradas e o tratamento é prolongado. As drogas, em princípio, deveriam ser fornecidas pelos serviços de saúde, mas estão frequentemente em falta. Por essas razões, a LTA deve ser considerada uma das doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica. A LV é causada pela Leishmania chagasi e transmitida ao homem por um mosquito de hábitos domésticos, a L. longipalpis. Este se cria no peridomicílio do homem entre arbustos e plantas domésticas. O mosquito se alimenta tão bem sobre o homem como sobre o cão doméstico. Raposas são o reservatório silvestre da L. chagasi , cães são seu reservatório próximo do homem. Do cão, a leishmania pode passar facilmente ao homem. Assim, a doença tem-se expandido pelo país, visto que os elos de seu ciclo estão em toda parte: cão-mosquito-homem. A LV é considerada uma parasitose reemergente, cujos exemplos clássicos são a ocorrência da doença na área urbana de Araçatuba (SP) e São Luiz (MA). Outro grande problema com relação às leishmanioses, tanto tegumentar quanto visceral, é o seu diagnóstico. O encontro de parasitas em raspados das lesões de pele ou em punções da medula óssea confere diagnóstico de certeza, mas nem sempre esses exames são conclusivos. Métodos complementares imunológicos e moleculares, particularmente os métodos de ampli- ficação gênica por PCR, vêm mostrando-se cada vez mais úteis tanto no diagnóstico quanto na identificação das espécies de leishmanias.Todavia, o sistema público de saúde não está capacitado para a utilização desses métodos, seja pela falta de treino dos profissionais da saúde seja pela falta de reagentes e equipamentos.

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 O processo de adaptação dos triatomíneos ao domicílio humano dependeu de dois fatores que se complementaram: a necessidade alimentar do barbeiro e suas mutações genéticas ao longo do tempo. Com o desmatamento e rareamento dos animais silvestres (suas fontes naturais de alimentação), os triatomíneos passaram a alimentar-se dos animais domésticos e do homem, adaptando-se ao peridomicílio e ao domicílio. Tudo indica que a presença do T. cruzi e de seus vetores neste continente ocorre desde longa data. Entretanto, a doença humana, pelo menos em sua forma endêmica, parece relativamente recente. Ela passou a ocorrer nos ciclos da agricultura e da pecuária, períodos de desmatamento intenso. Somente encontramos triatomíneos adaptados ao domicílio em áreas desmatadas e em cerrados. Não há adaptação em áreas de mata fechada, como na Amazônia, embora ali existam dezenas de espécies de triatomíneos. A distribuição geográfica da doença de Chagas endêmica ocorre em todas as áreas onde há triatomíneos antropofílicos adaptados ao domicílio humano, do México ao sul da Argentina. Para que a infecção chagásica ocorra em condições naturais é necessário, em primeiro lugar, que haja o contato das pessoas suscetíveis com triatomíneos infectados com o T. cruzi. A trans- missão da infecção é feita pelas fezes e pela urina dos triatomíneos, que defecam imediatamente após ou durante a picada, como o T. infestans , depositando as fezes no local da picada. A infecção chagásica apresenta duas fases bem distintas: a fase aguda ou inicial, assintomática ou com poucos sintomas (maioria), ou sintomática, com febre, adenomegalia, hepaesplenomegalia, conjuntivite unilateral (sinal de Romaña), miocardite e meningoencefalite. Ela pode ser fatal em até 10% dos casos graves, a grande maioria com meningoencefalite, quase sempre fatal nos menores de dois anos de idade, segundo observações do próprio Carlos Chagas e de seus contemporâneos. Essa fase caracteriza-se pela presença do T. cruzi no exame direto do sangue. Aproximadamente dois meses após o início da fase aguda, o T. cruzi desaparece da corrente sanguínea, podendo ser detectado somente por exames especiais (xenodiagnóstico, hemocultura ou PCR). Após um período de latência de 10 a 15 anos, chamado de forma indeterminada, os pacientes podem evoluir para 3 tipos principais da doença: a. forma cardíaca, com miocardite crônica, insuficiência cardíaca e eventualmente morte súbita por arritmia cardíaca; b. forma digestiva, com megaesôfago e megacólon (aumento exagerado do esôfago ou cólon por contração dos esfíncteres correspondentes); c. forma mista, com cardiopatia e “megas” simultaneamente. Cerca de 50% dos casos, dependendo da área endêmica, permanecem na forma indeterminada, sem manifestações cardíacas ou digestivas.

6 Principais doenças causadas por Protozoários Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Desde o final da década de 1960, surgiram, respectivamente, o nifurtimox e o benzonidazol, as primeiras drogas efetivas para o tratamento da fase aguda e recente da infecção chagásica humana, mas com índices de cura muito baixos na fase crônica da doença. O seu emprego, em esquemas de duração prolongada (30 a 60 dias), causa importantes efeitos colaterais indesejáveis. Essas drogas, entretanto, são as únicas existentes para uso clínico no presente. Nos últimos 20 anos, desenvolveu-se um importante trabalho de controle do T. infestans , o principal vetor da doença de Chagas no Brasil e nos países do Cone Sul - Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. No Brasil, em 1983, 711 municípios de 11 estados estavam infestados pelo T. infestans. O número de municípios reduziu-se para pouco mais de 100 em 1997, limitando-se a presença do vetor a alguns estados. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo e, mais recentemente, Minas Gerais foram certificados como livres do T. infestans. Nos últimos anos, o programa de erradicação do T. infestans tem sido negligenciado, parti- cularmente com a descentralização dos serviços da Fundação Nacional de Saúde ( FUNASA ) para estados e municípios, que não tem a capacidade técnica e a motivação política para o controle da doença. Teme-se, portanto, a reemergência do T. infestans e da doença de Chagas, a partir dos focos residuais do inseto em cinco estados brasileiros. Também se deve considerar que nos próximos anos teremos ainda uma grande massa de pacientes já infectados para serem tratados etiologicamente e/ou com suporte clínico, aplicação de marca-passo e internações de elevado custo financeiro e social. 6.2.1.7 Malária A malária sempre foi, desde a Antiguidade, um dos principais flagelos da humanidade. Atualmente, pelo menos 300 milhões de pessoas contraem malária por ano em todo o mundo. Destas, cerca de 1,5 milhão a 2 milhões morrem. Na África, quase 3 mil crianças morrem de malária por dia. Você sabia? A malária mata, anualmente, duas vezes mais que a AIDS e muito mais que qualquer outra doença infecciosa.

6 Principais doenças causadas por Protozoários Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 O homem é o único hospedeiro, em natureza, das espécies de plasmódio, que são transmitidas de homem para homem pela picada de mosquitos hematófagos (pernilongos, carapanãs) que albergam as formas infectantes do plasmódio em suas glândulas salivares. A ocorrência de malária está intimamente associada à presença e proliferação de mosquitos do gênero Anopheles. São muitas as espécies de Anopheles , cada uma com suas preferências evolutivas e alimentares. Todas elas põem seus ovos em coleções d’água, mas algumas preferem águas paradas, outras preferem águas limpas de fluxo lento, ou sujas ou de fluxo rápido. Algumas exigem muito calor, muitas gostam de temperaturas amenas. As fêmeas alimentam-se sempre de sangue e podem ser permissivas ou exigentes quanto ao fornecedor desse sangue, picando todo tipo de animal ou um tipo de animal apenas. Os machos alimentam-se de fluidos de plantas e flores e, portanto, não transmitem a malária. Cada região do mundo tem sua fauna específica de Anopheles e a epidemiologia da malária depende da composição dessa fauna. Existem mais de 350 espécies de Anopheles em todo o Figura 6.12: Malária, ciclo de vida do Plasmodium spp. no homem e no mosquito. / Fonte: Adaptado de CDC.

Principais doenças infecciosas e parasitárias e seus condicionantes em populações humanas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 mundo, a maioria permitindo a proliferação de plasmódios em seu organismo, em laboratório, mas apenas cerca de 30 a 50 são capazes de transmitir, em natureza, os plasmódios humanos. No Brasil, a principal espécie transmissora sempre foi o Anopheles darlingi , que hoje, ausente das áreas urbanizadas brasileiras, está restrito à Amazônia. O combate ao Anopheles darlingi é impraticável. Seria preciso borrifar toda a floresta, uma vez que esse mosquito é silvestre, promíscuo, picando o homem e outros animais tanto fora como dentro do domicílio. Pelas mesmas razões, dedetizar apenas as casas é inútil. Telar as casas nem pensar, porque mosquitos entram pelos vãos das tábuas deixadas intencionalmente distantes umas das outras para fins de ventilação. O uso de mosquiteiros não faz sentido porque implica que o homem permaneça sob ele do pôr do sol ao amanhecer. Repelentes podem ser bons para turistas, não para quem tenha de usá-los dia e noite. Em medidas de saneamento básico, destinadas a eliminar criadouros de mosquitos, nem pensar. Florestas tropicais são por constituição e natureza criadouros de mosquitos. Destruí-los seria destruir a floresta. Resta o tratamento de pacientes, que, apesar de todas as dificuldades logísticas decorrentes da imensidão amazônica, é a única capaz de controlar a progressão da malária. O tratamento da malária é eficaz. As drogas são fornecidas e administradas à população por agentes dos serviços de saúde. A artemisinina é hoje usada como droga importante no tratamento da malária. O quinino é o princípio ativo da quina de uso contemporâneo.Vários medicamentos foram sintetizados, ao longo dos anos, pela indústria farmacêutica. Cada um tem uma indicação preferencial segundo o tipo de plasmódio, idade do paciente, gravidade da doença, gestação, entre outros fatores. Mas todos contribuem para que o tratamento atual da malária seja fácil e eficaz. Com tratamento adequado e em tempo hábil, hoje ninguém deveria morrer de malária. O trata- mento dos pacientes, além de curá-los, serve para limitar o alastramento da malária. Logicamente, o tratamento se destina a indivíduos com sintomas de malária. Recentemente, descobriu-se que, em regiões remotas da Amazônia, existe um número muito grande de indivíduos, talvez a maioria, que são assintomáticos, isto é, são portadores do parasita, mas não desenvolvem a doença. Esses indivíduos são nativos da Amazônia e certamente contraem infecções maláricas desde a infância. Com o tempo, e após repetidas infecções, desenvolvem um certo grau de imunidade. Quando reinfectados, têm uma forma branda da doença, sem sintomas. Por serem assintomáticos, não são detectados pelos serviços de saúde e, portanto, não são tratados. No entanto, embora sem sintomas, carregam o parasita em seu sangue e são capazes de infectar mosquitos. Dessa forma, servem de fonte de infecção para novos indivíduos, funcionando como reservatórios da doença.