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Um estudo transversal realizado entre 2015 e 2016, que identificou a prevalência e gravidade da perda ponderal involuntária (ppi) em pacientes portadores de tumores malignos. O estudo mostrou que a ppi foi verificada em 82,9% dos casos, sendo a perda grave a mais prevalente (58,6%). A ppi foi significativamente maior entre homens do que entre mulheres (81,8% vs 54,1%) e em indivíduos portadores de tumores do aparelho digestivo, cabeça e pescoço, e aparelho reprodutor masculino. A ppi foi associada à localização primária do tumor e ao gênero masculino.
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Tipologia: Notas de aula
Compartilhado em 07/11/2022
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2 (^1) Nutricionista pela Universidade Feevale (^2) Nutricionista pela UNISINOS, docente do curso de Nutrição pela Universidade Feevale e mestre em Ciências Cardiovasculares e Cardiologia pela UFGRS Endereço para correspondência: Cristina Oliveira da Silva – cristina.nutricao@hotmail.com Palavras-chave Perda de peso Estado nutricional Neoplasias Objetivo : Identificar a prevalência e a severidade da perda ponderal involuntária (PPI) em pacientes portadores de tumores malignos e fatores clínicos e terapêuticos associados. Métodos : Foi realizado um estudo transversal com setenta pacientes oncológicos assistidos pela Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo (LFCC/NH) (RS), com idade >18 anos, de ambos os gêneros. As informações clínicas foram obtidas por meio da aplicação de um questionário estruturado. O peso atual e a altura foram medidos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Universidade Feevale (RS). Resultados : A idade média dos pacientes era de 58,4 ± 12,8 anos, com maior proporção do gênero feminino (52,9%). A PPI foi verificada em 82,9% dos casos, com percentual mediano de 18,2% (Intervalo de Confiança - IC95%: 11,1 – 28,1), sendo a perda grave a mais prevalente (58,6%). A PPI foi significativamente maior entre os homens comparativamente às mulheres (81,8% vs 54,1%; p=0,027), e nos indivíduos portadores de tumores do aparelho digestivo (90%), cabeça e pescoço (78,9%) e aparelho reprodutor masculino (66,7%) (p< 0,001). Conclusão : Observou-se elevada prevalência de perda ponderal involuntária entre os pacientes ambulatoriais com câncer, principalmente a de maior gravidade. O gênero masculino e a localização primária do tumor (aparelho digestivo, cabeça e pescoço e aparelho reprodutor masculino) foram as variáveis associadas à PPI. Keywords Weight loss Nutritional status Neoplasms Objective : To identify the prevalence and severity of involuntary weight loss (IWL) in patients with malignant tumors, and clinical and therapeutic factors associated. Methods : A cross-sectional study with 70 cancer patients assisted by Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo (LFCC/NH) (RS), aged 18 years, of both genders. Clinical information was obtained by applying a structured questionnaire. The current weight and height were measured. Ethics Research Committee of University Feevale approved the study. Results : The mean age of patients was 58.4 ± 12.8 years, with a higher proportion of females (52.9%). The IWL was seen in 67.1% of cases, with median percentage of 18.2% (Confidence Interval - 95% CI: 11.1 to 28.1), and the severe weight loss was the most prevalent (58.6%). The IWL was significantly higher among men compared to women (81.8% vs 54.1%; p = 0.027), and those individuals with tumors of the digestive tract (90%), head and neck (78.9%), and male reproductive system (66.7%) (p <0.001). Conclusion : There was a high prevalence of involuntary weight loss among outpatients with cancer, especially the most serious. The male gender and the primary tumor site (digestive tract, head and neck and male reproductive tract) were the variables associated with IWL.
O câncer caracteriza-se por uma reprodução celular anormal e desordenada. Essas células passam a se diferenciar da célula de origem e a agir de forma independente do organismo^1 , além de possuírem a capacidade de invadir e acometer outros tecidos, provocando metástases, que são as grandes responsáveis por levar os pacientes a óbito^2. O processo de desenvolvimento de uma neoplasia é denominado carcinogênese ou oncogênese e, em geral, ocorre lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor detectável ao organismo^1. O surgimento do câncer resulta de agressões ao
Prevalência e gravidade da perda ponderal em pacientes com câncer RASBRAN - Revista da Associação Brasileira de Nutrição. São Paulo, SP, Ano 8, n. 1, p. 70 - 74 , Jan-Jun. 2017 - ISSN 2357 - 7894 (online)
genoma, com alterações no DNA. O acúmulo de mutações leva à perda gradual da homeostase e ao aparecimento do fenótipo celular maligno^1. O câncer está diretamente relacionado a uma multiplicidade de causas hereditárias e ambientais. A predisposição genética tem papel importante, mas é a interação entre esta susceptibilidade e o modo de vida que determina o risco do acometimento pela doença^3. Estudos epidemiológicos indicam que cerca de 70 a 80% dos casos de neoplasias estão relacionados a fatores modificáveis, como hábito de fumar, consumo de álcool, sedentarismo e dieta inadequada^1. O câncer é considerado um problema de saúde pública; no Brasil, é a segunda causa de morte, atrás somente das causadas por eventos cardiovasculares^2. A estimativa da incidência de câncer no Brasil para o ano de 2014, que será válida também para o ano de 2015, aponta para a ocorrência de aproximadamente 576 mil casos novos, reforçando a magnitude do problema do câncer no país^4. A desnutrição é altamente prevalente em pacientes oncológicos, acometendo de 30% a 80% desses doentes. A gravidade do comprometimento nutricional depende da localização tumoral, do estadiamento da doença e da terapêutica antineoplásica utilizada5,^6. O percentual de perda de peso involuntária (PPI) é o parâmetro mais preciso na identificação do risco de desnutrição, e é considerado grave quando representa mais que 10% do peso usual em um período de seis meses, sendo frequentemente o primeiro sinal verificado no paciente oncológico, precedente ao diagnóstico da doença^7. Várias alterações metabólicas e hormonais decorrentes da doença, como a produção de citocinas pró-inflamatórias pelo tumor e hospedeiro, e o consequente hipermetabolismo podem estar associados à PPI. O câncer e a depleção nutricional têm um impacto significativo nas funções orgânicas e estão associados ao maior risco de complicações, tempo de internação, e à pior qualidade de vida e prognóstico7,8. Embora o percentual da PPI seja de extrema relevância na avaliação clínico-nutricional dos pacientes, este parâmetro ainda é bastante negligenciado. No Brasil, o estudo IBRANUTRI (Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional)^9 avaliou 4 mil pacientes hospitalizados na rede pública, em 12 estados e no Distrito Federal, verificando que dados sobre o estado nutricional foram registrados somente em 18,8% dos prontuários. O peso no momento da internação foi coletado em apenas 15,1 % dos casos, e o peso habitual em 14,3%. É importante ressaltar que balanças antropométricas estavam disponíveis a 50 metros dos leitos, em 75% dos casos. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi identificar a prevalência e a severidade da perda ponderal involuntária de pacientes portadores de tumores malignos e fatores clínicos e terapêuticos associados.
Foi realizado estudo transversal, no período de agosto a outubro de 2015, com pacientes oncológicos ambulatoriais assistidos pela Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo (LFCC/NH) (RS), recrutados por meio de amostragem por conveniência dos pacientes que aguardavam atendimento na instituição, nos dias de coleta de dados. Foram incluídos no estudo indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos, com diagnóstico de neoplasia, que apresentassem capacidade cognitiva de responder o questionário proposto e condições de serem submetido à aferição de peso e altura. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Feevale (RS) (parecer de número 1. 198.647 e CAE de número 47349215.6.0000.5348). A coleta de dados foi realizada pela acadêmica pesquisadora, na sede da LFCC/NH. Para a identificação dos dados sociodemográficos dos participantes, foram coletadas informações sobre idade, estado civil, escolaridade e renda familiar, através da consulta ao prontuário eletrônico do paciente. Os dados clínicos (localização do tumor, tempo de diagnóstico do câncer, terapêutica antitumoral vigente, peso usual, perda de peso involuntária e período da perda ponderal em semanas e/ou meses e acompanhamento nutricional) foram obtidos por meio da aplicação de um questionário estruturado para realização do estudo, em entrevista individual com paciente e familiar em sala de atendimento privada. A proporção de perda ponderal foi estabelecida pelo cálculo (peso usual – peso atual) x 100/peso usual). As informações de peso atual e estatura foram verificadas em balança antropométrica mecânica (marca Welmy®, capacidade de 150 kg e sensibilidade de 0,1 kg), e a altura em estadiômetro acoplado à balança (comprimento de 2m e divisão em 0,5 cm). Posteriormente foi calculado o índice de massa corpórea (IMC). A adequação do peso corporal atual foi determinada conforme os pontos de corte de IMC propostos pela Organização Mundial da Saúde (1995)^10 e por Lipschitz (1994)^11 , para adultos e idosos, respectivamente. Enquanto a severidade da perda ponderal involuntária foi verificada através do percentual de perda de peso em relação ao período da sua ocorrência, segundo Blackburn e Bistrian (1977), em “perda moderada”: de 1 - 2% em uma semana, ou 5% em um mês, ou 7,5% em três meses ou “10% em seis meses e “perda grave”: >2% em uma semana ou
5% em um mês ou >7,5% em três meses ou >10% em seis meses.
Prevalência e gravidade da perda ponderal em pacientes com câncer RASBRAN - Revista da Associação Brasileira de Nutrição. São Paulo, SP, Ano 8, n. 1, p. 70 - 74 , Jan-Jun. 2017 - ISSN 2357 - 7894 (online)
como desnutridos (<18,5 kg/m^2 ). Reforçando que o IMC é limitado para detectar a desnutrição, e que esta pode estar presente mesmo quando os valores de IMC indicam eutrofia ou excesso de peso3,13. Na população em estudo, o sexo masculino foi um fator associado à PPI. De maneira similar, uma investigação entre pacientes internados para tratamento clínico em um hospital de São Paulo (SP), na qual quase metade da amostra (43,3%) era diagnosticada com câncer, observou que os homens apresentavam uma chance cerca de três vezes maior de desnutrição^15. Os homens tendem a buscar atendimento de saúde quando a doença já está instalada^16 , enquanto as mulheres recorrem aos serviços de saúde 1,9 vezes mais em relação ao sexo oposto^17. Possivelmente, no caso de indivíduos diagnosticados com câncer, o processo de perda de peso já esteja em curso no primeiro contato com profissionais de saúde. A localização do tumor (cabeça e pescoço, trato gastrintestinal e pulmão) constitui um indicador de risco nutricional em pacientes oncológicos^12. Na amostra avaliada, a PPI foi fortemente influenciada pelo diagnóstico de tumores primários de aparelho digestivo, cabeça e pescoço ou aparelho reprodutor masculino. Quanto às mulheres com câncer de mama, apesar da ocorrência de PPI, a sua prevalência foi significativamente menor quando comparada àquela observada nos demais tumores encontrados. As neoplasias malignas do aparelho digestivo e de cabeça e pescoço, além dos aspectos fisiopatológicos inerentes ao câncer 3,8,12^ e dos sinais e sintomas da terapia antineoplásica que dificultam o consumo de alimentos3,8,12, também constituem maior risco nutricional pelo impacto direto do tumor no trato digestivo^18 , limitando a ingestão alimentar. Da mesma forma, observa-se, nos casos das neoplasias de cabeça e pescoço que a PPI é consequência dos sintomas de impacto nutricional (disfagia, anorexia, dor, lesões na cavidade oral, dificuldade de mastigação) e de questões psicossociais como a depressão e a desfiguração da face, próprias da doença19,20. Os pacientes com diagnóstico de neoplasia do aparelho reprodutor masculino também apresentaram acentuada perda de peso. Estudos demonstram que este achado estaria associado à demora dos homens em procurar ajuda médica, chegando muitas vezes em um estadiamento mais avançado da doença21,22. A alta prevalência de PPI apresentada pelo sexo masculino pode estar associada à elevada ocorrência de câncer de próstata, sendo o segundo mais incidente no mundo e o primeiro no Brasil^23. O câncer de próstata diagnosticado no início é curável; porém, o toque retal, que é o exame o exame preventivo, realizado para a detecção, ainda é tabu para muitos homens. Segundo estudos, o medo de perder a masculinidade, a vergonha e o medo de descobrir uma doença grave são os fatores apontados para a recusa de procura médica21,22. Nas pacientes com câncer de mama avaliadas, a prevalência de PPI foi inferior àquela verificada nos demais sítios tumorais encontrados no estudo. É de conhecimento que mulheres com câncer de mama e sob quimioterapia podem cursar tanto com a perda quanto com o ganho ponderal, este mais comum. Ambas as alterações de peso contribuem para o pior prognóstico da doença24,25. Dentre as limitações do presente estudo pode-se citar o pequeno tamanho amostral, assim como a ausência de informação quanto ao estadiamento da doença destes indivíduos, já que este pode ser um fator ligado à PPI nessa população.
Conclui-se que este grupo de pacientes ambulatoriais portadores de tumores malignos apresenta elevada prevalência de perda ponderal involuntária (PPI), principalmente a de maior gravidade. O gênero masculino e a localização primária do tumor (aparelho digestivo, cabeça e pescoço e aparelho reprodutor masculino) foram as variáveis associadas à PPI na população avaliada. Os resultados obtidos nesse trabalho enfatizam a necessidade de reconhecimento precoce dos fatores de risco nutricional nesses pacientes, de forma que a intervenção nutricional possa contribuir para minimizar os efeitos catabólicos da doença, melhorar a resposta ao tratamento e a qualidade de vida desses indivíduos.
Cristina Oliveira da Silva e Simone Bernardes