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professor Hermenegildo Bastos sobre um poema de Murilo Mendes – “Murilograma a. Graciliano Ramos”1 – no qual é evocado o personagem de Vidas secas, Fabiano, ...
Tipologia: Slides
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Decanato de Pós-Graduação e Pesquisa Instituto de Letras Departamento de Teoria Literária e Literaturas Programa de Pós-Graduação em Literatura
Paulo Cesar da Costa
Ana Laura dos Reis Corrêa Orientadora
Brasília Julho – 2014
Decanato de Pós-Graduação e Pesquisa Instituto de Letras Departamento de Teoria Literária e Literaturas Programa de Pós-Graduação em Literatura
Paulo Cesar da Costa
Ana Laura dos Reis Corrêa Orientadora
Dissertação de Mestrado Acadêmico apresentada aoPrograma de Pós-Graduação em Literatura (PPGL) do Departamento de Teoria Literária e Literaturas – TEL, do Instituto de Letras – IL, da Universidade de Brasília
Brasília Julho – 2014
Ao MST, pelo qual pude transpor barreiras materiais e imateriais podendo ter acesso à literatura. Ao professor Hermenegildo e ao grupo Literatura e Modernidade Periférica, pelas ideias tenras de que me nutri por meio das aulas e discussões. A Ana Laura, pela orientação e pelo compromisso verdadeiro que pudemos assumir mutuamente. Ao Tiago, Deane e, mais uma vez, Ana Laura, pelo apoio e pelo verdadeiro companheirismo nos momentos de maior dificuldade.
Esta dissertação propõe o estudo de Vidas secas a partir da relação entre poesia e realidade. O ponto de partida deste trabalho foi o poema “Murilograma a Graciliano Ramos”, de Murilo Mendes, por meio do qual se percebe tanto a relação de continuidade e ruptura existente no sistema literário brasileiro, quanto a força poética de Vidas secas , que é extraída por Murilo Mendes e condensada no seu poema, dedicado ao romance e a seu autor. Tendo como hipótese que o poema de Murilo Mendes evidencia a presença da poesia na ficção de Graciliano Ramos, procuramos, neste trabalho, reconhecer na linguagem econômica, na concisão e no silêncio, que caracterizam a composição de Vidas secas , uma força poética que recusa o descritivismo e a representação literária puramente documental, para alcançar uma formulação estética realista, no sentido de ser um reflexo profundo da realidade. Para tanto, analisamos a paisagem poética de Vidas secas e as relações entre poesia e história no romance, considerando que, a partir de uma linguagem condensada e poética, Graciliano Ramos capta a poesia íntima das coisas, da vida dos homens, especialmente do personagem popular, e da história em sua totalidade.
Palavras-chave: poesia, realismo, história, personagem popular, Vidas secas.
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O presente trabalho é fruto do aprofundamento de uma reflexão sobre a obra Vidas secas , de Graciliano Ramos, e tem como foco inicial a dimensão estética da paisagem nordestina no referido romance.
A questão que nos levou a este ponto surgiu de uma discussão nas aulas do professor Hermenegildo Bastos sobre um poema de Murilo Mendes – “Murilograma a Graciliano Ramos”^1 – no qual é evocado o personagem de Vidas secas , Fabiano, e no qual também aparecem transfigurados poeticamente elementos da paisagem do nordeste brasileiro: “cacto já se humanizando”, “solo sáfaro”, “tábua seca do livro”, “tachando a flor de feroz”, “desejos amarelos” “o sol ulula”, “o homem do deserto”.
O direcionamento da pesquisa para a obra, abordando a paisagem, se deu, precisamente, a partir da constatação de sua presença discreta, mas decisiva, em um dos capítulos de Vidas secas , o capítulo “O mundo coberto de penas”. Constatamos que esse capítulo se inicia com uma descrição da paisagem, que, embora breve e concisa, constitui um quadro fechado e completo perfeitamente ajustado ao desenvolvimento da narrativa, que depois põe em movimento as personagens. O quadro, se assim podemos chamar, que compõe a descrição inicial não passa de um parágrafo de escrita, mas nele se delineiam aspectos importantes das ações que se seguem no capítulo. Notadamente, temos nesse parágrafo os delineamentos de uma paisagem.
De outro ângulo, demonstra-se evidente que o capítulo é o cenário de uma modificação nos rumos das personagens do romance, ou seja, está em evidência no capítulo o desenvolvimento de uma ação. É no interior desse capítulo que ocorre uma (^1) MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. (org. Luciana S. Picchio). Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1995.
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Esta constatação foi o ponto de partida da pesquisa, mas não exatamente o ponto de chegada. O ponto de chegada foi muito mais um resultado da combinação entre um elemento mais pessoal, subjetivo, por assim dizer, ou seja, a nossa percepção decorrente duma leitura de Vidas secas , que parte do capítulo “O mundo coberto de penas”, e o tema da paisagem que buscamos investigar sob o ponto de vista da crítica. Procuramos, neste sentido, evidenciar o caráter da continuidade já ressaltada por Luís Bueno, que descarta a ideia de os capítulos de Vidas secas serem de todo autônomos, embora tenhamos privilegiado na nossa leitura o penúltimo capítulo da obra.
Quanto às relações que se pode fazer sobre o fato de a nossa obra ser, por assim dizer, retomada no poema de Murilo Mendes, elas são, sem dúvida, infinitas. Consideremos, por exemplo, a menção no texto breve de Otto Maria Carpeaux em que o referido autor fala da tendência lírica de Vidas secas :
Quer eliminar tudo o que não é essencial: as descrições pitorescas, olugar-comum das frases feitas, a eloquência tendenciosa. Seria capaz de eliminar ainda páginas inteiras, eliminar os seus romances inteiros,eliminar o próprio mundo. Para guardar apenas o que é essencial, isto é, conforme o conceito de Benedetto Croce, o "lírico". O lirismo deGraciliano Ramos, porém, é bem estranho. (...) O lirismo de Graciliano Ramos é amusical, adinâmico, estático, sóbrio, clássico,classicista, traindo, às vezes, um oculto passado parnasiano do escritor. Não quer agitar o mundo agitado; quer fixá-lo, estabilizá-lo.Elimina implacavelmente tudo o que não se presta a tal obra de escultor,monumentos de baixeza. dissolve-o em 3 ridicularias, para dar lugar aos seus
Dados como este poderiam nos levar sem dúvida a resultados muito interessantes se, partindo deles, nos encaminhássemos para uma pesquisa em que se perseguissem os pontos de contato entre Murilo Mendes e Graciliano Ramos pelo tema, por exemplo, e procurássemos sondar os motivos pelos quais um autor faz referência explícita a determinada obra ou autor de um tempo passado, ou mesmo contemporâneo. (^3) CARPEAUX, Otto Maria. “Visão de Graciliano Ramos”. In : RAMOS, Graciliano. Angústia. (posfácio) Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1994.
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Este não foi, no entanto, o procedimento tomado no trabalho que ora apresentamos. Se tomássemos o caminho referido, teríamos efetivamente a opção de investigar a obra e o contexto de produção do livro em que o poema aparece, e daí aferir o significado do poema, ou mesmo do livro do poeta, tornando a leitura do romance um procedimento secundário para a pesquisa. O que iremos apresentar decorre duma inversão do objeto. Resolvemos não adotar como foco a pesquisa da poesia muriliana, e eleger como objeto primeiro o aspecto que nos pareceu mais pertinente, ou seja, a ocorrência da poesia, ou do caráter poético da narrativa na obra de Graciliano, Vidas secas , o que nos permite ter um objeto mais definido, sem, contudo, deixar de olhar para a constatação de caráter histórico que deu início à pesquisa.
Do ponto de vista da pesquisa bibliográfica, a nossa atenção, inicialmente, foi bastante ampla, mas pouco sistemática. Procuramos a princípio considerar a problemática da tendência lírica da obra Vidas secas , procurando entender em que sentido tal tendência foi vista ou até mesmo é vista na obra. Posteriormente centramos a atenção na paisagem, por entender que ela é um aspecto interessante desta tendência apontada por Otto Maria Carpeaux.
O capítulo “O mundo coberto de penas” foi assim tomado como objeto privilegiado no decorrer da pesquisa, pelo fato de que a paisagem é evocada já no início do capítulo, e por ser representativo para a nossa pesquisa, uma vez que a descrição forma ali um quadro bem definido.
Sabemos que é vasta a quantidade de textos que abordam a obra de Graciliano Ramos. Segundo Eunaldo Verdi^4 , a atenção maior está voltada para a obra vista em conjunto, em segundo lugar, aparece a preocupação com a biografia do autor.
(^4) VERDI, Eunaldo. Graciliano Ramos e a crítica literária. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1989.
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resultado de algum fator externo a ela. Na verdade, ambas as inclinações têm em comum o fato de atribuírem os aspectos da obra a partir de fatores externos, embora divirjam quanto ao aspecto a ser enfocado. O autor chama esta tendência de crítica impressionista e/ou paralelística:
É impressionista na medida em que seus representantes não se apegama nenhum método preciso de análise e o juízo que formam é resultado deparalelística na medida em que o crítico reduz o texto literário a sua percepção e sensibilidade diante da obra literária. É documento da realidade externa e, portanto, mata a possibilidade deencará-lo como literatura. 6 Portanto esta tendência pode se situar tanto nas posturas que privilegiam de um lado as abordagens biográficas e de outro as que buscam explicar a psicologia do autor, quanto as que consideram a obra como resultado principalmente de fatores econômicos e políticos. De acordo com o enfoque dado, ela pode ser, portanto, de base biográfica, de base psicológica, e de base sociológica.
A segunda tendência é caracterizada por aquelas formas de abordagem que privilegiam a obra por ela mesma, ou seja, que se detêm a partir da análise dos seus aspectos internos. Daí por que o autor chama esta perspectiva de crítica imanentista. Ela engloba os métodos que tem por base a orientação linguística, o estilístico, o formalista e o estruturalista. Estas perspectivas têm em comum o fato de considerarem o texto como algo autônomo e partir de um ponto de vista intrínseco ao texto. No entanto as abordagens se dão por focos diferenciados. O estilístico privilegia a composição da obra, seus traços linguísticos e estéticos que caracterizam um determinado estilo ligado ao autor. O formalista parte de uma dicotomia, ou de uma separação entre forma e conteúdo, abordando a obra do ponto de vista do primeiro aspecto, buscando delinear os traços formais de determinada obra literária. Já o método estruturalista procura articular
(^6) VERDI, Eunaldo. Graciliano Ramos e a crítica literária. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1989, p. 68.
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uma visão mais orgânica das dimensões forma e conteúdo, tendo como objeto o conjunto das variantes estéticas de uma obra que se denomina por estrutura.
E, por fim, a terceira tendência, Eunaldo Verdi denomina de “crítica dialética ou estética”, para designar aquela perspectiva em que tanto os elementos intrínsecos à obra, quanto os elementos externos a ela são tomados como fatores de arte. Ambas dimensões são consideradas em sua importância estética em correlação dialética formando o todo da obra. Nesta perspectiva estariam textos como o de Antonio Candido^7 , Ficção e confissão.
Procuramos, nesta pesquisa, privilegiar esta que o autor chamou de “crítica dialética ou estética”, à qual Antonio Candido, em seu ensaio “Crítica e sociologia”^8 , já apresentava como forma de abordagem “dialeticamente íntegra” do texto literário. A atividade artística, consistindo na transfiguração estética, envolve providências através das quais a forma da organização dos homens, como elemento externo ao texto, torna-se interna, como parte constitutiva da obra, reduzidos e traduzidos para a forma literária. Por isso, tanto as vertentes críticas que condicionam pragmaticamente o valor da obra literária à sua capacidade de tematizar aspectos da realidade social, quanto as que afirmam a absoluta independência da obra de arte em relação à realidade, e em especial à sua feição social, acabam se demonstrado insuficientes, pois não dão conta do todo da obra, e do que nela há de mais singular – a construção estética.
Para uma análise dialeticamente íntegra da obra literária, o plano estético é decisivo, isto é, ela não pode estar sujeita a finalidades extraliterárias. Obviamente, isso não significa que os fatores externos estejam ausentes da obra, pois eles estão presentes na sua estrutura, uma vez que passaram por uma mediação importante: o trabalho do (^78) CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. Azul, 2010.CANDIDO, Antonio.^ “Crítica e sociologia”.^ In: Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre
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Izabel Brunacci^10 , Graciliano Ramos: um escritor personagem , e do texto esclarecedor de Luís Bueno^11 em “O romance do outro: Vidas secas ” (a. Um romance montado) e “ Vidas secas ” (b. O sentido da montagem). Em relação à crítica de conjunto, também enriqueceu a pesquisa o texto “Formação e Representação”, do professor Hermenegildo Bastos^12.
Como base para a necessária reflexão acerca da relação entre poesia e história, foi importante buscar apoio na crítica estética de Georg Lukács, tanto na Estética^13 , quanto em O romance histórico^14 , bem como em sua relação com os conceitos aristotélicos sobre a poiese. Como já desde Aristóteles se verifica, a arte é imitação das ações humanas. No entanto, qualquer sentido que se queira pensar a respeito do que exatamente significa “ações humanas” é impossível fora da totalidade, uma vez que, para o homem, não há ação efetivamente humana que se queira isolada. A ação humana é totalizadora neste sentido; de que é sempre posta em oposição dialética em relação ao próprio objeto da ação.
Esta reflexão é necessária, pois não existe no universo de uma obra nada absolutamente em cujo sentido não devam estar contidas todas as suas próprias determinações. A importância disso é o fato de que a totalidade que o objeto estético demanda encontra-se, ao mesmo tempo, fora dele, pois se trata da ação humana dada pela práxis, e dentro dele, pois a ação é mimetizada, transfigurada segundo a configuração da obra.
(^10) BRUNACCI, Maria Izabel. Graciliano Ramos: um escritor personagem. Belo Horizonte: Autêntica,
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Podemos dizer que na obra de arte tudo é particular e geral ao mesmo tempo. O que equivale, então, a dizer que a obra de arte aspira à totalidade da vida humana que é dada pela ação. Isto porque a obra capta o momento totalizador da ação. Tal perspectiva dará fundo teórico à análise que faremos da paisagem poética de Vidas secas , no segundo capítulo, quando buscaremos, a partir de alguns pontos do texto, a articulação entre eles e o todo da obra.
O presente trabalho divide-se, pois, em três capítulos. O primeiro capítulo, “Graciliano-Fabiano por Murilo Mendes: a poesia em Vidas secas ”, apresenta uma leitura do poema “Murilograma a Graciliano Ramos”, de Murilo Mendes, considerando a presença da obra Vidas secas nos versos do poema, marcado pela concisão e pelas metáforas que remetem ao ambiente agreste do romance Vidas secas. Tal aproximação entre o poema e a obra de ficção nos investigar a hipótese de que elementos poéticos presentes em Vidas secas constituiriam um modo especial de lirismo, conforme já levantado por parte da crítica que se dedicou a estudar a obra de Graciliano Ramos.
Procuramos, ainda, nesse primeiro capítulo acerca da relação entre poema e narrativa, compreender a articulação interna ao nosso sistema literário entre as duas obras e os dois autores. Para tanto, julgamos necessária uma abordagem do sistema literário brasileiro que ressaltasse o caráter dialético da formação da literatura brasileira, que, segundo Antonio Candido, é uma literatura de dois gumes, isto é, calcada nas formas europeias adaptadas à forma histórico-social do Brasil. Conforme se discute no texto “Literatura de dois gumes”^15 , as formas literárias da Europa foram aqui adaptadas, apesar de servirem como um instrumento de dominação e de afirmação do projeto colonizador. Ao serem adaptadas, entretanto, deixavam expostas as contradições da realidade, contrariando, muitas vezes, no plano profundo das obras, aquilo que (^15) CANDIDO, A. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 2000.
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o romance histórico que a história deixa de ser tratada como roupagem, ou seja, os elementos da história passam a ser internalizados artisticamente nas obras. O personagem mediano permite ao escritor assumir um ponto de vista capaz de expressar as forças em evidência na sociedade.
Para considerar as importantes reflexões de Lukács acerca de literatura, história e popular, sem, contudo, deixar de levar em conta as peculiaridades de Vidas secas , que não se configura como romance histórico, mas, nos parece, articula no mundo da obra o popular à história e à literatura, foi necessário buscar construir mediações para a análise dessa questão no romance de Graciliano Ramos. Procuramos realizar tais mediações com o auxílio da discussão desenvolvida por Hermenegildo Bastos^18 em seu texto Formação e representação , que aborda o problema da representação, o que envolve a perspectiva do autor diante do problema de classe. Recorremos também a textos de Luís Bueno^19 que tratam da representação do outro de classe na literatura brasileira, evidenciando o quanto o sistema literário brasileiro foi, paulatinamente, enfrentando os dilemas internos de nossa história e alcançando uma solução estética amadurecida que, em Vidas secas , acreditamos ser possível chamar de realista.
(^18) BASTOS, Hermenegildo. “Formação e representação”. In : Cerrados. Brasília: UnB, n° 21, ano 15,
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Pretendemos neste capítulo apresentar a questão que deu início à presente pesquisa; um problema desencadeado pela observação da ocorrência de um mesmo tema na obra de dois autores separados pelo tempo e também pelas condições histórias, diferentes em cada caso. Trata-se, inicialmente, de uma discussão sobre o sistema literário, que se consolida, conforme Antonio Candido, na medida em que se estabelece, além do público e dos meios expressivos, uma tradição de temas e problemas cujo conteúdo é retomado e desenvolvido pelos escritores ao longo do tempo. A apresentação e análise do poema de Murilo Mendes não significa, entretanto, que seja esta uma pesquisa voltada para a lírica. O objetivo é muito mais o de conduzir a discussão para questões sobre a obra do romancista Graciliano Ramos, Vidas secas.
A formação da literatura brasileira, conforme aborda Antonio Candido, é fruto da adaptação das formas literárias europeias às condições novas que surgiram no bojo do processo colonizador, na formação do país novo. O arsenal cultural trazido pelos colonizadores foi aqui desenvolvido enquanto ia sendo posto à prova ante a realidade conflitante e, muitas vezes, desagregadora com que o empreendimento colonizador foi instado a lidar.
Assim, a literatura surge na relação entre o dado local e a visão de mundo importada da metrópole, aquele visto sob o ponto de vista desta: “A nossa literatura é galho secundário da portuguesa, por sua vez, arbusto de segunda ordem no jardim das