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Positivismo: Uma Abordagem Filosófica e Sociológica, Notas de aula de Estática

Os integrantes do Apostolado Positivista fundado no Brasil, que teve em Raimundo. Teixeira Mendes e Miguel Lemos seus principais doutrinadores e em Benjamin ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Fatima26
Fatima26 🇧🇷

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POSITIVISMO
O positivismo é uma das doutrinas filosóficas derivadas do iluminismo. Sua origem
mais remota se encontra em Condorcet, filósofo vinculado à Enciclopédia, para quem era
possível criar-se uma ciência da sociedade com base na matemática social, de acordo com
Michael Löwy. Mas foi com Augusto Comte (1798-1857) que o positivismo se tornou uma
escola filosófica. Comte era formado em noções de matemática, frequentou a École
Polytechnique de Paris e, logo após a Restauração dos Bourbons, aproximou-se do filósofo
Saint Simon, tornando-se seu secretário particular, mas divergindo de suas idéias políticas.
Em 1830 surgiu o primeiro volume de seu Cours de philosophie positive. Ao longo de
aproximadamente uma década concluiu essa sua obra de referência, cujo último volume foi
publicado em 1842. Mas o trabalho conclusivo de Comte foi o Système de politique
positive, editado entre 1852 e 1854, em plena maturidade intelectual.
O sociólogo e acadêmico Evaristo de Morais Filho lembra a necessidade de se situar
as ideias em seus contextos históricos, para que se possa melhor compreendê-las. Nesse
sentido, a época do positivismo foi marcada pela profunda transformação material e
espiritual trazida pela Revolução Industrial, e pelas intensas e significativas transformações
ensaiadas e realizadas, integral ou parcialmente, pela Revolução Francesa. É nesse contexto
bafejado pelo ideário difundido pelas ideias francesas a transitar mundo afora que se situa o
conjunto de formulações do pensamento de Comte.
Os fundamentos do positivismo consistem na busca de uma explicação geral diante
de um fenômeno derivado da industrialização: a crescente especialização. Comte procurou
fazer de sua filosofia um instrumento para manter plena a perspectiva do geral, da visão
macro. Fundou, assim, a física social, nome que ensejou o aparecimento da sociologia. Essa
ciência se baseou no modelo de investigação comum às ciências empíricas particulares,
com vistas a “descobrir as regras que governam a sucessão e a coexistência dos
fenômenos”. A denominação decorreu da importância que a física tinha até então, e a
“nova” ciência por ele concebida aplicaria procedimentos metodológicos de observação dos
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POSITIVISMO

O positivismo é uma das doutrinas filosóficas derivadas do iluminismo. Sua origem mais remota se encontra em Condorcet, filósofo vinculado à Enciclopédia , para quem era possível criar-se uma ciência da sociedade com base na matemática social, de acordo com Michael Löwy. Mas foi com Augusto Comte (1798-1857) que o positivismo se tornou uma escola filosófica. Comte era formado em noções de matemática, frequentou a École Polytechnique de Paris e, logo após a Restauração dos Bourbons, aproximou-se do filósofo Saint Simon, tornando-se seu secretário particular, mas divergindo de suas idéias políticas. Em 1830 surgiu o primeiro volume de seu Cours de philosophie positive. Ao longo de aproximadamente uma década concluiu essa sua obra de referência, cujo último volume foi publicado em 1842. Mas o trabalho conclusivo de Comte foi o Système de politique positive , editado entre 1852 e 1854, em plena maturidade intelectual. O sociólogo e acadêmico Evaristo de Morais Filho lembra a necessidade de se situar as ideias em seus contextos históricos, para que se possa melhor compreendê-las. Nesse sentido, a época do positivismo foi marcada pela profunda transformação material e espiritual trazida pela Revolução Industrial, e pelas intensas e significativas transformações ensaiadas e realizadas, integral ou parcialmente, pela Revolução Francesa. É nesse contexto bafejado pelo ideário difundido pelas ideias francesas a transitar mundo afora que se situa o conjunto de formulações do pensamento de Comte. Os fundamentos do positivismo consistem na busca de uma explicação geral diante de um fenômeno derivado da industrialização: a crescente especialização. Comte procurou fazer de sua filosofia um instrumento para manter plena a perspectiva do geral, da visão macro. Fundou, assim, a física social, nome que ensejou o aparecimento da sociologia. Essa ciência se baseou no modelo de investigação comum às ciências empíricas particulares, com vistas a “descobrir as regras que governam a sucessão e a coexistência dos fenômenos”. A denominação decorreu da importância que a física tinha até então, e a “nova” ciência por ele concebida aplicaria procedimentos metodológicos de observação dos

fenômenos históricos e sociais. Foi preciso estar em consonância com o tempo, a exigir precisão e sistematicidade em face dos problemas e desafios colocados pela modernização. A questão do método ganhou dimensão em sua concepção de produção de um saber científico, daí a surgir o princípio da lei. Para Comte, só existiria verdadeiramente ciência no caso de os fenômenos permitirem, a partir da observação das relações e de suas manifestações, antever os desdobramentos futuros. A previsão, portanto, criaria a possibilidade de se perceber com alguma antecedência as etapas da evolução histórica. Assim, no dizer de Patrick Gardiner, “característica própria do quadro de referência positivista nas ciências sociais é a pesquisa, através da observação de dados da experiência, das leis gerais que regem os fenômenos sociais. A constância ou a regularidade dos fenômenos constatados leva a generalizar a partir deles, isto é, a formular leis positivas”. Com essa base teórica e metodológica surgiu a Teoria dos Três Estados. Essa teoria se encontrava fundamentada em seu método, que consiste em bases históricas, com um tratamento abstrato a consagrar as grandes linhas evolutivas da humanidade. Em sua concepção prospectiva preconizava que dois elementos se completam para a explicação dos processos: a estática e a dinâmica. A estática representaria a própria estrutura da sociedade. Ela se ocuparia das leis da harmonia social, da hierarquia, das classes e dos indivíduos. De certa maneira, a estática sugere a idéia de ordem. Os fatos dentro dessa ordenação são interdependentes, mas solidários. Por sua vez, a dinâmica identificaria a ação humana, e no estágio científico da humanidade a indústria teve lugar privilegiado. Ela se encarregaria de conduzir o progresso aos níveis mais avançados possíveis, sempre em conexão com os interesses dos impulsos do homem. Sua tarefa seria o domínio absoluto da natureza, de modo que todas as ciências pudessem caminhar irmanadas no sentido das conquistas do bem-estar social. Mas para que esse estágio supremo, positivo, da humanidade se concretizasse seria preciso que se completassem os processos pelos quais se conformaria a sociedade científica, já desprovida dos entraves perpetrados pelas forças retrógradas do passado.

Marx, a burguesia desempenhou um papel revolucionário quando de seu surgimento como classe social emergente no cenário histórico mundial. A componente política do positivismo, aquela que migrou para outras fronteiras nacionais, como a brasileira, possuía um fundamento autoritário. A sustentação do princípio de uma república unitária, na qual o primeiro dos cidadãos agiria ditatorialmente, no sentido de possuir a faculdade de ditar os anseios do povo, criou interpretações antidemocráticas, sobretudo amparadas em ambientes de forte tradição política mandonista. Dessa maneira, a combinação da leitura positivista na esfera da política com os valores embasados no jacobinismo e nas tradições patrimonialistas produziram uma cultura política que esteve a alimentar uma das vertentes de República nos primórdios do regime republicano brasileiro. Os integrantes do Apostolado Positivista fundado no Brasil, que teve em Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos seus principais doutrinadores e em Benjamin Constant Botelho de Magalhães seu líder, inspiraram os dizeres da bandeira brasileira, com o lema Ordem e Progresso e se empenharam em dar suporte à idéia de uma República unitária, capaz de pôr em prática as vontades gerais. Esse projeto não logrou êxito, não pela força dos que o rejeitaram, mas pela incapacidade de seus membros ao não praticar a política como instrumento de persuasão, de convencimento argumentativo. Do positivismo no Brasil ficou apenas a herança doutrinária.

Lincoln de Abreu Penna

Fontes: BRUYNE, P. Dinâmica ; GARDINER, P. Teorias ; LINS, I. História ;

LÖWY, M. Ideologias ; MENDES, R. Benjamin ; MORAES FILHO, E. Comte.