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Van Fraassen's Constructive Empiricism and Observation: A Compatible Perspective, Notas de aula de Tradução

Este documento discute a noção de observação na filosofia da ciência de van fraassen, especificamente em relação à sua posição de empirismo construtivo. Van fraassen propõe uma alternativa ao realismo científico, enfatizando a construção de modelos em vez da descoberta e a adequação a fenômenos em vez da verdade. O texto aborda as implicações da distinção entre observáveis e inobserváveis, a relação entre teoria e observação, e a complexidade do processo causal que resulta na observação.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Gaucho_82 🇧🇷

4.6

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Alessio Gava
POR UMA REFORMULAÇÃO DO EMPIRISMO
CONSTRUTIVO A PARTIR DE UMA REAVALIAÇÃO
DO CONCEITO DE OBSERVABILIDADE
Universidade Federal de Minas Gerais
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Belo Horizonte 2015
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Alessio Gava

POR UMA REFORMULAÇÃO DO EMPIRISMO CONSTRUTIVO A PARTIR DE UMA REAVALIAÇÃO DO CONCEITO DE OBSERVABILIDADE

Universidade Federal de Minas Gerais

Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Belo Horizonte 2015

Alessio Gava

POR UMA REFORMULAÇÃO DO EMPIRISMO CONSTRUTIVO A PARTIR DE UMA REAVALIAÇÃO DO CONCEITO DE OBSERVABILIDADE

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Filosofia. Linha de pesquisa: Lógica e Filosofia da Ciência Orientadora: Profa. Dra. Patrícia Maria Kauark Leite

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eral de Minas Gerais

Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Belo Horizonte 2015

Abstract

The concept of observability is of key importance for a consistent defense of Constructive Empiricism. This anti-realist position, originally presented in 1980 by Bas van Fraassen in his book The Scientific Image , crucially depends on the observable/ unobservable dichotomy. Nevertheless, the question of what it means to observe has been faced in an unsatisfactory and inadequate manner by van Fraassen and this represents an important lacuna in his philosophical position. The aim of this work is to propose a characterization of the act of observation able to give the necessary support to the ‘rough guide’ of ‘observable’ that can be found in the aforementioned book. Countering van Fraassen’s own statements, that observability is not a matter for philosophy, but for scientific inquiry only, we maintain that any attempt to deal with this subject by the philosophers is legitimate. We will show that van Fraassen ended up doing a philosophical analysis of observation himself, albeit in a fragmentary way. We believe that this question should be dealt with methodically, though, ‘following the rules’ of a ‘proper’ philosophical analysis, as we attempted to do in this work. We will propose a way of conceiving the act of observation, different from van Fraassen’s one, that can help not only to ground the distinction between observable and unobservable, upon which Constructive Empiricism rests, but to get this anti-realist position closer to scientific practice as well, which is one of its desiderata. Without neglecting the philosophical dimension of the issue, though. However, this proposal does not represent an ad hoc ‘solution’ for Constructive Empiricism, but a characterization aspiring to have a universal reach.

Keywords: observation; observable; perception; Constructive Empiricism; van Fraassen; anti-realism.

Lista de figuras

SUMÁRIO

  • Figura 1 – Observação do arco-íris p.
  • Figura 2 – O fenômeno do arco-íris p.
  • Figura 3 - Fenômeno da miragem em uma região quente p.
  • Figura 4 - Fenômeno da fata morgana em uma região fria p.
  • Figura 5 - Imagem de um brinquedo Mirage p.
  • Figura 6 – Como funciona o brinquedo Mirage p.
  • Figura 7 - Visão através do espelho retrovisor de um carro p.
  • Figura 8 – Paramécio p.
  • INTRODUÇÃO
    1. Empirismo construtivo e observação
  • 1.1 O empirismo construtivo e a maneira de conceber as teorias científicas...................
  • 1.2 A questão da observabilidade....................................................................................
  • 1.3 O ‘problema de Musgrave’........................................................................................
  • 1.4 A definição rigorosa de Muller..................................................................................
  • 1.5 A de Muller................................................................................................................. empiricidade de ‘observável’ e os problemas da definição (e da política epistêmica)...
  • 1.6 A necessidade de caracterizar ‘observar’...................................................................
    1. A Fraassen teoria pragmática da observação e a sua caracterização por parte de van
  • 2.1 O processo de observação segundo van Fraassen......................................................
  • 2.2 O antropomorfismo da observação............................................................................
  • 2.3 2.4 OAbservação é percepção distinção entre ‘observar’ e ‘observar que’................................................ ‘sem ajuda’.....................................................................................
  • 2.5 O objeto da observação..............................................................................................
    1. O objeto da observação: uma proposta
  • 3.1 O objeto da percepção................................................................................................
  • 3.2 O caso do arco-íris e a questão ontológica.................................................................
  • 3.3 É possível ver imagens?.............................................................................................
  • construtivo 4. Uma caracterização de observação como ação e a sua viabilidade para o empirismo
  • 4.1 As condições contrafáticas relevantes da percepção..................................................
  • 4.2 Uma proposta de ‘definição’ de observação..............................................................
  • 4.3 Consequências da adoção de um padrão internalista..................................................
  • 4.4 Um caso (muito comum) de observação mediada por instrumentos..........................
  • 4.5 4.6 A questão dos limites da observabilidade e da adequação empírica.......................... 258Observação, voluntarismo e justificação....................................................................
  • 4.7 A observação envolve conceitos?...............................................................................
  • 4.8 A ‘penumbra’..............................................................................................................
    1. Conclusão: sobre a ‘naturalização’ da observação
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................

Mas os axiomas em si, e os teoremas deles derivados, sem algum tipo de ancoração ao plano da experiência, constituem apenas um cálculo não-interpretado, dizem os empiristas lógicos. São necessárias ‘regras de correspondência’, que amarrem os conceitos primitivos, ou aqueles definidos explicitamente a partir deles, a conceitos que se referem a itens da observação, para que a rede não flutue no ar, sem conexão alguma com o ‘solo’ da experiência. Em outras palavras, é somente através de um conjunto de interpretações (as ‘definições coordenativas’ de Reichenbach, ou ‘regras de correspondência’ de Carnap (cf. Feigl [1970] 2004, 268), que o sistema de postulados adquire significado empírico.

Na segunda metade do século, todavia, essa maneira de entender as teorias científicas passou a ser bastante criticada. Em 1962, Hilary Putnam publicou um artigo emblematicamente entitulado “What theories are not”, no qual desaprovou de modo aberto a visão de Carnap e dos outros neopositivistas acerca da estrutura das teorias. Mas foram vários os autores que atacaram a chamada ‘visão ortodoxa’, dentre eles Karl Popper, Paul Feyerabend, Thomas Kuhn e Norwood Russell Hanson. Quando em 1980, o empirismo voltou a ser defendido como posição respeitável em filosofia por Bas van Fraassen – a ponto de esse propor, no livro A Imagem Científica , uma nova visão acerca da ciência e de seus objetivos, que batizou de ‘empirismo construtivo’ – , a maneira de entender as teorias da vertente empirista dos herdeiros dos círculos de Viena e de Berlim foi manifestamente recusada pelo filósofo holandês.

Van Fraassen foi além e chegou a propor uma mudança do foco de atenção, de uma preocupação para com a estrutura das teorias científicas, que ele concebe como classes de modelos, normalmente matemáticos, e não como conjunto de axiomas e teoremas

enunciados em uma linguagem específica, para uma análise da relação entre as teorias científicas e o mundo (cf. van Fraassen [1980] 2007a, 126). Isso decorre do fato de ele definir a sua própria visão acerca da ciência em termos do objetivo dessa última, que seria, segundo a sua reconstrução, nos fornecer teorias que sejam empiricamente adequadas, ou seja, que ‘salvem os fenômenos’, no sentido das partes observáveis do mundo, conforme o antigo ditado (cf. van Fraassen 2007 a, 22 e 2008, 286). É por isso que van Fraassen, mesmo permanecendo no sulco da tradição empirista, desloca o foco para a dimensão semântica das teorias, aquela da relação entre essas e o mundo, pois, segundo ele, “a atividade científica é uma atividade de construção, em vez de descoberta: construção de modelos que devem ser adequados aos fenômenos” (van Fraassen 2007a, 22). Essa modificação de perspectiva, que diz respeito ao aspecto das teorias científicas sobre o qual a filosofia deveria deter-se, abrange contudo até o estudo da estrutura dessas – sem contar que uma análise semântica das mesmas permite avaliar até suas propriedades sintáticas (cf. van Fraassen 2007a, 86-87). Com efeito, se a abordagem própria do neopositivismo, que privilegiava a dimensão propriamente sintática (como diz o filósofo holandês, de modo talvez apressado) da constituição de nossas armações teóricas, concentrava-se quase exclusivamente em questões linguísticas, a ponto de conceber a possibilidade de uma teoria ser um simples cálculo não interpretado, aquela adotada por van Fraassen considera tudo isso irrelevante e até errado, pois as teorias científicas, mesmo que necessitem de uma linguagem para serem expressas, são antes de tudo representações do mundo, que podem ser formuladas de modos diferentes – e podem conter elementos não necessariamente linguísticos (diagramas e representações gráficas, por exemplo).

no ‘nível de adequação empírica’ das mesmas, o filósofo holandês precisa de uma viável distinção entre o que é observável e o que não é, conforme ele mesmo explicou no prefácio à edição grega de A Imagem Científica , dez anos atrás (cf. van Fraassen 2004, 1). Se, nessa obra, até fornece um ‘guia grosseiro’ de ‘observável’, todavia, ainda assim ele diz muito pouco na hora de caracterizar o que significa ser observável, o que não deixa de ser surpreendente, como nos faz notar Frederick Suppe (cf. Suppe 1989, 25-30). Falta, por exemplo, uma análise sistemática do ato de observação, do qual, evidentemente, a caracterização de ‘observável’ é parasitária. Isso foi salientado também, em época recente, por Elliott Sober. Segundo esse, já que a distinção entre observáveis e inobserváveis é central para o empirismo de van Fraassen, seria oportuno que ele nos dissesse o que significa observar um objeto. Porém, o autor de A Imagem Científica recusa-se a fazê-lo (cf. Sober 2008, 130-131). A esses e aos outros autores que, com razão, criticaram van Fraassen por não ter se detido de modo satisfatório sobre a questão da observabilidade, apesar de ela desempenhar um papel fundamental para o empirismo construtivo, esse sempre respondeu que os filósofos não deveriam ocupar-se do assunto, pois trataria-se de matéria para as ciências empíricas e não para uma análise filosófica. No entanto, é possível dizer que existe ( sic! ) uma caracterização fraasseniana da observação. Ela foi apresentada, como resultado de uma análise dos ‘fragmentos’ presentes em A Imagem Científica , no início do segundo capítulo. Estamos convictos de que van Fraassen de fato contraria suas próprias recomendações e acaba propondo, se bem que de modo ‘pulverizado’, uma certa maneira de conceber o ato de observação, que não encontra suporte em nenhuma pesquisa empírica ou teoria científica , com base na qual até tomou posição, ao longo dos anos, sobre o

estatuto de observabilidade de várias entidades postuladas pela ciência (astros, partículas subatômicas, bicicletas, pedras, paramécios, etc.). Ao analisarmos detalhadamente a maneira pela qual o filósofo holandês caracteriza a observação, ficará claro que essa é na verdade bastante peculiar, apesar de ele defender que se utiliza do verbo ‘observar’ em sua acepção corriqueira (cf. van Fraassen 1992, 18). Seu modo de conceber o termo, ademais, parece ser mais o efeito de uma certa interpretação daquilo que significa ser empirista, ainda tendo como referência a noção de experiência , do que da adoção do uso ordinário. A discussão sobre o emprego de instrumentos, ponto notoriamente polêmico da posição de van Fraassen acerca da questão da observação, é emblemática a esse respeito, tanto que é até possível enunciar (como faremos, ainda no segundo capítulo) um critério que certamente o filósofo holandês endossa para discriminar quais detecções instrumentais se qualificam como observações – e que parece estar longe da opinião comum (até entre os cientistas) sobre o que significa ‘observar’. Enfim, é possível dizer que já em A Imagem Científica está presente uma análise filosófica da questão da observação, embora não circunstanciada como a relevância do assunto exigiria – tanto que autores como Sober até negam que essa análise esteja presente nos textos do filósofo holandês. Ela é o resultado, entre outras coisas, de um distanciamento crítico em relação a como a maioria dos cientistas e dos leigos interpreta o verbo ‘observar’ e desenvolveu-se e encontrou espaço na obra de van Fraassen das últimas três décadas. Sendo assim, julgamos legítima qualquer análise e proposta alternativas a como o autor de A Imagem Científica entende a observação, mesmo que sejam realizadas segundo os ‘preceitos’ da filosofia. É isso que tentamos fazer neste trabalho, apresentando, no terceiro e no quarto capítulos, uma maneira de conceber o objeto da percepção e,

e existem outras interpretações que podem ser adotadas sem que isso modifique a substância dessa vertente antirrealista, como já Ian Hacking tinha salientado (cf. Hacking 1983, 208) e o próprio filósofo holandês parece admitir em seu último livro (cf. van Fraassen 2008, 110). Uma outra consequência relevante da caracterização da observação apresentada neste estudo é que ela acompanha de modo efetivo a prática científica, segundo um dos desiderata do empirismo construtivo, aproximando-se da mesma, enquanto a maneira de conceber o ato de observação que transparece nos textos fraassenianos se mantém distante e não parece condizer com a ideia de que essa vertente antirrealista persegue o objetivo de ‘dar conta’ da atividade científica. Isso poderia ser lido como um propósito de naturalização da posição de van Fraassen, ao passo que esse sempre foi claro em sua recusa das tentativas nesse sentido em epistemologia, mas mostraremos, no capítulo conclusivo deste estudo, que não é esse o caso – apesar de que, ainda que fosse, não haveria incompatibilidade nenhuma com a sua rejeição das alternativas ‘científicas’ à abordagem tradicional fundacionalista (também considerada inviável) acerca de nosso conhecimento do mundo. Enfim, estamos persuadidos de que o modo de entender a observação apresentada no presente trabalho não se limita a ser compatível com o empirismo construtivo, mas representa uma válida alternativa à maneira em que van Fraassen concebe o ato de observação e que a muitos pareceu demasiado distante da prática científica efetiva ou até pouco relevante (cf. Chang 2004b, 85-86). Em vista disso, acreditamos que ela poderia ser adotada como complemento do ‘guia grosseiro’ de ‘observável’ que se encontra em A Imagem Científica e que os benefícios disso seriam maiores que os (eventuais) prejuízos.

1. Empirismo construtivo e observação

“…and everything that lay beyond the circle of familiar experience was a playground for all the fabled beings of mythology” (Joanna Kavenna – The Ice Museum)

1.1 O empirismo construtivo e a maneira de conceber as teorias científicas

Em 1980, em uma época em que declarar-se empirista em filosofia da ciência parecia querer defender uma posição derrotada e ultrapassada, o holandês Bas van Fraassen publicou um livro destinado a reverter essa situação e que ainda hoje constitui uma importante referência no debate acerca do empreendimento científico. The Scientific Image foi traduzido e editado em vários países do mundo e, em 2007, publicado no Brasil, com o título de A Imagem Científica. Nele, van Fraassen propõe uma alternativa ao realismo científico, que chamou de empirismo construtivo e que, apesar de representar uma nova versão do empirismo, se propõe como posição igualmente distanciada tanto do realismo quanto do positivismo lógico, vertente que, segundo o autor, “teve um fracasso bastante espetacular” (van Fraassen 2007a, 22). Em A Imagem Científica , a maneira neopositivista de considerar as teorias científicas é resumida com as seguintes palavras:

‘sintática’ não pode ser atribuído ao conjunto da obra dos neoempiristas. Mas até em relação ao modo no qual esses estudaram e apresentaram a estrutura das teorias científicas o adjetivo não parece calhar de modo muito adequado, como veremos. Em A Imagem Científica , de qualquer maneira, van Fraassen evita identificar a posição neopositivista com a abordagem sintática, apesar de não fazer menção ao trabalho de Carnap em semântica, mas é claro que essa abordagem é própria da vertente antirrealista dos herdeiros dos círculos de Viena e de Berlim e isso é posto em evidência pelo filósofo holandês. Van Fraassen, com efeito, não está interessado em reconstruir a trajetória de Carnap e do neopositivismo e sim em marcar a distância da sua própria vertente antirrealista daquela que chegou a dominar a filosofia da ciência durante boa parte do século XX, e essa certamente se distinguiu pelo viés linguístico com o qual enfrentou não somente questões referentes à ciência, como também as questões filosóficas de maneira geral (e a abordagem sintática parece ser considerada por van Fraassen e outros autores como o emblema da ênfase posta na linguagem pelos empiristas lógicos), o que torna manifesta a profunda influência da obra de Wittgenstein no pensamento neopositivista.^4 Tendo isso em vista, o filósofo holandês considera como a máxima expressão do empirismo lógico o clássico artigo de Carnap, de 1956, The methodological character of

semântica e pragmática. As propriedades sintáticas de uma expressão são determinadas somente por suarelação com outras expressões, independentemente de seu significado ou de sua interpretação. As propriedades semânticas, ao invés, dizem respeito à relação da expressão com o mundo. No caso de umasentença, por exemplo, diz van Fraassen, a verdade é a propriedade semântica mais importante (cf. van Fraassen 2007a, 162-167). (^4) Em um recente artigo, Gelson Liston mostra como de fato, para Carnap, os problemas filosóficos são puramenteidentificação da filosofia com a sintaxe lógica da linguagem, que surge como consequência de duas teses por linguísticos. Segundo o que o filósofo alemão afirmou nos anos 30, pois, subsiste uma ele afirmadas ema sintaxe da linguagem A sintaxe lógica da linguagem da ciência (cf. Liston: (a) a filosofia é a lógica da ciência; (b) a lógica da ciência é 2013, 141). Essa posição foi suavizada em seguida, reconhecendo a importância também da semântica e da pragmática, mas a centralidade da linguagem nuncafoi posta em discussão por Carnap.

theoretical concepts ,^5 no qual se diz que o vocabulário da ciência é dividido em duas classes, aquela dos termos observacionais e aquela dos termos teóricos (cf. van Fraassen 2007 a, 36). A linguagem da ciência, pois, segundo afirma Carnap, pode ser repartida em linguagem observacional ( (^) LO ) e linguagem teórica ( (^) LT ). (^) LO é constituída por termos que

designam propriedades e relações observáveis, utilizadas para descrever objetos e eventos observáveis. LT , ao invés, contém termos que podem fazer referência a objetos e eventos

inobserváveis ou aspectos deles, como é explicado na abertura do artigo (cf. Carnap 1956, 38).^6 A linguagem teórica é empiricamente significativa se desenvolve uma função positiva para a explicação e a previsão de eventos observáveis. Para se dizer empirista, limitando-se ao domínio daquilo que é estritamente observável, se lê em A Imagem Científica , era necessário, no âmbito dessa abordagem, restringir a linguagem à sua parte não-teórica (cf. van Fraassen 2007a, 149). Com esses pressupostos, todas as questões acerca das teorias científicas tornavam-se questões acerca da linguagem. Esse viés linguístico, no entanto, levou vários filósofos a se ocuparem de problemas técnicos que van Fraassen julga totalmente irrelevantes, como o teorema de Craig, a sentença de Ramsey, etc.^7 Quanto a restringir a linguagem à sua parte não-teórica, van Fraassen, apesar de muito cético, admite não ser impossível a priori a construção de uma linguagem observacional pura. No entanto, para ele, “tal projeto perde todo interesse quando aparece (^5) Segundo Salmon, o cume do positivismo lógico é um outro trabalho de Carnap, o seminal livro A construção lógica do mundo (^6) A importância dessa distinção para o neopositivismo é salientada por Mauro Murzi:, de 1928 (cf. Salmon 1999, 334). “A distinção entre termos teóricos e termos observacionais é um princípio Carnap sobre as teorias científicas depende desta distinção (^) ”fundamental do positivismo lógico, e a visão de (Murzi 2001, 3). (^7) Quando, nos anos 30, Carnap de fato trabalhou com o aspecto formal da linguagem em um viés meramente sintático, o fez com o intuito de ‘desocupar o terreno’ de questões que para ele nada mais eram dpseudoquestões, como por exemplo a natureza dos objetos matemáticos. Isso o levou até a escrever, em 1928,o que o livro surgir pseudoquestões, como van Fr Pseudoproblemas em Filosofia aassen salientou.. Mas, ao que parece, foi a abordagem linguística que, ao contrário, fez